Wednesday, 17 January 2024

Três previsões esperançosas para o Ano Novo

Stephen P. White
O começo de um novo ano é sempre tempo de olhar para trás sobre a mais recente volta dada ao sol, fazendo contas ao que se passou, tanto de bom como de mau, e de fazer resoluções sobre aquilo que pode ser feito melhor, ou pelo menos diferente, durante a volta seguinte.

Na minha experiência, a frescura do novo ano tende a encher-nos de optimismo. Mas também na minha experiência, esse optimismo raramente perdura para além de Quarta-feira de Cinzas. O optimismo do início de Janeiro raramente chega sequer intacto a Fevereiro. Pelo início da Quaresma eu já estou pronto para penitência.

Dito isto, Janeiro também é um bom mês para prognósticos. Agora é tão boa altura como qualquer outra para antecipar o que nos trará 2024 – tanto de bom como de mau – para que possamos estar o mais preparados possível para o que vier. E para que em Janeiro do ano que vem possamos olhar para trás para as nossas previsões e rirmo-nos por termos sido exageradamente esperançosos ou desnecessariamente preocupados com todas as coisas erradas.

É por isso num espírito de autocrítica preventiva que submeto as seguintes três previsões para este ano de Nosso Senhor de 2024.

Primeiro, como devem saber, aqui nos Estados Unidos estamos novamente em ano de eleições. As eleições nacionais nos Estados Unidos, sobretudo as presidenciais, tornaram-se exercícios de medo e ódio em massa. Medo, na medida em que este mais recente episódio de “a eleição mais importante de sempre”, levou ambos os lados a convencerem-se de que a fasquia nunca esteve tão alta, e que a situação nunca foi tão desesperada. Ódio, no sentido em que toda a gente, em ambos os partidos, parece desgostar do seu próprio lado só um bocadinho menos do que odeiam os bárbaros do outro lado da coxia. 

Pelo menos às vezes parece tratar-se de “todos”. Eu não gosto de desdramatizar a importância da política, até quando, ou talvez especialmente quando, a nossa cena política parece estar tão fracturada. Nem faz o meu género menosprezar a gravidade dos desafios que enfrentamos, que há muito deixaram de ter a ver com como atingir os nossos objectivos comuns, transformando-se em profundos desentendimentos sobre a própria natureza e propósito do ser humano, e por isso da própria sociedade.

A história, como nos recordou João Paulo II, tem-nos demonstrado que até as democracias se podem transformar em totalitarismos mais ou menos disfarçados, se não tiverem as fundações morais e filosóficas adequadas. É possível insistir tanto que a ameaça é real, e até que o processo já está avançado, e ao mesmo tempo que estamos muito longe de chegar ao ponto crítico de não regresso. As “teorias do declínio” não são muito úteis enquanto “teorias de bater no fundo”, salvo em restrospectiva.

Bom, passando à minha previsão: 2024 vai ser um ano duro em termos políticos, mas os piores medos tanto da direita como da esquerda não serão realizados no dia da tomada de posse, em 2024, e a pessoa que fizer o juramento enquanto Presidente dos Estados Unidos será a mais velha de sempre a fazê-lo.

Falando de eleições, esta será a primeira presidencial desde a decisão de anular Roe v. Wade. Por esta altura já todos devem ter percebido que as discussões políticas sobre o aborto não vão desaparecer tão depressa. Mas o lugar do aborto na política americana transformou-se desde a decisão de Dobbs. Há, e continuará a haver, menos enfoque no processo político de conseguir a combinação certa de juízes no Supremo Tribunal, e muito mais nas leis estaduais.

Aquilo que quero sublinhar aqui é a forma como os bispos católicos, tanto individual como colectivamente, se relacionam com a política de um mundo pós-Roe. O aborto continua a ser uma das grandes preocupações dos bispos. Aliás, os bispos reafirmaram recentemente a sua posição, sem as polémicas de anos recentes, de que a ameaça do aborto continua a ser a sua “prioridade preeminente”. Durante quase meio século isso significava, em primeiro lugar, reverter Roe.

A verdade é que, embora nenhum dos bispos deseje o seu regresso, Roe v. Wade desempenhava um papel galvanizante, tanto eclesiástica como politicamente. A sua anulação era um objectivo claro, alcançável e justo. Sem ele, a ameaça do aborto não deixou de ser grave ou urgente, mas enquanto questão política para católicos, assumiu um carácter mais difuso.

Neste próximo ano teremos um primeiro vislumbre do novo “status quo” do envolvimento episcopal na política presidencial. Os católicos estarão de olho nos seus bispos, e os bispos estarão de olho uns nos outros. A isto vem somar-se a antipatia geral que a maioria dos bispos sentem tanto para com o actual Presidente, como para com o mais que provável candidato republicano, Donald Trump. Prevejo, por isso, um ano de envolvimento político bastante reservado para os nossos bispos.

A minha terceira previsão: O Congresso Eucarístico Nacional poderá ser a última, e melhor, esperança para a sinodalidade ganhar alguma aderência nos Estados Unidos. O Sínodo sobre a Sinodalidade, de Outubro, não incendiou propriamente muitos corações. Uma recente missiva da Conferência Episcopal a pedir mais uma ronda de sessões de escuta sinodais não foi recebida propriamente com grande entusiasmo. As polémicas sobre a Fiducia Supplicans também não fizeram grandes favores ao sínodo, parecendo até contradizer a visão de sinodalidade que o Papa Francisco tanto tem proposto.

Então como é que um encontro de 70 mil católicos em Indianápolis pode revigorar a sinodalidade? Juntando dezenas e dezenas de milhares de católicos de toda a nação para escutar a palavra de Deus e adorar o Senhor. Na medida em que o Congresso conseguir criar um sentido de fraternidade e comunhão, criando um sentido vital de participação na vida da Igreja, e plantar nos seus participantes a semente do zelo missionário, o Congresso Eucarístico terá feito avançar a missão da Igreja na América de uma forma que nenhum encontro sinodal em Roma alguma vez poderia fazer. Isso seria uma enorme vitória para a Igreja nos Estados Unidos e para a sinodalidade. Acredito que Roma concordaria.


Stephen P. White é investigador em Estudos Católicos no Centro de Ética e de Política Pública em Washington.

(Publicado em The Catholic Thing no Domingo, 11 de Janeiro de 2024)

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