Wednesday 13 March 2019

Os Católicos Interessam-se por Arte?

James Matthew Wilson
Em Dezembro de 2013 o poeta e antigo presidente do National Endowment for the Arts, Dana Gioia, publicou um artigo na revista First Things que revelava um certo paradoxo na cultura Americana: “embora o catolicismo constitua o maior grupo religioso e cultural dos Estados Unidos, actualmente esse grupo praticamente não goza de qualquer presença positiva nas belas artes americanas – nem na literatura, nem na música, nem na escultura, nem na pintura.”

Há meio século havia muitos católicos entre as fileiras dos autores mais respeitados da América, a maioria dos quais viam uma grande e fecunda interligação entre a sua vocação literária e a sua vocação batismal. Basta pensar em Thomas Merton e em Flannery O’Conner para se ter uma ideia disso mesmo.

Como os leitores bem sabem, o debate público hoje em dia é marcado por um espírito de fúria acéfala e acusação imediata e isso ficou patente na reação crítica ao ensaio de Gioia. Foram publicadas muitas respostas e a maioria foram de indignação. Se Gioia não via uma abundância de arte e literatura católica, então não estava a procurar com suficiente atenção. Ela existe, às pazadas, à espera de leitores.

Por mais bem-intencionadas que fossem essas respostas, não perceberam o ponto. É evidente que o artigo “O Autor Católico Hoje” foi escrito com o objetivo de levar tanto os autores com os leitores católicos a tomarem nota uns dos outros “Hoje” como já aconteceu no passado. Normalmente os autores preocupam-se, e bem, em produzirem boas obras; os leitores em ler o que lhes parece ser de qualidade.

O que não é um mau princípio, mas para edificar, renovar ou mudar uma cultura, essas duas atividades devem ser levadas a cabo com uma certa consciencialização ou intenção. E, a maioria das pessoas simplesmente não refletem sobre esse tipo de coisas se não tiverem sido provocadas por um bom lamento. Têm mais com que se preocupar.

Mas o artigo de Gioia pô-las a preocupar-se. Os autores puseram as mãos no ar, irritados por não estarem a ser reconhecidos e muitos leitores exprimiram, talvez pela primeira vez, desgosto por não haver ninguém da qualidade de T.S. Eliot a escrever nos nossos dias. Claro que o Gioia não queria apenas exasperar os seus leitores, mas inspirar a criação de instituições. Ele queria que todas as pessoas interessadas se interrogassem sobre que tipo de instituições podiam ser criadas para apoiar e cultivar a renovação da literatura católica.

As respostas não tardaram. Há alguns anos já tinham sido fundados os jornais literários “Image” e “Dappled Things” e a pequena editora Wiseblood Books começou a publicar romances, poesia e crítica ao estilo de O’Connor. Esta foi uma oportunidade para alertarem o mundo para o seu trabalho. O próprio Gioia organizou uma conferência de três dias no Institute for Advanced Catholic Studies, da University of Southern California, sobre o Futuro da Imaginação Literária Católica. Compareceram centenas de pessoas, incluindo alunos dos liceus católicos da zona.

E nos meses seguintes aqueles que se tinham reunido na conferência voltaram para casa e tentaram fazer algo novo. A professora de Inglês Mary Ann Miller fundou a revista Presence, focada na poesia católica. Outros, de Fordham e da Layola de Chicago, concordaram em tornar a conferência um evento bienal. Realizou-se em Fordham, em Abril de 2017 e em Chicago, em Setembro de 2019. Outros ainda criaram séries de leitura e de conferências nas suas universidades ou casas, para juntar autores e leitores. 

O sonho do Poeta, de Cézanne
Faço a revisão desta breve história hoje, enquanto considero a pequena parte que nela desempenho e que ainda agora está a começar.

Há cerca de um ano a Franciscan University Press, de Steubenville, no Ohio, pediu-me para lançar uma série de poesia. Propus a criação da Colosseum Books, que tem a seguinte missão:

No mundo antigo, os progressos civilizacionais de Roma foram transformados e levedados pelo espírito do Cristianismo. O Coliseu era um símbolo do esforço e do sofrimento envolvido neste renascimento, mas também de vitória final e de união, na medida em que o Cristianismo emergiu para tomar posse dos tesouros de Atenas e de Jerusalém, com a capital espiritual em Roma. Na era moderna, o autor inglês Christopher Dawson editou a revista Colosseum, um fórum para estimular a relação entre o mundo intelectual católico e a cultura e a arte contemporâneas. Nas suas páginas grandes mentes como as de Dawson, Jacques Maritain e E.I. Watkin estudaram e discutiram as proezas literárias de T.S. Eliot, Sigrid Undset e outros autores do renascimento literário católico e não só.

Animados pelo mesmo espírito de luta e renascimento, transformação e síntese, propomo-nos a publicar obras novas importantes, escritas por poetas contemporâneos que mereçam a atenção de leitores sérios. Os volumes serão simultaneamente obras de humidade e de ambição, de engenho e de espírito, criados por autores atentos às responsabilidades laborais do artista e da compreensão clássica das belas artes enquanto ocasião de epifania e beleza. Recordar-nos-ão do verdadeiro alcance do intelecto, o grande drama da vida humana, a disciplina e dedicação do trabalho sério e o grande destino do Homem.

Agora, que nos aproximamos da publicação dos dois primeiros Livros Colosseaum, esta Primavera, pediram-me ainda que criasse um programa para aspirantes a autores. Daí que o primeiro Instituto de Verão Colosseum terá lugar em Julho, juntando quinze jovens poetas no Campus da Franciscan University ao longo de quatro dias de discussão sobre a filosofia da arte e da beleza, a história da forma poética e um atelier para aperfeiçoarem o seu próprio estilo. Planeamos trazer autores de renome para lerem as suas próprias obras e partilhar a sua sabedoria enquanto tentamos, de alguma forma, edificar a cultura literária católica, que está a precisar de renovação.

Não é natural que um empreendimento deste estilo gere grande indignação ou revolta. Mas, um dia, dentro de alguns anos, alguém há de se queixar: “Porque é que já não há grandes autores católicos?”. E algum leitor casual poderá responder: “Bom, grandes, não sei, mas digo-te já uma dúzia que são bons”. Isso já seria um bom começo.


James Matthew Wilson, é autor de oito livros, incluindo, entre os mais recentes, “The Hanging God (Angelico) and The Vision of the Soul: Truth, Goodness, and Beauty in the Western Tradition” (CUA). É professor associado de religião e literatura no departamento de Humanidades e Tradições Agostinianas na Universidade de Villanova e já foi editor de poesia para a revista Modern Age, e de series para a Colosseum Books, da Steubenville Press, na Franciscan University. Veja aqui a sua página na Amazon.

(Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing no sábado, 9 de março de 2019)

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1 comment:

  1. A leitura do texto parece permitir concluir que T.S. Eliot era católico. Ainda que próximo do Catolicismo, Eliot era anglicano.

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