Ao que parece a Sociedade de São Pio X vai rejeitar a proposta feita por Roma para reunificação. Os detalhes estão nesta notícia.
Que dizer deste aparente falhanço das negociações?
Em primeiro lugar um cristão deve recordar que embora a situação pareça impossível, a Deus nada é impossível.
Em segundo lugar, porém, é com muita pena que vejo o processo a chegar a um beco sem saída. Este sempre foi um projecto pessoal de Bento XVI, não duvido que ele desejava muito a regularização da SSPX e que acreditava que a sua reintegração na plena comunhão da Igreja pudesse servir para fortalecer a “reforma da reforma” que parece apostado em fazer.
Acima de tudo, a recusa e os termos em que é feita são um duro golpe da ala tradicionalista para um Papa que todos os dias tem de lidar com obstáculos colocados por bispos da ala liberal, que fazem tábua rasa dos seus documentos e das suas recomendações, por exemplo, no campo da liturgia.
Aparentemente a resposta da SSPX vai ser algo do género “obrigado pela vossa proposta, mas não a aceitamos. E se em vez de sermos nós a mudar a nossa visão fossem vocês a mudar para que nos possamos sentir em casa?”
Por um lado até se percebe o optimismo dos lefebvrianos. Olham para os seminários vazios da Igreja Católica e para os seus, que estão cheios, e abanam a cabeça. Olham para as missas com fantoches gigantes e sucessivos atropelos litúrgicos nas catedrais europeias e sentem-se reconfortados com as suas missas solenes. Vêem centenas de padres na Áustria a assinar “manifestos de desobediência” e consolam-se dizendo que estão firmemente agarrados à tradição imutável da Igreja.
Mas há um problema, estão fora de comunhão com Pedro. A consumar-se um “chumbo” à iniciativa romana, o cisma poderá tornar-se definitivo.
E depois? Depois, na minha opinião, assistiremos ao que tem acontecido a todos os grupos que entram em cisma convencidos da sua superioridade, uma espiral descendente em direcção à loucura, bizarria e obscuridade. Pode levar décadas, mas não tenho dúvidas de que acontecerá.
A Igreja Católica está em crise, sem dúvida, embora essa crise se faça sentir sobretudo nas sociedades ocidentais (ao criticar os seminários vazios na Europa, Monsenhor Bernard Fellay não fala dos africanos ou asiáticos que rebentam pelas costuras), mas já passou por muitas e há-de sair de pé. Os lefebvrianos que ficarem na SSPX preferem saltar de um barco desorientado e morrer afogados na certeza das suas verdades a permanecer e contribuir para que o rumo seja corrigido.
Penso que um dos primeiros efeitos da recusa será uma onda de deserções individuais, ou de pequenos grupos que regressarão a Roma. A SSPX está presente em muitos países e é ilusão pensar que não tem as suas próprias divisões internas. Essas poderão tornar-se mais aparentes agora, levando mesmo a fracturas.
Quando surgiu a notícia do “convite” de Roma, num blogue católico mas tradicionalista e próximo das posições dos Lefebvrianos os comentários foram bem indicativos da vontade que muitos dos seus membros têm de regressar à plena comunhão. Esses dificilmente se manterão no caso de uma rejeição que mais parece fruto de birra do que convicção.
Nos Evangelhos Jesus deixa bem claro o que acontece aos ramos que se separam da vinha. Ao olhar para toda esta situação só me vem à cabeça o cartoon de uma pessoa que serra um ramo alto enquanto se mantém sentado alegremente em cima dele.
Filipe d’Avillez
O orgulho espiritual da certeza de estar com a razão é desastroso. Prefiro "errar" com a Igreja a acertar sozinho.
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