Wednesday, 12 July 2023

"Sound of Freedom", com Jim Caviezel

Brad Miner
Ainda que este fosse um filme de fraca qualidade, eu seria tentado a elogiá-lo nem que seja porque trata da prática criminal e pecaminosa de raptar crianças para vender para escravatura sexual… e porque o protagonista é o inestimável Jim Caviezel. Mas a verdade é que é um bom thriller, com boas representações, realizada por Alejandro Monteverde, o mesmo que nos trouxe o fantástico filme pró-vida Bella.

O filme inclui Caviezel, Mira Sorvino, José Zúñiga, Eduardo Verastegui, Gerardo Taracena e Bill Camp (que tem a melhor prestação do filme). O guião é de Monteverde e de Rod Barr, e a produção é de Verastegui.

Tim Ballard (Caviezel) deixa o seu cargo como agente especial da U.S. Homeland Security Investigations, tornando-se freelancer, para poder resgatar crianças raptadas por cartéis que, por sua vez, os vendem a traficantes humanos na América Latina que, por sua vez, os revendem por todo o mundo (incluindo para os Estados Unidos) para serem violadas por pedófilos.

Este filme é, como se diz, baseado numa história verídica. O que levanta a questão: Quem é o verdadeiro Tim Ballard? Duas agências americanas recusaram comentar sobre o papel que ele desempenhou, e Tiffany Kaitlin escreveu no The Atlantic que “porta-vozes da CIA e do DHS dizem que não podem confirmar os registos de emprego de Ballard sem a sua autorização escrita, que ele não forneceu”.

Talvez o Sr. Ballard não veja a necessidade de revelar algumas das repreensões que recebeu por causa dos métodos que adoptou, que podem assemelhar-se às que vemos Caviezel protagonizar no filme. É natural que ele tenha sido insubordinado, tendo em conta as restrições impostas aos agentes da lei, tanto táctica como geograficamente.

O que sabemos ao certo é que Ballard fundou a Operation Underground Railroad (O.U.R.) em 2013, com o objectivo de atravessar fronteiras para resgatar crianças detidas por traficantes e pedófilos.

De acordo com a Wikipedia, a O.U.R. tem um ranking de “ponto de interrogação” por parte de um grupo chamado CharityWatch “porque a organização não divulga informação financeira”.

Interessante. Eu nunca tinha ouvido falar da CharityWatch, que segundo outra página da Wikipedia emprega um total de cinco pessoas. Contudo, a principal agência de avaliação de instituições de solidariedade, a Candid, que emprega 200 pessoas e dirige a GuideStar – que avalia organizações filantrópicas e de solidariedade social com classificações que vão do bronze à platina – a O.U.R. tem uma avaliação de prata. Os salários dos executivos parecem ser invulgarmente altos, mas não estamos a falar dos escuteiros e alguns dos operacionais da O.U.R. põem a vida em risco para cumprir as suas missões.

Mas voltemos ao filme.

Os créditos são acompanhados de imagens a preto e branco do que parecem ser verdadeiras filmagens de câmaras de segurança de miúdos a serem raptados na rua e levados de carro ou de motorizada.

O filme propriamente dito começa com uma falsa agente de talentos (a actriz cubana Yessica Borroto Perryman) a recrutar crianças de várias idades (mas todas menores) sob o pretexto de uma audição. Um pai insuspeito (desempenhado por Zúñiga) deixa ambos os seus filhos entusiasmados na tal audição: Rocio (a suberba Cristal Aparicio, que durante as filmagens devia ter 15 ou 16, mas parece pré-adolescente) e o seu irmão mais novo.

Ballard consegue resgatar o irmão mais novo durante uma rusga na fronteira entre os Estados Unidos e o México, mas não há sinal de Rocio, o que o leva a cortar as ligações à DHS, uma vez que não consegue mais trabalhar dentro das restrições do sistema oficial dos EUA.

Enquanto procura saber para onde foi levada a Rocio consegue libertar um número significativo de crianças organizando uma golpada – uma espécie de Ilha da Fantasia para pedófilos – com a ajuda de um ex-membro de um cartel, Batman (Bill Camp) e um aventureiro rico chamado Paul (Verastegui). Mas a busca pela Rocio continua.

E isso conduze-o à sede do traficante de droga El Alacrán (uma actuação tipicamente ameaçadora de Taracena). Não vou revelar como é que acaba o confronto violento entre Ballard e El Alacrán.

Só tenho uma crítica a fazer à realização de Monteverde: perde muito tempo com silêncios e faces, sobretudo a de Caviezel. Silêncios, caras e penumbra são as técnicas mais antigas e fiáveis para disfarçar um baixo orçamento. Mesmo algumas das cenas de pancadaria não são visíveis, embora essa possa ter sido uma forma de tentar evitar que o filme fosse classificado para maiores de 18.

O dia depois de ter visto o filme, um amigo enviou-me um artigo do New York magazine chamado: “Os detalhes condenatórios que levaram a JPMorgan Chase a chegar a acordo com as vítimas de Epstein”. Estamos a falar, claro, de Jeffrey Epstein, que entrou para o mundo das finanças internacionais devido à sua amizade com o empreendedor Leslie Wexner.

(Uma nota pessoal: A associação entre Wexner e Epstein entristece-me. Ele tirou o curso na Universidade de Ohio State, no departamento que era chefiado pelo meu pai quando ele era aluno. Wexner nega conhecimento da pedofilia de Epstein. Espero que seja verdade, porque a sua filantropia, especificamente o apoio dado à Ohio State é impressionante.)

Refirmo-me a Epstein porque a realidade do tráfico sexual é maior do que muitos imaginam. Os seus tentáculos satânicos têm um longo alcance, chegando aos corredores do poder e do dinheiro.

A Newsweek elencou os nomes de alguns dos homens que viajaram nos voos privados de Epstein para as Caraíbas (conhecidos como a Lolita Express). Não vou referir todos, mas incluem Donald Trump, Bill Clinton, o Príncipe André, Bill Gates e Robert F. Kennedy Jr. Todos esses nomes, e outros, foram também divulgados pela CNN e a Associated Press.

De certa forma Epstein é como Theodore McCarrick. Lendo histórias sobre a sua vida, encontramos sempre a mesma atitude que víamos em relação a McCarrick: um encolher dos ombros e um piscar de olho: “Toda a gente sabia”.

De acordo com a Human Trafficking Institute há actualmente perto de cinco milhões de vítimas de tráfico humano, das quais um milhão são crianças, na maioria raparigas.

As Nações Unidas dizem que o tráfico humano é um negócio de 32 mil milhões de dólares por ano. Porque razão, perguntam, é que alguém se dedicaria a um pecado tão criminal?

Bom, no que diz respeito à prostituição infantil, a resposta está no facto de um chulo poder ganhar até 250 mil dólares por ano com apenas uma rapariga, a quem obriga a praticar actos sexuais até dezenas de vezes por dia.

Depois de ver o filme senti vontade de pesquisar mais um pouco, de pensar um pouco fora da caixa. Mas não quero entrar demasiado fundo nesse pântano, em parte porque os números apresentados por diferentes organizações e agências de segurança variam muito. Os polícias podem preocupar-se com as vítimas, mas as suas estatísticas baseiam-se em detenções. Os activistas podem ser sinceros, mas também procuram financiamento.

Se querem chocar-se com a forma como algumas pessoas estão a tentar normalizar a pedofilia, não precisam de ir mais longe do que o livro The Invincible Family de Kimberly Ellis.

Eu só tenho filhos rapazes, mas tenho uma neta, e a preciosidade da sua vida torna bem presente na minha mente os inimagináveis horrores deste “negócio” profano. E explica porque é que o plano de Deus inclui o Inferno, levantado também questões sobre a forma como a Igreja Católica se tem distanciado da pena de morte.


Brad Miner é editor chefe de The Catholic Thing, investigador sénior da Faith & Reason Institute e faz parte da administração da Ajuda à Igreja que Sofre, nos Estados Unidos. É autor de seis livros e antigo editor literário do National Review.

(Publicado pela primeira vez no sábado, 1 de Julho de 2023 em The Catholic Thing)

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