George J. Marlin |
Tendo testemunhado a ascensão do nazismo e das suas
tácticas brutais, von Galen passou à ofensiva pouco depois de Hitler se tornar
chanceler. Numa carta pastoral da Quaresma de 1934, avisou os seus fiéis sobre
a ideologia nazi infiel. Dois anos mais tarde comentava a perseguição
anti-cristã: “Existem na Alemanha campas novas que contêm as cinzas daqueles
que o povo alemão vê como mártires”.
Grande defensor da liberdade católica, apoiou petições a
exigir o direito de crianças a serem educadas em instituições católicas. Também
juntou um grupo de cientistas católicos para refutar as doutrinas raciais, anticristãs
e antissemíticas, formuladas pelo ideólogo nazi Alfred Rosenberg, no seu livro
“O Mito do Século XX”.
Em 1937 Pio XI chamou von Galen a Roma para, juntamente
com o cardeal Eugenio Pacelli, mais tarde Pio XII, o ajudar a escrever a encíclica Mit
Brennender Sorge, que condenava o “mito da raça e do sangue” do nazismo.
Mas von Galen é mais bem lembrado por batalhar
os esforços do regime para eliminar os “inaptos”. A classe médica alemã abraçou
em larga medida o Nacional Socialismo. Para eles, o racismo Nazi era “biologia
aplicada” que lhes fornecia as ideias e as técnicas que levariam a um genocídio
sem paralelo.
O próprio Hitler era um forte apoiante da eutanásia.
Ainda em 1935 disse a Gerhard Wagner, líder da Liga de Médicos Nacional Socialistas
que “a eutanásia em larga escala teria de esperar pela guerra, porque aí seria
mais fácil de administrar”.
Nos primeiros anos da guerra abriram seis centros de
eutanásia, apelidados de “Fundações Caritativas para o Cuidado Institucional”.
Como se vê pelo nome, a matança era racionalizada como um acto de compaixão.
Galen condenou imediatamente estes “centros” numa série
de sermões. No domingo, dia 13 de Julho de 1941 avisou que ninguém estava a
salvo de ser “fechado nas celas e nos campos de concentração da Gestapo. O
direito à vida, à inviolabilidade, à liberdade é uma parte indispensável da
ordem moral da sociedade. Exigimos justiça!”
Uma semana mais tarde condenou o encerramento recente,
por parte da Gestapo, de escolas, conventos, mosteiros, abadias e a confiscação
de propriedades:
Permaneçam firmes! Vemos e experimentamos claramente o
que está por detrás das novas doutrinas que há anos nos têm impingido, por
causa das quais a religião tem sido banida das escolas, as nossas organizações
têm sido suprimidas e agora as creches católicas estão prestes a ser abolidas –
existe um profundo ódio ao Cristianismo, que estão determinados a destruir.
Pouco depois, von Galen levou a cabo o seu golpe de
mestre. O Artigo 31 do Código Penal alemão dizia que “quem quer que tenha
conhecimento da intenção de cometer um crime contra a vida de qualquer pessoa e
não informe as autoridades, ou a pessoa cuja vida está ameaçada, no devido
tempo … comete um crime punível por lei”. Von Galen foi às autoridades para
dizer que alguns pacientes “classificados como improdutivos” num hospital local
estavam a ser transferidos para um hospital psiquiátrico, onde “serão
intencionalmente mortos”.
Leão de Münster |
Devemos esperar, então, que estes pobres pacientes
indefesos serão mortos, mais cedo ou mais tarde. Porquê? Não por terem cometido
alguma ofensa, mas porque na opinião de alguma comissão se tornaram “indignos
de viver” porque são classificados como “membros improdutivos da comunidade
nacional”.
Pediu então aos fiéis que erguessem a voz “sob pena de
nos deixarmos infectar pelas suas formas infiéis de pensar e de agir, sob pena
de partilharmos da sua culpa”.
O sermão tornou-se “viral”. As forças anti-Nazis
clandestinas circularam-no pelo Reich e aviões britânicos largaram exemplares
por cima de cidades alemãs. Muitos oficiais nazis exigiram que o bispo fosse
julgado por traição e enforcado. Mas Goebbels discordou. Ele avisou que a
exposição da eutanásia por parte de Galen já tinha virado muitos nazis contra o
regime e seria “praticamente impossível” ao partido manter a sua popularidade
se von Galen fosse punido.
Hitler concordou. Ordenou que a eutanásia fosse travada e
que acabassem os ataques à propriedade da Igreja. Era claro, todavia, que
quando a Alemanha ganhasse a guerra Galen “teria de pagá-las” e que então
começaria um novo programa de eutanásia.
Em 1941 Pio XII escreveu uma carta a outro bispo alemão.
“Os bispos que, com tanta coragem e, ao mesmo tempo, conduta exemplar, se
erguerem em defesa das causas de Deus e da Santa Igreja, como fez o bispo von
Galen, contarão sempre com o nosso apoio”.
Logo no primeiro consistório do seu pontificado, Pio XII
elevou von Galen ao cardinalato, “pela sua resistência destemida ao Nacional
Socialismo”. Durante o evento, os alemães na Praça de São Pedro aplaudiram-no,
chamando-o “Leão de Münster”.
Um mês mais tarde, von Galen morreu.
O presidente da associação alemã de comunidades judaicas
comentou: “O Cardeal von Galen foi um dos poucos homens rectos e conscienciosos
que lutou contra o racismo num tempo muito difícil. Honraremos sempre a memória
do falecido bispo.”
Quarenta anos mais tarde, o Papa São João Paulo II
visitou a Catedral de Münster para rezar junto ao seu túmulo.
O lema episcopal de von Galen era “Nec
Laudibus, Nec Timore” – literalmente: “Nem elogios nem medo”, mas que
significa algo como “nem os elogios nem as ameaças me distanciarão de Deus”. Se
a Igreja de hoje precisa de um modelo a seguir, tem um exemplo excelente no
Cardeal von Galen e a sua defesa inquebrantável das verdades e das liberdades
cristãs, perante o regime mais homicida dos tempos modernos.
George
J. Marlin é editor de “The Quotable Fulton Sheen” e autor de “The American Catholic Voter”. O seu mais recente
livro chama-se “Narcissist
Nation: Reflections of a Blue-State Conservative”.
(Publicado pela primeira vez em The
Catholic Thing na quarta-feira, 3 de Agosto de 2016)
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