Wednesday 21 June 2017

Bernie Sanders: Cristófobo e (Indirectamente) Islamófobo

Pe. Mark A. Pilon
Nota prévia: Este artigo do Pe. Mark A. Pilon é importante na medida em que realça uma questão crucial do nosso tempo, nomeadamente a ideia crescente de que os cristãos são indignos de exercerem cargos públicos de responsabilidade simplesmente porque professam certas crenças, mesmo que elas em nada afectem o seu trabalho. O exemplo do interrogatório do senador Bernie Sanders a Russ Vought, aqui descrita, é claro a esse respeito.

Dito isso, o facto de ter escolhido este artigo para traduzir não significa que eu concorde nem com a posição de Vought nem com a posição que o autor parece defender, de que os cristãos e os muçulmanos não adoram o mesmo Deus. Que o fazem já foi repetido não só pelos últimos Papas mas por outros na história da Igreja e está escrito preto no branco em documentos do Concílio Vaticano II.

Filipe


Quando ouvimos falar na perseguição aos cristãos pensamos normalmente nos cada vez mais frequentes ataques levados a cabo por extremistas islâmicos radicais em países de maioria muçulmana no mundo. Mas estas perseguições também acontecem em países ocidentais, embora não assumam a forma de violência física que vemos noutras partes. É mais subtil e acontece ao nível do Governo e de empresas privadas, normalmente sem atenção mediática.

Mas recentemente um exemplo desta perseguição foi filmado durante uma audiência de confirmação no Senado americano. Só causou uma pequena polémica, porque os grandes meios de comunicação não se interessam e não é natural que o Senado faça alguma coisa sobre o assunto. Isto porque o autor das palavras é um menino bonito dos media e de muitos senadores: Bernie Sanders. E para muitos é impensável comparar Sanders a um qualquer Joe McCarthy – ainda que o seu ataque a um candidato cristão, que não é cristão ao modo que Sanders aprova, tenha sido desprezível segundo os padrões do próprio Senado.

O alvo do seu ataque foi Russell Vought, nomeado pelo Presidente Trump para ocupar o cargo de Vice-director do Gabinete de Gestão e do Orçamento. Vought tem ocupado vários cargos no aparelho do Partido Republicano e foi assessor do senador Phil Gramm, o democrata vira-casacas que não é muito popular entre políticos como Sanders. Só isso já teria sido o suficiente para o desclassificar aos olhos de Sanders, mas ele optou por perseguir Vought por causa das suas convicções religiosas, expressas num blog chamado The Resurgent. Um dos assessores de Sanders deve ter desenterrado a informação e entendido que seria um dado capaz de descarrilar a sua nomeação.

Nesse texto Vought defendia a decisão da universidade em que se formou, Wheaton College, uma instituição abertamente cristã, de suspender a professora assistente de ciências políticas Larycia Hawkins, que postou uma fotografia de si mesma no Facebook com um véu islâmico dizendo que o iria usar no trabalho, em aviões e eventos sociais durante as semanas do Advento em solidariedade com os muçulmanos que enfrentavam discriminação religiosa.

Na altura escreveu: “Estou solidária com os muçulmanos porque eles, como eu, que sou cristã, são povos do livro… E como o Papa Francisco afirmou a semana passada, adoramos o mesmo Deus.”

Ainda que o Papa Francisco “pense” que cristãos e muçulmanos adorem exactamente o mesmo Deus, há literalmente milhões de outros cristãos e católicos que “pensam” o contrário, com base nas suas crenças num Deus que é uma trindade de pessoas e de que Jesus Cristo é o único mediador da salvação da humanidade. Francisco não fala em nome de todos os católicos nesta matéria, menos ainda em nome dos milhões de protestantes evangélicos – incluindo a Wheaton College.

Em relação a isto Vought escreveu simplesmente: “Os muçulmanos não têm apenas uma teologia deficiente. Eles não conhecem Deus porque rejeitaram o seu Filho, Jesus Cristo, e por isso estão condenados”.

Sanders revoltou-se: “Do meu ponto de vista a afirmação feita pelo Sr. Vought é indefensável, é odiosa, é islamofóbica e um insulto a mais de mil milhões de muçulmanos em todo o mundo”. Tentou provocar Vought a negar a sua fé. Vought tentou responder, dizendo, “Senador, eu sou cristão.” Mas Sanders interrompeu: “Acha que os não-cristãos vão ser condenados?” e mais tarde perguntou “está a sugerir que todas estas pessoas estão condenadas?” e, enfurecido, “e os judeus? Eles também estão condenados?”

Vought limitou-se a reafirmar a sua crença cristã de que a salvação vem apenas por Jesus Cristo. Mas Sanders concluiu que esta crença era incompatível com uma função pública. “Diria, senhor presidente, que este candidato não tem nada a ver com aquilo que este país representa”.

Incrível é pouco… Vought nunca sugeriu que as suas opiniões religiosas o levariam a negar aos muçulmanos os seus direitos humanos ou sociais e Sanders nem lhe perguntou. Aliás, Vought disse acreditar que “todas as pessoas são criadas à imagem de Deus e são dignas de respeito, independentemente das suas crenças religiosas”. Mas isso não chegou para Bernie, que argumentou que devia ser chumbado precisamente por causa dessa sua fé.

Sanders não é uma pessoa particularmente bem informada no que diz respeito a religiões mundiais e não é muito perspicaz quando sai da redoma da guerrilha política. O que ele não percebe é que ao excluir cristãos como Vought deve, logicamente, excluir a maioria dos muçulmanos também. Para os muçulmanos ortodoxos todos os não-muçulmanos são infiéis, mushrikun (politeístas, idólatras, pagãos, etc.), e como tal não podem entrar no Paraíso. Quase todos os muçulmanos acreditam que todos os infiéis são condenados.

Sobre os infiéis, por exemplo, o Alcorão diz, “São aqueles, cujas obras se tornaram sem efeito, e que morarão eternamente no fogo infernal” (9:17). Quando Hussain Nadim, professor da Universidade Quaid-e-Azam em Islamabad, Paquistão, perguntou aos seus alunos se a Madre Teresa de Calcutá iria para o Céu, “para minha grande surpresa, mais de 80% desta elite académica respondeu claramente que não. Todos os que responderam assim explicaram que embora a Madre Teresa fosse uma mulher nobre, não era muçulmana e, por isso, não podia entrar no Céu”.

A crença de que só os muçulmanos podem entrar no Céu não é professada propriamente por uma minoria de muçulmanos educados, mas é a opinião geral, o que significa que de acordo com o Bernieismo a maioria dos muçulmanos nos Estados Unidos não estão em condições de ocupar um cargo público.

Será que ele os apelidaria de cristófobos que insultam mais de mil milhões de cristãos? Duvido, seria perigoso.

Não, pessoas como Bernie Sanders vêem os cristãos que defendem posições impopulares como “o aborto é homicídio” e “o casamento é apenas entre um homem e uma mulher” como a única verdadeira ameaça ao paraíso secular que quer edificar. Há demasiados poucos muçulmanos neste país para serem uma verdadeira ameaça, mesmo que defendam as mesmas posições. Contudo, servem perfeitamente como instrumentos para classificar os cristãos como inimigos do sistema político americano.


O padre Mark A. Pilon, sacerdote da Diocese de Arlington, Virginia, é doutorado em Teologia Sagrada pela Universidade de Santa Croce, em Roma. Foi professor de Teologia Sistemática no Seminário de Mount St. Mary e colaborou com a revista Triumph. É ainda professor aposentado e convidado no Notre Dame Graduate School of Christendom College. Escreve regularmente em littlemoretracts.wordpress.com

(Publicado pela primeira vez na quarta-feira, 17 de Junho de 2017 em The Catholic Thing)

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