George J. Marlin |
Na sua mensagem de Natal “Urbi et Orbi”, no dia 24 de
Dezembro de 1940, o Papa Pio XII condenou a Alemanha Nazi pelo seu “uso ilegal
de forças destrutivas contra não-combatentes, fugitivos, idosos e crianças; um
desprezo pela dignidade, liberdade e vida humana que dá lugar a actos que
clamam a Deus por vingança…”
No dia de Natal, um editorial do New York Times
reconheceu que “a ordem moral do Papa, numa palavra, está em total contradição
com a de Hitler”.
Um ano mais tarde, o discurso de Natal do Santo Padre
para o Colégio de Cardeais denunciou os nazis pela violação dos direitos das
minorias. Não podia haver lugar, disse, para “(1) opressão aberta ou subtil das
características culturais e linguísticas de minorias nacionais; (2) contradição
das suas capacidades económicas; (3) limitação ou abolição da sua fecundidade
natural”.
Mais uma vez o editorial do dia de Natal do New York
Times não só aplaudiu as afirmações do Papa, mas declarou que “a voz de Pio XII
é uma voz solitária no silêncio e na escuridão que envolvem a Europa neste
Natal… Ele é dos únicos líderes no continente europeu que ainda se atreve a
erguer a voz sequer… Não deixou qualquer dúvida de que os objectivos dos nazis
são também irreconciliáveis com a sua própria concepção de uma paz cristã”.
Na sua mensagem de Natal de 1942, afirmou: “A Igreja não
seria verdadeira consigo mesma, deixaria de ser mãe, se fosse surda ao choro
das crianças sofredoras, de todas as classes da família humana, que lhe chega
aos ouvidos”. Exigiu que os opositores dos nazis jurassem solenemente “nunca
descansar até que as legiões das almas corajosas de todos os povos e todas as
nações se ergam, resolvidas a trazer a sociedade de volta para o seu centro de
gravidade amovível na Lei Divina e se dediquem ao serviço da pessoa humana e de
uma sociedade humana nobre e divina.” Este juramento, concluiu, devia ser feito
em nome das vítimas da guerra, “as centenas de milhares que, sem qualquer
culpa, mas apenas por causa da sua nação ou raça, foram condenadas à morte ou à
extinção progressiva”.
Mais uma vez a direcção editorial do Times louvou o Papa:
“Nenhuma homilia de Natal chega a mais gente que a mensagem que o Papa Pio XII
endereça a um mundo devastado pela guerra nesta época. Este Natal, mais do que
nunca, ele é uma voz solitária a clamar do silêncio de um continente. O púlpito
de onde fala assemelha-se mais do que nunca à rocha sobre a qual a Igreja foi
fundada, uma ilha minúscula fustigada e cercada por um mar em guerra”.
O editorial referiu ainda que o Papa não é um líder
político, mas um “pregador, destinado a erguer-se acima da batalha,
imparcialmente ligado… a todas as pessoas prontas a colaborar numa nova ordem
que traga uma paz justa”. E concluiu, “o Papa Pio expressa com tanta paixão
como qualquer outro líder do nosso lado os objectivos de guerra desta luta pela
liberdade, quando diz que todos os que trabalham para construir um novo mundo
devem lutar pela liberdade de escolha de Governo e de religião.”
Aquilo que acaba de ler não são “notícias falsas”. A
verdade é que a Igreja foi uma opositora incansável de Hitler. O que é falso é
a propaganda anticatólica que chegou primeiro dos soviéticos e mais
recentemente de intelectuais.
Se mais provas fossem necessárias, o novo livro de Peter
Bartley, “Catholics Confronting Hitler”, que é de muito fácil e agradável leitura, descreve os
movimentos de resistência católicos e as operações de salvamento levados a cabo
no Vaticano e em toda a Europa ocupada pelos nazis. Muitas vezes este trabalho
foi feito em colaboração com judeus e protestantes.
Os católicos pagaram o preço pela sua resistência. Bispos
foram exilados ou assassinados, padres e leigos detidos ou executados em campos
de morte. Com a bênção do Papa, a hierarquia católica alemã denunciou
repetidamente dos púlpitos o programa de eutanásia nazi, bem como o seu neopaganismo
e anti-semitismo. Ajudaram e esconderam judeus e, em 1943, os bispos “emitiram
uma declaração conjunta a lamentar o despejo e assassinato de judeus”.
Em França os jornais clandestinos escritos por jesuítas e
aprovados pelo Papa expuseram os males dos nazis, em particular as teorias
raciais, e encorajaram a resistência, inclusivamente contra o Governo fantoche
de Vichy. Os núncios papais na Eslováquia, Hungria, Balcãs e países ocupados da
Europa ocidental, fiéis às ordens do Papa, protestaram publicamente cada vez
que os judeus eram detidos ou arrebanhados para serem deportados. Os seus actos
causavam frequentemente atrasos e suspensão de ordens de deportação, permitindo
a dezenas de milhares de judeus encontrar refúgio nas casas e edifícios da
Igreja.
O futuro Papa São João XXIII era delegado apostólico na
Turquia e na Grécia durante a guerra e salvou a vida a incontáveis judeus na
Hungria, Eslováquia, Bulgária e Roménia. Salvou pelo menos 50 mil judeus,
emitindo certificados de baptismo.
Para além destes esforços clandestinos, a Pontifícia
Comissão de Assistência, criada pelo Papa Pio XII, distribuía comida, artigos
médicos e roupa a centenas de milhares de pessoas desalojadas. O Gabinete de
Informação do Vaticano, segundo Bartley, “permitiu a dois milhões de pessoas
manterem-se em contacto com entes queridos, pessoas que se julgavam
desaparecidas, presos de guerra e pessoas em campos de concentração”. Países
amigos “tinham de exceder as suas quotas de refugiados judeus quando estes
chegavam às suas fronteiras munidos de documentos assinados por oficiais do
Vaticano”.
Estas respostas à opressão nazi levaram Albert Einstein a
reconhecer que “só a Igreja Católica se opôs ao ataque hitleriano contra a
liberdade”.
E em Setembro de 2008, numa conferência internacional,
académicos judeus e rabinos disseram ao Papa Bento XVI que o Papa Pio XII tinha
ajudado a salvar perto de um milhão de vidas judaicas.
Então porque é que persiste este mito sobre o “silêncio”
da Igreja? Pela mesma razão que outros mitos anticatólicos se alojaram na nossa
cultura. Neste caso não se trata apenas de “notícias falsas”. Porque quando os
esforços heroicos de salvamento da Igreja são ignorados ou até mesmo transformados
no seu contrário, estamos perante mentiras claras, motivadas pelo Pai da
Mentira.
George
J. Marlin é editor de “The Quotable Fulton Sheen” e autor de “The American Catholic Voter”. O seu mais recente
livro chama-se “Narcissist
Nation: Reflections of a Blue-State Conservative”.
(Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing na quinta-feira, 15 de Dezembro de 2016)
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