Sempre que se fala de sexo e direito nas minhas
aulas, a atitude automática dos meus alunos é de dizer que estas questões de
amor e de atracção sexual são inescrutáveis e subjectivas: A razão tem pouco a
ver com o assunto e por isso também não deve ser invocada para lançar juízos
morais sobre o amor que se expressa através de relações sexuais.
Então coloco aos meus alunos a seguinte questão:
Um homem diz-nos que se sentiu atraído pela sua mulher por causa dos seus
“belos cabelos loiros, as suas feições perfeitas, que ligavam lindamente com os
meus cortinados”. Mas essas feições alteraram-se ao longo dos anos e agora,
explica, “estou a redecorar o apartamento todo ao estilo Art Deco e ela já não
encaixa no novo visual”.
Mesmo com as sensibilidades dos jovens de hoje,
esta narrativa continua a despertar risos. Já notei várias vezes a ligação
entre comédia e filosofia e a forma como os humoristas ganham a vida jogando
com a lógica e as nuances da linguagem. Os risos mostram que os alunos
compreenderam a questão central.
Mas convém explicar. Existe aqui uma reacção natural
a algo que é claramente, comicamente, fora de escala: tratar a decisão de casar
ao mesmo nível que a escolha dos cortinados implica reduzir a relação
matrimonial para o plano do acessório. E de igual forma seria reduzido o “amor”
que essa relação assinalaria. Trata-se de um amor e de um casamento que não
fazem pretensões de durar mais do que as “sensações” que, na altura, tornavam
os cabelos loiros e as feições tão agradáveis. Não há aqui a menor sugestão de
que “Não a deixa fanada o tempo, nem sua variedade maravilhosa poderá
tornar-se, com o hábito, sediça”.
Mas falar de um amor que perdura mesmo quando as
feições se perdem é falar de um “bem” não material, um bem da alma. Implica
necessariamente a existência de algo no esposo que é admirável de forma
duradoura, uma forma que, justamente, atrai o respeito e a afeição persistente.
Mas isso implica também a existência de uma componente moral indelével no amor
que é entendida desta forma – o amor no seu sentido mais sério, o amor que
encontra expressão coerente no compromisso de casamento.
Estamos próximos do primeiro aniversário daquele
momento, em Junho do ano passado, quando o Supremo Tribunal, em U.S. v.
Windsor, deu mais um passo no sentido de destruir a instituição do casamento.
Na altura ouvimos toda a gente a dizer que “as pessoas devem poder casar-se com
quem amam”.
Mesmo sem ir ao fundo do sentido de “amor”, essas palavras
de ordem foram imediatamente reveladas como um slogan vazio por quem quisesse
questioná-las minimamente.
É impossível negar o verdadeiro amor que existe
entre pais e filhos, avós e netos, e no entanto essas relações não podem ser
menosprezadas só porque não encontram a sua expressão no contacto sexual,
confirmado pelo casamento. E o problema dos “poliamorosos” e dos polígamos? O
seu amor não se limita aos casais, mas são compostos de combinações de três
pessoas, quatro, ou até mais. Porque é que estas pessoas não têm direito a
casar-se com “quem amam”?
Cupido e Psyche, Orazio Gentileschi |
Sabemos que
uma relação de 30 anos não é melhor que um caso de nove semanas ou um engate de
nove minutos – é diferente, mas não é melhor... Sabemos que a intimidade
instantânea envolvida naqueles 20 minutos perfeitos em Stanley Park pode ser
uma coisa profundamente bela.
Tenho amigos sérios do outro lado desta barricada
e tenho a certeza que não aceitariam esta definição de amor como aquela que
procuram num casamento homossexual.
As palavras de Gareth Kirby aparecem citadas por
Robert Reilly no seu recente livro Making Gay Okay.
O título engraçado esconde o facto de este ser um trabalho sério, profundo, que
recorda Aristótoles, São Tomás de Aquino e Rousseau, bem como estudos
empíricos. Esses estudos confirmam, ao longo dos anos, a quantidade surpreendente
de parceiros sexuais entre os homens homossexuais.
Num estudo de grande escala, em 2009, 35% dos
homens “afirmaram terem tido relações sexuais com menos de 100 homens; 42%
tinham tido relações com entre 100 e 499 homens e 23% com 500 parceiros ou
mais.”
Mesmo os activistas mais fanáticos evitariam
rotular estas relações com centenas de homens, alguns desconhecidos e com a
duração de 20 minutos, como amor. A lição é que mesmo os activistas
homossexuais estão dispostos a criticar padrões de comportamento que têm sido
característicos da população homossexual há décadas.
Sendo esse o caso, porque há de ser inadmissível que
outros levantem as mesmas interrogações críticas sobre o significado da vida
homossexual? E como é que se admite que o Estado castigue quem julga,
precisamente da mesma maneira que os activistas, a forma como algumas pessoas
vivem a sua “orientação sexual”?
Hadley
Arkes é Professor de Jurisprudência em Amherst College e director do Claremont
Center for the Jurisprudence of Natural Law, em Washington D.C. O seu mais
recente livro é Constitutional
Illusions & Anchoring Truths: The Touchstone of the Natural Law.
(Publicado pela primeira vez na Terça-feira, 17
de Junho de 2014 em The
Catholic Thing)
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