Tudo bem, a não ser que a questão da existência de Deus
seja tão importante e relevante como saber se o vulcão por cima da minha casa
está prestes a explodir. Como não sou vulcanólogo, posso legitimamente dizer
“eu não sei mesmo”. Mas não posso propriamente dizer que a resposta à questão
não tem qualquer importância para a minha vida e realização. Dizer-me
“agnóstico” e voltar para casa não é uma resposta “neutra”. Com os meus gestos
estou a colocar-me do lado dos que dizem que esta não é uma preocupação
relevante.
Tenho pensado muitas vezes que o verdadeiro objectivo da
famosa “aposta” de Pascal era tentar levar os seus compatriotas, com a mania de
que eram tão sofisticados, a enfrentar esta questão existencial da mensagem do
Evangelho: E se, com a tua vida, já apostaste tudo nesta questão? E se todo o
teu dinheiro (ou toda a tua vida) dependessem da resposta a uma certa questão,
estarias mesmo disposto a permanecer “agnóstico” sobre ela?
Posso ter a Certeza de que Jesus é Deus feito homem, e
que a sua morte sacrificial nos dá a salvação? Talvez não. E então?
E se não colocarmos a questão desta forma, em busca da
certeza?
Esta busca pela certeza é uma tendência que foi
introduzida na consciência moderna por René Descartes, que acreditava que dizer
“eu sei” implicava ter a certeza – tão certo como estou de que 2+2=4. Um antigo
professor meu dizia que este era o tipo de erro que, na escola de Aristóteles,
teria levado a uma bela reguada. “Não, Descartes! Não! Não podes esperar o
mesmo grau de certeza em todos os assuntos!”
Podes ter a certeza sobre Deus, Jesus e tudo o resto?
Talvez não. Mas há outras questões sobre as quais não podes ter a certeza. A
tua mãe ama-te? Podes ter a certeza disso? Talvez ela seja um génio malvado a
enganar-te simplesmente para te poder manipular quando fores mais velho.
Bom, talvez seja possível, sim, mas o que é que ela
poderia esperar ganhar que pudesse justificar todo o esforço e sacrifício que
está a fazer agora? E como é que podia ter a certeza de que todos os esforços
valeriam a pena? É possível, se bem que não seja inteiramente razoável, ou
provável. Mas não posso ter a certeza, de facto.
E temos ainda outras questões com as quais as pessoas se
debatem. Devo casar com esta pessoa? Posso ter a certeza de que vai “resultar”?
É impossível ter a certeza. Talvez seja possível discernir melhor ou pior, mas
quem exigir uma certeza absoluta nunca irá casar. Aqueles que pensam no amor e
no casamento como escolhas que fazem, em vez de uma situação de que podem ter a
certeza, tendem a ter mais sucesso a longo prazo.
Eu tive um professor que defendia que a “crença” era
“agir como se fosse verdade”. Não me parece que seja a melhor das definições de
fé, mas leva a algumas considerações interessantes. Se eu vejo uma ponte frágil
e velha e decido atravessá-la, é porque creio que aguentará o meu peso. Como é
que sabem que acredito? Porque estou a atravessá-la. Posso estar a fazê-lo de
forma hesitante, com algumas dúvidas, mas estou a fazê-lo.
Em “O
Homem em Busca de um Sentido”, Viktor Frankl diz o seguinte sobre o tempo
que passou em Auschwitz: “Tínhamos de parar de perguntar sobre o sentido da
vida, e antes pensar-nos como aqueles que estavam a ser questionados pela vida
– diariamente, a cada hora. A nossa conduta não devia consistir em conversa e
meditação, mas em acção recta e conduta recta”.
E se, em vez de certezas sobre a ideia de Deus, nos
pensássemos como estando a ser “questionados pela vida”, e a resposta a esta
pergunta tivesse a ser dada com as nossas vidas. E se em vez de esperar pela
sensação da certeza nos limitássemos a dizer: “Eu escolho viver como se uma
vida de amor altruísta fizesse sentido”.
Quando agem com amor altruísta e ensinam os seus filhos a
fazer o mesmo, os “agnósticos” e os ateus que dizem acreditar que vivemos num
universo vazio e desprovido de sentido, revelam que não acreditam mesmo no que
dizem acreditar. Eles acreditam no mesmo que os cristãos – sobre a vida e sobre
o mundo. A diferença está em que os cristãos têm razões para a esperança que
carregam. E podem dar nome a essa esperança.
Posso ter a certeza sobre o amor de Deus? Estás a gozar?
Há dias em que o universo me esmaga e não sei se há valor no que quer que seja,
sobretudo quando contemplo as trevas que andam pelo mundo e que habitam o meu
próprio coração.
Embora não possa ter a certeza, posso escolher tentar
viver como se o Deus de Amor existe e criou um universo em que a chave da
realização humana é o Amor feito carne. Eu prefiro viver desta forma porque, na
minha experiência, é o que faz mais sentido. Se quiseres chamar a isso “fé
irracional”, força.
E sim, talvez seja como o tipo que está num barco velho e
frágil, que nem sei se me vai manter à tona de água, a remar em direcção ao
homem que se afoga. Mas eu prefiro ser esse tipo do que aquele que se encontra
sentado na margem, a fazer perguntas infindáveis sobre a navegabilidade do
barco. Esse tipo já fez a sua escolha. E eu fiz a minha. Mas nenhuma dessas
escolhas é neutra.
Randall Smith é professor de teologia na Universidade de
St. Thomas, Houston.
(Publicado pela primeira vez em The
Catholic Thing na terça-feira, 28 de Novembro de 2023)
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Uau
ReplyDeleteOlá Jovens, bom dia, no Último JDJ tivemos num workshop com o Filipe Avilez, hoje no seu blog li um artigo difícil para vós e talvez complicado de entenderem, mas muito interessante que vai ao encontro de dúvidas que alguns colocaram na catequese, recomendo ler se tiverem paciência e depois colocar as dúvidas na próxima catequese. https://actualidadereligiosa.blogspot.com/2023/11/fe-certeza-e-duvida.html?fbclid=IwAR3gFHwx7BYfKm179fSSGnlW1G2Km_ocwYaEPE7XR22sYcwwDPB39zlVmKM&m=1
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