Thursday, 28 March 2013

Pés lavados, masculinos e femininos

Entrámos já no tríduo pascal, pelo que desejo a todos os cristãos que recebem este e-mail uma Santa Páscoa e aviso que podem acompanhar várias celebrações através da Renascença, desde as principais missas e cerimónias em Portugal até à bênção Urbi et Orbi em Roma. Informação toda aqui.

Esta manhã começaram as celebrações próprias do Tríduo Pascal. Na missa crismal o Papa pediu aos padres de Roma que sejam “pastores com cheiro a ovelha”, isto é, que estejam bem próximos dos fiéis.

O Papa está agora na prisão juvenil onde celebrou missa e vai depois encontrar-se com os reclusos. Durante a missa lavou os pés a 12 jovens, incluindo duas raparigas. E então? Então isto....





No mesmo dia Papa envia sinais contraditórios para tradicionalistas

"There aren't any women here, are there?"
Como já tive oportunidade de referir aqui, logo depois da eleição, a escolha do Papa Francisco não foi particularmente bem aceite por alguns católicos tradicionalistas.

O seu historial de não implementação do “Sumorum Pontificum” em Buenos Aires não ajudou, e o facto de nas primeiras semanas ter abandonado muitos dos sinais exteriores que Bento XVI cultivava no campo litúrgico, agravou a preocupação.

Hoje, contudo, surgem dois sinais contraditórios mas que poderão ajudar a compreender melhor o Papa.

Na missa crismal, de manhã, numa homilia dirigida de forma especial aos padres, o Papa disse o seguinte:

As vestes sagradas do Sumo Sacerdote são ricas de simbolismos; um deles é o dos nomes dos filhos de Israel gravados nas pedras de ónix que adornavam as ombreiras do efod, do qual provém a nossa casula actual: seis sobre a pedra do ombro direito e seis na do ombro esquerdo (cf. Ex 28, 6-14). Também no peitoral estavam gravados os nomes das doze tribos de Israel (cf. Ex 28, 21). Isto significa que o sacerdote celebra levando sobre os ombros o povo que lhe está confiado e tendo os seus nomes gravados no coração. Quando envergamos a nossa casula humilde pode fazer-nos bem sentir sobre os ombros e no coração o peso e o rosto do nosso povo fiel, dos nossos santos e dos nossos mártires, que são tantos neste tempo.

Depois da beleza de tudo o que é litúrgico – que não se reduz ao adorno e bom gosto dos paramentos, mas é presença da glória do nosso Deus que resplandece no seu povo vivo e consolado –, fixemos agora o olhar na acção…

Ora isto é precisamente o género de coisa que muitos tradicionalistas estavam à espera de ouvir da boca do Papa, um claro sinal de que no seu entender pobreza e humildade não são para confundir com miserabilismo e que a riqueza litúrgica em nada ofende a pobreza de espírito, como aliás São Francisco tão bem demonstrou com a sua vida e os seus escritos.

Contudo, horas mais tarde, surge a notícia de que esta tarde na prisão juvenil o Papa vai lavar os pés não só a jovens rapazes institucionalizados, mas também a pelo menos uma rapariga. Salvo erro será mesmo a primeira vez que um Papa o faz, embora, alegadamente, Bergoglio já o fizesse em Buenos Aires.

E então? Bom… então muito! É que se há coisa que enerva os tradicionalistas (e não estou a ser sarcástico, pois incluo-me, moderadamente, neste lote), é o desprezo pelas rubricas e a mania que muitos padres têm de “inventar” e celebrar missas não como manda a Igreja mas como lhes apetece.

E o que dizem as rubricas? Indicam claramente que neste gesto, que é opcional, mas que é uma parte tão importante da simbologia da Ceia do Senhor, o sacerdote deve lavar os pés a 12 homens. Em latim o termo é “Viris”, que significa mesmo “homens” no sentido masculino e não no sentido geral de “seres humanos”.

Vejamos como serão as reacções. Para muitos estas preocupações podem parecer absurdas, mas para muitos outros não são.

A presença de mulheres... uma preocupação antiga...

Wednesday, 27 March 2013

Duas semanas, um livro e um DVD


Por falar em primeiros, hoje foi a primeira audiência geral pública do Papa Francisco. Falou da Páscoa, mas também pediu paz para a República Centro-africana.


Vão surgindo as mensagens de Páscoa dos diferentes bispos. Temos na página notícias sobre as mensagens do Patriarca, do bispo de Bragança e de D. Amândio, de Vila Real. Também de interesse é a “procissão da Burrinha” que hoje sai à rua em Braga, desde que não chova.


Quanto vale a vida de um padre na Síria? Pelos vistos, uns 200 mil euros. É quanto se pede de resgate pelo sacerdote raptado há dias. Outras vidas valem menos, como o de Camil, um seminarista assassinado em Damasco. Ser cristão na Síria parece ser como viver a Sexta-feira Santa o ano inteiro…

Não são só os cristãos e os judeus que estão em festa por estes dias. Na Índia os hindus celebraram a festa de Holi. Este vídeo é antigo, mas vale sempre a pena recuperar. Mostra a celebração do Holi nos Estados Unidos.

O Papa Francisco e o Demónio

Passei todo o conclave, bem como vários dias antes e depois, em Roma, a tentar compreender o significado dos eventos, relatos e boatos. Na minha experiência não devemos levar demasiado a sério os esforços por interpretar as palavras e os gestos iniciais do Papa. Há uma certa falta de fé, ou paranóia, nesta necessidade nervosa de antever o futuro. Em breve saberemos que direcção pretende tomar. É claramente um homem de posições bem medidas e de acção.

Para mais, tudo o que a maioria de nós sabe de certeza sobre Francisco é isto: Um homem santo e inteligente está a conduzir a Igreja, um homem que apoia inteiramente o ensinamento católico – mesmo em questões nevrálgicas como a contracepção, o aborto e o casamento homossexual. Ao mesmo tempo, tem sido próximo dos pobres e apoia os esforços de os ajudar – mas não qualquer esquema social mal pensado e muito menos as tendências marxistas da teologia da libertação.

Resumindo, temos um Papa que não encaixa nas categorias partidárias, mas que encontrou uma forma de pensar e agir inteiramente de acordo com a Igreja nas circunstâncias da Argentina.

É fácil tentar inferir muito a partir de pouco nesta fase. Por exemplo, tem-se empolado muito a questão de ele ter dito, da primeira vez que chegou à varanda de São Pedro: “Sabem que o dever do Conclave é dar um bispo a Roma. Parece que os meus irmãos cardeais o foram buscar ao fim do mundo” [os itálicos são meus].

Os romanos e os italianos em geral interpretaram isto como um desejo do Papa estar mais próximo das pessoas da sua nova diocese – e têm alguma razão. Depois da missa dominical foi um bocado à rua, foram só uns passos, mas sem avisar os seus seguranças. Sabemos que era assim que o Arcebispo Jorge Bergoglio se comportava em Buenos Aires e a prática anterior é normalmente um melhor guia para o futuro do que a mera especulação.

A especulação é fácil, pode ser interessante e por vezes até útil. Mas também pode ser demasiado apressada. Tem-se dito, entre aqueles que desejam tal coisa, que Francisco tem-se referido a si como bispo de Roma precisamente para diminuir o papal do papado. Ficou muito tempo à conversa com o Patriarca Ecuménico de Constantinopla, Bartolomeu I, na terça-feira [dia 19]. É suposto que isso, juntamente com a ênfase no bispo de Roma e não no Papa – sugira de alguma forma que Francisco se considera apenas um de entre várias autoridades cristãs. Não contem com isso. Este Papa é católico.

Em contraste, para mim, uma das coisas mais significativas deste Papa é que já mencionou várias vezes o demónio. Na sua primeira missa papal, na Capela Sistina, durante a homilia aos cardeais eleitores citou o autor francês Léon Bloy: “Quem não reza a Deus, reza ao demónio”. E depois continuou por si: “Quando não professamos Jesus Cristo, professamos a mundanidade do demónio”.

O demónio tenta São José

Dois dias depois, num encontro com os cardeais, pediu: “não cedam à amargura e ao pessimismo que o demónio nos oferece todos os dias”. Esta é linguagem comum para ele. Quando estava a tentar impedir o Governo argentino de legalizar o “casamento” entre pessoas do mesmo sexo, colocou a questão nos seguintes termos:

Não sejamos ingénuos: Esta não é uma mera luta política; trata-se de uma proposta destrutiva do plano de Deus. Não é uma mera proposta legislativa (essa é apenas a forma), mas uma medida do pai da mentira para confundir e iludir os filhos de Deus... Olhemos para São José, Maria e o Menino e peçamos ardentemente que defendam a família argentina neste momento... Que apoiem, defendam e acompanhem-nos nesta batalha de Deus.

Um Papa que fala aberta e repetidamente sobre a linguagem do demónio, o pai da mentira, a guerra contra Deus e oração à Sagrada Família como forma de a travar, claramente não está a tentar cair nas boas graças da imprensa progressista. A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, acusou-o de medievalismo por causa destas afirmações, mas isso não o intimidou a ele ou aos outros e ela foi forçada a retrair as críticas.

Talvez seja apenas a minha reacção depois de ouvir tantas opiniões sobre a perspectiva política, litúrgica e teológica do Papa Francisco, mas qualquer Papa que consiga afirmar novamente, de forma clara, que o pecado existe, que é mais do que a mera fraqueza e erros do homem, que toda a história cristã da luta entre Deus e Satanás continua a ser o centro da Fé – e a razão pela qual a Igreja existe – talvez tenha algo de novo para dizer ao mundo.

Admiro a sua vida simples, a sua humildade, a defesa dos pobres e dos marginalizados, a forma cautelosa como lidou com a “guerra suja” na Argentina. Tem experiência. Mas estas coisas facilmente se transformam em polémicas tanto dentro como fora da Igreja e já há muita gente a trabalhar neste campo humanitário.

Toda a gente reconhece a necessidade de se reformar a cúria ou o Banco do Vaticano e outros mecanismos romanos. Mas isso não pode ser o principal para uma Igreja que enfrenta a cegueira e a superficialidade do mundo moderno.

O Papa Francisco deu todas as indicações de acreditar que estas coisas e muitas outras devem ser feitas porque a guerra espiritual que o Cristianismo em tempos trouxe para a atenção do mundo continua a ser uma imagem verdadeira de nós e das nossas vidas, tanto individual como socialmente.

Se ele conseguir devolver a visibilidade a esta luta essa talvez venha a ser a sua contribuição mais surpreendente e revolucionária para um mundo que pensa que essas lutas cósmicas pertencem a um passado longínquo – e que sofre os efeitos dessa crença.


Robert Royal é editor de The Catholic Thing e presidente do Faith and Reason Institute em Washington D.C. O seu mais recente livro The God That Did Not Fail: How Religion Built and Sustains the West está agora disponível em capa mole da Encounter Books.

(Publicado pela primeira vez na quarta-feira, 20 de Março 2013 em www.thecatholicthing.org)

© 2013 The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de reprodução contacte: info@frinstitute.org

The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing. 

Tuesday, 26 March 2013

Papa inspira Primaz

Quem quer viver no apartamento do Papa? Muitos não se importavam, mas o Papa pelos vistos não tem interesse. Prefere ficar em Santa Marta.

Entretanto o seu exemplo de lavar os pés a jovens reclusos na Quinta-feira Santa está a fazer escola. D. Jorge Ortiga vai fazer o mesmo em Braga com jovens institucionalizados.

Hoje o Papa Francisco mandou cumprimentos à comunidade judaica por ocasião da Páscoa. Aos judeus de Roma pediu orações e prometeu rezar por eles.

Continuamos com as reportagens de Liliana Monteiro sobre voluntariado na Semana Santa, desta feita acompanhamos uma voluntária que passa tempo com idosos acamados e que vivem sozinhos.

No Tibete desta vez foi uma mãe de quatro filos que se auto-imolou. Foi a segunda mulher no espaço de 24 horas. Já vamos em 111 vítimas.

Por fim um convite. A Associação de Nossa Senhora Consoladora dos Aflitos, que acolhe mulheres cegas e com outras deficiências, organiza um concerto amanhã no Convento dos Cardaes. “As Últimas Sete Palavras de Cristo”, de Haydn, conta com a participação de Luís Miguel Cintra e pretende agradecer a todos os benfeitores. A entrada é livre para todos e o concerto começa às 19h. Uma boa oportunidade de conhecer o convento e a associação!

Monday, 25 March 2013

Abraços (um bocadinho) inéditos


Morreu ontem à noite o “padre Motard”. É uma perda para a Igreja e para os aficionados das duas rodas. Que descanse em paz.

Ontem foi Domingo de Ramos. Começa a semana mais sagrada do ano litúrgico para os cristãos. O ponto alto será, claro, o Domingo de Páscoa, mas a Sexta-feira Santa também é de grande importância. A tradicional via-sacra de Roma conta, este ano, com meditações sobre os cristãos no Médio Oriente.

Durante a semana santa olhamos para grupos que traduzem a fé em acções. Hoje a jornalista Liliana Monteiro dá a conhecer os jovens do “Just a Change”. O texto está curtinho, mas vale a pena ouvir a reportagem completa.

Este fim-de-semana pudemos todos ver uma visão rara: dois papas a abraçarem-se! Raro, sim, mas será que é inédito? Mais ou menos… saiba aqui porquê.


A Capela da Senhora da Lapa, no Porto, foi restaurada e devolvida à cidade.

Dois papas juntos?

Todos terão ficado impressionados, como eu, com o encontro de "dois Papas" no passado fim-de-semana, em Castel Gandolfo.
Há muitas pessoas que contestam o título "Papa emérito", mas até surgir uma indicação diferente por parte do Vaticano é esse o título de Bento XVI e por isso, de facto, encontraram-se dois Papas.

Mas será a primeira vez? Mais ou menos!

Esta fotografia mostra o Papa João Paulo II com o Papa Shenouda III, dos Coptas-ortodoxos.

O líder dos coptas, actualmente Tawadros II, também tem o título Papa, o que não implica de modo algum uma "concorrência" com o Papa dos católicos. Neste caso é apenas o título, como Patriarca. Como se sabe, Papa vem do grego para Pai e é assim que os coptas encaram o seu patriarca. Ninguém pretende insinuar que os papéis dos dois "papas" sejam comparáveis, e a Igreja Católica não contesta a utilização do título por parte do Patriarca de Alexandria, uma antiquíssima e venerável sede apostólica.

É só uma curiosidade, claro, mas a verdade é que em bom rigor o encontro entre "dois papas" não é tão inédito como possa parecer!

Já agora, para quem quiser saber mais sobre os coptas, actualizei o texto "Quem são os Coptas?", com o nome do novo "Papa" deles.

João Paulo II com Shenouda III, no Egipto

Friday, 22 March 2013

Abraços. Mais para uns que para outros

Depois de ontem um prémio Nobel da Paz ter vindo dizer que o Papa não foi cúmplice do rapto de dois padres nos anos 70, hoje um desses mesmos padres veio dizer a mesma coisa.

“Um abraço ao mundo” foi como o Papa hoje descreveu a audiência com o corpo diplomático. Francisco falou também de pobreza, de ditadura do relativismo e das relações com o Islão.

Noutras partes do mundo há muita falta de abraços. No Myamnar budistas e muçulmanos andam novamente às turras. Até agora, pelo menos 20 mortos.


E os escuteiros também estão a precisar de um abraço (eles que o ano passado deram o maior abraço do mundo), pela morte do “pai do escutismo português”, Monsenhor Américo Ferreira Alves (na foto).

Thursday, 21 March 2013

Bom ano novo e a "desobediência" do Papa

Justin Welby, entronizado hoje
Um grande dia para duas comunidades diferentes.


No Reino Unido decorre neste preciso momento a entronização de Justin Welby, arcebispo de Cantuária. É o 105º e espera-lhe um trabalho muito complicado. (Na homilia, que estou a ouvir à medida que escrevo este mail, o Arcebispo acaba de citar o Papa Francisco!)

O Papa Francisco não deixa de surpreender. As celebrações de Quinta-feira Santa terão lugar numa prisão juvenil. D. Nuno Brás considera que o Papa está a “desobedecer” ao protocolo do Vaticano. Não imagino que seja uma crítica…

Esta tarde um prémio Nobel da Paz argentino, que lutou pelos direitos humanos contra a ditadura militar. Esquivel garante que o Papa nada teve a ver com o regime, como tem sido insinuado.

Uma diocese na Nigéria tinha 52 igrejas católicas há uns anos. Hoje tem duas.

No Ano Novo, Bahá'ís lembram "irmãos" perseguidos

Marco Oliveira com Nelson Évora
ambos da religião Bahá'í
Transcrição na íntegra da entrevista a Marco Oliveira, da comunidade Bahá’í de Portugal. Notícia original aqui.

Como é que surgiu o calendário Baha’í
O calendário Baha’í inicia-se no dia 21 de Março. Coincide com o início da Primavera. É um calendário que se baseia no ano solar e tem 19 meses de 19 dias cada, e ainda alguns dias intercalares. Este mês que termina hoje, é de jejum, um mês de preparação para o ano novo em que vamos entrar.

Há aqui uma analogia com o que acontece no Cristianismo, com a Quaresma e com a Páscoa, há um período de preparação e depois um renascimento.

O ano novo é celebrado por todas as comunidades baha’í e em Portugal há diversas comemorações.

Mas não há também uma razão teológica?
Bahá'u'lláh era persa e na Pérsia o ano novo é sempre no 21 de Março e são essas raízes culturais que levaram a que se celebrasse o ano novo nesse dia.

Todas as comunidades celebram nesta altura, mas nalguns países há limitações à acção. Quais são os focos de maior preocupação?
As zonas de maior preocupação são alguns países do médio-oriente, nomeadamente o Irão e o Egipto, onde os Baha’í vêem a sua actividade e até as suas vidas pessoais profundamente condicionadas devido a preconceito religioso. Naturalmente também nos lembramos desses crentes que estão a sofrer essas pressões.

No Egipto houve melhorias com a primavera árabe?
O Egipto é como uma panela de pressão que se abriu. Se se proporcionaram mais algumas liberdades aos cidadãos, essas liberdades foram aproveitadas para dar espaço a uma série de preconceitos contra os baha’í. Neste momento temos conhecimento de alguns grupos fundamentalistas que pedem que os baha’í sejam hostilizados de uma forma ainda mais ostensiva do que são actualmente.

Em Portugal como é a comunidade?
Em Portugal há cerca de 4000 baha’í, a maioria são portugueses. Costumo dizer que a comunidade é uma espécie de amostra da sociedade portuguesa, temos pessoas de todo o género, desde o engenheiro doutorado ao trabalhador das obras, os médicos e os universitários, os empresários e os desempregados, jovens e reformados. Temos pessoas de todos os extractos e grupos em Portugal. Também há algumas famílias de origem persa que surgiram sobretudo depois da revolução iraniana, que chegaram como refugiados e depois se instalaram em Portugal e que deram o seu contributo para o desenvolvimento da comunidade.

No seu caso particular, como chegou ao conhecimento da religião Baha’í?
Nasci numa família católica, os meus pais são católicos praticantes. Em 1984 conheci a fé baha’í, no Bairro dos Olivais, em Lisboa. Percebi que o meu barbeiro era baha’í e estava a falar dessa religião a outra pessoa. Achei interessante, entrei na conversa, coloquei questões, investiguei e passados cinco meses aceitei a fé baha’í. A família não gostou muito mas também não aceitou mal. A minha mãe disse que preferia ter um filho com alguma espiritualidade e sentido do divino e do sagrado, mesmo não sendo católico, que ter um filho que se diz católico mas na prática não seria nada disso.

É uma religião muito conhecida pela sua tolerância…
Exacto. O fundador encorajou-nos com as seguintes palavras: “Associai-vos com os seguidores de todas as religiões num espírito de fraternidade e união”, é isso que tentamos fazer.

Wednesday, 20 March 2013

Como se diz "vende" em galês?

Sell! Sell! Sell!

O exemplo de simplicidade e despojamento do Papa Francisco está claramente a ser seguido… no Chipre a Igreja está disposta a vender tudo para ajudar a economia nacional!


Um Homem Singular

Anthony Esolen
Ao longo dos últimos meses tenho feito algo que, tanto quanto sei, mais ninguém nos Estados Unidos está a fazer. Tenho estado a aprender galês através da leitura do Novo Testamento.

Isso não faz de mim excepcional. As pessoas fazem coisas estranhas a toda a hora; ser peculiar de uma maneira ou de outra é perfeitamente banal. Mas quando tentamos lidar com as palavras de Cristo uma a uma, como quebra-cabeças, apesar de se saber o que dizem os versículos, compreendemos que expressões como comum ou pouco comum não se colocam em relação a Jesus.

Não é como se Jesus estivesse no vértice de um espectro de mestres do mundo antigo. Ele ensina “com autoridade”, como as pessoas referiam, espantadas e até confusas. Não se submete a qualquer profeta ou rei, nem a Moisés. Não tenta convencer as pessoas a levar um estilo de vida benigno, como Buda, nem abraça as tradições do cavalheirismo, como Confúcio.

Somos chamados a imitar Jesus, mas Jesus nunca nos imita. Ele conhece o coração do homem, diz São João, e é em tudo semelhante a nós excepto no pecado, diz São Paulo. Compadece-se das nossas fraquezas, diz o autor da Epístola aos Hebreus, mas seria quase blasfemo atribuir a Jesus um elogio, chamando-o invulgarmente perceptivo. Seria como dizer que a luz é invulgarmente iluminadora, ou que a beleza é invulgarmente atraente.

No fundo estou a dizer que não há ninguém na história do mundo a quem Jesus se assemelha; embora muitos santos, pela graça de Deus, tenham vindo a assemelhar-se a Jesus. O Senhor é singular. Como são as grandes coisas que lhe são associadas. Não há nada no mundo antigo como os Evangelhos – e isso inclui a tontice dos evangelhos falsos, tão inconsistentes e derivados.

Não há nada no mundo que se assemelhe à Pessoa ou aos eventos que eles descrevem. As grandes epístolas de São Paulo são únicas. A transformação de pessoas normais em santos, prontos a espalhar a Boa Nova, única; as pessoas em que se transformaram, únicas; mesmo o Sudário de Turim é único – não há qualquer artefacto antigo que se assemelhe, nem que se aproxime.

Por isso aqui estou, a ler os Evangelhos devagarinho, em galês, e sinto-me compelido a meditar sobre palavras pelas quais passo a correr em inglês. “Quando deres esmola”, diz Jesus, “não anuncies isso com trombetas, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, a fim de serem honrados pelos outros. Eu te garanto que eles já receberam sua plena recompensa. Mas quando deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que está a fazer a direita” (Mt. 6, 2-3)

Se atentarmos bem nestas palavras experimentaremos o choque de algo totalmente inesperado mas que, quando expresso, se nos apresenta, caso tenhamos presente toda a sabedoria da lei e dos profetas, como o cumprimento de todo o Antigo Testamento, embora ninguém no Antigo Testamento diga algo parecido.

E os pagãos antigos? Aristóteles louvava a virtude da magnificência, a prática de boas obras visíveis, sobretudo através da generosidade pública, porque ele partia do princípio que todos os homens desejam a honra. O autarca mais labrego da parvónia procura imitar Júlio César – encontrando a sua cidade feita de tijolo quer deixá-la, se não em mármore, pelo menos em ardósia reluzente, como novos passeios; e quer que isso seja conhecido, de preferência com direito a placa comemorativa num local público.

A Bíblia em Galês
Mas aqui está Jesus a dizer “Na wyped dy law aswy pa beth a wna dy law ddehau”, “Que a tua mão esquerda não saiba o que está a fazer a direita”. Nunca ninguém disse nada assim.

Façamos aqui uma pausa. Não partamos do princípio que estamos diante de uma metáfora peculiar que diz respeito a uma sabedoria também fora do comum. Partamos do princípio que este Jesus singular, ao dizer esta coisa nunca dita, o fez de uma forma também singular. Assim não estaremos a reduzir a metáfora a algo parecido com senso comum “cristão”.

Aí não diremos, “Jesus recomenda que sejamos discretos quando damos esmola”. Afinal de contas há formas de ganhar a admiração dos homens de forma discreta, duplicando a aura de prazer, gozando não só da glória da generosidade como também do conhecimento de que os beneficiários não nos podem acusar de orgulho.

Não, se a esquerda não deve saber o que faz a direita, então devemos esconder as nossas boas acções do público mais babado e mais lisonjeiro que existe – nós mesmos. Mas como é que isto é possível? Acusamos os discípulos de serem lentos a compreender Jesus, e é verdade, foram-no. E nós, somos mais lestos? Não tinham eles razão para serem lentos? Como nos podemos esconder de nós mesmos? Como podemos não saber o que sabemos?

Nem eu sei a resposta a esta pergunta, mas Jesus dá-nos uma pista sobre onde se encontra a solução. “O vosso Pai”, diz ele, “que vê o que está oculto, recompensar-vos-á”. Devemos ser, explica Jesus, como aquele Pai que faz chover sobre justos e injustos, no mistério da sua sabedoria e solicitude.

Este é o Pai que conhece os recantos do coração. É o Deus que deseja habitar esses recantos, para retirar o coração de pedra, mesmo que se trate de mármore resplandecente, e substituí-la por um coração de carne, um coração que bate com a sua vida.

Se é para gozarmos de uma recompensa, o que pode ser melhor que Deus? Por isso Jesus não está simplesmente a alertar para os perigos da ostentação. Ele está a convidar-nos a render-nos ao Pai, para não permanecermos no nosso conhecimento ignorante e na nossa generosidade alienante. Chama-se a isto nascer de novo. E que é isso? Seremos capazes de dar mais um ou dois passos para além disso?


Anthony Esolen é tradutor, autor e professor no Providence College. O seu mais recente livro é: Ten Ways to Destroy the Imagination of Your Child.

(Publicado pela primeira vez na Quarta-feira, 13 de Março 2013 em http://www.thecatholicthing.org/)

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Tuesday, 19 March 2013

Dia do Pai, dia do Papa

Hoje é dia de São José, dia do Pai. Parabéns a todos os pais!

Dia do Pai, dia de Papa… foi hoje a inauguração de Francisco, o bispo de Roma, que na sua homilia recordou que o verdadeiro poder está em servir.

Esta foi uma missa ecuménica em vários sentidos da palavra. Desde o Evangelho cantado (que beleza!) em grego ao abraço da paz dado de forma especial ao Patriarca de Constantinopla… prevejo um futuro interessante na relação entre igrejas cristãs!

Um dos pontos altos da missa é a recepção do pálio e do anel de pescador. Até na escolha do anel o Papa rompeu com a tradição.

Antes da missa o Papa surpreendeu os argentinos ao telefonar para a praça em Buenos Aires onde estavam reunidos para assistir à cerimónia em ecrãs gigantes.

Depois da missa o Servo dos Servos de Deus teve o privilégio de poder conhecer o Presidente da República Portuguesa. Desconhece-se se o Chefe de Estado deu conselhos sobre como exercer o ministério via Facebook, mas pelo menos o Papa lembrou-se de dar os parabéns a Maria Cavaco Silva.

Amanhã, quem quiser ir ao Darca (ver imagem) poderá conversar comigo sobre o Papa Francisco. Digo conversar porque penso que esta eleição foi uma surpresa tão grande que uma conversa fica melhor que uma conferência.

Monday, 18 March 2013

Primavera em Roma, tensão no Médio Oriente

Penso que no oficial a estrela e
a flor de nardo são douradas...
Realiza-se amanhã a missa de inauguração do pontificado do Papa Francisco (e não a entronização, que será mais tarde). Quem quiser pode ir ao auditório do Colégio São João de Brito e lá assistir à transmissão da celebração, a partir das 08h00. A Renascença fará de lá uma transmissão especial que pode ser acompanhada com imagem através do site.

Entretanto hoje foi divulgado o brasão do novo Papa, que é essencialmente igual ao seu brasão de bispo, mas adaptado ao pontificado.


Ontem foi o primeiro Angelus. Estavam milhares de pessoas em São Pedro, incluindo vários portugueses.

Mudando de ares, mas ainda no Cristianismo. Há tensão entre ortodoxos. A Igreja Grega de Antioquia ameaça mesmo romper comunhão com a de Jerusalém.


E paz é coisa que já não há no Tibete há muito tempo. Mais um monge imolou-se pelo fogo este fim-de-semana.

Thursday, 14 March 2013

Papas e Gaivotas

Parece que estamos perante um Papa verdadeiramente “franciscano”. Hoje o Sumo Pontífice acordou e das primeiras coisas que fez foi pagar a conta da casa onde tinha ficado a dormir durante as congregações gerais.

Depois foi rezar a Nossa Senhora. Um Papa franciscano e mariano.

Franciscano, mariano e, sendo argentino, adepto de futebol! Saiba qual o clube que apoia.

Um adepto de futebol que agora é Papa, e com desafios pela frente. Saiba quais…

É um Papa que veio do fim do mundo e cujo primeiro gesto foi de se inclinar diante do povo. É o servo dos servos de Deus, Francisco.



Por fim um aviso. Conferência esta noite, e para a semana, nos Jerónimos. O tema de hoje é “A Credibilidade dos Evangelhos”, como podem ver no cartaz anexo.

Wednesday, 13 March 2013

Surpresa!


Tinha de ser. Passámos todos os último mês a estudar todos os “candidatos” a Papa, eu fiz mais de uma dúzia de perfis de potenciais papas e a escolha foi recair sobre um homem que, honestamente, ninguém esperava. Bom, assim também é mais giro!

Que dizer então desta eleição e deste novo Papa? Em primeiro lugar destaca-se o facto de ele ser um Papa de estreias. O primeiro jesuíta, o primeiro sul-americano e o primeiro Francisco. Notável.

Confesso que fiquei muito bem impressionado com a apresentação dele. É claro que não é nem vai ser um homem muito carismático, mas a humildade que demonstrou, pedindo oração e não só incitando à oração, como rezando mesmo as orações mais básicas do Cristianismo com a multidão, foi muito tocante. Achei-o trémulo nas orações, será que não domina o italiano? Ao que parece não será um poliglota, poderá ser uma dificuldade. Por outro lado, talvez fosse só emoção.

Do que sabemos dele parece um homem que leva muito a sério os seus votos de pobreza e que, sendo jesuíta, não é da ala liberal pela qual essa ordem tem-se tornado conhecida nos últimos anos. Vive de forma humilde, cozinha para si mesmo e anda de transportes públicos. Acima de tudo parece que odeia o “carreirismo eclesiástico”, tendo evitado sempre cargos na Cúria, por exemplo.

Um conhecido vaticanista citou, no início de Março, um cardeal anónimo que teria dito que se a Igreja queria limpar a Cúria romana, então que chamassem o Bergoglio que ele tratava do assunto como ninguém. Ao que parece os outros cardeais estavam atentos e não me parece ser exagero dizer que foi mesmo para isso que o elegeram. Vejamos se isso se confirma ou não.

Este facto pode estar reflectido no nome. É preciso coragem para estrear um nome no Vaticano. Imediatamente pensámos todos em São Francisco de Assis, não só um exemplo de humildade mas o exemplo de um homem que reformou e restaurou uma Igreja a atravessar uma fase de decadência. Também já vi referências a São Francisco de Xavier, que também era jesuíta, mas pelo perfil arrisco-me a dizer que o nome é uma referência mais explícita ao primeiro.

Falemos agora da eleição propriamente dita. De facto ninguém acreditava que Bergoglio seria uma possibilidade forte, apesar de se dizer que no último Conclave ele tinha sido o segundo classificado, sobretudo por causa da sua idade, 76 anos, e tendo em conta que todos falavam de um Papa mais novo.

Não acredito que Bergoglio tenha sido um nome forte logo à entrada para o Conclave. Inclino-me mais para outra interpretação, ressalvando que isto é tudo especulação. Penso que nas primeiras votações poderá ter acontecido como no Conclave de 1978 que elegeu João Paulo II. Dois blocos aparentemente irreconciliáveis, a dividir os eleitores.

Perante este cenário, e sem soluções ao fim de um dia e meio de votações, os cardeais poderão ter optado por um candidato de compromisso, alguém que tem, sim, fama de reformador, e que não é nem demasiado liberal nem demasiado conservador. Até a idade poderá ter-se tornado, neste caso, uma vantagem, uma vez que sendo assim não é de se esperar um pontificado muito longo. Surgirão, como sempre surgem, alegados relatos do que se passou mesmo no Conclave, mas certezas nunca teremos.

O que podemos esperar de Sua Santidade Francisco para os próximos anos?

Diálogo inter-religioso: O Papa vem do país sul-americano com maior número de judeus e de muçulmanos. Os primeiros, em particular, têm-no em alta estima. A julgar pelo nome que escolheu, estará certamente disposto a estender a mão aos muçulmanos também.

Ecumenismo: Tem fama de promover diálogo e encontros ecuménicos no seu país. Ao ponto de alguns tradicionalistas o acusarem de ir longe de mais, (os tradicionalistas têm muito mais a dizer sobre ele... já lá vamos). Espero dele uma abertura ao diálogo e disposição a abordá-lo de forma “desarmada”, o que pode ser muito bom. Por outro lado, a sua própria falta de sentido de tradição poderá levantar suspeitas do lado ortodoxo.

Relação com os meios de comunicação social: É dúbio. Aparentemente, mesmo como bispo, não dava entrevistas. Não antevejo uma alteração em relação à linha latina que tem dominado o Vaticano desde... sempre. Isto é, forte desconfiança dos jornalistas, pouco à vontade, falta de sentido de oportunidade e de timing. Claro que isto não depende só dele... Será que vai dar espaço aos profissionais, como Greg Burke, contratados para gerir a comunicação do Vaticano? Espero que sim, mas não é uma esperança muito grande, sinceramente.

Papa Francisco, Sócio do San Lorenzo
Questões “fracturantes”: Pelo que tenho visto estamos perante um homem de convicções firmes mas com flexibilidade pastoral. Penso que se isso se confirmar será uma boa notícia. Li, mas não posso confirmar, que defende o uso de preservativo para evitar contágios, mas que se opõe à mentalidade contraceptiva, o que me parece sensato. A comunidade pró-vida na Argentina ficou contente com a sua eleição, o que me parece positivo e já envolveu em “conflitos” com o Governo da Argentina por ter condenado a adopção por “casais” homossexuais, pese embora reafirme a posição católica de que as pessoas com tendências homossexuais devem ser acolhidas com amor pela Igreja.

Liturgia: Aqui não prevejo novidades muito boas. Com Bento XVI estávamos a assistir a uma “reforma da reforma” que procurava recuperar a solenidade que em muitos locais se tinha perdido com a reforma litúrgica dos anos 60. A reabilitação do rito tridentino era uma parte desse esforço, mas uma das coisas de que os tradicionalistas o acusam é de ter feito tábua rasa do “Sumorum Pontificum” na sua diocese e de ter “perseguido” os padres tradicionalistas que, por exemplo, queiram andar de batina.

São críticas que devem ser lidas precisamente com um sentido crítico, mas admito que fiquei francamente chocado com o tom da reacção num dos blogues católicos tradicionalistas mais fiáveis e influentes da Igreja. Para terem ideia, o título é “O Horror” e o texto é escrito por um argentino. Dito isto, se tivesse sido eleito D. José Policarpo, consigo imaginar muito boa gente a escrever um texto idêntico sobre ele, mas nós que vivemos mais perto, sabemos que um homem é mais do que a soma das suas falhas.

Contudo, isto leva-me ao último ponto, um que terá de ser tratado pelo Papa Francisco. A questão do diálogo com a Sociedade de São Pio X... Penso que os herdeiros de Lefebvre ainda se vão arrepender de não terem agarrado com unhas e dentes o ramo que Bento XVI lhes estendeu. Não prevejo qualquer cedência do Vaticano para eles nos próximos anos. Se isso é bom ou mau, cada um que decida, mas tenho pena pela oportunidade perdida, mais que tudo.

Finalizo com duas ideias que me parecem importantes. Não terei sido o único a sentir até um picozinho de decepção quando na varanda de São Pedro surgiu um homem inesperado, por quem não tinha nenhuma em particular. A primeira reacção de muitos terá sido algo do género: “Ah?!”

Mas embora não tenha sido nascido na altura, recordo que com João Paulo II se passou exactamente a mesma coisa. Consta que todos esperavam que surgisse um africano depois de terem ouvido pronunciar o seu nome... No entanto ele foi quem foi. João Paulo o Grande.

Pelo que citarei agora o meu bom amigo padre Arsénio que, quando questionado sobre este assunto num debate televisivo recentemente, disse apenas: “Nós [os portugueses] gostamos muito do Santo Padre. Não é por ser este ou aquele, é por ser o Santo Padre”. Parece-me a atitude certa.

Não quero terminar sem agradecer a todas as pessoas que durante este último mês me enviaram mensagens de agradecimento, felicitações, conselhos e perguntas. Tem sido um tempo de muito trabalho, mas tem sido também muito recompensador. É para isto que cá estou e espero que as muitas pessoas que se juntaram a mim no blogue, mailing list e grupo do Facebook, não desapareçam agora que termina este “circo mediático”. 

P.S. uma última nota em relação às críticas que vêm da ala direita da Igreja... eu bem me lembro do que se dizia, pela outra ala, quando Ratzinger foi eleito Bento XVI. Acabou por desarmar todos os críticos e é universalmente amado e respeitado. Só posso esperar que o Papa Francisco consiga fazer o mesmo com os seus críticos agora.

HABEMUS PAPAM!


Atrevêmo-nos a sonhar com Burke?

Estava na missa com a minha mulher na Igreja de St. Peter, no Missouri, na época de Natal, e o celebrante estava a ler uma carta do arcebispo local. Enquanto o fazia a senhora ao nosso lado abanava furiosamente a cabeça. Era só uma saudação de Natal, mas levou esta mulher a desaprovar desta forma pública.

A carta era do então Arcebispo de Saint Louis, Raymond Burke, hoje Cardeal Burke, responsável pela Signatura Apostólica, o supremo tribunal da Igreja Católica.

O Cardeal Burke passou por tempos difíceis em St. Louis. Quando foi anunciado que se ia embora os católicos dissidentes festejaram aquilo que pensavam ser um castigo – mas esses festejos tornaram-se tristeza e até fúria quando se soube que afinal se tratava de uma promoção.

No pouco tempo que lá esteve, Burke enfrentou o que todos os bispos têm enfrentado nos últimos anos. Fechou escolas e fundiu paróquias. Os mesmos católicos que usam contracepção culpam sempre o bispo quando não existem católicos suficientes para manter as escolas e as paróquias abertas.

Também teve de pagar dos cofres da Igreja pelos crimes praticados por padres homossexuais, mas aquilo que mais ofendeu muitos dos fiéis da diocese foi a disputa que teve com a Igreja Católica polaca.

Cem anos antes a paróquia tinha recebido um estatuto quase independente por parte da Igreja. Tinha uma administração independente e era dona da sua propriedade. O antecessor de Burke, Arcebispo Justin Rigali, tentou controlá-los e mais tarde Burke também tentou. Chegou a retirar os padres diocesanos que cuidavam da paróquia, mas esta rapidamente arranjou um de outra diocese, sem autorização, que acabou por ser excomungado pelo seu bispo.

A paróquia tornou-se um ponto de encontro para dissidentes de St. Louis e de todo o país. Afinal de contas, aqui estava uma paróquia que estava a resistir aos chefões e a safar-se. Então Burke excomungou o conselho paroquial.

O Cardeal também enfureceu muitos dissidentes quando – seguindo a dica de Ratzinger – excomungou umas senhoras que tinham sido “ordenadas” padres – uma chegou a afirmar-se bispa. A sua carta de excomunhão é uma obra prima de direito canónico e parece um documento de outra era. Quase que se ouve o barulho dos candelabros a tombar enquanto os cismáticos são expulsos da Igreja.

Edward Peters, especialista em direito canónico, descreveu-a assim:
Gostaria de dizer que a excomunhão, por parte do Arcebispo Raymond Burke, de três mulheres que participaram recentemente numa pseudo-ordenação em St. Louis é uma ilustração perfeita de como os manuais ensinam que deve ser aplicada uma excomunhão (não-judicial) na Igreja de hoje. Mas não posso. Porquê? Porque a atenção prestada aos detalhes jurídicos e as provisões pastorais extendidas às pessoas encarregadas ao seu cuidado excedem de tal forma aquilo que vem nos manuais, que são os manuais que deviam estar a seguir o seu exemplo, e não o contrário.

Nem toda a gente era contra o Arcebispo Burke, nem por sombras. Muitos dos fiéis de Saint Louis ainda têm saudades dele e têm-no na mais alta estima. Quem gostava mais dele e, provavelmente, sentem mais saudades são os seminaristas.
O  Cardeal Arcebispo Raymond Burke
O seminário de St. Louis estava repleto de aspirantes de todo o país que queriam estar perto de Burke, e ele queria estar perto deles também. Diz-se que passava muito mais tempo do que é habitual com os seus seminaristas e regularmente tinha tempo para cada um em particular.

Um alto funcionário do Vaticano disse-me que quando tinha sido aluno no Colégio Norte Americano, em Roma, o então bispo Burke teve cuidado especial para dar atenção a padres de dioceses pequenas que poderiam estar sozinhos. Levava-os a jantar fora e zelava pelas suas necessidades espirituais.

Eu e a minha mulher também o conhecemos assim, como um pastor gentil, generoso e calmo.

No nosso primeiro ano de casados a minha mulher teve três abortos espontâneos. Como eu sou de St. Louis e ambos fazemos trabalho pró-vida, o Arcebispo sabia quem éramos e das nossas dificuldades. Nesse ano convidou-nos a visitá-lo por altura do Natal. Disse que nos queria abençoar com um pedaço do vestido de noiva de Santa Gianna Molla.

Encontrámo-nos com ele na residência episcopal, perto da Basílica de St. Louis, provavelmente a mais bonita Igreja dos Estados Unidos. Recebeu-nos atenciosamente e falámos durante algum tempo sobre o nosso casamento, a nossa vontade de ter filhos e as nossas dificuldades. Ele contou-nos da sua grande devoção a Santa Gianna, elevada aos altares por João Paulo Magno – e que ela nos poderia ajudar.

Molla era médica e morreu depois de dar à luz em 1962, tendo recusado abortar ou fazer tratamento médico que teria morto o seu bebé. Disse repetidamente aos seus médicos para escolherem a vida do bebé acima da sua.

O Arcebispo fez-nos ajoelhar e abençoou-nos com um bocado do vestido de noiva de Santa Gianna. Depois sorriu e disse: “É a oitava vez que faço isto. Resultou oito vezes”, enquanto irradiava uma intensidade que só podia vir de bem lá no fundo. Ele queria emprestar-nos a relíquia para levarmos e venerarmos em casa, mas infelizmente era a única que tinha com ele, todas as outras tinham sido já emprestadas.

Acontece que naquele momento a Cathy estava grávida de duas semanas com a nossa primeira filha, Lucy. Nunca mais sofremos abortos. A Lucy foi a primeira das nossas bebés Gianna Molla. A nossa segunda filha chama-se Gianna-Marie.

No Natal seguinte levámos a Lucy, com seis meses, a conhecer o Arcebispo Burke, e temos as mais fantásticas fotografias do nosso pequeno bebé nos grandes mas carinhosos braços de um pastor que tem todos os dons – eclesiais, espirituais e temporais – para ser Bispo de Roma. Oremus.


Austin Ruse é presidente do Catholic Family & Human Rights Institute (C-FAM), sedeado em Nova Iorque e em Washington D.C., uma instituição de pesquisa que se concentra unicamente nas políticas sociais internacionais. As opiniões aqui expressas são apenas as dele e não reflectem necessariamente as políticas ou as posições da C-FAM.

(Publicado pela primeira vez em www.thecatholicthing.com na Sexta-feira, 11 de Março de 2013)

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Tuesday, 12 March 2013

Fumo negro e entronização no Egipto

Uma das imagens do dia... um peregrino a rezar em São Pedro
Como se esperava, saiu fumo negro da chaminé da Capela Sistina neste primeiro dia de votações. Amanhã há mais! Atenção por volta das 09h30, 11h00, 16h30 e 18h00, ou por aí…

Quer isto dizer que a primeira votação é “só fumaça”? Pelo contrário… é crucial!

Agora que os cardeais estão reunidos vale a pena desmistificar: Afinal é o Espírito Santo que escolhe o Papa, ou não? Podem ver aqui a transcrição completa da entrevista a Maria Cortez de Lobão sobre este assunto.

Como sabemos, todos os cardeais e conclavistas juram guardar silêncio. Contudo há quem desconfie de fugas de informação neste conclave… veremos se se confirma ou não. Podem ver aqui a transcrição completa da entrevista.


Ontem a Renascença fechou o ciclo de “retratos” da Igreja no mundo. Com a ajuda do padre Duarte da Cunha, olhámos mais de perto para a Europa. Mais uma vez, aqui pode ver a transcrição completa da entrevista.

O dia começou com uma missa presidida pelo Cardeal Angelo Sodano. Na homilia ele pediu unidade e amor para a Igreja. Banal? Não se tivermos em conta os recentes escândalos e recados internos de Bento XVI sobre o assunto.

Enfim, por aqui e na RR terão sempre acesso às novidades. Entretanto podem ler aqui o perfil do segundo cardeal português no Conclave, D. Manuel Monteiro de Castro.

"As dissidências são problemas sérios"

Transcrição na íntegra da entrevista a monsenhor Duarte da Cunha, secretário do Conselho das Conferências Episcopais da Europa, sobre o estado da Igreja na Europa. Notícia aqui.

Bento XVI fez da reevangelização da Europa uma prioridade. Passados estes anos todos, contudo, continuamos a ver a Igreja quase em retirada perante a secularização. Pode-se falar em sucesso ou falhanço?
Dificilmente utilizaria termos como esses. Foram oito anos de muitos sucessos e de outros momentos menos bem-sucedidos. O Papa, no início do pontificado, fez aquela alerta, o juízo sobre a situação do mundo europeu com aquela referência que ficou famosa, sobre a ditadura do relativismo, o relativismo para quem tudo é igual e o bem e o mal parecem desaparecer, pelo que viver com Deus ou sem Deus parece tudo igual, e que isso tem consequências sociais gravíssimas. Penso que é um facto.

Aí o juízo do Papa foi um grande sucesso, porque abriu os olhos a muita gente e fez com que a Igreja começasse a enfrentar a questão da evangelização não só pela perspectiva de ter mais gente na missa mas como a relação pessoal de cada um com Deus, que temos de ser uma Igreja capaz de proporcionar às pessoas um encontro pessoal com Deus, mesmo que seja uma Igreja com dificuldades e perseguida por fora, ou, como o Papa também disse, com muitos pecados e perseguições internas, pelas nossas maldades.

Mas julgo que o juízo do Papa que se manteve e que foi importante. Dizer que ele fez a avaliação mas não conseguiu encontrar a cura, não é assim tão simples, porque a cura não seria a curto prazo. Pôs a Igreja numa dinâmica de preocupação sobre a fé e este Ano da Fé é um testemunho disso, e toda a Europa, a Igreja e os bispos, as paróquias e os movimentos, tomaram isto do Ano da Fé e da Nova Evangelização, muito a sério. Há uma acção que foi despertada pelo pensamento e o desejo e a proposta do Papa que se tornou um sucesso.

Se a Europa deveria estar mais evangelizada? É um facto. As leis sobre o matrimónio, sobre a vida, sobre a família, sobre a presença da religião no espaço público, não valorizam o legado da tradição e da cultura cristã, pelo contrário Às vezes são contra. Mas são duas coisas diferentes. Uma é verificar que a sociedade e o Estado e a maneira como as coisas estão a ser organizadas ao nível do mundo se afastam da Igreja, outra é pensar se a Igreja, enquanto povo de Deus, está ou não está a reavivar a sua fé.

Temos de verificar, caso a caso, mas há muitos sinais de entusiasmo da fé. As Jornadas Mundiais da Juventude são um exemplo, mas o Papa também fez referência na sua última catequese à multidão e à esperança e a certeza da esperança que via na Igreja. Há uma verdade da Igreja viva que não se pode esconder. Há uma Igreja viva, que não se pode hoje esconder, que não é só uma Igreja deprimida, é uma Igreja entusiasmada, mas que não é maioritária e não tem a influência nos governos, nas leis e na cultura que gostaríamos de ter e que, se tivéssemos, acreditamos que ajudaria o mundo.

Antes de ser Papa, Joseph Ratzinger falou num futuro em que a Igreja fosse minoritária mas mais fiel, uma aposta mais na qualidade do que na quantidade. Este pode ser o futuro da Igreja, e devemo-nos conformar com esta ideia?
Julgo que estamos numa fase de viragem cultural e histórica e a Europa de hoje é muito diferente do que será daqui a 10 anos, não só a nível da religião, mas da demografia e da imigração, as crises todas… dificilmente sei o que vai ser.

Mas tenho a certeza que a Igreja será uma presença daqui a 10 ou 20 anos se núcleos duros de pessoas convictas mantiverem a sua fé, individual, mas também comunitária e cultural, fortes. Podemos não ser grupos maioritários, não ter uma influência enorme, mas à imagem dos primeiros tempos da Igreja poderemos dar mais aquela alma, espiritualidade e seriedade que o mundo decadente vai procurar, estou convencido. A Igreja ganhará se não for mais mundana, no sentido de ser bem recebida pelo mundo, mas no sentido de ser mais fiel à sua raiz, à sua identidade, à sua fé, para depois servir o mundo.

A ideia que uma Igreja, para poder estar presente no mundo, precisa de ser bem recebida por este mundo para ser ouvida, vai tendo cada vez menos sucesso. Pelo contrário, uma Igreja que é fiel torna-se uma espécie de farol, chama atenção, desperta, cria interesse, é atractiva. Por isso se calhar às vezes é mais combativa, mais difícil de ser compreendida no mundo, mas é mais eficaz, ao longo do tempo, sobretudo naquilo que é específico da sua missão, que é levar Deus às pessoas, não tanto de fazer um mundo melhor, assim neutro, mas um mundo mais cristão.

Se o próximo Papa lhe pedisse conselhos sobre a pastoral para a Europa, que diria?
Certamente terá muitos melhores conselheiros, sei que há lá muitos cardeais de grande sabedoria e de interesse. Mas julgo que temos assistido, com os Papa dos últimos tempos, a uma experiência do reforço da Fé e da revitalização da fé, que temos de continuar, não há muito por onde escolher. A Igreja tem de ser cada vez mais um povo que reconhece a sua chamada à santidade, como recordava o Concílio Vaticano II. Essa deve ser a grande missão da Igreja, desde o Papa ao pai de família, que é tentar que cada um de nós seja mais fiel na sua experiência de fé e de encontro com Cristo.

Nesse sentido espero que o próximo Papa possa continuar a levar-nos nesse caminho, com a sua palavra, o seu exemplo, porque os últimos não foram só palavra, foram também muito testemunho, uma maneira de estar perante os acontecimentos da vida pessoal e da vida da Igreja e da vida do mundo que também nos ensinaram pelo simples facto de estarem desta maneira.

Bento XVI, diante das alegrias e dos pecados da Igreja tinha uma atitude que nos levava a dizer “eu quero viver estes acontecimentos como ele os vive, com a mesma intensidade, com a preocupação, mas também com a mesma misericórdia e aquela caridade. Espero que o próximo Papa nos ajude a sermos mas santos. Depois, que seja um Papa capaz de Governar a Igreja neste mundo cada vez mais difícil.

Há também problemas internos, de dissidência, penso particularmente nos “Manifestos de desobediência”, na Áustria e na Alemanha. Como lidar com esta questão?
São problemas muito duros e muito difíceis, que devem ser levados muito a sério, porque estamos a falar de pessoas que são boas pessoas e que até podem ser bem-intencionadas. A Igreja ganha na sua identidade vivendo uma experiência forte de comunhão, e para viver essa comunhão entre nós temos de viver uma comunhão forte com Deus.

Estou convencido que a resolução das dissidências não vai ser uma questão de negociação, essa pode ser uma tentação da lógica do mundo, mas não é certamente eficaz. A resolução das dissidências, que sempre houve, mas que agora têm mais impacto até pelo papel da comunicação social, mas que infelizmente não são novas. Julgo que a parte que o Papa e os bispos podem ir fazendo é exactamente darem mais visibilidade à própria fé, à fé deles enquanto pessoas e pastores, mas também da comunidade e da Igreja. Porque uma comunidade viva que faz uma celebração litúrgica em que se percebe que se está a adorar a Deus, portanto onde Deus é visível, uma comunidade que faz uma transmissão da fé não inventando a fé, não adaptando a fé, mas sendo fiel à fé recebida, uma comunidade que reforça os seus laços nas famílias, nas relações de amizades, é uma comunidade que atrai à conversão de todos nós, porque todos nós somos um bocadinho dissidentes em pequenas coisas. Algumas são mais visíveis e outras são mais destrutivas.

Não julgo que a Igreja ganhe com estas dissidências, pelo contrário, acho que perde. Embora ache que alguns destes que querem mudanças radicais, no fundo têm boa intenção, mas não é um bom caminho. A ideia deles é que a Igreja chegue a mais gente, ser mais recebida. Pensam por exemplo que se os padres casarem, se as mulheres puderem ser padres, se o divórcio passar a ser concedido na Igreja, que estas coisas aumentem.

Mas a pergunta deve ser, estas coisas aumentam a fé das pessoas ou aligeiram o peso moral e por isso essas pessoas ficam não por convicção mas porque não é complicado ficar. Se pelo contrário acharmos que as pessoas ficam porque encontraram Cristo, elas serão capazes de pegar na cruz e levá-la até ao fim.

As dissidências são problemas sérios, que têm a ver com a doutrina, com a moral, com a fé, com a doutrina da Igreja. E estou convencido que um Papa que seja capaz de gerar uma comunhão à volta de si ganha, como estes últimos papas conseguiram. Essa comunhão gera depois franjas que não os aceitam mas ao mesmo tempo cria um núcleo fortíssimo que é depois a semente para o futuro.

Há outras regiões onde parece, pelo contrário, que a Igreja está a regenerar. Quer falar um pouco desses pontos mais positivos?
É interessante ver que a Igreja perseguida, dos países comunistas, que há 20 anos encontraram a liberdade, é uma Igreja que não tem grandes estruturas, tem pouco dinheiro, em geral, está agora a recuperar alguns edifícios confiscados no tempo do comunismo, mas é uma Igreja de gente pobre, não é uma Igreja rica, mas é uma Igreja dinâmica.

Pode-se dizer que tinha pouca gente e por isso é puderam recrudescer, mas não é só isso. É uma Igreja que sentiu na pele o que significa uma cultura ateia, uma pressão do ateísmo, do esconder Deus, do ofuscar Deus, de tornar Deus uma coisa escondida no coração de cada um. Estas comunidades católicas, mesmo as ortodoxas, com a liberdade começaram a poder evangelizar e a poder reunir-se e congregar as pessoas e, ao mesmo tempo, sem tanta influência de uma certa modernidade relativista e liberal do mundo ocidental, acabaram por dar um alicerce de convicção e segurança ao seu povo que é muito respeitada. Naqueles países a ideia do ateísmo, mesmo ao nível político, é assustadora, e isso pode dar um certo impulso à Igreja.

Por isso é bonito poder ver as Igrejas greco-católicas, de ritos orientais, a crescerem, a ganhar consistência, a terem muitas vocações, as famílias a terem filhos e os filhos serem uma esperança para esta Europa, mas depois como são países pobres há muitas crises, durante muitos anos houve o ateísmo e há um tecido social muito frágil, há muitas desconfianças, as pessoas não têm uma abertura de confiança grande, há aí um grande trabalho humano e eclesial a fazer, mas há um crescimento de experiência da fé, e de experiência comunitária.

Mas mesmo no nosso mundo ocidental vale a pena ver que estamos numa fase de transição, se formos à França, Holanda, Bélgica, mesmo certos locais na Alemanha e na Áustria, vemos que um certo tipo de Igreja mais preocupada com a cultura do mundo, de diálogo com o mundo, acabou por ser uma Igreja que não teve um grande sucesso, as Igrejas esvaziaram-se. Há uma geração idosa que ainda frequenta a Igreja, depois uma geração intermédia que abandonou a Igreja, e hoje há um recuperar da fé por parte de alguns movimentos, grupos de jovens e paróquias mais vivas, que ajuda a compreender que esta mudança cultural que os países ex-comunistas viveram, nós por outras razões vivemos, por isso também a esperança que o futuro da Igreja não seja uma decadência continua.

Não penso que o próximo Papa venha tratar da falência, vem continuar o caminho de altos e baixos que a Igreja tem, mas com vitalidade. É uma mudança cultural que vale a pena acompanhar agora e esperemos que o Papa seja, nesse sentido, um farol, uma luz e um indicador forte e claro.

Por isso a Igreja tem focos vivos, são esses focos que temos de ver. Bento XVI dizia para olhar para os lugares onde a Igreja está viva, dar-lhes espaço e segui-los. Porque é que a Igreja está viva ali? Porque há uma boa liturgia? Porque há um anúncio da fé forte? Porque há relações humanas intensas e sérias? Porque há empenho na caridade? Porque as pessoas estão preocupadas umas com as outras? Porque há empenho intelectual e há estudo? As razões estão um bocado à vista e vale a pena olhar para essas comunidades e segui-las.

As Igrejas reformadas ou Ortodoxas na Europa podem ser aliadas neste caminho? Isso poderá ser importante para o diálogo ecuménico?
O Papa João Paulo II já o tinha feito bastante, mas julgo que Bento XVI ainda o reforçou mais. Diante deste secularismo e laicismo militante que vivemos na Europa a dimensão ecuménica é fundamental. Os cristãos não têm o direito de não se preocupar com a unidade interna, entre si. Por isso o esforço de diálogo, mas não simplesmente um diálogo de não-agressão, mas um diálogo que procure a construção de uma unidade visível, uma unidade que possa depois ser experiência comum, ainda estamos longe, mas penso que o Papa Bento XVI insistiu muito nisto.

A nível de diálogo com os ortodoxos, pelas questões da fé, talvez seja mais fácil, mas há muitas igrejas reformadas, luteranas e não só, onde o diálogo mesmo doutrinal tem dado muitos passos. Penso que vai ser importante os próximos tempos. Vai ser importante 2017 quando fizer os 500 anos do início do protestantismo na Europa. Vamos ver qual é o futuro da Igreja Anglicana em Inglaterra, da Igreja Protestante na Suécia… o ecumenismo é de facto fundamental para a evangelização. Não podemos separar as duas coisas.

Não podemos é pensar num ecumenismo relativista, em que cada um pensa como quer e somos todos amigos. Não, esta amizade tem de ser séria, profunda e chegar mesmo à raiz dos problemas. Pedir perdão onde for preciso, perdoar onde for preciso perdoar, dizer que não tínhamos razão numas coisas, não poder ceder na convicção nas outras, para poder chegar a uma unidade visível.

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