Pe. Gerald E. Murray |
No dia 3 de Fevereiro a Conferência Episcopal da Alemanha
publicou um sumário das respostas de vinte e sete dioceses alemãs e “vinte
associações e instituições católicas conhecidas” a estas questões. Infelizmente
não temos acesso à lista das associações, o que podia dar jeito para análise.
Os resultados são tudo menos animadores, pelo contrário, são preocupantes.
Eis um exemplo do que foi apresentado no sumário (com os
meus comentários em itálicos e entre parênteses):
·
“As afirmações da Igreja (NB: afirmações, e não ensinamentos) sobre relações sexuais antes do
casamento, homossexualidade, divorciados e recasados e regulação de
nascimentos, pelo contrário, quase nunca são aceites, ou são expressamente
rejeitados na vasta maioria dos casos”.
· “A maioria dos baptizados também não está familiarizada com o termo ‘Direito Natural’”.
· “O Direito Natural praticamente não é objecto de detalhe ou elaboração no interior da Igreja e frequentemente é rejeitado como sendo ultrapassado ou incompatível com o discurso ético moderno. Em particular, existe uma crítica acentuada em relação a uma visão de Direito Natural estreita, biologicamente determinista, que não é ajustada à compreensão cristã do homem”.
· “Quase todos os casais que procuram casar pela Igreja já vivem juntos, frequentemente há muitos anos (estima-se que entre 90 e 100%)... Tendo em conta a natureza indissolúvel do casamento (respostas subsequentes dão a entender que também isto é rejeitado na Alemanha) e sabendo-se que um casamento falhado implica uma profunda crise de vida, muitos consideram até irresponsável casar sem ter vivido junto antes” (Viver em pecado é visto como um antídoto para a separação).
· “A maioria dos católicos cujos casamentos falharam não se preocupam com a questão da validade porque não consideram que os seus casamentos, muitos dos quais duraram anos, eram “nulos”, mas sim que falharam. Consideram que um processo de nulidade é desonesto. Esperam que a Igreja os deixe recomeçar numa nova relação (porque é que haveriam de esperar isso?), à imagem do que fazem as Igrejas Ortodoxas.
· “A exclusão canónica dos sacramentos em resultado do recasamento civil é vista pelos envolvidos como sendo uma discriminação injustificada e uma falta de misericórdia”.
· “Há uma tendência clara entre os católicos alemães para encarar o reconhecimento das uniões de facto entre pessoas do mesmo sexo, e o seu igual tratamento em relação ao casamento, como mandamentos da justiça. A abertura do casamento a pessoas do mesmo sexo, pelo contrário, é largamente rejeitada. Um elevado número de pessoas acha que seria positivo oferecer um rito de bênção a casais do mesmo sexo.”
· “A encíclica Humanae Vitae (1968) sobre paternidade responsável só é conhecida pela geração mais velha. A sua recepção foi limitada à partida no que diz respeito à proibição dos métodos de regulação de nascimento chamados “artificiais” (porquê descrevê-los como “chamados”?). Surge claro nas respostas que a encíclica é desconhecida pela geração mais nova.”
· “A distinção entre métodos de regulação de nascimento “naturais” e “artificiais” e a proibição destes, é rejeitada pela vasta maioria dos católicos como sendo incompreensível (o que não admira, se não conhecem a Humanae Vitae), e não é respeitada na prática”.
· “As respostas das dioceses são unânimes de que os católicos (todos, incluindo o clero?) não encaram a utilização de métodos contraceptivos “artificiais” como pecaminosos e, consequentemente, como algo que deve ser confessado”.
· “A maioria dos baptizados também não está familiarizada com o termo ‘Direito Natural’”.
· “O Direito Natural praticamente não é objecto de detalhe ou elaboração no interior da Igreja e frequentemente é rejeitado como sendo ultrapassado ou incompatível com o discurso ético moderno. Em particular, existe uma crítica acentuada em relação a uma visão de Direito Natural estreita, biologicamente determinista, que não é ajustada à compreensão cristã do homem”.
· “Quase todos os casais que procuram casar pela Igreja já vivem juntos, frequentemente há muitos anos (estima-se que entre 90 e 100%)... Tendo em conta a natureza indissolúvel do casamento (respostas subsequentes dão a entender que também isto é rejeitado na Alemanha) e sabendo-se que um casamento falhado implica uma profunda crise de vida, muitos consideram até irresponsável casar sem ter vivido junto antes” (Viver em pecado é visto como um antídoto para a separação).
· “A maioria dos católicos cujos casamentos falharam não se preocupam com a questão da validade porque não consideram que os seus casamentos, muitos dos quais duraram anos, eram “nulos”, mas sim que falharam. Consideram que um processo de nulidade é desonesto. Esperam que a Igreja os deixe recomeçar numa nova relação (porque é que haveriam de esperar isso?), à imagem do que fazem as Igrejas Ortodoxas.
· “A exclusão canónica dos sacramentos em resultado do recasamento civil é vista pelos envolvidos como sendo uma discriminação injustificada e uma falta de misericórdia”.
· “Há uma tendência clara entre os católicos alemães para encarar o reconhecimento das uniões de facto entre pessoas do mesmo sexo, e o seu igual tratamento em relação ao casamento, como mandamentos da justiça. A abertura do casamento a pessoas do mesmo sexo, pelo contrário, é largamente rejeitada. Um elevado número de pessoas acha que seria positivo oferecer um rito de bênção a casais do mesmo sexo.”
· “A encíclica Humanae Vitae (1968) sobre paternidade responsável só é conhecida pela geração mais velha. A sua recepção foi limitada à partida no que diz respeito à proibição dos métodos de regulação de nascimento chamados “artificiais” (porquê descrevê-los como “chamados”?). Surge claro nas respostas que a encíclica é desconhecida pela geração mais nova.”
· “A distinção entre métodos de regulação de nascimento “naturais” e “artificiais” e a proibição destes, é rejeitada pela vasta maioria dos católicos como sendo incompreensível (o que não admira, se não conhecem a Humanae Vitae), e não é respeitada na prática”.
· “As respostas das dioceses são unânimes de que os católicos (todos, incluindo o clero?) não encaram a utilização de métodos contraceptivos “artificiais” como pecaminosos e, consequentemente, como algo que deve ser confessado”.
A rejeição em larga escala dos ensinamentos da Igreja
revelada por este relatório é uma acusação contra a Igreja alemã. É nítido que
muito pouco tem sido feito ao longo dos últimos cinquenta anos para explicar e
promover os ensinamentos da Igreja sobre o casamento, a família e a moral
sexual. Contudo, isso não parece incomodar minimamente os editores que
prepararam o relatório.
Há uma total ausência de arrependimento ou remorsos. Nunca
se pergunta: “Como é que chegámos aqui?”. Não há qualquer autocrítica por parte
das dioceses ou associações católicas sondadas; nenhum sentido de pena de que
as pessoas estão a cair tão facilmente em padrões de comportamento pecaminosos
e que consideram os ensinamentos da Igreja risíveis ou ofensivos.
É difícil imaginar uma atitude tão passiva no que diz
respeito à rejeição de ensinamentos fundamentais da Igreja sobre casamento e
sexualidade humana caso os relatores estivessem interessados em promover ou
defender esses ensinamentos, como é da responsabilidade de todos os católicos,
sobretudo do clero.
Imagine-se que o Vaticano fazia um inquérito sobre as
atitudes em relação à ecologia e descobrisse que a maioria dos baptizados
alemães gosta de incendiar florestas e matar animais ao desbarato, essa
informação seria enviada para Roma sem qualquer indício de condenação, ou
sequer de vergonha, pela Conferência Episcopal?
Estamos perante uma tentativa de forçar uma mudança nos
ensinamentos da Igreja sobre a moral sexual. A sociologia tem primazia em
relação à razão e à revelação. O povo falou, disse-nos o que quer, seria
injusto ignorar ou contradizê-lo! Das duas uma, ou os fiéis alemães apresentam
uma ignorância invencível sobre a doutrina católica, ou acham-na pouco
convincente. Por isso, os ensinamentos devem ser abandonados.
Corremos o risco de o sínodo se tornar um campo de batalha
perigoso. Mas talvez isso seja para o bem da Igreja. O espírito mundano que
trata os ensinamentos da Igreja como meras opiniões é destrutivo da fé. Esse
espírito deve ser confrontado e refutado. O ensinamento da Igreja é de Deus e a
sua verdade não depende das opiniões de católicos mal formados.
Os defensores da Igreja devem estar preparados para se
aguentarem firmes e não cederem a pressões como as que se encontram neste
documento da Alemanha.
O padre Gerald E. Murray, J.C.D. é pastor da Holy Family
Church, em Nova Iorque, e especializado em direito canónico.
(Publicado pela primeira vez em The
Catholic Thing no Sábado, 15 de Fevereiro de 2014)
The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.
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