Transcrição integral das declarações de Manuel Braga da Cruz
sobre co-adopção e adopção por homossexuais. Notícia
aqui.
O que é que este
debate, e a eventual aprovação, dizem sobre a sociedade?
Este problema transcende e muito a mera questão técnica de
saber quem pode adoptar. Uma sociedade forte é uma sociedade organizada, uma
sociedade que é apenas composta por indivíduos atomizados não é só uma
sociedade fraca, é uma sociedade que fica à mercê de desígnios políticos,
nomeadamente totalitários, como a história do século XX nos ensina.
A maneira de a sociedade conseguir resistir às tentativas
demagógicas de a levar para horizontes que não são desejáveis é ser uma
sociedade organizada institucionalmente, uma sociedade assente em instituições.
Entre essas instituições a família é seguramente a mais importante e a mais
básica. Ora, a questão da co-adopção é uma que remete não apenas para a
educação que nós queremos que seja dada a todos os portugueses, mas também para
a organização da sociedade.
A educação, obviamente, tem a ver com o processo da
socialização e o processo da interiorização dos papéis no interior da família.
E todos sabemos por experiência e por tradição que a família é um equilíbrio de
papéis. Entre esses está o papel do pai e o papel da mãe, que historicamente
têm a sua evolução e a sua diversidade, mas que são indispensáveis para a
formação integral da pessoa humana.
Admitir que uma adopção possa ser feita por um agregado que
não integre esta diversidade de papéis no interior da família é particularmente
grave não só porque debilita a criança que é educada, como debilita a própria
instituição familiar e, por aí, também a família.
Portanto esta questão da co-adopção está muito longe de ser
apenas uma questão de saber quem pode adoptar uma criança, claro que é isso
também, mas remete para questões muito mais vastas e de maior importância. Nos
últimos anos temos vindo a assistir a uma deliberada orientação política que
visa debilitar a sociedade, em nome do reforço da liberdade individual. Isso
enfraquece a cidadania, enfraquece a sociedade civil e torna a sociedade
facilmente manipulável por objectivos políticos.
Estamos perante uma questão que altera a ordem
civilizacional em que temos vivido ao longo de milénios. Não é coisa pouca, é
uma questão muito importante que não pode ser decidida ligeiramente e
apressadamente.
Por isso é fundamental haver um debate na sociedade para
esclarecer o que está em jogo, para não haver uma decisão tomada à surrelfa,
apressadamente, nas costas dos cidadãos, para impor modelos que algumas
vanguardas pretendem impor à sociedade portuguesa.
Quando fala em
vanguardas, está a dizer que estamos perante um caso de engenharia social?
Acho que essas vanguardas visam em primeiro lugar a
liberdade do indivíduo, numa perspectiva muito egoísta, e que não têm em devida
consideração não apenas os direitos da criança e os direitos educativos da
criança, como não têm em consideração aquilo que deve ser uma sociedade civil
forte, actuante e adulta numa democracia.
Qual deverá ser o papel
da Igreja no referendo?
O papel da Igreja na instituição deve ser de contribuir para
o debate cívico, que também é político obviamente, através do esclarecimento
daquilo que é a sua doutrina social, que resulta de uma longa e vasta,
historicamente falando, sabedoria que amadureceu ao longo dos séculos na sua
visão e compreensão do homem.
A Igreja deve contribuir para este debate, não apenas os
bispos mas também os leigos, para que se compreenda todo o alcance do que está
em causa e aquilo que deve ser ponderado antes de uma decisão neste domínio.
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