A semana passada, enquanto o líder do mundo livre estava
ocupado a destruir o sistema americano de alianças cuidadosamente construído ou
a abalar a estrutura política nacional e estrangeira para poder lidar com os
desafios ambientais, dependendo dos órgãos de comunicação que vêem, aconteceu
algo igualmente importante – e mais fundamental – na Hungria, que passou quase
despercebido.
Fui convidado para falar no 11º Congresso Mundial para as
Famílias, que decorreu em Budapeste. Mas é difícil exprimir o quão inspirador e
esperançoso – e inesperado – foi o evento.
Estamos tão afundados nas nossas obsessões políticas que
quase nunca ouvimos falar disso, mas há milhares de activistas e organizações
de defesa da família e do casamento a trabalhar à volta do mundo. A maioria
esteve presente em Budapeste a semana passada. E mais importante que tudo, fora
da Europa Ocidental, da América do Norte e de países culturalmente parecidos
como a Austrália e a Nova Zelândia, os países não estão de todo a seguir as
modas absurdas e suicidas sobre casamento e filhos que acreditamos, falsamente,
terem dominado o mundo.
A Hungria é um exemplo na própria Europa. O
primeiro-ministro, o ex-dissidente soviético Viktor Orban, conseguiu inverter a
tendência desastrosa de casamento e nascimentos que a Hungria, à imagem da
Europa ocidental, revelava há anos. É o resultado tanto de compromissos sociais
como de políticas específicas.
A Constituição da Hungria de 2011, a primeira adoptada
desde que recuperou a liberdade depois da queda da União Soviética, diz o
seguinte:
Artigo L (1) A
Hungria protegerá a instituição do casamento enquanto união entre um homem e
uma mulher, estabelecida voluntariamente, e a família como base da sobrevivência
da nação. Os laços familiares basear-se-ão no casamento e/ou na relação entre
progenitores e filhos. (2) A Hungria encorajará o compromisso de ter filhos.
Pode parecer um gesto vazio de sentido, tendo em conta a
cultura dominante entre as elites internacionais, mas há dez anos a Hungria
tinha um índice de casamento de 3,6 por mil, o mesmo que países do Sul da
Europa como Itália, Espanha e Portugal. Agora está perto dos 4.75 e continua a
subir.
De igual forma o índice de fertilidade na Hungria passou
do mesmo que a Europa Ocidental para cerca de 1,45 – e parece estar a subir em
direcção aos mágicos 2,1 necessários para garantir a estabilidade demográfica.
Estas mudanças levam tempo e o Governo da Hungria reconhece que não haverá
estabilidade demográfica até cerca de 2030. Entretanto foram inseridas no
sistema húngaro uma série de vantagens para as famílias por forma a encorajar
não só o casamento e a procriação, mas famílias com três filhos ou mais.
A recuperação de atitudes saudáveis a respeito do
casamento e da família não é uma impossibilidade quando a sociedade reconhece
que ambos são importantes para o bem-estar humano e para a estabilidade social,
e desde que os governos nacionais não empreendam uma cruzada para os destruir.
Na verdade, a resistência da Hungria aos esforços da
União Europeia para expandir o “casamento” gay tem citado a Carta Europeia dos
Direitos Fundamentais: “O direito de contrair casamento e o direito de
constituir família são garantidos pelas legislações
nacionais que regem o respectivo exercício.” As relações jurídicas são
sempre complexas, claro, mas a Carta Europeia, como a Constituição americana,
não dá ao Governo central qualquer jurisdição sobre o casamento e a família.
E não é só a Hungria. A Eslováquia emendou a sua
constituição em 2014 e definiu o casamento da mesma forma que a Hungria. E isso
foi sob um Governo socialista. Na Polónia o artigo 18º da Constituição diz: “O
casamento, sendo uma união entre um homem e uma mulher, bem como a família,
maternidade e paternidade, serão colocadas sob a protecção da República da
Polónia”. A Roménia está a seguir o mesmo caminho.
Claro, estas não são as grandes potências da Europa. A
Alemanha, França e Reino Unido – e sobretudo a distante América – são quem
define, em larga medida, a agenda da comunidade internacional. Pelo menos é
isso que os radicais querem que se pense sobre os poderes das Nações Unidas e
outras organizações como a Organização Mundial de Saúde.
Mas vejam isto:
As áreas azuis escuras são os lugares onde o “casamento”
gay é legal. Mas os países encarnados são aqueles onde é ilegal – sendo o
casamento definido como sendo entre um homem e uma mulher. As áreas azuis estão
no meio, tanto geográfica como juridicamente: permitem algumas formas de união
“não-tradicional”, mas não as equacionam ao casamento.
De certa forma até na Europa existe divisão entre estados
azuis e encarnados. Apesar de todas as acusações de que o casamento, a família,
a moral sexual etc. têm sido feitos reféns por “progressistas”, isto é,
radicais que não sabem bem com o que é que se meteram, mesmo na Europa
decadente e em colapso demográfico existe resistência significativa.
Não deve ser por acaso que é precisamente nas periferias
europeias, as partes que até há pouco estavam sob domínio comunista, que a
resistência é mais forte. Elas ainda se lembram dos antigos totalitarismos e
não se deixam intimidar pelos novos.
Mais, têm a vantagem de poder ver – tanto na América como
na Europa ocidental – onde é que a nova ética totalitária conduz: A uma perda
de fibra social e uma perda, literal, daquilo que forma uma sociedade – pais
com filhos.
Claro que, por terem enfrentado esta crise de frente e
por se terem recusado a aceitar refugiados muçulmanos para colmatar as falhas
demográficas, têm sido acusados de esmagar os direitos dos homossexuais e de
estarem a encorajar uma nova forma de nacionalismo perigoso, com tons fascistas.
Viktor Orban é pai de cinco filhos. Muitos dos seus
ministros e secretários de Estado são pessoas novas com famílias grandes. E no
resto da Europa central e sudeste as principais figuras políticas têm filhos,
ao contrário dos líderes da União Europeia, da Alemanha, de França, Itália e
Reino Unido.
Os opinadores progressistas pensam que estão “do lado
certo da história”. Mas é difícil dizer o que será precisamente o futuro
progressista, uma vez que não parece preocupar-se com o futuro literal de
crianças e sociedades suficientemente férteis para se reproduzirem.
Do nosso ponto de vista essa forma de encarar o mundo é
que passou à história, no sentido de que já pertence ao passado e não tem
futuro a longo prazo. Outros modelos, mais esperançosos mas que dão menos nas
vistas, estão a surgir numa variedade de lugares inesperados.
Robert
Royal é editor de The Catholic Thing e presidente do Faith and Reason Institute
em Washington D.C. O seu mais recente livro é A Deeper Vision: The Catholic
Intellectual Tradition in the Twentieth Century, da Ignatius Press. The God That Did Not Fail: How
Religion Built and Sustains the West está também disponível pela Encounter
Books.
(Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing na quinta-feira, 1 de Junho de
2017)
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