A questão da liturgia é fundamental para a nova
evangelização. É na liturgia que a comunidade se junta para exprimir a sua fé.
Não são poucas as pessoas que começam uma aproximação a Deus atraídos pela
liturgia, como não serão também poucas as que se afastam porque a liturgia não
as atrai.
A liturgia é também uma área de enorme tentação para muitos
sacerdotes, que podem cair no erro de a modificar a seu bel-prazer, pensando
que com isso estão a seduzir os fiéis. Daí decorrem as missas-disco, as
homilias com fantoches e outras coisas verdadeiramente deploráveis.
Do lado contrário há uma tentação de abordar a liturgia como
se tivesse sido aperfeiçoada em Trento para todos e para sempre e preservada em
âmbar para nunca mais poder ser alterada de qualquer forma. Mas sobre isso
falarei sobretudo noutra secção.
Aqui, o essencial parece-me estar nesta frase:
“A evangelização jubilosa torna-se beleza na liturgia. A Igreja
evangeliza e se evangeliza com a beleza da liturgia, que é também celebração da
actividade evangelizadora e fonte dum renovado impulso para se dar.” (#23)
A beleza da liturgia não está (só) na fidelidade às rubricas
e não está certamente no “marketing” artificial. A beleza na liturgia surge
naturalmente quando a fé é verdadeira, quando ela ocorre num espírito de “evangelização
jubilosa”.
Não faria justiça à lógica da encarnação pensar num cristianismo
monocultural e monocórdico. É verdade que algumas culturas estiveram
intimamente ligadas à pregação do Evangelho e ao desenvolvimento do pensamento
cristão, mas a mensagem revelada não se identifica com nenhuma delas e possui
um conteúdo transcultural. Por isso, na evangelização de novas culturas ou de
culturas que não acolheram a pregação cristã, não é indispensável impor uma
determinada forma cultural, por mais bela e antiga que seja, juntamente com a
proposta do Evangelho. A mensagem, que anunciamos, sempre apresenta alguma
roupagem cultural, mas às vezes, na Igreja, caímos na vaidosa sacralização da
própria cultura, o que pode mostrar mais fanatismo do que autêntico ardor
evangelizador. (#117)
Não podemos pretender que todos os povos dos vários continentes, ao
exprimir a fé cristã, imitem as modalidades adoptadas pelos povos europeus num
determinado momento da história, porque a fé não se pode confinar dentro dos
limites de compreensão e expressão duma cultura. É indiscutível que uma única cultura
não esgota o mistério da redenção de Cristo. (#118)
Rito etíope |
Isto é verdadeiramente essencial. Nós, em Portugal, somos
católicos latinos. A nossa liturgia é romana e latina e se cortarmos com essas
raízes corremos o risco de estar a criar formatos efémeros que perdem
significado com o passar dos anos.
Mas se nós somos latinos, os africanos não são. Nem os
chineses, nem os japoneses. No caso da China e do Japão o caso é complicado,
não há nenhum exemplo de inculturação evangélica que possa servir de base para
criar um rito próprio, mais adequado à cultura local. A sua criação seria
sempre forçada. Mas no caso de África, ou da Índia, esses exemplos já existem e
podiam perfeitamente servir de base para esse tipo de experiência. Estou a
falar das liturgias copta, etíope, ou no caso da Índia, malabar ou malankara.
Existe um caso em que se fez esta experiência. No Congo houve autorização para se elaborar um “Rito Zairense”, que é uma africanização do rito romano. Apesar de ter muita curiosidade, não sei o suficiente sobre o assunto para me poder pronunciar sobre se tem corrido bem ou não.
Mas mesmo dentro da Igreja Latina, esta seria uma boa
oportunidade para apostar na renovação dos ritos próprios locais, como o rito
bracarense que, infelizmente, está praticamente morto e enterrado em Portugal.
Outros temas:
Para
Mim
Vale a pena ler para aprofundar este tema: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/551813-evangelii-gaudium-promove-a-liturgia-autentica-um-ponto-de-inflexao-em-direcao-a-sexta-instrucao-sobre-a-reforma-da-liturgia-artigo-de-andrea-grillo
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