Como surgiu o
projecto dos Simplus?
[Luís Roquette] Os Simplus surgiram com base num almoço em
que eu e a Maria nos conhecemos. Nós somos primos mas nunca nos tínhamos
conhecido porque ela esteve na Bélgica durante algum tempo. Nesse almoço
começámos logo a compor, a escrever música, por brincadeira, mas sempre com este
pano de fundo da vivência cristã. Começaram a surgir ideias, tema, começou tudo
isto a florescer. Isto há uns 12 ou 13 anos. Fez agora 11 anos que começámos o
projecto, quando ainda eramos Maria Durão e Luís Roquete.,
Pode-se dizer que
vocês procuram evangelizar pela música?
[Maria] Não sei se adoro essa expressão. Pode-se dizer,
porque a verdade é que muitas pessoas já vieram ter connosco dizer que se
sentem confortadas na fé, ou nas provas que têm n a vida, ou que as ajuda na
relação com Jesus e com Deus. Acho que isso é evangelizar. Não se pode dizer na
medida em que não é uma coisa consciente. Não pensámos fazer um projecto de
música para evangelizar. Escrevemos aquilo que vivemos. Como somos católicos,
pode ser que isso ajude as pessoas a viver a sua fé.
Nesta questão da fé,
estão sempre em sintonia? Os vossos percursos têm sido bastante diferentes…
[Luís] Não é difícil porque tanto eu como a Maria somos
muito abertos à opinião do outro. A Maria normalmente tem mais peso nas
palavras, no poema, e eu sou mais virado para a parte musical, de composição.
Nas nossas famílias sempre ouvimos falar neste tema, sempre
fomos educados neste sentido. Mesmo que falemos de outro tema qualquer acaba
por ir dar aí.
Até que ponto é que a
música teve impacto sobre a vossa espiritualidade? Também foram evangelizados
pela música?
[Maria] Lembro-me que a primeira vez que fui a um grupo de
jovens, resisti meses e meses, mas da primeira vez que fui cantou-se meia hora
e depois falava-se. Nos primeiros tempos só ia porque se cantava, e eu nunca
cantava antes. Não era daquelas pessoas que cantava em casa e os pais
aplaudiam. Foi uma surpresa para a família e para mim, descobrir que afinal
cantava, e começou com a minha entrada na Igreja. Por isso claro que a música
também está ligada à espiritualidade.
Fui muito marcada pelo coro de Santo António do Estoril, e
as primeiras músicas que saíram tinham muito esta marca.
[Luís] Eu fui muito marcado pelo fado. Estou habituado a
ouvir fado desde muito cedo e foi um bocadinho por essa via. No fado há muito
este tema subjacente, até nos nomes, há uma certa espiritualidade subjacente na
cultura portuguesa.
O coro de Santo António também foi importante, bem como a
música clássica. Ouvimos Beethoven, Mozart, Bach, Schubert, todos eles
compunham um bocado nesse sentido. Porque não, na música moderna, com
influências rock e pop, falar de uma realidade que mudou o mundo e muda as
nossas vidas.
Têm feedback dos
vossos fãs? Há alguma história de pessoas que se tenham convertido através dos
Simplus?
[Maria] Estou a pensar numa pessoa que veio ter comigo e
mostrou uma mensagem de um rapaz que tinha tido um desastre e tinha de estar
deitado ou fechado em casa durante muito tempo, e dizia que o que o ajudava era
rezar o terço e ouvir as nossas músicas.
[Luís] Eu costumo ir à prisão de Tires rezar com as
reclusas, juntamente com um grupo grande. E houve uma vez em que se estava a
contar histórias e uma rapariga começou a cantar a nossa música, a dizer que a
tinha aprendido no Brasil e que era uma das músicas que a fazia sentir fora
dali, que a fazia sentir uma certa liberdade, um certo consolo. De repente ela
começa a cantar a entrega e cai-me a ficha e percebo que isto está mesmo fora
das nossas mãos. É uma história para contar aos netos e aos filhos e que vai
ter certamente impacto. É giro ver que isto está do lado das pessoas mais
frágeis, a capacidade que a música tem de mover, comover e ajudar pessoas em
situações mais frágeis.
O vosso percurso mais
comercial tem sido dificultado pelo facto de se identificarem como conjunto
cristão?
[Maria] Nem sequer tentámos muito ir pelos caminhos
comerciais. Nenhum de nós vive disto. Pelo meu lado gosto mesmo de não viver
disto, porque me permite fazê-lo com uma gratuidade e uma distância… não depender
do projecto é uma coisa muito boa. Não percebo o que seria escrever se a minha
vida fosse isto, porque eu escrevo sobre a minha vida. Entusiasma-me muito ser
assim. Nunca tentámos muito entrar na via comercial. Sempre deixámos a
comunicação a um grupo de amigos que nos ajuda e às pessoas que se sentem
tocadas por isso. Recentemente tomámos a decisão de ter todos os nossos discos
disponíveis gratuitamente na internet.
Está claríssimo para nós que é mesmo uma via não comercial,
podemos chamar uma via independente. O que nos interessa é mesmo fazer e deixar
nas mãos das pessoas que espalhem.
Em Portugal não
existe uma grande indústria de música cristã, mas existem algumas bandas e
intérpretes. Quem é que destacam?
[Luís] Nesta área propriamente não encontro ninguém
específico que me preencha a mim especialmente. Mas há outros artistas
portugueses, de outras áreas, que me levam, com as suas palavras e a sua forma
de interpretar de outra maneira o que nós fazemos, que acho que são de
sublinhar.
Principalmente estas coisas têm de ter uma certa
sensibilidade, porque nem toda a gente está disposta a receber uma mensagem
assim de caras. As coisas têm de ser feitas como numa conversa com uma pessoa
que acredita em tudo ou não acredita em nada. A música tem esse poder, podemos
estar a falar de Jesus e conseguir chegar, por outras palavras, a muita gente.
Um dos artistas portugueses que consegue fazer isso é o Tiago Bettencourt. Ele
tem letras que me levam a pensar que ele está a tentar explicar uma coisa que também
sinto, mas de outra forma.
[Maria] Há muitas coisas no Samuel Úria, que gostava de
salientar o Samuel Úria, há coisas neste último disco dele que, embora ele não
fale muito abertamente de Deus, há claramente uma mensagem cristã. Tenho ouvido
muito o disco dele.
Vão ter um concerto
em breve…
É no dia 27 de Fevereiro, às 21h no Teatro Gil Vicente, em
Cascais. Os bilhetes é tudo online, enviando uma mensagem pelo nosso Facebook.
Vamos ter como convidados a Joana Espadinha, o Salvador Seixas, o Francisco
Salvação Barreto, a Diana Castro e o Bernardo Romão na guitarra portuguesa.
aqui vai um orgulho de tia
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