Randall Smith |
Eu espero que toda a gente que entra no meu gabinete se
sinta segura. Mas não deviam ser elas a dizer-me se se sentem seguras, e não ao
contrário?
Seja como for, a questão não se põe, porque normalmente
eu encontro-me com os meus alunos em cafés, alguns dos quais são mais “seguros”
que outros. Certa vez um aluno, um jovem veterano das Forças Armadas, disse-me
que tinha passado pelo café onde sabia que eu costumava estar à noite, mas não
me tinha encontrado. “A que
horas chegaste?”, perguntei “Cerca das 21h20”, respondeu. “Eu cheguei
uns cinco ou dez depois. Porque é que não esperaste?” “Não, não”, disse ele, “aquilo
estava cheio de hipsters (está sempre), e eu conseguia senti-los a olhar para
mim e a julgar-me, por isso tive de sair”.
Não tenho a menor dúvida de que a maior parte das pessoas
naquele café devem ter uma imagem muito acolhedora e aberta de si mesmas, mas é
curioso como estas coisas podem ser relativas. O que parece “aberto” e “acolhedor”
para um grupo de hipsters que se consideram muito progressistas, pode alienar
uma multidão de outras pessoas que se sentem “julgadas” por ser demasiado “normais”,
ou não serem suficientemente “fixes”.
Deve ter sido este mesmo medo instintivo de ser “observado”
ou “julgado” que senti quando vi o sinal de “Lugar Seguro”. Será que o meu
olhar tinha sido suficientemente aprovador? E a minha linguagem corporal, foi a
correcta? Se alguém visse a curiosidade estampada na minha cara talvez pensasse
que estava a expressar desaprovação, o que não era de todo a minha intenção.
Se a dona do gabinete tivesse posto a cabeça de for a e
perguntasse: “Está a olhar para o meu sinal. Algum problema?”, o que é que eu
teria respondido? “Não, não,
não… De todo. Estava a só a ler… o seu… errr… sinal”. Teria acreditado em mim?
Ou teria continuado desconfiada? Teria feito queixa?
E se ela adivinhasse que sou católico? O que é que teria
pensado acerca das coisas horríveis que supostamente penso sobre homossexuais?
Teria conseguido convencê-la de que não penso essas coisas? Nunca consegui
convencer os meus pais protestantes de que os católicos não acreditam nas
coisas em que eles pensavam saber que os católicos acreditavam.
Talvez o que me tenha feito sentir desconfortável com o
sinal de “Lugar Seguro” seja o facto de o passatempo mais popular na América,
agora, ser uma versão do que um autor de outra geração chamou “upmanship”, a
superação do outro. Por exemplo, se você disser “a semana passada conheci o presidente
da Câmara de Londres” e o seu amigo responder: “O presidente da Câmara de
Londres? É um tipo encantador! Almoçou em minha casa a semana passada”, fazendo
com que o seu encontro pareça muito menos impressionante, supera-o.
Nos Estados Unidos há cada vez mais pessoas apostadas em
jogar uma versão ligeiramente diferente a que se pode chamar “ultrapassar pela
esquerda”, cujo objetivo é mostrar-se mais à esquerda que o outro. Você diz: “Mandei
a minha filha para uma escola muito liberal e progressista, só para meninas” e
o seu amigo responde, com um desprezo mal disfarçado, “ainda se chamam meninas?
Quero dizer, tantas dessas escolas só para meninas não percebem como o termo ‘menina’
pode ser ofensivo para os transgéneros”. E eis que a escola muito progressista em
que orgulhosamente matriculou a sua filha, de repente parece bastante menos progressista,
ou até mesmo discriminatória.
Você sente-se muito pequeno, o que era precisamente o
objetivo.
As pessoas podem fazer como entenderem, mas para mim é
tudo menos claro que estas guerras linguísticas que travamos nos confins refinados
do mundo académico estejam de facto a ajudar as pessoas que dizemos querer
ajudar. Depois de décadas a patrulhar obsessivamente o discurso, os miúdos
pobres estão a obter uma melhor educação? E os homossexuais sofrem de menos
ansiedade? As minorias estão a ser tratadas com maior respeito nos seus locais
de trabalho, habitação e educação? As mulheres estão a ser mais respeitadas?
Porque se a resposta for não, e se tudo o que estamos a
fazer é jogar o jogo da linguagem para que nós mesmos nos sintamos melhor, como
se estivéssemos a resolver os problemas, mostrando que nos preocupamos, ao
contrário das outras pessoas que não estão tão despertas como nós, então, para
dizer a verdade, prefiro não fingir.
Quando vemos tantas pessoas a esforçar-se para não serem
apanhadas nas armadilhas deixadas por todas as pessoas que jogam o jogo da
ultrapassagem pela esquerda, dificilmente alguém se sente “seguro”. Lugares que
deixam de fora as pessoas que têm as opiniões e atitudes “incorrectas” tendem a
ser o oposto de seguras.
Agora, por exemplo, temos um grupo de pressão que lançou
uma petição para apresentar à Universidade de Oxford no sentido de remover John
Finnis, que é católico, do seu cargo, por este revelar “pontos de vista
extremamente discriminatórios contra grupos de pessoas vulneráveis” (i.e., por
não concordar com a visão dos signatários em relação a actividades homossexuais
ou cirurgias de mudança de sexo). Eles insistem que a Universidade “clarifique
a sua política em relação a professores que discriminam”, porque, atualmente, “os
estudantes e corpo docente têm de esperar que haja um momento de assédio
pessoal ou de vitimização, antes de se poderem queixar sobre o ambiente de intolerância
e de intimidação que os professores criam através dos seus artigos escritos”.
Não é preciso tratarem mal alguém, basta terem as opiniões erradas.
Por agora a Universidade está a recusar-se a agir. Mas
que mensagem é que esta petição transmite a outros membros do corpo docente em relação
à sua “segurança” caso não aceitem expressar as opiniões “aprovadas” sobre um
grupo ou outro, quer tenha a ver com o casamento gay, com a forma como os
muçulmanos tratam as mulheres, ou a questão israelo-palestiniana?
Essa é uma questão. Mas outra é esta: Será que as
manobras tácticas das pessoas envolvidas neste jogo de “ultrapassagem pela
esquerda” está mesmo a ajudar as minorias e as pessoas vulneráveis, como se
alega?
Será seguro sequer fazer a pergunta?
Randall Smith é professor de teologia na Universidade de
St. Thomas, Houston.
© 2019 The
Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de
reprodução contacte: info@frinstitute.org
The Catholic Thing é um fórum de opinião
católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade
dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o
consentimento de The Catholic Thing.
No comments:
Post a Comment