Wednesday, 26 November 2014

Os Limites da Era Secular


Randall Smith
O filósofo católico Rémi Brague, vencedor do prestigiado Prémio Ratzinger, esteve na minha universidade a semana passada. O francês é daqueles oradores que adora fazer comentários interessantes à margem do tema, uma característica que aprecio bastante. Num destes comentários mencionou que os “seculares” são aqueles cujas vidas se definem por um horizonte de 100 anos. “A palavra 'secular' não quer dizer mais que isso”, afirmou.

Nunca tinha pensado na palavra “secular” ou o seu antecessor saeculum desta forma, uma vez que a sua raiz cent- (de centum, que significa cem), não aparece. Por isso fui investigar.

Então descobri o seguinte. Na antiguidade romana um saeculum era considerado um tempo mais ou menos equivalente à vida de uma pessoa, ou os anos necessários para renovar completamente a população humana. De quanto tempo estamos a falar?

As opiniões divergem, mas durante a era de César Augusto os romanos estabeleceram que um saeculum eram 110 anos. As gerações seguintes ficaram-se por 100 certos e, em resultado disso, nas línguas românicas, as palavras derivadas de saeculum passaram a significar “um século”, como é o caso de siglo, em espanhol, secolo em italiano e siècle, em francês. Por isso o Prof. Brague tinha toda a razão quando dizia que a palavra “secular” tem a ver com “cem anos”, embora a relação seja mais clara em francês do que em inglês.

Consideremos então, a diferença entre uma visão “secular” do mundo, por oposição a uma visão ancorada na “eternidade” (in saecula saeculorum). Se vivesse na Europa de Leste em 1940, por exemplo, podia perfeitamente ouvir alguém dizer: “O Cristianismo está acabado: o comunismo é o futuro”. Ou então digamos que vivia na Roma de César Augusto, poderia perfeitamente ouvir dizer que “O futuro está com o Império Romano e não com um qualquer carpinteiro judeu crucificado”.

Sejamos justos, ambos os comentários fariam todo o sentido da perspectiva de uma pessoa a extrapolar com base na sua própria vida. Mas a extrapolação, como os cientistas bem sabem, pode ser uma coisa arriscada.

As pessoas tendem a dizer: “Não queres ficar do lado errado da história”. Ao que eu respondo: “Se tivesse vivido numa altura em que “ficar do lado errado da história significava recusar filiar-me no Partido Comunista na Polónia, então sim, eu preferia ficar do lado errado. E daqui a 200 anos quero que fique bem claro que eu escolhi um caminho diferente daquele que foi traçado pelas forças, supostamente irresistíveis, da 'história', que relativizaram ou suprimiram a dignidade humana em nome da marcha do 'progresso'”.

De uma perspectiva utilitarista dos próximos duzentos anos, compreende-se a afirmação: “Pensa nos bons resultados que podemos obter através da morte deste embrião.” Compreende-se como uma afirmação dessas possa ser tentadora no caso de nos dizerem que poderia conduzir a uma cura para o Alzheimers, por exemplo, ainda durante a nossa vida.

Mas, de uma perspectiva da eternidade, do ponto de vista de Deus, por assim dizer, uma vida inocente tem um valor infinito. Essa alma é eterna ao contrário de tudo aquilo que neste momento nos parece ser de valor – enriquecer, criar grandes negócios, fazer a próxima grande descoberta no ramo da ciência e tecnologia – estas coisas, como o Império Romano e como o grande movimento marxista, passarão com o tempo. 
 
Rémi Brague
Um dos benefícios de olhar para a história contemporânea de uma perspectiva da eternidade (ou, para sermos francos, de uma perspectiva histórica que ultrapasse as últimas centenas de anos) é o facto de se perceber mais claramente o quão efémera a história “secular” pode ser. “Também isto passará”. O Império Romano e os césares passaram. Os czares da Europa também. E a União Soviética. Alguns acreditam que, qualquer dia, o aborto, a eutanásia e a destruição de embriões para experiências em células estaminais, serão encaradas como hoje encaramos as leis de separação racial e a escravatura: aberrações trágicas da história.

E porém, embora a história possa de facto ser efémera, olhá-la do ponto de vista cristão fornece uma perspectiva da qual a podemos valorizar, mesmo com todas as suas limitações. Não vamos estabelecer o reino de Deus na terra, mas cada acto, cada escolha, tem uma importância infinita na eternidade.

As eras “seculares” tendem a dedicar-se a utopias que são inalcançáveis e que frequentemente dão aso a actos trágicos de desumanidade, animados pela esperança de realizar sonhos impossíveis. Quando estas esperanças se revelam ilusórias, o que sempre acontece, são substituídas por um sentido trágico de cinismo e niilismo. Se tudo o que procuramos alcançar vai desaparecer dentro de uma centena de anos, porquê o esforço?

O mundo moderno “secular” baloiça assim para a frente e para trás, de forma esquizofrénica, entre as esperanças ingénuas por projectos utópicos ilusórios e os medos niilisticos de que simplesmente não vale a pena viver. Para contrariar este “secularismo”, precisamos de uma narrativa que explique porque é que a vida humana, limitada como é, é boa – que viver vale a pena, mesmo que a vida seja limitada e terrivelmente imperfeita. Deus, ao enviar o seu filho unigénito, mostra-nos como o mundo é bom, como a vida é boa, mesmo no seu estado decaído.

O problema do “secularismo” não é o facto de ser demasiado “mundano”. O Cristianismo preocupa-se profundamente com o mundo: diz-nos que Deus sacrificou o seu único filho pelo mundo. O problema com o “secularismo” é que a sua visão do mundo é demasiado limitada, demasiado “bidimensional”. Num mundo bidimensional só conseguimos ver o que está à nossa frente e o que está atrás. Seria fácil concluir a partir desse ângulo que toda a página está recheada de rabiscos caóticos. É preciso subir um pouco para poder olhar de cima e ver que afinal se trata de um belíssimo desenho. Ou então é preciso ter fé no Artista.

Em Cristo o temporal e o eterno encontram-se e é nesse casamento que se encontra a salvação do mundo e a única verdadeira esperança da história.


Randall Smith é professor de teologia na Universidade de St. Thomas, Houston.

(Publicado pela primeira vez na Quarta-feira, 19 de Novembro 2014 em The Catholic Thing)

© 2014 The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de reprodução contacte: info@frinstitute.org

The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.

Friday, 21 November 2014

Estado Islâmico imparável? Lei do aborto inconstitucional?

A freira libanesa que trabalha com refugiados iraquianos
Cerca de um mês depois de terem começado os ataques aéreos contra o Estado Islâmico não só o cerco a Kobane continua, como o grupo atacou hoje e ameaçava ocupar a cidade de Ramani, capital da província de Anbar.

O drama dos refugiados causados pelo grupo islamita é o que traz a Portugal a irmã Hanan Youssef, que trabalha com refugiados no Líbano. Está a falar em vários pontos do país, mas amanhã será publicada uma entrevista com a religiosa, feita por mim, que aconselho a todos os que se preocupam com aquela região.

Ontem decorreu um debate sobre a iniciativa legislativa de cidadãos “Pelo Direito a Nascer”, organizado pelo Núcleo de Estudantes Católicos da Faculdade de Direito de Lisboa. Centenas de pessoas estiveram presentes e ouviram dizer, entre outras coisas, que a actual lei do aborto é inconstitucional.

Para a semana não deverá haver mails. Na segunda-feira viajo para Estrasburgo, onde acompanharei a visita do Papa ao Parlamento Europeu. Poderão acompanhar tudo na Renascença.

Wednesday, 19 November 2014

Pandas e rifas no Vaticano

Seu por apenas 10 euros...
O Papa Francisco condenou hoje o mais recente atentado em Jerusalém, que deixou quatro rabinos mortos, e recordou que construir a paz pode ser difícil, mas viver sem ela é um calvário.

O Papa também decidiu rifar alguns dos seus presentes pessoais, que tem recebido ao longo dos últimos 20 meses, desde que foi eleito. Por apenas 10 euros pode ganhar desde um Fiat Panda 4x4 a relógios ou até uma bicicleta de dois lugares. O dinheiro é para os pobres.

Manuel Braga da Cruz considera que ainda há discriminação contra as escolas católicas em Portugal, uma nova opinião para uma velha discussão.

Em Braga volta-se a promover o evento HiGOD, mas este ano será na terra vizinha de Vila Nova de Famalicão. Uma proposta para um da diferente que espera cerca de 500 jovens.

A "lua-de-mel" entre o Papa e a Comunicação Social já chegou ao fim? E será que isso é mau para Francisco? Russell Shaw argumenta que podemos estar a assistir a uma viragem benéfica tanto para o pontificado como para o jornalismo, no mais recente artigo do The Catholic Thing, em Portugal.

O Papa e a Comunicação Social

Russell Shaw
Será que a lua-de-mel do Papa com a comunicação social está a chegar ao fim? Nem por isso. O que se está a passar é algo superficialmente semelhante, mas substancialmente diferente e que, a longo prazo, pode ser bem mais saudável, tanto para a imprensa como para o Papa, do que o mero prolongamento do estado de graça.

À medida que o programa do Papa para a Igreja passa das palavras à acção – o sínodo dos bispos em Outubro e a nomeação de um novo arcebispo em Chicago são dois exemplos concretos – as críticas deixaram de vir apenas das margens da direita católica e passaram a ser mais generalistas. E os media, sem se virarem contra o Papa, estão a tomar nota do que se está a passar e a começar a relatá-lo.

Nas palavras de John Allen, do “Boston Globe”, “estamos a entrar na segunda fase do pontificado de Francisco, em que um período de bons sentimentos começa a dar espaço a uma era de crispação”.

O ponto de viragem nos media pode ter sido o artigo de opinião pós-sinodal de Ross Douthat, no “New York Times”. Douthat, um católico conservador, disse aquilo que outros já tinham dito – que o Papa corre o risco de abrir fracturas na Igreja se for longe demais e rápido demais na exigência das mudanças que defende – mas fê-lo de forma enfática, extensa e num lugar de grande visibilidade: a página de opinião do “New York Times”.

Sublinhando que até ao sínodo o Papa tinha recebido críticas apenas “da franja tradicionalista da Igreja”, Douthat realçou que o Papa conseguirá a maior parte daquilo que procura sem pôr em causa a doutrina estabelecida. “Mas se parecer que está a optar pelo caminho mais perigoso – se começar a tirar de cena os seus potenciais críticos na hierarquia [tal como o Cardeal Raymond Burke?], se parecer estar a encher as fileiras do próximo sínodo com os apoiantes de grandes mudanças – então os católicos precisarão de olhar cuidadosamente para a situação”. Douthat vai ao ponto de falar em “cisma”.

Este abrir de olhos da imprensa continuou com a reunião de 10 a 13 de Novembro dos bispos americanos em Baltimore. Uma forma de ler a situação passa por discernir uma crescente tensão entre o Papa e os bispos, uma variante de “Papa Bom/Bispos Maus” com que Rachel Zoll, da “Associated Press”, nos brindou quando afirmou que Francisco estava a “pressionar os bispos americanos a fazer um volte-face” ao abandonar os temas fracturantes e abrir-se a consultar os leigos.

Mas o próprio Papa não hesita em falar claramente de temas sociais como o aborto e o casamento homossexual, e rodeou-se de um pequeno círculo clerical de conselheiros. Laurie Goodstein, do “New York Times”, esteve mais próxima da verdade quando escreveu que o sínodo de Outubro “voltou a despertar uma divisão na Igreja entre conservadores e liberais que estava relativamente adormecido durante a lua-de-mel de 20 meses... Agora o pontificado de Francisco entrou numa fase mais delicada, com alguns bispos a questionar se existe uma visão sobre para onde é que ele quer levar a Igreja e um plano para lá chegar”.

Então, Goodstein revelou uma citação impressionante de uma entrevista com o recentemente reformado Cardeal Francis George, de Chicago: “Ele [o Papa Francisco] diz coisas maravilhosas, mas nem sempre junta as peças, por isso ficamos sem saber bem qual é a sua intenção. O que ele diz é suficientemente claro, mas o que é que pretende que nós façamos?”

Esta parece ser a direcção a adoptar pela cobertura jornalística no futuro imediato. Mas ainda existe bajulação, sobretudo nos círculos católicos liberais, onde Francisco continua a ser visto como a melhor esperança para as suas causas. Daí que um editorial na edição de 25 de Outubro do “The Tablet”, de Londres, tenha elogiado o seu discurso final ao sínodo como “uma exposição soberba do ensinamento católicos sobre o casamento e a vida familiar”.

Papa Francisco com jornalistas

O que não deixa de ser estranho, tendo em conta que o texto não diz praticamente nada sobre o casamento e a vida familiar. Em vez disso, Francisco coloca em contraste os extremos inaceitáveis (“inflexibilidade hostil” vs. “uma tendência destrutiva para a caridadezinha”), dando a entender que o orador é um homem de moderação, com quem os ouvintes razoáveis devem concordar.

Mas deixando de parte os liberais, esta bajulação poderá ser difícil de sustentar durante muito mais tempo. O sínodo deixou demasiadas questões em aberto. Contudo, esta mudança de rumo da cobertura e do comentário não é de todo uma coisa má, nem para os media nem para o Papa. Aqui temos muito a aprender com o exemplo de Barack Obama e a imprensa.

Em 2008 muitos jornalistas ficaram caidinhos por Obama e a lua-de-mel durou até ao fim do seu primeiro mandato. Mas isso já mudou. Terrenos anteriormente amistosos, como a página de opinião do Washington Post, tornaram-se um campo minado onde jornalistas previamente bajulantes lançam ataques cerrados, acusando o presidente de ser mais um espectador do que um participante na sua própria presidência.

Não é natural que se chegue a esse ponto com o Papa Francisco. O respeito pelo papado garante que as questões e a crítica do catolicismo generalista serão mais moderadas e a cobertura mediática, se for responsável, reflectirá isso.

Mas as vantagens para os media de uma abordagem menos embeiçada a Francisco são evidentes. A cobertura factual e uma análise com base nos factos são o ar que os jornalistas respiram. A isenção é tudo. Um jornalista não serve para fazer claque. Nem sequer por um Papa.

Também existem vantagens para Francisco: Os media como confronto com a realidade. Debaixo das críticas dos jornalistas, Barack Obama refugiou-se numa espécie de ressentimento aéreo, o que não lhe tem servido de nada. Se o Papa for esperto usará a cobertura mediática do seu trabalho para se manter no rumo certo.

Goodstein, do New York Times, publicou outra citação curiosa do Cardeal George, que está a receber tratamento oncológico: “Gostava de me sentar com ele e dizer: Santo Padre, em primeiro lugar, obrigado por me deixar reformar-me. Agora, posso fazer algumas perguntas sobre as suas intenções?”

Não é natural que o cardeal George ainda o consiga fazer e a maior parte de nós certamente não o fará. Mas, se tivermos sorte, os media farão esse trabalho por nós. De certa forma, já começaram.



(Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing na sexta-feira, 18 de Novembro de 2014)

© 2014 The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de reprodução contacte: info@frinstitute.org

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Tuesday, 18 November 2014

Papa continua católico, Estado Islâmico continua terrorista

Peter Kassig, mais recente vítima do Estado Islâmico
A semana começou com mais uma notícia terrível, graças ao Estado Islâmico. Num vídeo grotesco, o grupo mostra a decapitação de mais um refém americano, bem como a de vários soldados sírios.

Ao que parece, ainda por cima, um dos que matou um dos pilotos está a ser identificado como um luso-descendente.

Hoje, o terror continuou, com um atentado em Jerusalém que matou quatro rabinos. Israel prometeu responder com punho de ferro, mas o Patriarca Latino de Jerusalém já pediu que se ponha fim ao ciclo de vingança e retribuição. Uma voz de razão no meio da loucura.

O Papa Francisco criticou a manipulação ideológica à volta da família. Para surpresa e espanto de muitos, o Papa continua a ser contra a eutanásia, o aborto, a destruição de embriões para experimentação e acredita que a família deve ser assente num casamento entre um homem e uma mulher. Parem as rotativas! O Papa é católico.

A Aura Miguel entrevistou um dos principais responsáveis do Vaticano para a educação, que considera que em muitos casos os pais são mais adolescentes que os filhos e por isso não sabem dialogar.

Começou a campanha da Cáritas para o Natal deste ano. O “10 Milhões de Estrelas” apoia os refugiados no Médio Oriente, bem como os necessitados em Portugal.

Friday, 14 November 2014

Quando não estão a cortar cabeças, cunham moedas

Só faltava… o Estado Islâmico agora cunha moeda. O mais deprimente, é que com uma moeda de 5 Dinares conseguem pagar o ordenado mínimo português e ainda recebem troco.

O Papa esteve esta quinta-feira com cerca de cinco mil contabilistas. Não foi castigo, era mesmo o Congresso Mundial dos Contabilistas. Ok, talvez tenha sido castigo. Seja como for, falou da importância de valorizar a dignidade humana acima do dinheiro.

O Vaticano publicou hoje o programa da visita do Papa Francisco às Filipinas e ao Sri Lanka. Francisco vai ao território dos Tamil, onde durante décadas soaram as armas.

Thursday, 13 November 2014

Os duches de São Pedro e o Santo Surfista

Guido Shaffer. Seminarista, médico, surfista... Santo?
Veio hoje a público a notícia de um dirigente dos escuteiros que foi acusado de abusos de menores e de posse e disseminação de pornografia infantil. À Renascença o Corpo Nacional de Escuteiros desmente qualquer encobrimento e garante que apoiou sempre as autoridades na investigação, não tendo avisado os pais por proibição da PJ, e o Patriarca insiste na total confiança na instituição.

Recordo que no blogue vou mantendo uma cronologia destes casos ligados à Igreja, que já foi actualizado.

O Patriarca falava em Fátima, no final do encontro dos bispos, e aproveitou para mais uma vez apoiar publicamente a Iniciativa Legislativa de Cidadãos que visa corrigir vários aspectos da lei do aborto. D. Manuel Clemente diz ainda que a Igreja está apostada em encontrar uma forma de conciliar a tradição com uma resposta a dar aos casos de divorciados e recasados.

Afinal o líder do Estado Islâmico não está morto. Não contente com isso, porém, decidiu também não estar calado e hoje foi divulgado um seu discurso em que volta a ameaçar o Ocidente, prometendo que os seus soldados vão chegar a Roma. A propósito, sabia que o Estado Islâmico já é o grupo terrorista mais rico do mundo? Dos 10 mais ricos, só dois não são islamitas, entretanto.


Virá aí um santo surfista? Pode ser que sim. É que os surfistas têm agora um padroeiro “emprestado”. Tanto quanto se sabe São Cristóvão nunca apanhou uma onda, mas Guido Shaffer, do Brasil, sim, como se vê.

Wednesday, 12 November 2014

Do Burke ao Burkina Faso, passando pelos arameus

Futuro presidente do Burkina Faso?
Não queriam mais nada, não?!
Peço desculpa pela minha ausência, mas nos últimos dois dias estive no terreno a fazer reportagens por causa da legionella.

Mas o mundo da religião não parou! No fim-de-semana confirmou-se a dança de cadeiras no Vaticano, com a saída prevista do Cardeal Burke, herói dos conservadores.

No domingo começou a semana de oração pelos seminários. Fomos conhecer o seminário do Porto e a história do homem que confundiu liberdade com libertinagem até que uma “queda de cavalo” o projectou para o seminário.

O Papa recordou o fim do muro de Berlim no Domingo e esta quarta-feira rezou também pelos estudantes mexicanos que, tudo indica, foram assassinados de forma grotesca.

Na segunda-feira Francisco criou uma nova estrutura para lidar com recursos de casos de abusos sexuais e outros, muito graves.

Não é o Cardeal Burke, mas o Cardeal do Burkina Faso. É popular no seu país e por isso ofereceram-lhe a presidência. Ele agradece, mas diz que não está interessado.

A fé e a ciência são incompatíveis? O vencedor da medalha Carl Sagan de 2014 acha que não. Deve saber, porque para além de ser astrónomo é jesuíta. Quem também acha que não é Robert Royal, do The Catholic Thing, que no interessante artigo desta semana explica porque é que os católicos nunca rejeitaram a ciência e a razão.

Israel reconheceu uma nova etnia entre os seus cidadãos. Os poucos que se consideram “arameus” são todos cristãos. Mas a decisão está a ser encarada como polémica. Estará Israel a tentar dividir a comunidade árabe?

E por falar em cristãos no mundo árabe, temos a transcrição integral da entrevista que fiz a semana passada ao arcebispo libanês Issam Darwish, que fala da situação política e social dos cristãos no seu país, incluindo as alianças partidárias com o Hezbollah. A notícia original está aqui.

Termino com um convite. Quem estiver interessado em fazer a consagração total a Nossa Senhora pode fazê-lo em Lisboa ou em São João do Estoril. Já não vão a tempo da primeira reunião, mas quem sabe diz-me que isso não deve ser impeditivo.

Datas previstas para a Paróquia de S.Pedro
e S.João do Estoril (sábado às 15h30)
08 nov
13 dez
10 jan
14 fev
14 mar
11 abr

Datas previstas para a Basílica 
dos Mártires (Chiado) – (5ªfeira às 19h00)
13 nov
18 dez
15 jan
19 fev
19 mar
16 abr

Ciência e Religião, Bem Entendidas

Começo por confessar que passei grande parte da minha juventude fascinado por matemática e ciência – quanto mais abstractas melhor: Física particular fundamental em vez de química; Cosmologia em vez de biologia. Na minha ingenuidade juvenil este parecia ser o caminho para a sabedoria, para o verdadeiro cerne das questões.

Acabaria por tomar consciência do meu erro, mas ainda hoje gosto de ler sobre estes assuntos – acabo de ler uma análise fascinante sobre aquilo que se sabe actualmente acerca de partículas subatómicas. É claro que tudo isto tornou-se bastante complexo. A ciência mais básica requer agora níveis de conhecimento matemático muito elevados e fora do alcance do mero amador. Ainda assim, sinto orgulho e humildade quando penso no trabalho e no génio dos cientistas e engenheiros que, não só através de teorias mas também através do desenho e desenvolvimento de maquinaria e experiências, conseguiram levar-nos de volta ao tempo de Planck, que parece ser o limite máximo de observação neste universo, ou isto:



Trata-se de uma equação bastante simples, na realidade, que significa cerca de 10-43 segundos depois do Big Bang. Se ao menos os nossos filósofos e teólogos abordassem os seus respectivos assuntos com esta ambição e precisão!

Os cientistas têm feito descobertas fantásticas mesmo em relação às realidades mais humildes e minúsculas. Até meados do século XX, o átomo continuava a parecer um minissistema solar. Não é uma visão inteiramente falsa e serve para alguns propósitos, mas a imagem complicou-se através da descoberta de partículas com nomes como quark, muon, tau, já para não falar de novas forças, campos e antimatéria.

Tudo isto pode parecer inútil para a pessoa comum, mas é precisamente através desta análise cuidadosa dos elementos constitutivos do universo (pelo menos assim pensamos, por enquanto), que a nossa raça gloriosa e trágica conseguiu chegar ao Big Bang que poderá, eventualmente, apontar para algum tipo de transcendência. Como a boa filosofia e teologia perceberam há muito tempo, o nosso mundo de seres contingentes tem de depender de algum ser que esteja, necessariamente, para além das “coisas”. Mas esta não é a única razão para nos interessarmos pelos avanços científicos.

Vale a pena lembrar que a calúnia de que a Igreja é contra a ciência não surgiu por que a Igreja se opunha à ciência em si. A resistência a Copérnico, Kepler e Galileu baseava-se na teimosa fidelidade a uma modelo científico anterior, o sistema geocêntrico de Ptolomeu, por parte de alguns clérigos (não todos). A Comédia Divina de Dante encarna brilhantemente a profunda interligação entre essa ciência e as verdades espirituais na alta Idade Média.

A grande ironia é que a Igreja não estava sequer a defender uma cosmologia bíblica (na medida em que se pode dizer que a Bíblia tem uma cosmologia), mas o sistema ptolemaico desenvolvido por gregos pagãos. Essa cosmologia serviu bem no seu tempo, mas foi ultrapassado, como todos os modelos acabam por ser, por avanços registados posteriormente. (O livro “The Discarded Image” de C.S. Lewis é o melhor e mais sábio guia dessa mundivisão ultrapassada). Mas há aqui uma lição.


Alguns dos meus amigos afirmam que o Big Bang, ou outras teorias científicas, estão ligadas à doutrina da criação. É interessante que o padre belga Georges Lemaître, o matemático que propôs pela primeira vez uma teoria para um universo inflacionário em 1927, apesar da resistência de Einstein, protestou quando Pio XII fez essa mesma ligação. A física é o limite da ciência, que tem apenas relações indirectas com a metafísica. Se o Big Bang acabar por ser apenas mais um modelo intermédio, não fará qualquer diferença à noção da Criação.

O padre Robert Spitzer conhece bem a ciência actual e aborda-a com a cautela necessária – aliada a um génio fora do comum – no seu recente “New Proofs for the Existence of God”. Outros, infelizmente, são menos contidos ao abraçar ou criticar a ciência moderna.

Entre estes últimos incluo os nossos irmãos e irmãs na comunicação social. É impressionante o quão pouco aprendem ou recordam no que diz respeito à relação entre religião e ciência. A maioria dos jornalistas não sabe quase nada sobre ciência moderna, mas partem do princípio que deve levantar obstáculos à crença religiosa.

O Papa Francisco afirmou recentemente que a evolução e a criação não são incompatíveis – uma verdade que praticamente não precisa de ser repetida. O resultado foi um furor mediático. Num discurso à Academia Pontifícia das Ciências em 1996, João Paulo II disse que a evolução era “mais do que uma hipótese”. A reacção foi parecida. Nessa altura eu fui convidado para falar na CNN e disse ao pivot incrédulo que tinha aprendido essencialmente a mesma coisa dita por freiras com hábito completo durante os anos 60 no meu liceu católico (ainda por cima nas trevas do mundo anterior ao Concílio Vaticano II).

Os católicos não são fundamentalistas. Estamos constantemente a repetir isto não só aos media, mas a família, amigos e colegas, agentes da praça pública. Acreditamos tanto na fé como na razão e acolhemos a ciência e as tecnologias apropriadas, como fazem a maioria das pessoas sãs. Não devia ser necessário estarmos sempre a recordar toda a gente deste facto, mas é um peso que carregamos graças a certos tipos de cristãos que temem a razão humana, que nos foi dada por Deus.

Encontramo-nos num conflito constante com jornalistas preguiçosos e pouco rigorosos e um estabelecimento educacional que continua a acreditar que Cristóvão Colombo descobriu que o mundo era redondo (leiam Dante, amigos!).

Pensam todos que quem acredita no Cristianismo tradicional deve acreditar também, como os mais extremos de entre os fundamentalistas, que o mundo começou há 4000 anos e que a evolução é incompatível com a Bíblia.

Daí que se compreenda a palhaçada das reacções cada vez que um Papa – como fizeram todos desde Pio XII na década de 50 – declara que a Criação e a evolução não são contraditórias. Temos muito a reparar nesta cultura, nem que seja para fazer justiça aos nossos antepassados. O tempo de pegar nesse fardo, seja qual for a nossa posição na vida, já tarda.  


Robert Royal é editor de The Catholic Thing e presidente do Faith and Reason Institute em Washington D.C. O seu mais recente livro The God That Did Not Fail: How Religion Built and Sustains the West está agora disponível em capa mole da Encounter Books.

(Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing na sexta-feira, 4 de Novembro de 2014)

© 2014 The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de reprodução contacte: info@frinstitute.org

The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.

"Most Christians accept Hezbollah"

Full transcript of my interview with his grace Archbishop Issam John Darwish, of the Melkite Archdiocese of Furzol, Zahle and the Bekaa. News report (in Portuguese) here.

Transcrição completa, no inglês original, da minha entrevista com o Arcebispo Issam John Darwish, da arquidiocese melquita de Furzol, Zahle e do Bekaa. A notícia respectiva está aqui.

You are here to speak on Religious Freedom in Lebanon, what is the situation in your country like?
First, let me thank you for welcoming me to this station, and thanks to the Church in Need for inviting me to Portugal to speak about religious freedom.

In the Arab world there are some difficulties in Religious Freedom. But I will start with Lebanon. There we don't have any problems, because we are free to worship in any religion. We have 18 sects and anyone is free to worship. The political power in Lebanon is divided between the 18 communities.

In Syria and in Iraq the constitution also permits freedom of religion, but actually, if you have a mixed marriage between a Christian and a Muslim, they must register it under Islam.

In other Arabic countries it is very hard to worship as you like. In the Gulf they have started to build churches, but for example in Saudi Arabia we are not permitted to identify as Christians.

The Arab spring did not advance anything in the Arab world, neither democracy nor religious freedom. But we hope, in the future, after the events in Syria and in Iraq, that we can have a transparent Islam, share our lives and be free to worship as we like.

At the moment the situation seems better in Egypt, though...
Yes. There is more peace now.

Last month I was in Egypt. I was invited by the minister of Tourism, to open the Holy Family Road. Jesus, Mary and Joseph went to Egypt, to 25 places, and the tourism minister chose seven places with the Orthodox Patriarchate of the Copts for tourism sites. Representatives of all the churches were there for the inauguration.

With the new president, and the new regime, it is more peaceful. They respect all religions and we hope that will continue in Egypt.

Lebanon is, as you were saying, a special case. What is the situation of relationships among different Christians? It seems that they are divided.
No, the Christians are not divided politically.

There are two parties, one which sides with the Sunnis and one with the Shiites. But it is not a religious divide, it is a political divide. There is a dialogue between the Christian communities and we live together as brother and sister.

In my town we celebrate the liturgy and the mass together, we celebrate feasts together, and in Zahle, where I am a bishop, the bishops meet every month and decide things together. There are no problems within Christian communities.

But as you said, there are two parties, one allied with the Shiites, one with the Sunnis. Does that weaken the voice of the Christians?
I don't think so because the mentality of the Christians is more democratic. The diversity in the Christian community is for the benefit of the country. That is why we try to avoid the war, we try to be part of the society and we like to be together. I am the head of the Christian-Muslim dialogue in Lebanon. I speak in the name of all the Catholics in Lebanon, we have good relations with the Sunnis and the Shias, we live together, we are together for each other's feasts, and we try to help those Muslims raise their voices against the jihadists, the fundamentalists, that we see in Iraq and Syria.

Bekaa Valley
Most of the threats to Christians seem to be coming from radical Sunni factions. Could the future of Christianity in the Middle East be tied up to Shia Islam?
I think we should be close to both, to Sunnis and Shiites. We are a bridge between communities and would like to play this role to bring them together.

Iran has a big influence in the region. What is the situation like in Iran at the moment?
I don't have the impression that Iran is radical. They are very open. I know a few Iranians, who have come to Lebanon, and I know the Shiites, they are very open now and more open to the Christian people.

Iran supports Hezbollah, largely through Syria. If the regime in Syria were to fall, how would that affect the balance of power in Lebanon?
It will be a big problem for the Christians in Lebanon and in Syria. We know that the Shiites are influenced by Iran and the Sunnis are influenced by Saudi Arabia. I think when the problems started in Egypt we started to have a problem in Lebanon and Syria. That is why last month I told a few ministers in Egypt to use their influence over the Sunnis in Lebanon, because I know that the Egyptian way is more moderate than the Wahhabis from Saudi Arabia.

How has Lebanon managed to avoid being drawn into the conflict until now?
From the beginning of the war I said in one of my speeches in Lebanon: “Be careful, the people in Lebanon will be influenced by the war in Syria.” And we are now... the jihadists, the Daash [Islamic State], the Al-Nusra Front, are now on the border of Lebanon. They are not far from my town, Zahle, they are in the mountains. And every day there is a fight between the Lebanese army and the Jihadists.

Also, Hezbollah defend, with the army, the border of Lebanon. But the Government has been very sensible, the Sunnis, the Shiites and the government, work together to avoid the big problem in Lebanon. I think that now the situation will improve, after the events of Tripoli, last week, where the Lebanese army removed the jihadists from the city and Northern Lebanon.

Lebanese Christians were the only ones who, during conflicts, organized themselves into armed militias. What lessons does that hold for the current situations of Christians persecuted in the Middle East?
I don't think we should have militias. We learned from the past that this is not the way for peace. The way for peace is only through dialogue between the communities. Weapons and arms are not helping to get peace. That is why all Lebanese parties are now against militias in Lebanon.

Bishops have been almost unanimous in saying that they do not want a safe-haven or independent country for Christians in the Middle East. In your opinion, however, should other communities like the Kurds have their own state?
Apparently yes, there is a country for the Kurds, but as Christians we don't like to have a country for our people. We like to be with everybody, because we are the salt of the society and we like to be friends with everybody.

Hezbollah soldiers in Lebanon
You were born in Syria… how has the civil war there affected you?
I still have family in Damascus. I am worried about the situation, but apparently Damascus and the big cities are now safer than three years ago, when the war started in Syria.

I call for the heads of state in Europe to stop sending arms to Syria and Iraq, to understand the problems better, to understand our way of democracy. We cannot have the European democracy. The Arabic world should start to think how they can have their own democracy, maybe in the near future we will find this way.

You say that European democracy does not work in the Arab world, but Lebanon has a functional democracy...
Half of the population of Lebanon is Christian, and the Christians are more adequate for Democracy and they like to have democracy. Even the Lebanese Muslims are apt to have democracy, because Lebanon is a unique state, the only state in the Arab world with a Christian president.

In Lebanon Hezbollah still have their own army and have resisted attempts to demiliterize. How do the Christians see the fact that there is this party in Lebanon with its own army?
Most of the Christians accept now presence of Hezbollah, because they have defended the Christian villages in Syria, like Maaloula. Maaloula was liberated by Hezbollah and other Christian villages in Syria also. That is why we now see Hezbollah as resistance against Israel and the jihadists in Syria, and especially against Daesh.

You said that it would be bad for the Christians if the regime fell in Syria. But do you see a future for Bashar al-Assad in power?
I would not like to see Daesh take the position of Assad. Assad, even with his faults, in Syria, is better than Daesh, Al-Nusra and other jihadists. At least we know that in his regime Christians are free to worship, to build churches, and the Government gave some land to help build their own monasteries and churches. I think that if we look between Syria and other Arabic countries, it is easier to live in Syria than other Arabic countries, except, of course, Lebanon.

Friday, 7 November 2014

On "Farewell to Mars"

When I interviewed Brian Zahnd earlier this year, he very kindly gave me an advance copy of “Farewell to Mars”, his book against violence and, especially, the militarization of the Christian message.

I read it with great interest. By nature I am not a tremendously peaceful person. Like so many others, I am attracted to violence be it in film or in real life and have had to curb my own violent impulses, with difficulty, over the years.

The radical call to peace is something that, as a Christian, I struggle with, but which I have hardly any intellectual doubts about.

Let me put this into a context that might be more understandable. As I read “Farewell to Mars”, hundreds of thousands of Christian Assyrians were being expelled from their ancestral homelands in Iraq, by a terrorist organization which I truly believe represents pure evil, in its ideology as well as its motivations and above all, its methods. Women were raped and sold as sex slaves, men were summarily executed, entire families expelled from their homes and forced to trek through the desert to relative safety.

The Yezidis had it even worse and as a reporter I covered, from the safety of my city, the horrendous suffering of the men and women starving and dying of thirst on mount Sinjar, to the point of throwing their children off cliffs so as not to watch them die in agony before their eyes.

Faced with this, my first and very powerful impulse was only one. Go and fight these evil men. If I did not have a wife and four young children to care for, I might have done just that. The second impulse was to celebrate the airstrikes that were finally ordered against the Islamic State. That they should all be killed.

It has been a constant struggle of the mind to look at the terrorists who are killing the innocent, beheading aid workers and raping teenage girls, and come to terms with the fact that these men too, are my brothers. That they too, are created in the image and the likeness of God. It has not been easy, and I confess that when I heard, just yesterday, that the first of about 12 Portuguese members of IS had been killed, my first thought was “great, only 11 more to go”.

So reading Zahnd’s book was a welcome challenge, one I knew would do me good. In “Farewell to Mars” he does the important work of deconstructing the militaristic version of Christianity which so easily glorifies war and violence, condemns the “enemy” and heaps praise and glory on those who are supposedly killing in our name.

Monument commemorating the Portuguese discoveries
Note the cross shaped sword
It is true that he is responding to a reality which is more familiar to American Evangelicals than to this Portuguese Catholic, but there is enough of that sort of thing in our history for me to relate. Just a few hundred meters from my house is an enormous monument commemorating the discoveries, part of which is a huge cross shaped sword, just like the one which makes him feel so uncomfortable in the Air Force Academy Cadet Chapel.

Too easily, indeed, we forget that Christ calls on us to love our enemies, not to rejoice in their deaths. The fact that Zahnd reminds us of this by confessing to us that he too, at one point, led prayer services of war, makes the tone less preachy and more of a wake-up call.

So before I get on to things I am unsure of, or with which I disagree, let me say clearly that this book is a service to true Christianity, whether reformed or unreformed, and that its message is sorely needed today, as it always has been, even though it is likely to shock us and make us uncomfortable, as it did 2000 years ago. Thank you, Brian, for your effort and for the courage it takes to do what you did in “Farewell to Mars”.

But here is where I become the skeptic who you have no doubt met so often. I know you’ve met him, because you say so yourself here: “They begin to say what Jesus did not mean by ‘resist not an evildoer’ and when this teaching does not apply. (By the way, Hitler always shows up in these discussions).”

But, Brian, there is a reason Hitler always shows up in these discussions, as I am sure you know. He represents that type of absolute evil which many people believe can only be stopped with violence. And by many people I do not mean “hawks”, I mean many good, godly men and women. Men like Boehnhoffer. How can you mention Boenhoeffer in a book such as this without mentioning the fact that he was killed precisely because he was implicated in a plot to assassinate Hitler?

But it doesn’t have to be Hitler. It doesn’t even have to be the Islamic State. We could boil it down to the typical example: There is a man with a knife in a playground, starting to stab children at random. You have the opportunity to kill him, what do you do?

Because I understand and relate to the idea that we should turn the other cheek, when it is our cheek to turn. But what do we do in the face of other’s unnecessary and pointless suffering at the hands of an evil we can stop, even if only at the cost of violence? I don’t think that case is quite so clear.

In “Amish Grace”, a book I know you are familiar with, as you quote from it in your previous book about forgiveness, there is the story, told to generations of Amish families, of a man who’s house was attacked by native Americans and who forbade his sons from fetching their hunting rifles to defend the family, even though that meant that he and his children would be killed. So I am not saying the answer is simple. There are good Christian men and women who would hesitate even in these situations to use force against evil. But I am not convinced this is the right thing to do.

Dietrich Bohnhoeffer
I believe Boehnhoffer was right to try and have Hitler killed. I believe it is right to bomb Islamic State positions in defense of the innocent and I think I would take the shot in the playground scenario. I hope I would not feel any satisfaction in the death even of the evil, but that does not mean it isn’t the right thing to do.

There are other examples in the book which I have trouble with. The criticism of the Vietnam war is a case in point. Let’s leave aside the possible other motivations for that or any other war. Let’s take it on face value, even if we are being naïve, that the war was indeed fought to try and spare the South Vietnamese the horrors of life under communism. You say the following:

“The argument was that we had to combat atheistic communism by stopping its spread in Southeast Asia … But how did that work out? Fifty-eight thousand Americans died in Vietnam. The war was lost. Vietnam became communist. Yet somehow the dominos did not fall. Soviet bloc communism ran out of steam and collapsed under its weight a couple of decades later. The fall of communism had more to do with prayer meetings in Poland than bombs dropped on Cambodia. War is, among other things, impatience”.

True. But Vietnam was not the whole story. Thousands died in Korea as well, and effectively managed to stop the advance of the communists across the whole peninsula. The result was not useless, there are millions of South Koreans now who live in freedom who would otherwise have had to live under the insane regime of Pyongyang. If it had taken an international intervention to stop communism from sweeping across Cambodia, would it not have been worth the price, rather than having had to bear the genocidal Khmer Rouge?

Which brings me back to the Islamic State. As we “speak”, a few hundred brave men and women are defending the city of Kobane from a group of fighters who will massacre them all if they fail. Is it not only right, but an obligation, to come the aid of these men and women, militarily? It certainly seems that way to me.

Please, I urge you, don’t get me wrong! I am not picking a fight over a book about peace! I repeat that I fully agree with almost all you have written and I too deplore the fact that Christianity is so often co-opted by those looking to justify their personal vendettas or economic interests. I too agree that there is no “other”, there is only “us”. What I regret, though, is the way you simply brush aside the “Hitler” argument without taking it on, I would, genuinely, like to know your answer.

Thank you for your book, for your thoughts and insight, and for being an apostle of peace which the World so badly needs. God bless you!

Wednesday, 5 November 2014

Ácido em Isfahan e vaidosos nos palácios episcopais

Rich Mullins. His God is an awesome God!
Não é todos os dias que podemos ficar orgulhosos do que fazem os nossos políticos, mas é com gosto que relato que um grupo de deputados pediu a libertação da paquistanesa Asia Bibi.

Enquanto a cristã condenada à morte aguarda os resultados dos seus recursos, alguém no Irão tem estado a atacar as mulheres com ácido. Quem, não se sabe, mas saiba ao menos porquê…

O Papa voltou a manifestar-se contra bispos carreiristas ou vaidosos e a dizer que é preciso agilizar os processos de nulidade de casamentos.

Conhece Rich Mullins? Eu também não conhecia. Mas depois li este artigo do The Catholic Thing, escrito por um jovem médico convertido ao Catolicismo e fiquei fã… Mais da personagem do que da música, mas fiquei fã.

Recordando Rich Mullins: Discípulo de São Francisco

Patrick Beeman
Nesta época de Todos os Santos e dos Fiéis Defuntos devemos recordar aqueles que tiveram uma grande influência nas nossas vidas espirituais. Há um homem a quem eu estou particularmente agradecido.

A 19 de Setembro de 1997 tinha eu 14 anos. Estava precisamente no meio dessa crise hormonal à qual chamamos puberdade, e no início de uma crise de fé (que acabaria por me conduzir à Igreja Católica), quando soube que Rich Mullins, autor de músicas como “Awesome God” e “Sing Your Praise to the Lord”, tinha morrido num trágico acidente de carro. A notícia foi divulgada numa estação de rádio cristã, e devastou-me.

O meu pai trabalhou numa rádio cristã durante grande parte da minha infância e em nossa casa não se ouvia música secular. Quando cheguei à adolescência, comecei a pensar nas grandes questões da vida: Deus, verdade, fé, o sentido da vida. Senti-me imediatamente atraído às letras profundas das músicas de Mullins e à beleza e clareza com que ele expressava a fé cristã.

Quanto mais ouvia, mais me sentia atraído pela sua vida extraordinária, uma vida marcada pelo total abandono a Deus e alegria cristã irreprimível, que são nada mais nada menos que os materiais que Deus usa para escrever a história de um santo.

Rich Mullins tinha uma vertente ecuménica corajosa, um sinal de contradição no meio da subcultura evangélica de que fazia parte e que tinha, em parte, ajudado a edificar. Trilhava a fronteira entre o Catolicismo, por um lado, com uma visão sacramental do mundo e o cheiro a incenso, imagens de santos, corpo e sangue de Cristo sob a aparência de pão e vinho e, por outro lado, (na medida do que tem de bom), as tendências anti litúrgicas e iconoclastas do Cristianismo Evangélico. Aos 40 anos abraçou o celibato, em forte contraste com a tendência geral protestante de ignorar esta opção tão bíblica e viva de seguir a Cristo de forma apostólica.

Mullins abordou a sua vocação como um monge (ou melhor: como os mendicantes dos quais cantava em “Land of My Sojourn”), dando particular atenção às virtudes evangélicas da pobreza, castidade e obediência. Para poder viver neste espírito, vendeu literalmente todas as suas posses, tirou um curso de educação musical e mudou-se para uma reserva Navajo, para servir o povo e ensinar nas suas escolas. Tinha ainda em comum com os católicos o facto de ser um devoto de São Francisco.

Foram as suas tendências franciscanas que mais me marcaram. Eram estranhas para a minha mente evangélica na mesma medida em que eram estranhas à minha experiência de vida numa igreja não-denominacional. Fazer-se pobre, abdicar do casamento, imagens de Nossa Senhora nas capas dos álbuns, gosto pelo litúrgico, crença na presença real... Não são propriamente as marcas típicas da teologia evangélica. Mas para mim soavam a verdade. Sem o perceber sequer, estava a começar a aproximar-me de tudo o que me parecesse minimamente católico.
 Admirava o Rich Mullins como um filho admira um pai, pela autenticidade da sua fé. E sentia uma proximidade semelhante à que se sente para com um mentor ou director espiritual. Mas claro que nem nos conhecíamos. Lembro-me vagamente de lhe ter sido apresentado uma vez, quando era criança, quando ele actuou numa igreja, num concerto apoiado pela rádio onde o meu pai trabalhava.

Lembro-me de o ver descalço no palco com a sua guitarra. Queria ser como ele. E ele queria ser como São Francisco. Isto pôs fim a qualquer objecção que eu poderia ter em relação ao culto aos santos ou forma como o Catolicismo encorajava a oração por sua intercessão. A devoção que Rich tinha por São Francisco não retirava nada ao seu Cristianismo. Enchia-o de vigor e de vida. Tornava o seu amor por Cristo mais forte e mais cristão. É esta a lógica da devoção aos santos.

A sua morte tocou-me profundamente. Daquela forma paradoxal que marca tantas verdades do Cristianismo, a morte de Rich deu-lhe ainda mais vida. É o eco da oração de São Francisco: “É morrendo que se nasce para a vida eterna”. À medida que o tempo passava, comecei a sentir uma ligação com ele que era muito mais profunda que o sentimento de perda. Já pensei se isso não será porque ele estava a rezar por mim, como certamente São Francisco intercedia por ele.

No final da sua vida, Mullins estava com um pé dentro da Igreja Católica. Tragicamente, a sua morte aconteceu apenas três dias antes da data em que planeava entrar em comunhão plena.

As tempestades da juventude trazem sempre uma chuva forte de curiosidade e de algum descontentamento. Mas para mim a música de Rich Mullins era como o trovão que se segue aos relâmpagos de verdade que estavam a atingir-me na minha caminhada em direcção à Igreja. Felizmente para os meus pais a minha rebelião adolescente consistiu quase por inteiro da minha conversão ao Catolicismo. Devo ter passado demasiado tempo com a malta errada: nomeadamente São Francisco e o seu irmão mais novo, Rich Mullins.

Saiba mais sobre o musical de Rich Mullins, baseado na vida de São Francisco de Assis.



Patrick C. Beeman é obstetra e ginecologista na região de St. Louis. Quando não está a fazer partos, escreve sobre bioética, música, medicina e cultura.

(Publicado pela primeira vez domingo, 2 de Novembro de 2014 no The Catholic Thing)

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Tuesday, 4 November 2014

Mortes absurdas e indignas

Campanha pró-vida no Dakota do Norte
Foi divulgado hoje o relatório sobre liberdade religiosa da fundação Ajuda à Igreja que Sofre. Há muito a saber mas, basicamente, a situação está bem pior do que há dois anos, quando saiu o último relatório.

E está pior em grande parte por causa da maltinha do Estado Islâmico, pelo que vale a pena ler a reportagem da Reuters sobre a vida sob o jugo dos islamitas, no Iraque.

Por trágica coincidência, no dia em que o relatório saiu, um casal cristão foi barbaramente assassinado no Paquistão. Tinham 24 e 26 anos. Deus os guarde.

E lembra-se daquela boa notícia que demos há semanas sobre o acordo entre o Boko Haram e o Governo da Nigéria, que previa a libertação das 200 raparigas que foram raptadas pelo grupo fundamentalista? Pois, esqueçam. Foram todas convertidas e casadas à força, informa o grupo.

A Igreja não julga Brittany Maynard, que pôs fim à própria vida no dia 1 de Novembro, mas condena o acto. É mais um capítulo na luta sobre a eutanásia, desta feita nos EUA.

Os EUA vão a votos hoje, mas há mais do que política partidária em cima da mesa. Aborto, álcool, drogas e armas são temas que estão a captar a atenção. Que tenha dado conta não há nenhuma medida sobre Rock and Roll.

Quem vive em Lisboa pode votar no orçamento participativo pela defesa do património da Igreja de São Cristóvão, em Lisboa. Saiba como.

E o bispo das Forças Armadas, D. Manuel Linda, explica que a Igreja portuguesa está apostada numa nova evangelização, mas que esta não se faz por decreto.

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