George J. Marlin |
Há muitos anos – pelo menos desde o teatro de 1963 de
Rolf Hochhuth “O Deputado" – que o mundo tem aturado a conversa de que Pio XII
foi o “Papa de Hitler”. Há décadas que pessoas bem informadas suspeitam que
isso se trata de uma distorção deliberada, mas agora temos a certeza, sem
margem para dúvidas, de que tais acusações não só estavam erradas como são
precisamente o oposto da verdade.
Quando o Cardeal Eugenio Pacelli se tornou Pio XII, em
1939, o chefe das SS, Heinrich Himmler, ordenou a Albert Hartl, um padre
laicizado, que preparasse um dossier sobre o novo Papa. Hartl documentou como
Pacelli tinha usado a Concordata que tinha negociado com o Governo de Hitler em
1933 de forma vantajosa para a Igreja, fazendo pelo menos 55 queixas formais
por violações da mesma.
Pacelli também acusou o Estado nazi de conspirar para
exterminar a Igreja e “convocou todo o mundo para lutar contra o Reich”. Pior,
pregava a igualdade racial, condenava a “superstição do sangue e da raça” e rejeitou
o anti-semitismo. Citando um oficial das SS, Hartl concluiu a sua análise
dizendo “a questão não é saber se o novo Papa vai lutar contra Hitler, mas sim
como”.
Entretanto, Pio XII estava a reunir-se com cardeais
alemães e a discutir o problema de Hitler. As transcrições mostram que ele se
queixou que “os Nazis tinham frustrado os ensinamentos da Igreja, banido as
suas organizações, censurado a sua imprensa, fechado os seminários, confiscado
as suas propriedades, despedido os professores e fechado as escolas”. Citou um
oficial nazi que gabou que “depois de derrotar o bolchevismo e o judaísmo, a
Igreja Católica será o único inimigo restante”.
O Cardeal Michael von Faulhaber, de Munique, retorquiu
que os problemas tinham começado depois da encíclica de 1937 “Com Grande Ansiedade” (Mit Brennender Sorge, publicada em alemão e não em
latim). O texto, escrito em parte por Pacelli antes de este se ter tornado
Papa, enfureceu o Hitler. O Papa disse a Faulhaber, “a questão alemã é a mais
importante para mim. O seu tratamento está reservado directamente para mim… Não
podemos abdicar dos nossos princípios… Quando tivermos tentado tudo, e ainda
assim eles quiserem absolutamente a guerra, lutaremos… Se eles recusarem, então
teremos de lutar”.
Faulhaber recomendou “intercessão de bastidores”. Propôs
que os bispos alemães encontrassem “uma forma de fazer chegar a Sua Santidade
informação precisa e actualizada.” O Cardeal Adolf Bertram acrescentou que “é
preciso fazê-lo de forma clandestina. Quando São Paulo se fez descer num cesto
das muralhas de Damasco, também não contava com a autorização da polícia
local”. O Papa concordou.
Assim nasceu o plano para construir uma rede de
espionagem que apoiaria, entre outras coisas, planos para assassinar Hitler.
No seu interessantíssimo livro “Church of Spies: The
Pope’s Secret War Against Hitler”, Mark Riebling recorre a documentos do
Vaticano e actas secretas acabadas de divulgar que descrevem detalhadamente as
tácticas clandestinas usadas por Pio XII para tentar derrubar o regime nazi.
Depois de Hitler ter invadido a Polónia em 1939 o Papa
reagiu aos relatos de atrocidades contra judeus e católicos. A sua encíclica “Summi Pontificatus” rejeitou o racismo, dizendo que a raça humana está unificada
em Deus. E condenou também os ataques ao judaísmo.
O Papa foi amplamente louvado por isto – um título do New
York Times dizia “Papa condena ditadores, violações de tratados, racismo” – mas
ele próprio sentia que era pouco.
Convencido de que o regime nazi cumpria os requisitos
para justificar o tiranicídio, conforme os ensinamentos da Igreja, Pio XII
permitiu aos jesuítas e aos dominicanos, que respondiam directamente a ele, que
colaborassem com acções clandestinas. O seu principal agente – a quem os nazis
se referiam como “o melhor agente dos serviços de informação do Vaticano” – era
um tal Josef Muller, advogado e herói da Primeira Guerra Mundial.
Muller organizou uma rede de “amigos das forças armadas,
escola e faculdade, com acesso a oficiais nazis e que trabalhavam em jornais,
bancos e até mesmo nas SS”. Eles forneciam o Vaticano com informação vital,
incluindo planos de batalha que eram depois passados aos aliados. Em 1942
Muller conseguiu introduzir Dietrich Bonhoeffer no Vaticano para planear uma
estratégia cujo objectivo era “fazer as pontes entre grupos de diferentes
religiões, para que os cristãos pudessem coordenar a sua luta contra Hitler”.
As tentativas de assassinato de Hitler falharam todas,
devido ao que Muller apelidou de “sorte do diabo”. Mas em relação a estes
planos, Riebling comenta: “Todos os caminhos vão de facto dar a Roma, a uma
secretária com um simples crucifixo, com vista sobre as fontes da Praça de São
Pedro”.
Depois do falhanço do plano Valquíria a Gestepo prendeu
Muller. Descobriram uma nota escrita em papel timbrado do Vaticano por um dos
assistentes de topo do Papa, o padre Leiber, que dizia que “Pio XII garante uma
paz justa em troca da ‘eliminação de Hitler’”.
Muller foi enviado para Buchenwald. No dia 4 de Abril de
1945, juntamente com Bonhoeffer, foi transferido para Flossenburg. Depois de um
julgamento fantoche foram condenados à morte.
Bonhoeffer foi imediatamente executado. Mas temendo a
aproximação de forças americanas, as SS transferiram Muller e outros reclusos
para Dachau, depois para a Áustria e, finalmente, para o Norte de Itália. Foram
então libertados pelo 15º Exército dos EUA.
Agentes dos serviços de informação dos EUA levaram Muller
para o Vaticano. Quando o viu, o Papa abraçou-o e disse que se sentia “como se
o próprio filho tivesse regressado de uma situação de grande perigo”.
Riebling revela que durante a visita de Muller ao Vaticano
o diplomata americano Harold Tillman perguntou porque é que Pio XII não tinha
sido mais interventivo durante a guerra.
Muller disse que
durante a guerra a sua organização anti-Nazi na Alemanha tinha insistido muito
que o Papa evitasse fazer afirmações públicas dirigidas especificamente aos
nazis e condenando-os, tendo recomendado que as afirmações públicas do Papa se
confinassem a generalidades (…) Se o Papa tivesse sido específico os alemães
tê-lo-iam acusado de ceder às pressões das potências estrangeiras e isso teria
colocado os católicos alemães ainda mais na mira dos nazis do que já estavam,
tendo restringido imensamente a sua liberdade de acção na resistência ao
regime. O Dr. Muller disse que a política da resistência católica in interior
da Alemanha era de que o Papa se colocasse nas margens enquanto a hierarquia
alemã levasse a cabo a luta contra os nazis. Disse ainda que o Papa tinha
seguido sempre este seu conselho durante a guerra.
Graças à pesquisa incansável de Riebling, agora podemos
finalmente descartar as alegações absurdas sobre Pio XII. Ele não era o “Papa
de Hitler”, era o seu nemesis.
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The Catholic Thing na Amazon, clicando aqui.
(Publicado pela primeira vez na Quarta-feira, 13 de Janeiro
de 2016 em The Catholic Thing)
George
J. Marlin é editor de “The Quotable Fulton Sheen” e autor de “The American Catholic Voter”. O seu mais recente livro chama-se
“Narcissist Nation: Reflections of a Blue-State Conservative”.
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consentimento de The Catholic Thing.
Nunca é tarde para trazer a verdade ao de cima!
ReplyDeleteMuito bom artigo, que vem consolidar outros de que tive conhecimento, há mais de 20 anos. Desejo que lhe saibam dar a merecida divulgação, a fim de contrariar o marxismo cultural que tem falsificado a História, pois está infiltrado em muitas organizações, mesmo na Igreja.
ReplyDeleteO Santo Padre Pio XII, foi inegavelmente um grande Papa e adequado para aquela época de terror socialista (alemão, chinês e soviético)!