Wednesday, 6 May 2015

Tolos ou Mentirosos

Anthony Esolen
Os actuais defensores da Revolução Sexual – esse grande pântano de esgoto, miséria humana, famílias disfuncionais, entretenimento decadente e advogados – garantem que a ruptura antropológica mais radical que a humanidade alguma vez conheceu, a desvinculação entre o casamento, a procriação e os simples factos da vida, não terá qualquer efeito (nenhum, não se preocupem) sobre o casamento, a procriação, a família e a vida comunitária.

Ao que eu respondo: “Não foi isso que disseram das outras vezes?” Precisamente qual das previsões dos revolucionários sexuais é que se confirmou?

Disseram-nos que a liberalização das leis de divórcio não teria qualquer efeito, nenhum, não se preocupem, sobre as taxas de divórcio. A nova lei apenas tornaria o divórcio menos doloroso para o casal e, por isso, menos doloroso para os filhos. Porque aparentemente existem “bons” divórcios.

Através de uma demonstração milagrosa de simpatia e maturidade fora do alcance da sua idade, as crianças ficariam felizes por ver os seus pais felizes. Aliás, de outra forma a sua felicidade não seria possível. Ninguém se deu ao trabalho de perguntar como é que os pais poderiam ser felizes perante a infelicidade dos seus filhos. Mas os revolucionários enganaram-se em relação a isso. Ou então estavam a mentir, das duas, uma.

Disseram-nos que toda a gente fazia “aquilo”, sendo que “aquilo” se tornou gradualmente mais imoral e antinatural, e basearam as suas afirmações em investigação levada a cabo pelo pedófilo e fraude Alfred Kinsey. Ver com bons olhos a fornicação, disseram, não mudava nada, apenas libertava as pessoas da censura e permitia-lhes fazer aberta e honestamente aquilo que até então tinham feito desonestamente e em segredo. 

Em apenas uma geração a relação entre os sexos transformou-se completamente até que as raparigas e os rapazes que queriam praticar a normal virtude da prudência, e até a mais difícil virtude da castidade, se viram isolados e sós. Antigamente o coração de um rapaz entraria em sobressalto se a rapariga lhe desse um beijo. Agora, mal consegue fingir um bocado de afecto se ela não o levar ao clímax. Também aqui os revolucionários se enganaram. Ou então estavam a mentir.

Disseram-nos que a pornografia era um passatempo inocente para uma minoria que gostava. Não tinha nada a ver com violência, não seria prejudicial para a cultura. Seria possível proteger os nossos filhos dela. Não teria qualquer efeito, nenhum, não se preocupem. Vale a pena sequer comentar esta? Enganaram-se, ou então estavam a mentir.

Disseram-nos que com a pílula ia haver menos crianças concebidas fora do casamento, e que a liberalização das leis do aborto não afectaria, de todo, não se preocupem, o número de mulheres que o procuram. O Papa Paulo VI, na Humanae Vitae, previu o contrário. Actualmente 40% das crianças na América nascem fora de casamentos, a maior parte cresce sem um lar estável. Segundo o próprio Supremo Tribunal, o aborto tornou-se uma parte tão intrínseca da vida de uma mulher, como uma protecção de último recurso contra fazer um filho quando se faz a coisa que faz filhos, que não pode ser limitado. Mais uma vez, os revolucionários enganaram-se, ou estavam a mentir.

Talvez deva dizer que estavam a mentir outra vez, porque as provas que levaram até ao tribunal tinham sido sempre um monte de mentiras.

Disseram-nos que o facto de pequenas crianças serem introduzidas ao prazer sexual por pessoas queridas e mais velhas não tinha grande mal, a não ser que os pais reagissem de forma exagerada. Durante algum tempo tiveram de se esquecer que o tinham dito, mas agora que a Igreja Católica pôs a casa em ordem outra vez estão a esquecer-se de que se tinham esquecido e começam a cantar novamente a mesma melodia: não tem qualquer mal, nenhum, não se preocupem. Estavam, e estão, enganados, ou estavam e estão a mentir.

Não se preocupem...
Disseram-nos que as leis de igualdade de género não resultariam em consequências absurdas, como o envio de mulheres para as frentes de combate, casas de banho unissexo e a normalização da homossexualidade. Não teria qualquer efeito, nenhum, não se preocupem. Enganaram-se, ou estavam a mentir.

Em que é que acertaram? Alguma vez as relações entre homens e mulheres estiveram mais marcadas pela suspeita, raiva e vergonha? De acordo com os seus próprios testemunhos, as nossas faculdades são agora selvas incontroláveis de assédio e violação. Não era assim antes de os revolucionários meterem mãos à obra.

Disseram-nos que o aborto não conduziria à eutanásia. Agora dizem ainda bem que o aborto conduziu à eutanásia mas dizem que a eutanásia, a morte medicamente assistida, não levará à matança de idosos sem o seu consentimento. Mas por acaso isso já aconteceu. Todos os dias há idosos a serem sujeitos a asfixia lenta e supostamente indolor, em todos os hospitais do país. Não terá qualquer efeito, nenhum, não se preocupem.

Disseram-nos que o alargamento da noção (não a realidade, que é impossível, mas a pretensão) de casamento a pessoas do mesmo sexo não teria qualquer efeito, nenhum, sobre qualquer outra coisa no país. Não afectará o que os nossos filhos aprendem na escola, não afectará o número de jovens a experimentarem coisas antinaturais, não afectará a liberdade religiosa, não afectará a liberdade de expressão.

Não poderia ter qualquer efeito sobre essas coisas porque, garantiram-nos, o comportamento em questão é perfeitamente natural, levado a cabo por pessoas perfeitamente saudáveis. Não teria qualquer efeito, nenhum, não se preocupem, agora concordem ou sejam destruídos.

Alguma vez as previsões desta gente se confirmaram? Porque é que havemos de confiar neles agora?


Anthony Esolen é tradutor, autor e professor no Providence College. Os seus mais recentes livros são:  Reflections on the Christian Life: How Our Story Is God’s Story e Ten Ways to Destroy the Imagination of Your Child.

(Publicado pela primeira vez na Quinta-feira, 30 de Abril de 2015 em The Catholic Thing)

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