Friday, 9 June 2023

Vinde peregrinos, ficai nas casas dos outros

Queremos todos que a JMJ corra bem, queremos que o milhão e meio de jovens que cá vêm se divirtam e levem boas memórias e experiências, queremos todos que as pessoas que cá chegam, dos quatro cantos do mundo, fiquem bem instalados. Mas de preferência que seja na casa dos outros.

De que outra forma se explica que neste momento, segundo dados que obtive da organização da JMJ, haja apenas cerca de 6.100 famílias inscritas para acolher jovens que participam neste evento? Para quem pensa que 6.100 é muito, saibam que o objectivo final da organização é poder dar guarida a 95 mil pessoas em casas e que neste momento a capacidade atingida está apenas em 21 mil. E estamos a menos de dois meses do começo.

A falta de famílias de acolhimento é um dado dramático, mesmo. Não porque os peregrinos acabem a dormir na rua, ninguém acha que isso seja possível, mas sim porque dá uma imagem de um país onde as pessoas não estão para se chatear com a hospitalidade.

Entretanto a organização já está a trabalhar em tentar alternativas, com o apoio das autoridades civis. O Ministério da Educação já deu luz verde para os liceus abrirem as portas das suas instalações, o que dará certamente uma grande ajuda, mas é mesmo triste que não consigamos chegar sequer a 50% do objectivo proposto para famílias de acolhimento.

A minha esperança é que haja mais famílias como a minha. Pessoas que não têm problema nenhum em aceitar peregrinos, mas que foram adiando a sua inscrição por mera inércia. Nem que fosse para não passar por hipócrita, a minha família só se inscreveu ontem. Hoje mesmo recebi o telefonema da organização para confirmar os dados que submeti e tirar dúvidas, caso fosse preciso.

Por isso se for o seu/vosso caso, saibam que chegou a hora de avançar. Não hesitem mais, não inventem mais desculpas. E não se assustem, porque com base na minha experiência de ter ficado com um casal de acolhimento na JMJ de Colónia, em 2005, os peregrinos não estão tempo suficiente em casa para se tornarem um fardo, porque vão estar ocupados a palmilhar a cidade a tentar viver alguns dos milhentos programas que existem para eles. Da vossa parte só precisam de chão suficiente para estender um colchão e um simples pequeno-almoço. Mais nada. O pior que pode acontecer é ficarem com dois ou mais cidadãos de outro país que sentem uma grande dívida de gratidão para convosco.

Saloios de parabéns

De acordo com os dados que me foram indicados por fonte da JMJ, há paróquias que estão de parabéns. A liderar a contagem de famílias de acolhimento, por paróquia, está Algueirão-Mem Martins, com 135 famílias. Para além desta paróquia tão activa de Sintra, estão de parabéns outras paróquias mais a oeste na diocese de Lisboa, nomeadamente Mafra, Ericeira, Benedita e Santo Isidoro com 128, 108, 103 e 87 famílias cada. Em terceiro lugar da listagem está o Parque das Nações, com 119.

O concelho de Oeiras também se destaca, com as três paróquias de Oeiras, Nova Oeiras e São Julião da Barra a contabilizar 259 famílias (80, 83 e 94 respectivamente). As paróquias vizinhas da Portela e Olivais Sul fecham a listagem com 170 (88 e 82 respectivamente).

Não adianta muito ver o fundo da tabela, porque ele é composto exclusivamente por pequenas paróquias rurais que têm apenas uma família inscrita, mas acho que vale a pena comparar os dados acima elencados com os daquela que será a zona económica e socialmente mais rica de Lisboa, nomeadamente a área que engloba a Lapa, a Estrela e Santos.

Aqui a paróquia que tem mais famílias inscritas é a de Santa Isabel, com 33. Segue-se a Estrela com 22. Santos e São Vicente de Paula – sendo que São Vicente de Paula é essencialmente uma dependência de Santos-o-Velho – tinham respectivamente cinco e seis famílias inscritas quando eu obtive esta informação.

Em primeiro lugar, convém esclarecer que é evidente que nem toda a gente que vive aqui é privilegiada. Esta zona inclui a Madragoa, e outros bairros que não são ricos. Mas ainda assim, e conhecendo bem o local, custa-me muito a crer que não haja mais do que 66 casas disponíveis para acolher peregrinos.

Por isso lanço um apelo a todas as famílias que vivem em Lisboa, Setúbal e Santarém, e não apenas aos que vivem nas paróquias visadas: Abram as vossas casas a quem cá vem. Abram os vossos corações a quem vos pede hospitalidade. E se isso implicar algum incómodo durante uma semana, que seja; se implicar algum sacrifício, façam-no de bom grado e se implicar, por exemplo, não tirar férias naquela primeira semana de Agosto, para poderem estar por casa e ajudar a que a JMJ seja um sucesso, então não hesitem. As férias podem esperar uns dias, mas este evento é uma vez na vida.

Cliquem aqui e inscrevam-se. É facílimo e, se o meu caso for exemplo, muito rapidamente entrarão em contacto convosco para confirmar dados e esclarecer qualquer dúvida que possam ter.

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