Wednesday, 12 July 2023

"Há quatro anos que falamos de Cristo Vivo. Se não querem ouvir, não ouçam"


Ontem tive a oportunidade de fazer uma curta entrevista a D. Américo Aguiar, e pude perguntar-lhe directamente sobre a polémica frase que disse em entrevista à RTP, há dias, quando referiu que "Não queremos converter os jovens a Cristo". 

Transcrevo primeiro a sua resposta, na íntegra, e depois farei os meus próprios comentários.

A Jornada Mundial da Juventude é um convite para todos, desde sempre. Os Papas convidam os jovens do mundo inteiro a encontrarem-se uns com os outros, a encontrarem-se com o Papa e a viverem uma experiência de Deus. Um encontro com Cristo Vivo. É isso que queremos que aconteça, e é isso que eu sublinho. 

E que cada um regressando à sua realidade, ao seu país, à sua vida, à sua circunstância, tenha um desejo maior de conversão, de ser melhor pessoa, tomar decisões na sua vida; na área vocacional; na sua família; no seu trabalho; nos seus projectos; marcados com a experiência de terem encontrado estes jovens que querem dar testemunho de Cristo Vivo. 

Não entendo a jornada como uma oportunidade ou um evento de proselitismo proactivo para converter tudo e todos os que porventura venham ao encontro da Jornada, nem é essa a leitura que alguma vez foi feita por ninguém. 

Eu compreendo que o isolamento da frase da entrevista, como está, pode gerar perplexidade e erro de leitura. Mas a JMJ é repetidamente um convite dos Santos Padres a todos, uma oportunidade de nos conhecermos todos, de olharmos para aquilo que é a diversidade como uma riqueza, de nos conhecermos, a alegria de dar testemunho de Cristo Vivo. 

Temos dito isto há quatro anos, até à exaustão. Dar testemunho de Cristo Vivo, um encontro com Cristo Vivo, Cristo Vivo, Cristo Vivo. Se não querem ouvir, não ouçam. 

Agora o meu comentário. A frase foi infeliz, sim. Mas é preciso uma certa má vontade para a interpretar da pior maneira possível, como aconteceu, sobretudo por parte de alas mais conservadoras ou tradicionalistas. 

Claramente, o que D. Américo quer dizer é que os participantes na JMJ não estão lá com um espírito proselitista, estilo Testemunhas de Jeová, e que todos se devem sentir bem-vindos, pois não se trata de um encontro de católicos para católicos, mas para todos. Naturalmente, um participante na JMJ que não seja católico, ou sequer cristão, sentir-se-á interpelado e fascinado pelo espírito do encontro e procurará saber a razão dessa alegria. Essa busca poderá conduzí-lo a Cristo, mas isso não será uma imposição. 

Se esta resposta de D. Américo não satisfaz os mais cépticos, então sugiro que se recordem de que se o futuro cardeal está onde está, é porque foi "apadrinhado" por D. Manuel Clemente. E se o Patriarca de Lisboa tem os seus defeitos, como temos todos, a falta de ortodoxia e de espiritualidade não está entre eles. 

A ideia de que D. Manuel Clemente teria escolhido a dedo o actual D. Américo para ser seu braço direito primeiro no Porto e depois em Lisboa, e que tenha conseguido que ele fosse nomeado bispo auxiliar no Patriarcado sem ter a certeza de que ele é um homem de Deus e um fiel filho da Igreja, é absurda. 

Todos sabemos que a Igreja está polarizada, como está a sociedade. Podemos alimentar isso, ou podemos agir como irmãos e dar ao outro o benefício da dúvida em situações que podem dar aso a incompreensões. Julgo que essa é uma obrigação que temos enquanto cristãos e pessoas civilizadas. 

Leia também: Decifrando a nomeação de D. Américo a Cardeal

21 comments:

  1. Agora a questão é outra. Como é que alguém tão inábil para comunicar, quem se mostra intelectualmente tão débil, acaba cardeal?

    ReplyDelete
    Replies
    1. De acordo

      Delete
    2. Olhe para S Pedro! Não há melhor exemplo! Também tinha muitos defeitos, e amava e rezava a Deus com toda a vida!

      Delete
    3. Também pergunto o mesmo!

      Delete
  2. Se ser conservador e tradicionalista é, para estes senhores, ser Católuco, Apostólico ,,Romano...está explicada a vitimização.

    A Revelação, a Tradição e o Magistério não são compatíveis, com agendas e ideologias de ocasião.
    A onda de indignação gerada
    no mundo católico é bem reveladora de que os católicos estão firmea na Fé,e indisponíveis para pactuar cpm adulterações da mesma


    ReplyDelete
  3. "pois não se trata de um encontro de católicos para católicos, mas para todos."; ora aqui é que está o erro, é de facto somente para católicos, são palavras do Papa João Paulo II desde que criou as JMJ. https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2019-01/jmj-2019-surgimento-jornadas-joao-paulo-ii.html negar isto é inventar sobre a Igreja

    ReplyDelete
    Replies
    1. Não vale a pena , tentar branquear
      Querem fazer um festival e não um encontro de católicos, em oração

      Delete
  4. https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2019-01/jmj-2019-surgimento-jornadas-joao-paulo-ii.html as JMJ são para os católicos, não são para todos os jovens de qq religião, quem acha assim está a dividir a Igreja

    ReplyDelete
  5. Já agora, seria interessante saber porque nem sequer 400k pessoas vêm às JMJ....

    ReplyDelete
    Replies
    1. Exatamente! Nós católicos estamos unidos. Não tem volta a dar o Bispo disse mesmo o que entendemos.

      Delete
  6. Foi exatamente assim como agora foi explicada que eu interpretei a frase,mas infelizmente agora tudo serve para estar contra. O valha-nos Deus...

    ReplyDelete
  7. Tudo muito estranho. A missão às avessas está na moda.

    ReplyDelete
  8. Gonçalo Sena Esteves12 July 2023 at 20:54

    A frase foi de facto infeliz.
    Na ocasião em que alguém "do mundo" pergunta sobre as jornadas, a primeira preocupação do Senhor Bispo é assegurar que não estão ali para converter ninguém.
    Quando afinal a única intenção é realmente converter as pessoas que ali vão.
    Não é compreensível dizer o oposto do que se pensa em algo tão fundamental.
    Preocupante é se realmente o Senhor Bispo estava a dizer o que pensa.
    A vocação da Igreja não é o baby sitting de adolescentes, é a sua conversão plena a Cristo, sejam eles judeus, muçulmanos, budistas ou católicos.

    ReplyDelete
  9. Na verdade D. Manuel Clemente não o escolheu no Porto, apenas o manteve, uma vez que ele já ocupava o cargo. Em todo caso, não me parece que o apanhadrinhamento de D. Américo seja argumento para dizer se um bispo se mantém fiel à fé católica, ou não. Porque D. Manuel é fiel aquele que ele chamou para organizar as JMJ também será fiel. Parece um argumento de autoridade, todos os argumentos de autoridade têm as suas limitações.

    ReplyDelete
  10. José Manuel Serrão13 July 2023 at 01:39

    O que mais admiro é ver tantos católicos (de acordo com o CIC) anónimos, será que têm medo de serem reconhecidos como seguidores de Cristo?

    ReplyDelete
  11. A Igreja não é conservadora. A Igreja verdadeira nunca vai mudar para satisfazer os desejos e anseios da vida mundana. O mundo é que se deve converter a Jesus Cristo. Quem é da igreja sabe disso. Jesus não veio ao mundo para trazer prosperidade aqui aqui na terra, Jesus veio para nos indicar o caminho para a vida eterna. Devemos nos preocupar em seguir Jesus não a ceder a vontades do homem seja ele quem for. Não evangelizar é um algo muito grave privar os jovens do amor de Deus, das riquezas espirituais, do caminho da salvação é muito triste. Temos de levar todos para Jesus Cristo porque só na igreja de Pedro poderemos chegar a vida eterna. Quem o diz não sou eu é o próprio Cristo.

    ReplyDelete
  12. Grande confusão. Fico intrigada com a formação intelectual e moral destas pessoas!!! Um dia diz uma coisa noutro dia diz outra. Parece me que é para agradar a gregos e a troianos. Na hora da morte também vão querer agradar a Deus e ao Diabo?!
    E por que é que a culpa é dos conservadores e dos tradicionalistas? Ser conservador é manter, conservar o que é bom, que funcionou e que continua a funcionar, porque é de facto bom! É triste temos a hierarquia da Igreja sem Fé.

    ReplyDelete
  13. Oh Filipe, invejo a sua paciência em ter que levar com estes comentários no seu blog. Realmente assistimos àquilo que mais parecem "guerras tribais" em vez que se procurar conciliar e perceber o próximo. Enfim... um dia crescem.

    ReplyDelete