Randall Smith |
A verdadeira comunicação é muitas vezes mais difícil do que
imaginamos, especialmente no que diz respeito a temas como sexo e romance.
Nos primeiros anos da universidade tive uma discussão com o
meu amigo Ed. Eu dizia que ele não devia beijar uma mulher a não ser que
estivesse aberto à possibilidade de se casar com ela. Atenção, não estava a
dizer que teria de estar pronto para casar logo, apenas que deveria estar
aberto à ideia e que, se o casamento com esta mulher em particular fosse uma
perspectiva impossível ou impensável, então ele não devia estar a envolver-se desta
maneira. O Ed nunca tinha ouvido ninguém dizer algo tão radical na vida e,
naquela altura, achou a ideia absurda.
“Sou da Califórnia do Norte”, explicou, “e os jovens californianos
têm uma compreensão sofisticada do sexo, por isso podemos envolver-nos em entretenimento
sexual mútuo” (como ele lhe chamou), “sem que isso tenha implicações românticas”.
Ele podia, explicou, “curtir” com “uma amiga” e seria “apenas diversão”. Nada
mais.
É verdade que cada pessoa é diferente, mas mesmo assim eu
não estava convencido.
Passadas algumas semanas o Ed trouxe um amigo até ao meu
apartamento para repetir a discussão. “Ei, Smith”, disse ele, a rir-se, “diz ao
Chris aquilo que me disseste a mim”.
E eu disse.
“É inacreditável”, respondeu o Chris. “É da Idade das
Trevas. Eu sou da Califórnia do Sul”, disse ele (começava a notar um certo
padrão), “e nós curtimos a toda a hora e não tem de significar nada”.
A Califórnia, ao que parece, tinha-se tornado a Terra do
Beijo Insignificante.
Infelizmente para o Chris, estava acompanhado pela sua
namorada. E embora ela tivesse ficado calada o tempo todo, passada uma semana
acabaram. Quando, mais tarde, nos tornámos amigos e voltámos a falar daquela
noite ela disse-me: “Estava sentada a ouvir e a pensar ‘O quê? Beijar não
significa nada? Pois para mim significa!’”
Não é que o Chris fosse imoral. Simplesmente era novo e
insensato e, claro, era da Califórnia. Deus sabe bem que eu não era mais
“moral” do que ele, em termos de possuir as virtudes relevantes. Uma coisa é
reconhecer que não sabemos comunicar efectivamente com mulheres sobre assuntos
românticos, outra é aprender a fazê-lo sabiamente e bem. A esse respeito ainda
tenho muito pouco a aconselhar aos jovens salvo isto: perseverem e rezem.
É precisamente porque sei que tão pouco sei sobre o que as
mulheres pensam, que acho sempre estranho que outros homens presumam que sabem.
O Chris presumiu saber o que a sua namorada queria; ele partiu do princípio,
sem ter discutido o assunto com ela, que ela partilhava da sua atitude para com
a relação física que tinham. O meio de onde ele vinha tinha-o convencido que
toda a gente pensava da mesma maneira sobre a intimidade física. Pior, ele
vinha de uma cultura que o tinha convencido que todas as mulheres encaram a
intimidade física da maneira que certos homens gostariam que encarassem.
"Olha, dois bons amigos" |
Se pensa que o que fazemos com o nosso corpo não tem
qualquer significado intrínseco, então porque é que o sorriso é uma expressão
universal de felicidade entre seres humanos? Não há um grupo na Terra que
expresse a alegria com uma cara carrancuda. Até bebés recém-nascidos reagem
positivamente perante um sorriso e choram quando vêem uma cara carrancuda. Os
bebés até conseguem detectar a diferença entre um sorriso verdadeiro e um
falso. Dizer que um beijo pode ser insignificante é como dizer que um sorriso
não tem de significar que se está feliz. A questão é que, na verdade, normalmente
é isso mesmo que significa. E as pessoas que nos vêem a sorrir têm boas razões
para perguntar: “Porque é que estás tão contente?” Se nessa altura
respondêssemos: “Porque é que um sorriso tem de significar que estou
contente?”, achariam que eramos doidos.
De igual modo, a pessoa que andou a beijar não tem pelo
menos uma boa razão para pensar que talvez tenha significado algo para si?
Quando vemos duas pessoas a beijarem-se num filme o que é que pensamos: “Olha,
dois bons amigos”? Não. Dizemos: “Ah, estão apaixonados”.
Dizer que um beijo não significa nada é tão insensato como
tentar insistir que uma mulher que cozinha para nós todas as noites não está
necessariamente interessada numa relação a longo prazo. Pensam que estou a
brincar, mas conheci um rapaz que pensava isso. “Somos só amigos”, insistia. O
facto de esta mulher estar a fazer-lhe o jantar todas as noites não lhe sugeria
qualquer compromisso a longo-prazo, por isso partiu do princípio que para ela
também não poderia querer dizer nada. Era como aquelas crianças que tapam os
olhos com as mãos e dizem aos adultos à sua volta: “Não me conseguem ver”.
Jovens que estão a pensar em qualquer forma de intimidade
física bem podem virar o bico ao prego e considerar não apenas o que eles
pensam (ou presumem) que se está a passar, mas como é que a outra pessoa está a
interpretar este acto físico. Estou a partir do princípio que o acto “não
significa nada” porque é isso que quero, mas não necessariamente o que ela
quer?
Vivemos num mundo pluralista e multi-cultural (ou pelo menos
é isso que nos dizem), no qual é suposto os jovens serem sensíveis a outras
culturas. E sabemos que certos gestos inocentes nos Estados Unidos podem ser
interpretados de forma diferente, por exemplo, na Itália (não façam certos
gestos com as mãos lá a não ser que queiram ter chatices). Por isso pessoas de boa
vontade farão por ter cuidado.
Ter atenção aos sentimentos de outras pessoas e não partir
do princípio que toda a gente interpreta um beijo como sendo “meramente para
efeitos de entretenimento”, pode ser um bom começo no que diz respeito a lidar
com o sexo oposto.
A não ser, claro, que queira ser um perfeito idiota.
Randall Smith é professor de teologia na Universidade de St.
Thomas, Houston.
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The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.
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