Michael Coren |
Estou habituado a que me discutam, até que me ofendam, no
Twitter e no Facebook. É o preço a pagar por ser jornalista. Se os comentários
negativos no final dos meus artigos de opinião me influenciassem, há muito que
tinha abandonado a profissão. Claro que os comentários positivos são todos
inteiramente certeiros! O mês passado a discussão não foi sobre qualquer artigo
recente ou sobre uma participação televisiva, mas sim sobre umas linhas de um
livro escrito em 1988: “Gilbert:
The Man Who Was G.K. Chesterton”.
Porquê o renovado interesse? Na altura eu defendi Chesterton
de acusações de anti-semitismo e citei a biblioteca Wiener, de Londres, uma
instituição dedicada ao estudo do Holocausto e do anti-semitismo, que explica
que Chesterton, “não era um inimigo. Quando chegou a altura da verdadeira
prova, ele mostrou de que lado estava”.
Claro que o timing é tudo; recentemente foi anunciado que o
autor dos contos do Father Brown, “Ortodoxia”, “O Homem que era Quinta-feira”,
as biografias de Aquino, Dickens e um sem número de outros livros e artigos de
opinião está a ser considerado para beatificação.
Logo que isto se tornou público eu escrevi que a antiga
acusação de anti-semitismo iria ser ressuscitada. Antes me tivesse enganado.
Passado muito pouco tempo o influente e respeitado Jewish Chronicle, um
semanário do Reino Unido, publicou um artigo intitulado: “Pode
o inimigo dos judeus G.K. Chesterton ser um santo?”
Penso que a formulação da pergunta revela a resposta.
Segundo o autor Geoffrey Alderman: “Nunca deixa de me espantar o ponto a que
algumas pessoas irão para desculpar ou minimizar expressões claras de
anti-semitismo veiculadas por figuras públicas, no presente ou no passado...
Chesterton era um romancista, jornalista e crítico literário de grande sucesso
que se converteu ao Catolicismo. Roma gosta de retribuir os convertidos, talvez
na esperança de seduzir outros a segui-los... Mas há um problema: Chesterton
tinha uma aversão bem pública aos judeus e ao Judaísmo.”
Depois saca das citações e referências do costume, retiradas
do seu enorme acervo literário, para provar que o homem odiava judeus.
Eu e o Alderman temos pelo menos duas coisas em comum. Ambos
escrevemos sobre Chesterton, e ambos somos judeus. Eu tornei-me católico em
1985 mas, para um verdadeiro anti-semita, continuo a ser judeu. Se têm dúvidas
deviam ler algumas das ofensas de que falei acima.
Todavia, enquanto judeu, tenho uma enorme dívida de gratidão
para com Chesterton que, de tantas formas, me conduziu à Igreja. Isto não será
grande consolo para o Sr. Alderman, mas é assim. Para uma pessoa que lutou
contra o anti-semitismo toda a sua vida – como jovem reguila nas ruas de
Londres e como adulto igualmente indisciplinado através da escrita – sinto-me
bem qualificado a este respeito.
G.K. Chesterton |
Legou ao mundo uns versos fátuos sobre os judeus no seu
romance “The
Flying Inn”; mostrou-se pouco sensível nas suas palavras sobre os judeus em
Inglaterra medieval; enganou-se e mostrou-se incaracteristicamente banal a
respeito do julgamento Dreyfus e, nos seus piores momentos, deixou-se levar
pelo mesmo caminho sujo com o seu irmão Cecil e o barulhento, mas não
genuinamente anti-semita, Hillaire Belloc.
Mas devemos perguntar se um verdadeiro inimigo dos judeus
poderia escrever: “O mundo deve Deus aos judeus”, ou que: “Darei a vida em
defesa do último judeu na Europa”? Devemos questionar como é que ele conseguiu
formar amizades tão próximas e íntimas com judeus durante toda a sua vida,
pessoas que não teriam tolerado a proximidade de um anti-semita por um momento
e que o disseram mesmo na altura e depois da morte de Chesterton.
Condenou o anti-semitismo, defendeu o sionismo, foi elogiado
por líderes judaicos e, tão cedo como 1934, quando muitos intelectuais e
políticos se mostravam ambivalentes, apelou à salvação em massa dos judeus da
Alemanha Nazi. Criticou repetidamente, e publicamente, o Nacional-socialismo
anti-semita. Era um homem cristão, bom e querido, que devia ter tido mais
cuidado com algumas das suas afirmações mas que passou a prova quando outros
falharam.
“Do vale conseguimos ver coisas grandes”, escreveu, “mas das
alturas apenas coisas pequenas”. Seria tragicamente míope julgar o homem olhando
apenas do ponto mais baixo do vale. O melhor é deixar a última palavra ao
rabino Stephen S. Wise, um dos mais influentes líderes do Judaísmo americano da
primeira metade do século XX. “Quando Hitler chegou, ele foi dos primeiros a
falar com toda a franqueza e frontalidade de um grande e ousado espírito”.
Santo? Quem sabe. Anti-semita? De todo.
Michael Coren é pivot de rádio e televisão, sedeado em
Toronto, no Canadá. A sua coluna de opinião é publicada em vários jornais. É
autor de treze livros, incluindo “Heresy”
e “Why
Catholics Are Right”.
(Publicado pela primeira vez na Quinta-feira, 10 de Outubro
2013 em The
Catholic Thing)
The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.
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