Wednesday 21 December 2016

O Papa e Hitler: Notícias Falsas e Mentiras

George J. Marlin
Na sua mensagem de Natal “Urbi et Orbi”, no dia 24 de Dezembro de 1940, o Papa Pio XII condenou a Alemanha Nazi pelo seu “uso ilegal de forças destrutivas contra não-combatentes, fugitivos, idosos e crianças; um desprezo pela dignidade, liberdade e vida humana que dá lugar a actos que clamam a Deus por vingança…”

No dia de Natal, um editorial do New York Times reconheceu que “a ordem moral do Papa, numa palavra, está em total contradição com a de Hitler”.

Um ano mais tarde, o discurso de Natal do Santo Padre para o Colégio de Cardeais denunciou os nazis pela violação dos direitos das minorias. Não podia haver lugar, disse, para “(1) opressão aberta ou subtil das características culturais e linguísticas de minorias nacionais; (2) contradição das suas capacidades económicas; (3) limitação ou abolição da sua fecundidade natural”.

Mais uma vez o editorial do dia de Natal do New York Times não só aplaudiu as afirmações do Papa, mas declarou que “a voz de Pio XII é uma voz solitária no silêncio e na escuridão que envolvem a Europa neste Natal… Ele é dos únicos líderes no continente europeu que ainda se atreve a erguer a voz sequer… Não deixou qualquer dúvida de que os objectivos dos nazis são também irreconciliáveis com a sua própria concepção de uma paz cristã”.

Na sua mensagem de Natal de 1942, afirmou: “A Igreja não seria verdadeira consigo mesma, deixaria de ser mãe, se fosse surda ao choro das crianças sofredoras, de todas as classes da família humana, que lhe chega aos ouvidos”. Exigiu que os opositores dos nazis jurassem solenemente “nunca descansar até que as legiões das almas corajosas de todos os povos e todas as nações se ergam, resolvidas a trazer a sociedade de volta para o seu centro de gravidade amovível na Lei Divina e se dediquem ao serviço da pessoa humana e de uma sociedade humana nobre e divina.” Este juramento, concluiu, devia ser feito em nome das vítimas da guerra, “as centenas de milhares que, sem qualquer culpa, mas apenas por causa da sua nação ou raça, foram condenadas à morte ou à extinção progressiva”.

Mais uma vez a direcção editorial do Times louvou o Papa: “Nenhuma homilia de Natal chega a mais gente que a mensagem que o Papa Pio XII endereça a um mundo devastado pela guerra nesta época. Este Natal, mais do que nunca, ele é uma voz solitária a clamar do silêncio de um continente. O púlpito de onde fala assemelha-se mais do que nunca à rocha sobre a qual a Igreja foi fundada, uma ilha minúscula fustigada e cercada por um mar em guerra”.

O editorial referiu ainda que o Papa não é um líder político, mas um “pregador, destinado a erguer-se acima da batalha, imparcialmente ligado… a todas as pessoas prontas a colaborar numa nova ordem que traga uma paz justa”. E concluiu, “o Papa Pio expressa com tanta paixão como qualquer outro líder do nosso lado os objectivos de guerra desta luta pela liberdade, quando diz que todos os que trabalham para construir um novo mundo devem lutar pela liberdade de escolha de Governo e de religião.”

Aquilo que acaba de ler não são “notícias falsas”. A verdade é que a Igreja foi uma opositora incansável de Hitler. O que é falso é a propaganda anticatólica que chegou primeiro dos soviéticos e mais recentemente de intelectuais.

Se mais provas fossem necessárias, o novo livro de Peter Bartley, “Catholics Confronting Hitler”, que é de muito fácil e agradável leitura, descreve os movimentos de resistência católicos e as operações de salvamento levados a cabo no Vaticano e em toda a Europa ocupada pelos nazis. Muitas vezes este trabalho foi feito em colaboração com judeus e protestantes.

Os católicos pagaram o preço pela sua resistência. Bispos foram exilados ou assassinados, padres e leigos detidos ou executados em campos de morte. Com a bênção do Papa, a hierarquia católica alemã denunciou repetidamente dos púlpitos o programa de eutanásia nazi, bem como o seu neopaganismo e anti-semitismo. Ajudaram e esconderam judeus e, em 1943, os bispos “emitiram uma declaração conjunta a lamentar o despejo e assassinato de judeus”.

Em França os jornais clandestinos escritos por jesuítas e aprovados pelo Papa expuseram os males dos nazis, em particular as teorias raciais, e encorajaram a resistência, inclusivamente contra o Governo fantoche de Vichy. Os núncios papais na Eslováquia, Hungria, Balcãs e países ocupados da Europa ocidental, fiéis às ordens do Papa, protestaram publicamente cada vez que os judeus eram detidos ou arrebanhados para serem deportados. Os seus actos causavam frequentemente atrasos e suspensão de ordens de deportação, permitindo a dezenas de milhares de judeus encontrar refúgio nas casas e edifícios da Igreja.

O futuro Papa São João XXIII era delegado apostólico na Turquia e na Grécia durante a guerra e salvou a vida a incontáveis judeus na Hungria, Eslováquia, Bulgária e Roménia. Salvou pelo menos 50 mil judeus, emitindo certificados de baptismo.

Para além destes esforços clandestinos, a Pontifícia Comissão de Assistência, criada pelo Papa Pio XII, distribuía comida, artigos médicos e roupa a centenas de milhares de pessoas desalojadas. O Gabinete de Informação do Vaticano, segundo Bartley, “permitiu a dois milhões de pessoas manterem-se em contacto com entes queridos, pessoas que se julgavam desaparecidas, presos de guerra e pessoas em campos de concentração”. Países amigos “tinham de exceder as suas quotas de refugiados judeus quando estes chegavam às suas fronteiras munidos de documentos assinados por oficiais do Vaticano”.

Estas respostas à opressão nazi levaram Albert Einstein a reconhecer que “só a Igreja Católica se opôs ao ataque hitleriano contra a liberdade”.

E em Setembro de 2008, numa conferência internacional, académicos judeus e rabinos disseram ao Papa Bento XVI que o Papa Pio XII tinha ajudado a salvar perto de um milhão de vidas judaicas.

Então porque é que persiste este mito sobre o “silêncio” da Igreja? Pela mesma razão que outros mitos anticatólicos se alojaram na nossa cultura. Neste caso não se trata apenas de “notícias falsas”. Porque quando os esforços heroicos de salvamento da Igreja são ignorados ou até mesmo transformados no seu contrário, estamos perante mentiras claras, motivadas pelo Pai da Mentira.  



George J. Marlin é editor de “The Quotable Fulton Sheen” e autor de “The American Catholic Voter”. O seu mais recente livro chama-se “Narcissist Nation: Reflections of a Blue-State Conservative”.

(Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing na quinta-feira, 15 de Dezembro de 2016)

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