Wednesday 28 January 2015

Porque é que o Sínodo de 2015 não fala de Contracepção?

Pe. Mark Pilon
Talvez a coisa mais surpreendente sobre as novas Perguntas para o acolhimento e o aprofundamento da Relatio Synodi – o pedido de opiniões em preparação para o sínodo de Outubro 2015 – não seja o que contêm mas a ausência de questões sobre um assunto que se poderia esperar de um documento deste género. Entre as 46 questões, nem uma toca directamente a questão da contracepção.

É incrível. Como é que um sínodo que lida com o tratamento pastoral do casamento e da família nos dias de hoje consegue excluir completamente qualquer pergunta que tenha a ver especificamente com um assunto que tem sido central para essas mesmas questões ao longo dos últimos cinquenta anos?

Não acredito que seja coincidência. A contracepção tem tido um impacto inegável e grave sobre a instituição do casamento. Pode-se argumentar que o impacto tem sido positivo, mas ninguém pode dizer que se trata de uma preocupação marginal. E, todavia, aqui temos um documento que nem sequer menciona a questão directamente. Há uns pontos gerais sobre o encorajamento da generosidade no acolhimento da vida e a relação essencial entre o casamento e a abertura à vida; e bem. Mas nunca se toca na relação evidente entre a contracepção e o facto de muitos casamentos estarem fechados a ambos.

O documento menciona as “mudanças” demográficas e perguntas se as pessoas têm “consciência das graves consequências” que daí advêm, sem nunca explicitar de que mudança se fala realmente e evitando assim usar descrições mais sérias como “suicídio demográfico” ou “inverno demográfico”, a formulação usada por São João Paulo II.

No Humanae Vitae, esta “mudança” era entendida como sendo uma explosão demográfica, mas hoje não é o caso. Quão importante pode ser esta questão, se não merece mais do que uma frase na pergunta 43? Os países europeus estão em queda-livre demográfica e o documento contém uma referência vaga e nenhuma referência a contracepção nem aqui nem em parte alguma?

Mas não é só a crise demográfica que pede alguma referência de contracepção e da mentalidade contraceptiva. Um dos discernimentos centrais do Beato Paulo VI e, sobretudo, de São João Paulo II era de que o uso de contraceptivos num casamento é destrutivo não só do sentido procriativo mas também da sua dimensão unitiva.

Mas a aparente falta de preocupação com a questão da contracepção parece trair uma convicção de que a instabilidade marital e a crise das famílias tem pouca ou nenhuma relação com o facto de a vasta maioria dos casais católicos usarem contracepção.

Mais, existe uma miopia notável em não compreender os falhanços da catequese e das preparações para o matrimónio por todo o mundo no que diz respeito ao mal moral que é a contracepção. E porém, enquanto o documento inclui questões sobre a catequese e a preparação dos matrimónios no que diz respeito à indissolubilidade do casamento, por exemplo, não existe qualquer questão relacionada com uma correcta catequese e preparação para o casamento no que diz respeito à contracepção -  a não ser que se acredite que a referência à “abertura à vida” cobre o assunto, o que seria absurdo.

Então o que é que se passa aqui? Durante meio século, segmentos inteiros da hierarquia da Igreja, tanto padres como bispos, têm-se mantido em silêncio, para não usar um termo pior, no que diz respeito à contracepção e à preparação para o casamento. O mesmo em relação ao confessionário. Tem sido uma revolução silenciosa. Não podiam mudar a doutrina, por isso ignoravam os ensinamentos.


Será que isto explica o silêncio do documento sinodal? Este ensinamento não pode ser alterado, como o Papa Francisco já disse claramente. E porém, parece claro que muitos líderes na Igreja continuam a manter-se cegos à verdade dos ensinamentos de dois grandes papas, de que a contracepção é um veneno para o casamento e para a sociedade em geral.

Então qual é a solução? Faz-se o mesmo que se tem feito ao longo das décadas, enterra-se a questão com silêncio. Fala-se vagamente da “abertura à vida” da “generosidade” no casamento, mas não se especifica que a contracepção leva as pessoas a estarem fechadas à vida ou egoístas em relação a ter filhos. É como uma comissão médica a falar de SIDA sem referir que ter relações promiscuas tem muito a ver com a sua transmissão.

A velha “Aliança Europeia”, que teve tanta influência nas primeiras fases do Concílio Vaticano II, poderá ter voltado ao poder neste sínodo. Os principais defensores da contracepção no Vaticano II eram principalmente teólogos e bispos europeus que faziam parte desta Aliança Europeia, tão bem retratada no livro “The Rhine Flows into the Tiber”.

Os nomes podem ter mudado, mas a rejeição básica do ensinamento da Igreja sobre contracepção mantém-se. A “sensibilidade” pastoral exige que se as pessoas querem contraceptivos, então devem tê-los. Esse não é certamente o objectivo do sínodo, mas é uma questão que não vai desaparecer. Se o sínodo se mantiver silencioso sobre o assunto, isso será entendido quase de certeza como um abandono da Igreja em relação a este assunto, ao nível “pastoral”.

A tragédia é que este sínodo poderia ter tido um impacto positivo, não só para a renovação do casamento, mas para salvar um continente Europeu apostado em autodestruir-se. Se não lidarmos directamente com a questão da contracepção de forma frontal e positiva, então o Sínodo terá pouco impacto na renovação e estabilidade do casamento, e a Europa, bem como a América e grande parte do resto do mundo, continuará a trilhar o caminho do suicídio demográfico, não por meio de armas de destruição maciça, mas através de pílulas minúsculas, mas poderosas.


O padre Mark A. Pilon, sacerdote da Diocese de Arlington, Virginia, é doutorado em Teologia Sagrada pela Universidade de Santa Croce, em Roma. Foi professor de Teologia Sistemática no Seminário de Mount St. Mary e colaborou com a revista Triumph. É ainda professor aposentado e convidado no Notre Dame Graduate School of Christendom College. Escreve regularmente em littlemoretracts.wordpress.com

(Publicado pela primeira vez no Sábado, 24 de Janeiro de 2015 em The Catholic Thing)

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