David Carlin |
A actual luta contra o Estado Islâmico e o “terrorismo
islâmico radical” (que o Presidente Obama me perdoe por usar esta expressão) é
apenas a mais recente fase de uma guerra que dura há mais de 3.000 anos, uma
guerra que tem sido combatida ao longo da maior falha sísmica geopolítica do
mundo, a que separa a Ásia ocidental da Europa. Vejamos alguns dos pontos
principais da guerra mais longa do mundo.
1. O primeiro registo deste conflito encontra-se na Ilíada:
A Guerra de Troia, de Homero, em que uma coligação de gregos ataca Tróia, uma
cidade comercial importante do lado asiático do mar Egeu.
2. No início do século V antes de Cristo, o Grande Rei da
Pérsia, Xerxes, invadiu a Grécia com um tremendo exército e uma marinha
significativa. Para além da batalha das Termópilas (“Estrangeiro, dizei a
Esparta que aqui jazemos, em obediência às suas leis”), Xerxes enfrentou pouca
oposição na Grécia e ocupou Atenas. Mas depois foi derrotado na batalha naval
de Salamina (480 AC) e, um ano mais tarde, perdeu também em terra, em Plateias.
3. Em 330 AC, Alexandre liderou um exército de gregos e
macedónios pela Ásia adentro, e numa campanha militar brilhante conquistou o
vasto Império Persa. Num acto de vingança pelo incêndio da acrópole de Atenas
em 480, Alexandre – enquanto bêbado – deitou fogo à capital persa de
Persépolis. (Alexandre era conhecido por ser casto, não por ser sóbrio).
4. Começando em meados do Século III Antes de Cristo e terminando
em meados do segundo, Roma combateu duas granes guerras contra Cartago, mais
uma guerra mais pequena. Depois desta terceira guerra Cartago – que apesar da
sua localização ocidental, era uma cidade Asiática, sendo uma colónia de Tiro –
foi derrotada e arrasada.
5. No Século II AC os judeus (que naquele tempo eram asiáticos
e não europeus), sob a liderança dos Macabeus, saiu debaixo do jugo do rei da
Síria, que era de tradição helénica. Mas em meados do Século I AC Roma tinha
reestabelecido o domínio ocidental na Palestina. Cerca do ano 70 da Era Cristã,
os judeus ergueram-se contra os romanos, mas foram totalmente esmagados. No
segundo século houve outro levantamento, mas o resultado foi o mesmo.
6. Durante séculos houve guerras intermitentes entre Roma
e os impérios sucessivos da Pérsia e de Pártia. Numa destas batalhas (primeiro
século AC), Marcos Crassos, membro do Primeiro Triunvirato, foi morto e, noutra
(século IV DC), morreu o Imperador Juliano (“O Apóstata”).
7. No começo da década de 630 os guerreiros de uma nova
religião, o Islão, emergiram dos desertos da Arábia e conquistaram grande parte
de Ásia e todas as porções africanas do Império Romano. Os Árabes conquistaram
quase toda a Península Ibérica e o seu avanço para Ocidente só foi travado
quando Carlos Martel (avô de Carlos Magno) os derrotou perto da cidade francesa
de Tours.
8. Na Península Ibérica, onde alguns enclaves cristãos
sobreviveram à conquista árabe, começou em breve a Reconquista, mas esta só
ficou completa quando os reis Fernando e Isabel ocuparam Granada, o último dos
reinos muçulmanos em Espanha, e expulsaram todos os muçulmanos (e judeus).
9. Enquanto os cristãos estavam a recuperar a Península,
os cristãos noutras partes da Europa Ocidental estavam a marchar e a navegar
rumo à Palestina. As cruzadas começaram no final do Século XI e continuaram,
intermitentemente, durante os próximos 200 anos. Depois de algum sucesso
inicial, o Ocidente falhou na tentativa de reconquistar as partes da Ásia
Ocidental que tinha perdido com o levantamento dos Árabes no Século VII.
10. Entretanto o Império Romano (ou Bizantino) caiu em
1453, quando os otomanos muçulmanos capturaram a sua praça forte,
Constantinopla, depois de mais de um século a conquistar bocadinhos do que
tinha sido até então um vasto império.
Aquiles depois de matar Heitor, na batalha de Tróia |
11. Não contentes com isto, os turcos invadiram o coração
da Europa, subindo pelo vale do Danúbio, vencendo a Batalha de Mohács (1526).
Isto deu-lhes controlo de grande parte da Hungria e uma rampa de lançamento
para dois ataques mal sucedidos contra Viena, o último dos quais aconteceu em
1683. Entre estas duas datas o Ocidente cristão venceu a grande batalha naval
de Lepanto (1571)
12. A grande mudança deu-se com a modernização do
Ocidente, enquanto o Império Otomano se foi tornando “o homem doente da
Europa”. A começar pela Grécia no início do Século XIX, as províncias europeias
do império turco foram ganhando independência um após outro. No final da
Primeira Guerra Mundial a frente Islâmica/Asiática na Europa estava reduzida a
Istanbul, seus subúrbios e a Albânia.
13. À medida que o Império Otomano entrou em declínio e
finalmente colapsou, as nações europeias, sobretudo a Grã-Bretanha e França,
preencheram o vácuo, controlando, através de colónias ou de outras formas, os
países da África do Norte e do Médio Oriente que tinham feito parte do império
turco.
14. No final do Século XIX começou o movimento sionista.
Muitos judeus (que por esta altura já eram europeus) emigraram para a
Palestina. Os seus colonatos foram legitimados pela Declaração de Balfour
(1917). Eventualmente estes colonatos levaram à criação do Estado de Israel
(1948) e a uma série de guerras com os países árabes vizinhos.
15. Depois da Segunda Guerra Mundial surgiu o
nacionalismo árabe, cujo elemento agregador era um ódio universal por Israel.
Os árabes não viam (nem vêem) Israel da mesma maneira que os judeus, isto é,
como o restabelecimento de uma pátria antiga. Vêem-na como uma invasão ocidental do seu
território.
16. If
we can believe Homer, this whole tragic series began when the beautiful wife of
an important European ruler ran off with a handsome and charming young fellow
from Asia – an illicit love affair that touched off centuries of even more illicit
hatred.
Se acreditarmos em Homero, toda esta série trágica começou
quando a mulher lindíssima de um importante líder europeu fugiu com um jovem
charmoso e vistoso da Ásia – um romance ilícito que espoletou séculos de um
ódio ainda mais ilícito.
David
Carlin é professor de sociologia e de filosofia na Community College of Rhode
Island e autor de The Decline
and Fall of the Catholic Church in America
(Publicado pela primeira vez no sexta-feira, 18 de Dezembro
de 2015 em The Catholic Thing)
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É difícil acumular mais generalidades, meias verdades e puras estupidezes do que o sr. David Carlin o faz neste artigo. Falar de uma guerra mais longa" de 3000 anos é perpetuar o mito neoliberal americano de que as guerras são de civilização, e não de interesses. O mito neoliberal americano é uma contrapartida do mito marxista de que a história é luta de classes. Tudo isto confunde a pessoa de bom senso que muito mais facilmente que estes intelectuais secundários vê a miséria da guerra a ocultar o choque dos interesses que nunca são lineares. A insistência nestes artigos impede o leitor comum de formar uma opinião sensata sobre as geurras actuais no Médio oriente e evoca um frenesim de cruzada despropositada, contra todos os apelos do Papa Francisco e da Igreja. O último ponto do sr. Carlin -16 - é mesmo patético pela confusão que estabelece entre lendas e historiografia , com um final holywoodesco. Eu creio, caro Filipe Avillez que a Actualidade Religiosa devia escolher artigos com mais discernimento sobre estes assuntos geopolíticos.
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