Michele Malia McAloon |
Para a maioria dos americanos, a realidade das guerras no
Afeganistão e no Iraque foi um fardo suportado por outros. Políticos sem qualquer
conhecimento militar e sem filhos a servir nas forças armadas decidiram
depressa, talvez irresponsavelmente, por uma intervenção militar. Ao mesmo tempo
não houve qualquer apelo à juventude para pegar em armas. Desde o início de
ambas estas guerras houve uma atitude generalizada de que esta era a guerra de
outros. Certamente não era uma questão de responsabilidade pessoal, nem para os
membros da própria família.
Não houve apelos a mobilização popular para plantar comida ou comprar obrigações de guerra, nem de fazer o mais pequeno dos sacrifícios para reconhecer, muito menos contribuir para o esforço de guerra. Em vez disso a política "woke" e as compras é que estiveram na ordem do dia. Palavras de agradecimento pelo serviço dos veteranos soaram a pouco enquanto as candidaturas à universidade, bolsas desportivas e preparação para os exames evitaram que a maioria dos pais considerassem sequer o serviço militar como opção para os seus filhos.
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Esta guerra foi uma questão familiar. Muitos militares
serviram várias missões, passando mais tempo fora do que em casa ao longo
das últimas duas décadas. O ciclo de missão, regresso a casa e preparação para
a próxima missão nunca acabou. O custo íntimo foi suportado por familiares,
esposos, pais, filhos e amigos que tiveram de lidar com a ausência e –
frequentemente – tiveram de se adaptar às mudanças naqueles que regressavam do
campo de batalha.
Desde o início desta retirada brutal e caótica do
Afeganistão, esposos de soldados têm estado a postar fotografias de cerimónias
de boas-vindas em que participaram ao longo de vários anos, para os seus
familiares. Fotos de duas, três ou quatro cerimónias, com as crianças a
envelhecer, são um testemunho do verdadeiro custo pessoal suportado por
famílias militares durante esta guerra.
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A guerra e o conflito são tão antigos como a humanidade;
a derrota idem. Mas derrota e derrotado não são a mesma coisa. O Antigo e Novo
Testamentos, bem como as vidas dos santos, estão cheios de exemplos de perda e
renovação. Moisés encontrou esperança nos 40 anos de travessia do deserto, sem
o prémio de entrada na Terra Prometida. São Paulo encontrou a sua vitória final
na cadeia. Ele sabia que a verdadeira vitória vem apenas na celebração da
esperança, na paciência nas tribulações e na constância da oração (Romanos
12,12). Santos e pecadores, ao longo dos anos escolheram erguer-se da derrota
transformando um passado doloroso num futuro de esperança através da fé e do
serviço a algo maior que si mesmos.
Ironicamente, a nossa renovação enquanto nação, igreja ou comunidade de crentes poderá nascer do exemplo de serviço que está a ser dado, mesmo agora, à sombra das suas dificuldades e perda, pela nossa comunidade militar. Militares e suas famílias, pessoas sem grandes meios financeiros ou materiais, que foram os mais afetados pelas guerras americanas no Afeganistão e no Iraque continuam a servir, sacrificar e perguntar que mais podem fazer para ajudar.
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O simples gesto de um familiar de militar a comprar
fraldas para um bebé afegão cujo pai até poderá ter contribuído para a
violência dirigida contra os seus entes queridos representa um momento definidor para
a nossa nação. O serviço e o sacrifício acrescidos, em vez do recuo para o
ressentimento, tornaram-se uma fonte de cura. O serviço e a dádiva são um mero
reflexo para aqueles que optaram por servir. Os americanos devem reflectir
profundamente sobre este humilde exemplo.
Para os cristãos a derrota está sempre ao virar da
esquina. A vida cristã é um combate contra o pecado, a tentação e o desespero.
A nossa verdadeira força vem dos mandamentos tão simples, mas tão difíceis de
pôr em prática, de amar a Deus e ao próximo. Um futuro menos violento poderá
estar a ser gerado nos corações de homens e mulheres dispostos a ordenar as
suas vidas segundo os mandamentos de Deus.
Numa sexta-feira, há vários séculos, numa colina deserta
no Médio Oriente chamada Calvário, a derrota e a morte pareceram absolutos.
Três dias mais tarde, quando o sol nasceu iluminou um sepulcro vazio – a mais
profunda vitória na história da humanidade. A derrota só pode ser temperada
pelo amor e no conhecimento de que a sua vitória é a nossa, agora e para sempre.
São Miguel Arcanjo, Defendei-nos no combate.
Fotos:
1. Elementos das Forças Especiais americanas a cavalo no
Afeganistão, em Outubro de 2001. (Foto: FA Americanas).
2. Os caixões de Hunter Lopez, Rylee McCollum, David Lee
Espinoza, Kareem Nikoui, Jared Schmitz, Daegan Page, Taylor Hoover, Humberto
Sanchez, Johanny Rosario, Dylan Merola, Nicole Gee, Max Soviak e Ryan Knauss, os
soldados mortos no recente atentado em Cabul. Dover Air Force, Delaware, 29
Agosto de 2021. (Foto: U.S. Marine Corps).
3. Os primeiros evacuados do Afeganistão da Base Aérea de Ramstein, na Alemanha, para os EUA, depois da meia-noite do dia 23 de Agosto de 2021. (Foto: Força Aérea EUA)
Michele Malia McAloon é casada há quase 28 anos. É mãe,
oficial das Forças Armadas americanas na reserva e advogada de direito
canónico. Vive em Wiesbaden, na Alemanha. Pode ouvir o seu podcast
“Cross Word” no Spotify, Apple Podcasts e archangelradio.com.
(Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing na terça-feira, 31 de Agosto de 2021)
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