Brad Miner |
Embora esta biografia cinematográfica do fundador dos
jesuítas tenha estreado no Verão passado, só esta semana é que tive
oportunidade de a ver. O filme do guionista-realizador Paulo Dy foi gravado –
em inglês – entre Espanha e as Filipinas, sob os auspícios da Fundação de
Comunicações Jesuítas das Filipinas (JesCom Films). É pouco provável que
apareça no seu cinema local mas, como explicarei mais à frente, pode tomar a
iniciativa de organizar um visionamento para um grupo ou uma organização
católica.
E sugiro que o façam, porque este é um filme católico que
está muito à frente de qualquer outro que tenho visto nos últimos anos.
Consegue ser simultaneamente verdadeiramente católico e bom cinema.
O filme começa com fogo e água – um tema que se mantém ao
longo da película. Entramos pelo fogo da conversão e emergimos através do baptismo
da vida nova. Inácio Lopez de Loyola (desempenhado pelo actor Andreas Muñoz)
desenvolve-se como uma flor a brotar de terra queimada – é um soldado forjado
como uma espada nas chamas e depois submetido à água para testar a força. É
mesmo assim que culmina a cena, e é muito forte.
A história de Loyola, um nobre espanhol quebrado pela
guerra que acaba por fundar a Sociedade de Jesus, é como muitas verdadeiras
histórias de conversão: De Agostinho a Merton, mas sobretudo São Francisco de
Assis, antes dele e Charles de Foucauld, depois, que também eram soldados para
quem os profundos ferimentos da guerra levaram a uma vontade mais profunda para
servir Cristo. Tal como Agostinho, Loyola viveu uma vida bastante carnal até
ser gravemente ferido na Batalha de Pamplona, em 1521.
O filme custou cerca de 1 milhão de dólares (trocos para
Hollywood). Normalmente nos filmes de guerra de baixo custo as cenas de combate
são pouco impressionantes, mas não é o caso aqui. Alguns dos efeitos especiais,
sim, são limitados, mas não podemos esperar efeitos ao nível do “Reino dos
Céus” de Ridley Scott, que teve um orçamento dez vezes superior. Mas no geral,
as imagens de guerra são potentes – sobretudo as imagens das sequelas do
combate, por exemplo a perna destroçada de Loyola, que o deixou coxo para o
resto da vida, precisa de ser colocada no sítio, depois partida novamente e
recolocada. Estas cenas devem muito à realização prudencial de Dy e à
cinematografia de Lee Briones Meily.
Mas é a representação de Muñoz que verdadeiramente faz
com que as cenas e, na verdade, todo o filme, funcionem tão bem. É ele quem dá
unidade. É um papel pelo qual facilmente poderia ter sido nomeado para um
Oscar, caso os membros da academia tivessem visto o filme. Há outros actores
igualmente bons, o suficiente para terem sido nomeados para um prémio de elenco
da Screen Actors Guild, se essa malta tivesse visto o filme.
Deve ser mais fácil representar a agonia do que o carinho
e há uma cena no filme – na minha opinião a melhor – em que entra um Inácio desgastado
pela guerra, e uma prostituta, Ana. O seu irmão e o seu primo levaram-no a um
bordel, na esperança de o animar depois da guerra, sem saber que ele já ouviu o
chamamento de Deus. Sentado na cama de Ana, recusa os seus avanços, querendo
apenas conversar, algo que nenhum homem lhe tinha pedido.
Ana, desempenhada por Marta Codena, e Inácio falam sobre
Jesus. Tal como faz com outras personagens durante o filme, ele pede-lhe que
use a sua imaginação para ver Jesus sentado numa cadeira no seu quarto. A
conversão dele está bem encaminhada, a dela está apenas a começar. A cara de
Ana é transformada primeiro pelo medo, depois pela esperança, e a dele também.
É um momento tão emocionalmente poderoso como qualquer outro que tenho visto
nos ecrãs nos últimos anos; a subtileza estonteante atinge-nos como uma vaga.
Pouco depois Loyola parte para seguir as pegadas de São
Francisco. Serve os doentes e os moribundos num hospital em Manresa, Espanha, e
vive durante meses numa caverna – torturando-se e sendo tentado por um demónio
(também representado por Muñoz). As cenas de autoflagelação remetem sempre para
uma forma de loucura, mas o resultado da angústia de Inácio é uma quase total
sanidade. O que o leva à presença da Inquisição.
Esta parte do filme é estranha, não porque não tenha
acontecido (aconteceu), mas porque o inquisidor que o julga por pregar sem ter
curso de teologia nem ser ordenado, é Alonso de Salazar Frias. Mas Frias –
desempenhado por Gonzalo Trujillo – que era conhecido como o defensor das
bruxas, só nasceu oito anos depois da morte de Loyola. Talvez tenha havido
outro inquisidor chamado Frias, mas se sim, não encontrei qualquer referência.
Mas adiante.
Há medida que a história se desenrola, vemos Loyola a
escrever um diário da sua vida (que formaria a base da sua autobiografia) e os
seus Exercícios Espirituais. A conversão pode ser descrita como morrer em, e
por, Cristo e, em certo sentido, Loyola desenvolveu uma fórmula para fazer isso
mesmo – um processo disciplinado através do qual tudo é visto através de Jesus
Cristo e oferecido a Cristo.
O filme termina sem contar a história da fundação da
Sociedade de Jesus e as décadas finais da vida de Loyola, por isso talvez
possamos esperar uma sequela – eventualmente com um flashback para a sua viagem
à Terra Santa. Acredito que isso acontecerá se houver gente suficiente a ver o
filme. A Ignatius Press está a disponibilizar o filme para exibições
cinematográficas patrocinadas por qualquer organização. Podem encontrar mais informação aqui. [Nota do Tradutor: O
gabinete de comunicação dos jesuítas em Portugal diz-me que estão previstas
sessões de visionamento do filme, mas ainda não há detalhes concretos].
O filme é para maiores de 13 [nos EUA], em grande parte
por causa das cenas de flagelação. Entre o elenco contam-se ainda a belíssima
Tacuara Casares, que representa a Princesa Casares e Javier Godino e Mario de
la Rosa, que fazem de parentes de Loyola. A elegante Isabel Garcia Lorca
representa uma das primeiras mecenas de Inácio e Julio Perillán aparece no
papel do dominicano que defende Inácio diante da Inquisição. Pepe Ocio é um
camarada em armas de Loyola, cuja morte assombra o futuro santo e o projecta em
direcção a Deus.
(Publicado pela primeira vez na terça-feira, 21 de Fevereiro
de 2017 em The Catholic Thing)
Brad Miner é editor chefe de The
Catholic Thing, investigador sénior da Faith & Reason Institute e faz
parte da administração da Ajuda à Igreja que Sofre, nos Estados Unidos. É autor
de seis livros e antigo editor literário do National Review.
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