Austin Ruse |
Não me recordo daquele momento eléctrico em que vi
pornografia pela primeira vez, mas lembro-me como em miúdos, no início dos anos
60, éramos obcecados pelas imagens da Playboy.
Lembro-me como tudo isso parecia normal entre os adultos,
embora não entre os meus pais. Uma vizinha perguntou uma vez se o meu pai
queria trocar uns romances pelas Playboys do seu marido, que estava doente e
não tinha nada para ler. O meu pai recusou, mas como é que eu sabia sequer
disso? Eu escondo a própria existência desse tipo de coisa das minhas filhas.
Lembro-me que um dos meus amigos roubava Playboys ao seu pai
e nós escondíamo-las no mato. Que rapaz de certa idade não se lembra de folhear
revistas dessas, húmidas de terem estado escondidas debaixo de troncos e
árvores? Lembro-me do cheiro.
Lembro-me de ter ficado de castigo quando a minha mãe
descobriu um “Playboy: Entretenimento para Rapazes” mal desenhado, que eu tinha
feito e agrafado para mostrar aos amigos. O castigo ficou a cargo do meu pai,
mas não me lembro se levei com o cinto ou se apanhei o sermão do
desapontamento.
Estes pensamentos, e outros, voltaram recentemente quando li
o início da Carta
Pastoral do bispo Paul Loverde, de Arlington, Virginia. Será publicada
oficialmente na Festa de São José, o que é apropriado porque a carta enfatiza
que o pai tem responsabilidade de proteger a sua família do flagelo da
pornografia. Esta é a sua segunda carta pastoral sobre pornografia e, tanto
quanto sei, apenas a terceira de qualquer bispo americano, sendo a outra da
autoria do bispo
Robert Finn, de Kansas City.
Num livro sobre este
assunto Matt Fradd conta como, ao procurar numa arca de coisas antigas na
garagem de um parente, encontrou “uma fotografia lustrosa de uma mulher
completamente nua. Suspirei, parecia que o meu coração tinha parado – nunca
tinha visto nada assim”. Diz que sentiu fascínio e depois remorso.
Não foi assim que tantos de nós entrámos em contacto com
estas coisas?
Durante anos Fradd viu cada vez mais destas imagens. Escreve
que “comecei a compreender que quando maridos e pais usam pornografia, não só
se tornam escravos do pecado, mas ferem profundamente a sua habilidade de amar
e proteger, da forma como a sua vocação exige”.
O final feliz de Fradd, depois de anos de luta, não é a
norma hoje em dia, porque o mundo está imerso em pornografia. Aquelas primeiras
imagens digitais atingem os jovens cérebros e continuam a escravizá-los, até
depois do casamento e do começo da vida familiar. Os casamentos e as famílias
são destruídas por elas.
O bispo Loverde é um verdadeiro pastor por publicar uma
segunda edição de “Bought with a Price (edição Kindle)”:
“Nos meus quase cinquenta anos de padre vi o mal da
pornografia a espalhar-se como uma praga através da nossa cultura. Aquilo que
era o vício vergonhoso e ocasional de poucos tornou-se agora o entretenimento
usual de muitos... A praga persegue a alma de homens, mulheres e crianças,
dilacera os laços do casamento e vitimiza os mais inocentes de entre nós.
Obscurece e destrói a habilidade das pessoas de se verem umas às outras como
uma expressão bela e única da criação de Deus, em vez disso escurece a sua
visão, levando-os a ver os outros como objectos a serem usados e manipulados.”
Bispo Paul Loverde |
A carta é endereçada a todas as pessoas da sua diocese, mas
esperamos que pelo menos os seus fiéis católicos leiam este documento tão
importante: novos, solteiros, casados, padres e religiosos: “Ninguém que viva
na nossa cultura se pode separar do flagelo da pornografia. Todos são afectados
em maior ou menor grau, mesmo aqueles que não participam directamente no seu
uso.”
Penso nas minhas filhas e pergunto-me quantas das amigas da
sua escola católica vêm de uma família com um problema escondido de
pornografia? Sinto que seria capaz de matar qualquer pessoa de qualquer idade
que mostrasse às minhas filhas as imagens terríveis que estão ao alcance de
alguns toques em qualquer iPhone hoje em dia.
O bispo Loverde analisa a fundo aquilo a que chama “Quatro
Falsos Argumentos”; 1) Não há vítimas, 2) o uso moderado da pornografia pode
ser terapêutico, 3) a pornografia é um auxílio na maturação, e 4) a oposição à
pornografia tem por base o ódio ao corpo.
Entre as vítimas, aponta Loverde, está a dignidade dos
“artistas” pornográficos que frequentemente são os “necessitados” e os “vulneráveis”,
incluindo os “pobres, abusados e marginalizados, até crianças”, que são
transformadas em meros objectos. O uso da pornografia desumaniza quem vê e
corrói a família. Um pai é suposto proteger a família, mas através da
pornografia permite a entrada daquilo a que Loverde chama “uma serpente” que
rasteja por entre a sua mulher e filhos.
“Bought with a Price” é um documento de ensino formidável de
um dos melhores bispos dos nossos tempos. Outros bispos tendem a estar mais no
centro das atenções, enquanto Loverde faz os possíveis para manter a ortodoxia
e a fé dos que lhe foram confiados.
O seu apelo eloquente merece ser lido e estudado por homens,
sobretudo pelos seus filhos – os mesmos filhos que um dia virão bater-me à
porta, à procura das minhas filhas.
São José, rogai por nós.
Austin Ruse é presidente do Catholic Family & Human
Rights Institute (C-FAM), sedeado em Nova Iorque e em Washington D.C., uma
instituição de pesquisa que se concentra unicamente nas políticas sociais
internacionais. As opiniões aqui expressas são apenas as dele e não reflectem
necessariamente as políticas ou as posições da C-FAM.
(Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing na Sexta-feira, 07 de Março de 2014)
(Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing na Sexta-feira, 07 de Março de 2014)
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The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.
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Sobre este tema ver tambem site www.dads.org ou http://familylifecenter.net/
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