Wednesday 7 January 2015

De Escândalos e Escolas Católicas

Randall Smith
No ano que passou assistimos a uma série de conflitos mediáticos à volta de escolas católicas que despediram professores que tinham engravidado fora do casamento, ou que revelaram ser homossexuais. Neste artigo não tenciono comentar nenhum caso específico.

A verdade é que o problema com a maioria dos comentários a casos deste género é que nos falta o conhecimento dos detalhes relevantes para tomar uma decisão sábia. Da mesma forma que casos difíceis dão más leis, a falta de conhecimento dos detalhes impede-nos de dizer coisas que contribuam para um debate útil. A prudência recomenda que tenhamos um melhor sentido do contexto relevante do que aquele que lemos, vemos e ouvimos nas notícias.

Assim, por exemplo, precisaríamos de saber se a professora solteira que engravidou se opõe abertamente aos ensinamentos da Igreja, o que normalmente não sabemos. Uma grávida solteira, seja professora ou aluna, pode acabar por ser fonte de boas lições para a comunidade, dependendo da situação. É preciso pensar, por exemplo, se ao exilar uma mulher nestas situações a escola católica não está a colaborar com as forças do mal, pressionando-a a fazer um aborto.

Conheço demasiados casos de raparigas de famílias conservadoras, católicas e piedosas, por exemplo, que optaram por abortar simplesmente porque tinham demasiada vergonha de revelar a verdade aos seus pais. O que é pior, em vários casos pais ou irmãos que são supostamente “bons” católicos desviam o olhar quando suspeitam que vai haver um aborto. “Problema” resolvido. Escândalo evitado. Deixa de ser necessário comparecer diante da comunidade como um daqueles pais, alguém que criou uma filha que engravida solteira.

Quanto aos pais católicos dos rapazes que engravidaram as raparigas, bem, isso tende a nem sequer ser um problema. A resposta é simples, mantê-lo na escola, agir como se nada fosse e negar qualquer responsabilidade.

Por estas razões, e outras, expulsar mulheres grávidas das escolas, sejam professoras ou alunas, tende a parecer-me uma má ideia.

Porém, se eu fosse um pai pobre a tentar ajudar os meus filhos a escapar à pobreza para terem um futuro melhor, imagino que não veria com bons olhos enviar a minha filha para uma escola onde dezenas de raparigas engravidaram antes de casar e na qual, por várias razões, a gravidez nestas situações se tornou socialmente “aceitável”, quase como um rito de passagem. O primeiro beijo, o primeiro namoro, o primeiro baile e agora o primeiro filho fora do casamento. Isso é um problema. Mas também o é uma escola que exila as raparigas, mal engravidam, mas nada faz para responsabilizar os rapazes envolvidos. O contexto em que se tomam as decisões é fundamental.

De igual forma, uma pessoa que vive a sua atracção homossexual de forma casta enquanto ensina numa escola católica é muito diferente de uma que viola abertamente os ensinamentos da Igreja.

Mas por outro lado isso aplica-se a toda a gente numa escola católica. Uma escola católica que despediria um homossexual casto, que vive fielmente os ensinamentos da Igreja, ou uma grávida solteira, mas que nem pensaria em despedir uma freira que passa a vida a criticar o Magistério, age de má-fé. A gravidez pré-matrimonial ou a atracção homossexual são as únicas razões pelas quais se pode despedir um professor católico? Se sim, temos um problema.


Não é menos apropriado ter um funcionário com atracção por pessoas do mesmo sexo, mas que vive esse desafio de forma honesta em autêntica fidelidade ao Magistério da Igreja a ensinar numa escola católica do que seria ter outra que se esforça por ser fiel no que diz respeito aos ensinamentos sobre pornografia, luxúria ou consumismo, ou gula ou toda uma série de outros vícios e pecados. Se as instituições católicas só pudessem contratar pessoas sem pecado, as escolas estariam vazias e eu desempregado.

Conheço muitos homens e mulheres que falam abertamente sobre as suas atracções homossexuais e que escrevem eloquentemente sobre a forma como vivem em acordo com os ensinamentos da Igreja. Um deles é casado com uma mulher e tem três filhos lindos. Seria para mim um orgulho tê-los como colegas na universidade católica onde dou aulas. Alias, qualquer um deles seria preferível aos colegas que se dizem católicos mas que odeiam os ensinamentos do Magistério com uma paixão profunda que só um filho revoltado pode sentir pelos seus pais. Porque é que pessoas destas aceitam trabalhar numa universidade católica? Não faço ideia.

As escolas deviam prestar menos atenção a quem se intitula “católico” e muito mais a encontrar pessoas que acreditam verdadeiramente na missão da escola e estão aptas a ajudar a fazê-la cumprir. Quanto a despedir pessoas unicamente para “evitar escândalo” (um caminho que lida certamente à hipocrisia), lembremo-nos que nos dias que correm, o mero facto de se ser católico já é motivo de escândalo. Nesta cultura em que vivemos, uma escola autenticamente “católica” é simplesmente uma escola de escândalo. Esta realidade tem sido frequente ao longo da história.

Na maioria destas disputas há que tomar uma decisão ajuizada. Há diferentes “bens” a procurar e “males” a evitar. Quando estes casos se tornam distracções no grande circo mediático tende-se a assistir a uma corrida à condenação, com uma parte a criticar os dirigentes da escola, como se fossem intolerantes cheios de ódio e a outra a defender a escola como se estivessem a defender a Santa Madre Igreja.

São Paulo adverte-nos a mantermo-nos ocupados e não nos intrometermos na vida alheia. Condena os fofoqueiros e os preguiçosos, que vão de casa em casa e que dizem o que não devem.

Os media ganham dinheiro com polémicas. Temos um dever para com os nossos irmãos católicos de agir com paciência e prudência. Temos de proteger as ovelhas, sem nos juntarmos à matilha de lobos que uivam à porta do curral.


Randall Smith é professor de teologia na Universidade de St. Thomas, Houston.

(Publicado pela primeira vez no sábado, 3 de Janeiro 2015 em The Catholic Thing)

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