Pe. Mark A. Pilon |
O número de católicos activos na diocese de Pittsburgh diminuiu rapidamente nas últimas décadas, de 914.000 em 1980 para 632.000 em 2015, segundo dados da própria diocese.
Desde 2000, a frequência da missa dominical diminuiu 40%, havendo agora menos cerca de 100.000 praticantes regulares. A matriculação em escolas católicas caiu 50% e o número de sacerdotes no activo passou de 338 para 225. A manter-se este ritmo, a diocese calcula que haverá apenas 112 padres em actividade em 2025.
Qualquer análise honesta nos diz que estes números representam problemas graves e o bispo de Pittsburgh expressou a sua grande preocupação numa entrevista a um jornal secular daquela cidade. Toda a conferência episcopal americana deveria estar gravemente preocupada, porque este tipo de estatística é comum à maioria das dioceses e arquidioceses do país, salvo raras excepções.
Mas as propostas apresentadas pelo senhor bispo para tentar inverter este declínio não são particularmente encorajadoras e fazem lembrar os fúteis planos quinquenais da União Soviética, que acabavam por repetir sempre as mesmas soluções falhadas. “A principal prioridade tem de ser tornar o nosso culto melhor”, afirma o bispo David Zubik ao Tribune-Review. “Em segundo lugar, temos de fazer o melhor possível para conseguir mais líderes ordenados, mas não só, temos também de abrir muitas posições de liderança na Igreja para leigos.”
Segundo se lê na entrevista, “melhor culto” significa “homilias e música melhores” e ainda “tornar as igrejas mais acolhedoras para quem vem de fora”. O bispo apresenta ainda outras soluções possíveis, como “mais leigos em posições de liderança e melhor formação para diáconos; estilos de ministério mais apelativos para os jovens e, em simultâneo, fortalecer o cuidado pastoral dos idosos”.
Não ouvimos tudo isto antes? Mais leigos em posições de liderança, diáconos permanentes com melhor formação, melhores programas para os jovens, melhores cuidados pastorais para os idosos?
É habitual dizerem-nos que as razões pelas quais há cada vez menos católicos praticantes nas nossas paróquias são sobretudo programáticas e estruturais. Melhores programas pastorais, melhor culto e melhor acolhimento são tudo o que precisamos para inverter a devastação que ninguém poderia ter previsto depois do Concílio Vaticano II. Talvez seja tempo de considerar outras opções.
A verdadeira razão de fundo é simples: Trata-se de uma enorme perda de fé. Há muitas explicações para essa perda de fé, mas os católicos estão a desaparecer aos molhos porque perderam a fé na Igreja e na verdadeira natureza dos seus sacramentos, ou porque na verdade nunca a tiveram. Não é por haver homilias fracas, antigamente também as havia e as igrejas estavam cheias. Não tem a ver com a qualidade da música, nos anos 40 e 50 não tínhamos música, salvo em missas solenes de Domingo e nos dias santos. Mas as igrejas estavam cheias. O problema é simplesmente uma enorme perda de fé.
Há uns 30 anos uma sondagem credível revelava que apenas cerca de 30% dos católicos continuava a acreditar na presença real de Cristo na Eucaristia. Porque é que os bispos não convocaram uma reunião de emergência para lidar com esse problema de falta de fé, como fizeram em 2002 para lidar com a crise dos abusos sexuais? Se as pessoas não acreditam na presença real de Cristo na Eucaristia ou na Eucaristia como verdadeiro sacrifício oferecido a Deus para benefício dos pecadores, então não será uma melhoria da música a convencê-los a ir para a Igreja aos domingos de manhã.
Esta perda de fé reflecte ainda uma perda do sentido de pecado e da sua gravidade e por sua vez ambos estão associados a uma rejeição dos ensinamentos morais da Igreja, pois todos os aspectos da fé estão interligados. A obrigação da missa domincal não tem qualquer sentido e não levará as pessoas a participar se estas não crêem na gravidade de faltar à missa ao domingo. Na verdade, mesmo que exista tal coisa como um pecado grave, como é que se pode entender que isso se aplica a faltar à missa quando se acredita que a missa não é mais do que música, leituras e uma encenação memorial em vez de uma coisa real, um verdadeiro sacrifício, a verdadeira presença de Cristo.
Mesmo os adeptos da Forma Extraordinária [conhecida vulgarmente como rito tridentino], que tendem a pensar que restaurando a liturgia restaurar-se-á a fé, devem compreender que não é assim tão simples. Muitas coisas contribuíram para esta crise e devem ser analisadas: má catequese, maus exemplos, escândalos e, também, sem dúvida, má liturgia. Mas também a falta de proclamação do Evangelho na praça pública. Se a Igreja for apenas mais uma “denominação” na praça pública, e o Evangelho não for proclamado abertamente como a solução para os problemas da sociedade, então estamos verdadeiramente a caminho de um longo inverno eclesial.
Na verdade o bispo Zubik referiu-se ao problema da fé quando disse que “ao mesmo tempo compreendi que eles [os paroquianos] estavam entusiasmados sobre a razão principal pela qual estamos a fazer tudo isto: para reavivar a fé das pessoas.”
Senhor bispo, a verdade é que para se reavivar a fé de alguém, é preciso que essa fé já exista. A principal prioridade, então, deve ser esta questão básica: A que é que se deve esta monumental perda de fé, e como é que a podemos ressuscitar?
O
padre Mark A. Pilon, sacerdote da Diocese de Arlington, Virginia, é doutorado
em Teologia Sagrada pela Universidade de Santa Croce, em Roma. Foi professor de
Teologia Sistemática no Seminário de Mount St. Mary e colaborou com a revista
Triumph. É ainda professor aposentado e convidado no Notre Dame Graduate School
of Christendom College. Escreve regularmente em littlemoretracts.wordpress.com
(Publicado
pela primeira vez na quarta-feira, 24 de Agosto de 2016 em The Catholic Thing)
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O p. Mark A. Pilon tem razão quando escreve que a perda de fé é a origem do problema das pessoas deixarem de frequentar a missa dominical.
ReplyDeleteE parece-me que o motivo desta perda de fé é a ausência de um testemunho vivo e credível no mundo ocidental (porque é do ocidente que falamos). Não porque os cristãos sejam um conjunto de malandrecos mas porque nos integrámos na sociedade de bem estar e somos bons cidadãos, bons vizinhos e bons colegas, cumprimos a lei, por vezes até somos voluntários em alguma obra social, se calhar até estamos integrados na paróquia ou nalgum movimento da Igreja mas mesmo assim as pessoas continuam a deixar de ir à missa...
Parece-me que esta integração é boa mas por vezes pode levar a um certo adormecimento do cristão e a uma morte da relação pessoal com Jesus (que acredito que uma fé viva obrigatoriamente implica).
Cada vez mais acredito que é na forma de nos relacionar-mos connosco mesmos e com o outro concreto que poderá levar o outro a sentir e dizer ou pensar o que Tertuliano escreveu há quase dois mil anos: "Vede como eles se amam!” (Tertuliano, Apologia, 39, 7).
Quando se trata de testemunho de fé o que dizemos (ou escrevemos) pouco ou nada interessa, o que somos é o que testemunha aquilo em que acreditamos e vivemos.
Por isso, com ou sem missa tridentina, com ou sem concílio Vaticano II, sem testemunhos de vida de cristãos o número de pessoas que deixam de ir à missa continuarão a ter a evolução referida pelo p. Mark A. Pilon.
O resto é conversa... e se calhar isto também ��