Adenda II
No dia 27 O Observador publicou um novo artigo em que pede desculpa ao bispo por ter deturpado as suas palavras e lhe dá voz para esclarecer a sua posição. O artigo explica ainda por que é que seria grave que um bispo - ou qualquer católico, já agora - negasse a virgindade de Nossa Senhora.
O que é interessante sobre este segundo artigo é que é assinado pela mesma jornalista que assina o primeiro, mais um colega dela que se tem especializado em religião nos últimos tempos e ainda o director executivo do Observador... É pelo menos indicativo da dimensão que a coisa assumiu lá dentro.
Queria só dizer ainda que, da mesma forma que comecei este artigo a dar o benefício da dúvida ao bispo, porque conheço os jornalistas, também não garanto que a jornalista original tenha toda a culpa do que se passou e também hesitaria muito antes de a crucificar a ela. Se D. Manuel Linda não foi claro da primeira vez que falou, então também tem culpas e convém lembrar que antes de um artigo ser publicado passa sempre por editores e nem sempre o jornalista pode ser responsabilizado pelo resultado final.
Lição? Cuidado a tratar assuntos de religião. Cuidado a falar com jornalistas. E já agora mais vale não crucificar ninguém, mesmo.
Adenda I
Desde que escrevi este texto, no dia 24, D. Manuel Linda proferiu a seguinte frase, na homilia da missa de Natal:
"Evidentemente, não haveria Natal sem a Virgem Santa Maria, Aquela que, de acordo com a fé da Igreja -que é também a minha fé!-, é proclamada “virgem antes, durante e depois do parto”, de maneira expressa a partir do Sínodo de Milão (ano 390), ou “Mater intacta”, como dizemos na ladainha. Saudamo-la e agradecemos-lhe profundamente o seu insubstituível contributo para a história da nossa salvação."
Este não é um texto a crucificar D. Manuel Linda. Este é um texto escrito por um jornalista de religião, que sabe bem como é que se costuma escrever sobre religião na imprensa, e que por isso quer dar a D. Manuel Linda o benefício da dúvida.
No dia 27 O Observador publicou um novo artigo em que pede desculpa ao bispo por ter deturpado as suas palavras e lhe dá voz para esclarecer a sua posição. O artigo explica ainda por que é que seria grave que um bispo - ou qualquer católico, já agora - negasse a virgindade de Nossa Senhora.
O que é interessante sobre este segundo artigo é que é assinado pela mesma jornalista que assina o primeiro, mais um colega dela que se tem especializado em religião nos últimos tempos e ainda o director executivo do Observador... É pelo menos indicativo da dimensão que a coisa assumiu lá dentro.
Queria só dizer ainda que, da mesma forma que comecei este artigo a dar o benefício da dúvida ao bispo, porque conheço os jornalistas, também não garanto que a jornalista original tenha toda a culpa do que se passou e também hesitaria muito antes de a crucificar a ela. Se D. Manuel Linda não foi claro da primeira vez que falou, então também tem culpas e convém lembrar que antes de um artigo ser publicado passa sempre por editores e nem sempre o jornalista pode ser responsabilizado pelo resultado final.
Lição? Cuidado a tratar assuntos de religião. Cuidado a falar com jornalistas. E já agora mais vale não crucificar ninguém, mesmo.
Adenda I
Desde que escrevi este texto, no dia 24, D. Manuel Linda proferiu a seguinte frase, na homilia da missa de Natal:
"Evidentemente, não haveria Natal sem a Virgem Santa Maria, Aquela que, de acordo com a fé da Igreja -que é também a minha fé!-, é proclamada “virgem antes, durante e depois do parto”, de maneira expressa a partir do Sínodo de Milão (ano 390), ou “Mater intacta”, como dizemos na ladainha. Saudamo-la e agradecemos-lhe profundamente o seu insubstituível contributo para a história da nossa salvação."
Este não é um texto a crucificar D. Manuel Linda. Este é um texto escrito por um jornalista de religião, que sabe bem como é que se costuma escrever sobre religião na imprensa, e que por isso quer dar a D. Manuel Linda o benefício da dúvida.
Há aí muita gente preocupada com um artigo que saiu hojeno Observador. É mais um daqueles artigos a “desmistificar” o Natal, que
explica que provavelmente não foi neste dia que Jesus nasceu, que se calhar nem
nasceu em Belém, que os cristãos adaptaram a festa da Saturnália… Enfim, nada
de novo, e até pode ser interessante para algumas pessoas que não o tenham lido
já em artigos idênticos, publicados todos os anos. Mas eu, que sou jornalista,
sei melhor que ninguém que por vezes temos de escrever peças destas. Aqui,
portanto, nada contra ninguém.
O problema surge nesta frase. «Jesus não é filho de uma
mulher virgem, explicam quer o padre Anselmo Borges quer o bispo D. Manuel
Linda. Ele foi concebido por Maria e José como qualquer outra pessoa e é
“verdadeiramente homem”. A virgindade só é associada a Maria como
metáfora para provar que Jesus era uma pessoa muito especial.»
Que o padre Anselmo
Borges pense isto e o tenha dito, não tenho grandes dúvidas. Mas se D. Manuel
Linda o pensa e o diz, então é grave. É grave porque contraria um dogma de fé,
de que Maria era virgem quando concebeu Jesus e que assim permaneceu.
Mas será que D.
Manuel Linda disse mesmo aquilo que o jornal diz que ele disse? É aqui que lhe
dou o benefício da dúvida. Que citações é que há?
«O bispo do
Porto refere ao Observador que “nunca devemos referir a virgindade física de
Virgem Maria”: “O Antigo Testamento diz muitas vezes que Jesus iria nascer
de uma donzela, filha de Israel, que fosse simples, pobre e humilde. Mas na
verdade isso é apenas uma referência à devoção plena dessa mulher a Deus.
O dom de ser mãe de Deus foi dado a Maria por ela ter um coração
indiviso. O que importa é a plena doação“, explica D. Manuel Linda.
E acrescenta: “Há com certeza mulheres com o hímen rompido [que é associado ao
sinal físico da perda da virgindade por uma mulher] que são mais virgens no
sentido da plena devoção a Deus do que algumas com o hímen intacto”.»
Neste trecho é
claro que D. Manuel Linda se está a referir à virgindade no sentido
estritamente anatómico, de ter o hímen íntegro. Não há nada aqui que justifique
o que O Observador escreve antes, que o bispo terá dito que Jesus foi concebido
através de uma relação sexual entre Nossa Senhora e São José. Se o disse,
então, não há citação, e eu sei demais sobre estas coisas para simplesmente
confiar na interpretação feita pelos autores da peça.
A questão da integridade
do hímen como condição de virgindade é algo que o nosso tempo não compreende,
mas que noutros tempos já foi considerado fundamental. A dificuldade biológica
é que, salvo intervenção milagrosa, Jesus não poderia ter nascido de forma
normal sem romper o hímen de Nossa Senhora de qualquer maneira. Mas isso
significa que ela deixava de ser virgem?
Santo Agostinho,
salvo erro, aborda esta questão e fala mesmo em intervenção milagrosa, dizendo
que Jesus passou através do hímen como a luz através de uma janela. A mim,
francamente, a questão nem aquece nem arrefece.
Certamente o
espírito tanto do texto como da doutrina da Igreja é que Jesus não foi
concebido através de uma relação sexual, mas sim por intervenção divina. Há
várias formas de se romper o hímen e não nos passa pela cabeça, hoje,
questionar a virgindade de uma mulher que nunca tenha tido relações sexuais por
ela ter, ou não, essa membrana intacta.
A questão que se
põe é: D. Manuel Linda acredita que Jesus foi concebido sem que Nossa Senhora
tivesse tido relações sexuais com nenhum homem? Eu não quero acreditar que a
resposta seja negativa e sugiro aos indignados que dêem o benefício da dúvida,
até que o próprio possa esclarecer a questão.
Mas que tristeza a nossa Igreja Católica acreditar em coisas tão absurdas como Nossa Senhora ser Virgem no sentido em que não concebeu do marido. Amo e tenho uma devoção enorme a Nossa senhora, minha mãe do céu, precisamente porque foi mãe como eu sou e concebeu como eu e todas as mulheres concebem. Não é menos por isso, pelo contrário! Por acaso ter relações sexuais com o marido faz com que uma mulher tenha menos valor que uma que uma virgem? É por estas e por outras que as pessoas se têm vindo a afastar da Igreja. Só lamento que o Bispo do Porto tenha ficado tão amedrontado que retirou o que muito bem disse.
ReplyDeleteMais absurdo é dizer que se é católica e não acreditar no dogma da virgindade perpétua de Maria.
DeleteSe não acredita no dogma da virgindade perpétua de Maria, desculpe mas pode ser o que quiser, mas não pode ser católica mas também não é obrigada a isso. A Igreja católica não e um supermercado onde se escolhe o que se quer acreditar.
ReplyDeleteSou católica, mas isso não me impede de pensar, nem me torna burra ou ignorante! Afinal, em que é que o facto de Nossa Senhora não ser virgem, lhe retira qualidades? O senhor soueduard é casado? tem filhos? Considera que a sua mulher, ao engravidar, ficou menos pura e concebeu os seus filhos em pecado? Posso, sim, ser católica e não acreditar nos dogmas. Alguma vez Jesus falou de dogmas ou de coisas no género? Não confunda religião com Deus! Eu sou e quero ser, essencialmente cristã. Foi na Igreja Católica que aprendi a sê-lo, mas como tenho neurónios, não posso engolir tudo o que me enfiaram na cabeça. Já teria perdido a fé. As religiões, incluindo a minha, são construções humanas, mediações, mas não possuem a verdade toda, o Fundamento. Se o senhor é católico porque acredita nos dogmas é pouco, muito pouco!
ReplyDelete