Friday, 24 March 2023

O que é que andamos aqui a fazer?

Tenho acompanhado com muito interesse, e reflectido muito sobre a questão da acusação ao Pe. Mário Rui Pedras. Este é um caso muito difícil e que envolve muitas vertentes e penso que pode ser mais fácil tentar separar as águas e ver os pontos um por um, para depois tirar algumas conclusões. O ponto de partida aqui é este caso porque entretanto se tornou público, mas na verdade podia aplicar-se a qualquer um dos, até agora, 14 padres que se encontram cautelarmente afastados do ministério no âmbito desta questão dos abusos de menores.

1. O anonimato da denúncia

Por regra, o lugar das cartas e denúncias anónimas é o caixote do lixo. A maioria de nós foi educado nesse sentido, e bem. No meu trabalho estou farto de lidar com críticos e comentadores anónimos, e se no início isso ainda me preocupava e dava algum troco, deixei de o fazer. Quem tem uma opinião a partilhar deve estar disposto a dar a cara por ela, caso contrário não deve esperar ser atendida. O anonimato é muitas vezes o escudo dos cobardes.

Contudo, há excepções. Há alturas em que existe um genuíno medo de represálias. Se eu sei que os meus vizinhos do lado traficam heroína e têm armas automáticas em casa se calhar prefiro fazer uma denúncia anónima do que dar a cara e arriscar a vida. Ao contrário do que tenho lido por aí, é evidente que a denúncia anónima pode ser um ponto de partida para uma investigação, desde que contenha um mínimo de informação que o permita.

Nos casos dos abusos sexuais há ainda outra questão que é o trauma causado pelo abuso, que pode tornar muito difícil ou até inconcebível ao abusado dar a cara publicamente por aquilo que lhe aconteceu. Temos de compreender isso. Em relação à Comissão Independente e ao relatório, a única forma de garantir que o maior número possível de vítimas se chegaria à frente era assegurar-lhes o anonimato. Claro que existe aqui um risco muito grande, que é precisamente a possibilidade de alguém se aproveitar do sistema para poder dificultar a vida a um padre. Mas isso não é de agora, nem é culpa da Comissão Independente. A pessoa que fez esta denúncia podia perfeitamente tê-la feito em qualquer momento à comissão diocesana, ou podia ter ido para a imprensa, e o resultado seria provavelmente o mesmo, desde que desse indícios minimamente credíveis, o que não é difícil.

Concluindo, o anonimato da denúncia não descredibiliza automaticamente a mesma, nem neste, nem em qualquer outro caso.

2. A substância da denúncia

Tudo o que sabemos agora sobre a substância da denúncia é que refere um abuso alegadamente ocorrido na década de 90, quando a alegada vítima se encontrava no 8º ano, numa escola na periferia de Lisboa.

Com base nestes dados posso concluir com razoável certeza que este testemunho não está publicado no relatório, pelo que só os membros da comissão é que terão acesso ao testemunho completo e, possivelmente, as autoridades do Patriarcado, caso a Comissão tenha partilhado com eles os dados.

De resto, aparentemente a denúncia não inclui quaisquer outros dados: nem datas certas, nem o nome da vítima ou de outras vítimas, nem testemunhos, nem nada.

Se assim for, então tenho dúvidas de que o Patriarcado deveria ter pedido o afastamento cautelar do Pe. Mário Rui, ou de qualquer outro padre nesta situação, e deve-se perguntar porque razão o fez, mas já lá vamos. O ponto a que quero chegar para já é que a única fonte que temos para dizer que não existem quaisquer indícios sólidos é, neste momento, a palavra do acusado. Ora, não pretendo de forma alguma pôr em causa a honestidade do Pe. Mário Rui, mas tal como não se pode condenar alguém com base apenas numa denúncia anónima infundada, não se pode ilibar alguém só com base na sua versão daquilo que é a acusação.

Não temos falta de exemplos de pessoas que foram acusadas, por vezes com indícios muito fortes de culpa, que proclamam alto e bom som a sua inocência. É um mecanismo típico de defesa numa situação destas o agressor armar-se em vítima de conspirações e cabalas. Não estou, como é evidente, a dizer que é isso que o Pe. Mário Rui está a fazer, estou apenas a avisar que a sua versão dos factos e a sua proclamação de inocência não podem chegar para o ilibar, e que nós (eu e a esmagadora maioria das pessoas que me lêem) não estamos em posição para poder determinar se ele está a dizer a verdade ou não, porque não podemos ter a certeza de que conhecemos os dados todos.

3. O comunicado

Ontem escrevi uma curta nota no mail semanal que envio, em que dizia que se fosse eu a aconselhar o Pe. Mário Rui, não teria sugerido ele escrever aquele comunicado, ou, caso insistisse em escrever o que quer que seja, teria sugerido que o fizesse noutros tom e noutros termos, manifestando apenas a sua confiança de que a investigação que agora se abre irá demonstrar a sua inocência e pedindo orações aos fiéis naquele que é um momento difícil.

Já recebi muitas opiniões contrárias, que agradeço, porque este é um assunto complexo, como já disse, e embora possa ter opiniões não é fácil nem aconselhável ter certezas.

O que me parece é que o padre acusado, neste caso, tornou o caso muito público de forma desnecessária. Parece-me ainda que todas as teorias da conspiração, de que esta foi apenas uma forma de tentar atingir André Ventura, ou de o castigar por ter aberto a paróquia aos tradicionalistas, ou por ser muito próximo do Patriarca, são extemporâneas, na medida em que essas associações apenas se estão a fazer porque ele decidiu tornar a situação pública.

Posso não estar a par dos factos todos. Pode ser que o seu nome estivesse prestes a ser divulgado na imprensa e ele se quisesse antecipar, o que é compreensível – embora, mais uma vez, eu o tivesse feito com um comunicado diferente – ou pode ser que no caso dele fosse tão evidente que o seu afastamento temporário da paróquia seria associado a esta situação que ele achou por bem tranquilizar os seus paroquianos. São tudo factores a ter em conta e que podem ter influenciado a sua decisão.

4. “É tudo mentira porque o Pe X é o maior”

Tenho visto muito esta reacção agora com o caso do Pe. Mário Rui. Claramente há muita gente que tem por ele a maior estima, a maior simpatia e a maior admiração. Eu não o conheço pessoalmente, mas também por isso não tenho razões para duvidar da sinceridade de todas essas opiniões que as pessoas têm sobre ele.

O que devemos ter em conta, contudo, é que isso vale muito pouco. Deus queira que o Pe. Mário Rui, e outros na sua situação, estejam inocentes. Mas eles não são inocentes pelo facto de nós gostarmos deles.

A história, incluindo a história muito recente da Igreja, está cheia de exemplos de pessoas aparentemente incríveis que afinal não o eram. E para que não pensem que estou a fazer os outros de parvos, digo-vos que a minha reacção quando soube da morte de Jean Vanier foi escrever um post no meu blog a dizer “Santo Subito”. Só que depois veio-se a saber que ele passou grande parte da sua vida a abusar sexual e psicologicamente de mulheres adultas que se confiavam a ele como director espiritual.

Como é óbvio, isto não quer dizer que todas as pessoas carismáticas são manipuladoras. Só convém é lembrar que só porque eu acho que uma acusação é inconcebível, porque a pessoa parece ser tão recta e admirável, não quer dizer que assim seja.

5. A decisão de o afastar. Cedência à pressão?

Vamos partir do princípio que tudo o que o Pe. Mário diz no seu comunicado é verdade, e que não existem quaisquer indícios na acusação contra ele nivelada. Porque é que ele foi afastado, então?

O que as regras dizem, nestes tempos de tolerância zero em que vivemos, é que basta haver uma denúncia credível para que o padre seja temporariamente afastado enquanto se faz uma investigação preliminar.

Obviamente, a lei não pode ser muito mais específica que isso, mas é possível que os indícios, ainda que parcos, fossem suficientes para considerar a denúncia credível.

Por exemplo, o padre Mário Rui desempenhou algum cargo em escolas na periferia de Lisboa na década de 90 que o tenham colocado em contacto com alunos do 8º ano? Isso pode ser suficiente.

Atenção, não o suficiente para o condenar, mas o suficiente para o afastar enquanto se faz uma investigação mais rigorosa. Isto é o cumprimento das regras da Santa Sé.

Houve um caso semelhante em Setúbal há uns anos. Um padre foi acusado de ter abusado de uma criança numa creche, ou num infantário paroquial. Sendo pároco, era credível que ele estivesse na escola e que estivesse em contacto com as crianças da mesma. Imediatamente o padre foi afastado enquanto o caso era investigado mais cabalmente. Logo se percebeu, contudo, que no dia indicado o padre não tinha estado na escola, logo não podia ter praticado os abusos de que era acusado. O caso foi arquivado. Todo o processo foi seguido, as regras cumpridas, prevaleceu a justiça e houve transparência quanto a isso.

A pergunta que se pode fazer é: caso a diocese saiba, neste caso em particular, que esta investigação não tem quaisquer pernas para andar, porque não há denunciante identificado ou identificável, nem testemunhas, nem nada que se pareça, então deveria ter aberto sequer uma investigação preliminar e afastado cautelarmente o padre? Sem conhecer os dados, não conseguimos ter uma opinião mais fundamentada, mas é claramente uma questão subjectiva. O Patriarcado pode sempre escusar-se, dizendo que está a cumprir as regras à letra.

Agora, não podemos descartar a possibilidade de a pressão mediática, e a pressão colocada por alguns membros da Comissão Independente, terem levado o Patriarcado a sentir que neste caso não tinha outra possibilidade senão agir, afastando o Pe Mário Rui e outros padres que estejam numa situação idêntica.

Em relação a isto, tenho dito que não se compreende a diferença de critérios usados por Laborinho Lúcio e Daniel Sampaio em relação às listas entregues aos bispos e ao Ministério Público. Se no caso do MP tiveram o cuidado de dizer que entregaram nomes, mas estão cientes de que provavelmente nada resultará na maior parte dos casos porque não há indícios para investigar ou para condenar, porque é que não fizeram a mesma ressalva naquele?

6. E o direito ao bom nome?

Este é, em larga medida, o cerne da questão. O Pe. Mário Rui, e tantos outros como ele, têm obviamente o direito ao bom nome, como temos todos.

Também é evidente que o nosso direito ao bom nome não pode ser uma barreira a investigações e eventuais acusações.

Mas é claro que existe aqui um conflito, quando a acusação parece ter poucas ou nenhumas bases e os danos feitos ao bom nome são potencialmente irreparáveis, ou pelo menos de muito longa duração.

Não há aqui soluções perfeitas, e sempre se soube que poderia haver padres falsamente acusados. Aliás, temos tido vários casos nos últimos anos na Igreja de padres que foram acusados e depois veio-se a ver e as acusações eram infundadas, bem como outros casos em que depois de investigada, a pessoa em causa foi ilibada. Houve acusações falsas antes do Relatório da Comissão Independente e haverá depois. O facto de potencialmente haver casos infundados também no âmbito do relatório não é, por isso, um factor determinante para avaliar a credibilidade e o valor do trabalho feito no geral pela Comissão.

O que faz a diferença aqui são mesmo as regras internas da Igreja que são mais rigorosas que as leis civis e que prevêem o afastamento cautelar de pessoas sob investigação mal exista uma denúncia credível, sendo que a fasquia para a credibilidade não tem de ser muito alta, basta que a denúncia seja possível.

Porque é que isto é assim? Não será injusto? Em muitos casos será injusto, mas a Igreja determinou que há aqui um bem maior a preservar, que é a segurança de potenciais vítimas. Não pode de forma alguma acontecer – como infelizmente aconteceu muito no passado – um homem manter-se em funções, com acesso a menores de idade, consumando abusos sexuais sobre novas vítimas enquanto é investigado. Para eliminar esse risco sacrificam-se alguns direitos do denunciado, removendo-o cautelarmente de funções enquanto o assunto é investigado de forma mais rigorosa.

Trata-se de um caso clássico de conflito de direitos. Mas convém recordar que quem decidiu que seria este o modus operandi não foi a Comissão, nem o Governo, nem a maçonaria, nem uma qualquer organização secreta judaica, foi a Igreja. (E bem sei que para alguns dos meus leitores a Igreja moderna está irremediavelmente infiltrada por maçons e membros de organizações secretas judaicas, mas enfim…).

E se a Igreja o fez, é porque considera que a segurança dos fiéis, especialmente os mais vulneráveis, tem primazia sobre o direito ao bom nome dos seus sacerdotes que, enquanto imagem de Cristo, devem estar disponíveis para sofrer e dar a vida pelas suas ovelhas.

É muito fácil dizer estas coisas do conforto da minha sala? Admito que sim. Mas isso não muda a realidade. É bom que os padres e os bispos compreendam que é essa a realidade em que vivemos agora. Sim, estamos todos – e estão eles em particular, pelos cargos que desempenham – numa posição em que podemos vir a ser falsamente acusados de um crime horrendo, e ter de viver com isso para o resto da vida, ainda que o caso seja arquivado ou que sejamos ilibados.

De quem é a culpa? É de muitos, mas é em grande parte das gerações anteriores que quando confrontados com estes casos trataram-nos como inconveniências em vez de terríveis atentados à verdade, ao Evangelho e à dignidade de crianças muito amadas por Cristo e criadas à imagem de Deus.

Há inimigos exteriores que se deliciam com tudo isto? Há, sempre houve e sempre haverá, mas são como abutres que estão agora a banquetear-se nas carcaças que nós próprios semeámos cá dentro.

7. O que é que andamos aqui a fazer?

E com isto chego ao último ponto: O que é que andamos aqui a fazer? Porque é que estamos nesta discussão? Porque é que houve Comissão Independente, porque é que houve relatório? Porque é que andamos a discutir o que fazer com casos de padres acusados, com mais ou menos credibilidade? Qual é o objectivo de tudo isto?

O objectivo de tudo isto é a regeneração e conversão interior da Igreja. O objectivo é isto tudo ser a chapada na cara de que precisávamos – e como alguns bispos precisavam! – para acordar e perceber que é preciso mudar muita coisa. É preciso mudar normas, é preciso mudar práticas, é preciso mudar mentalidades. Muito tem sido feito, graças a Deus, mas há muito ainda por fazer.

Num mundo em que ninguém parece pestanejar perante a sexualização precoce de crianças e adolescentes, em que num dia nos dizem que é proibido proibir, mas no dia seguinte querem nos obrigar a assinar um termo de consentimento antes de ter relações sexuais com alguém, a Igreja está a ser chamada a purificar-se e a ser para o mundo um farol de sanidade, um local onde as crianças e pessoas vulneráveis podem estar em segurança.

A Comissão Independente, as listas, os casos individuais de padres acusados, falsa ou acertadamente, são absolutamente secundários em relação a este objectivo final.

Isso não implica que abandonemos a verdade e sacrifiquemos o justo com o pecador. Pelo contrário, a verdade nos libertará e é preciso que os processos e as investigações sejam marcados pelo rigor e pela justiça.

Mas sabemos, porque sempre foi assim e agora não é excepção, que nesta purificação alguns sofrerão injustamente, serão vítimas de calúnia, terão o seu bom nome posto em causa e será pouco o consolo que derivam do facto de os seus processos serem arquivados ou mesmo de virem a ser ilibados. Esses, certamente, receberão a sua devida recompensa de quem a dá sempre com justiça e verdade.

Mas temo que essas injustiças apenas se possam evitar sacrificando os mais fracos e vulneráveis, que são sempre as vítimas preferidas de predadores. E esse é um sacrifício que a Igreja não pode voltar a fazer, porque ainda está a pagar o preço de o ter feito demasiadas vezes.

Quanto a todos os padres Mário Rui que temos por aí, em Portugal e noutros lados, que Deus os ajude e console. Que sejam inocentes e que essa inocência se possa comprovar e que os culpados sejam justamente condenados. Que os nossos bispos tenham a fortaleza e a coragem de levar a cabo processos rápidos, rigorosos e justos e que algum dia, talvez, o resto do mundo tenha a coragem de seguir o exemplo da única instituição que está de facto a tentar extirpar este problema do seu seio, por mais doloroso que seja. 

38 comments:

  1. "Mas sabemos, porque sempre foi assim e agora não é excepção, que nesta purificação alguns sofrerão injustamente, serão vítimas de calúnia, terão o seu bom nome posto em causa e será pouco o consolo que derivam do facto de os seus processos serem arquivados ou mesmo de virem a ser ilibados" - proponho que o Filipe avance com o seu nome com esta fabulosa orientação.

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  2. Parabéns pelo discernimento cheio de bom senso! Plenamente de acordo!

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  3. O problema do que escreve é o seguinte: a sua premissa inicial embora correcta, a Igreja deve aproveitar o relatório como ponto de conversão, não tem em conta a injustiça, a calúnia e o mal.
    A sua premissa é a de que o relatório tem a parte positiva de colocar a Igreja num processo de conversão, e se por acaso, existirem sacerdotes que devem ser sacrificados pela conversão da Igreja, então que sejam.
    É contraditório que no meio das vítimas que a Igreja tenta salvar, haja sacerdotes que também são vítimas e que não possam ser salvos, mas tenham de ser sacrificados. Os fins nem sempre justificam os meios, se a Igreja tem de fazer mais pelas vítimas de abusos, tem fazer mais para que os sacerdotes não se tornem vítimas de uma calúnia.
    É fácil dizer que outros se devem sacrificar pelo bem maior, não somos nós que estamos nessa situação.
    O que realmente importa é que a Igreja seja fiel à Verdade, nos casos das vítimas de abusos e nos casos de vítimas de calúnias.

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    1. Eu nunca disse que o relatório deve ser um ponto de conversão. Pelo contrário, digo que o relatório já faz parte de um processo de mudança que começou antes e que tem de continuar.
      E sim, claro que é fácil falar quando não somos nós. Mas assim só por acaso eu sei o que é responder em tribunal por uma acusação inventada, embora nada que se pareça com a gravidade disto.
      Mas independentemente de ser fácil ou não, a verdade é que temos aqui um círculo que não é possível transformar num quadrado e vai sempre haver injustiças. Ou a Igreja diz que só aceita denúncias de abusos com nome, fotografia e número de CC da vítima, salvaguardando os padres mas essencialmente silenciando todos menos os mais corajosos e bem-resolvidos dos abusados, ou então escancara as portas a todos os que foram mal-tratados dentro da Igreja, admitindo que possa haver padres que são injustiçados no processo.
      Também é fácil dizer que basta ser fiel à verdade. Aplicar isso na prática é que é mais complicado. Se houvesse uma solução perfeita não andávamos aqui a discutir isto.
      Cumprimentos

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  4. "teria sugerido que o fizesse noutros tom e noutros termos" - para recordar https://twitter.com/Favillez/status/1157270847129817088/photo/1

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  5. Subscrevo. Fui crismada pelo Padre Mario Rui, passei um mês com ele em missão, vou esporadicamente a S. Nicolau e tenho-lhe muita estima. Tenho sérias dúvidas de que tenha abusado de algum menor, pois nunca lhe vi indícios de nada e vi-o com muitos jovens, sei-o como correcto e recto. Mas não o conheço desde os anos 80, e é-me impossível saber todos os seus actos. Pelo que me resta rezar para que Deus o console e a justiça possa limpar o seu nome.

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  6. Muito bem analisado . Pena é que o nosso jornalismo das grandes cadeias não tenha está capacidade de discernimento e prefira o sensacionalismo e a politiquice barata

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  7. Olá, Filipe. Amén! Muito bom. Um beijinho. Irene Guia, aci

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  8. Pe. Rui Gouveia24 March 2023 at 18:14

    Ao mencionar a falsa acusação ocorrida num centro paroquial na diocese de Setúbal, se se refere à história de Cacilhas, fá-lo de forma equivocada porque o padre caluniado nunca foi afastado.

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  9. Muito bem!!!

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  10. Caro Filipe, aprecio muito o seu trabalho e gostei de ler este artigo, cuja ideia mais forte é, a meu ver, a seguinte: “nesta purificação alguns sofrerão injustamente, serão vítimas de calúnia, terão o seu bom nome posto em causa e será pouco o consolo que derivam do facto de os seus processos serem arquivados ou mesmo de virem a ser ilibados”, sendo esses caluniados “sacrificados” em nome de um bem maior - a dignificação da Igreja como um farol de sanidade neste mundo onde a impureza tem a “rédea solta”.
    Mas eu pergunto se esse “sacrifício” que os caluniados terão que sofrer é adequado e proporcional num caso como o do Pe. Mário Rui (a fazer fé na sua inocência), ou seja, qual é o perigo real que as crianças e os adolescentes que frequentam as paróquias de São Nicolau e de Santa Maria Madalena correm? Se o único indício que existe é uma denúncia anónima de 1 (um!!!) alegado abuso “numa escola da periferia de Lisboa na década de 90”, é adequando e proporcional proibir o exercício público do ministério de um presbítero numa paróquia onde nunca houve qualquer denúncia de um comportamento impróprio desse mesmo padre? Até posso admitir que uma pessoa que tenha abusado de alguém na década de 1990 possa voltar a fazê-lo em 2023, mas porque não decretar como medida cautelar a proibição de entrar em escolas ou em campos de férias juvenis? Porque é que este sacerdote não pode celebrar missas ou ouvir confissões, ou presidir a outros atos liturgicos nas paróquias que dirige há mais de 20 anos e onde nunca foram relatados quaisquer problemas desta índole? Não estamos a cair num exagero cruel, desadequado e deproporcional?

    Nuno Miguel

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    1. Olá Nuno, são duas coisas diferentes.
      Este afastamento não é uma sentença, é uma medida temporária.
      Imaginando que existe matéria nesta acusação, cuja natureza desconhecemos em absoluto, a sentença poderia perfeitamente ser do estilo que sugeres.
      Mas entretanto as regras mandam que seja afastado totalmente, para defesa dele, de possíveis vítimas e do próprio processo.
      Abraço!

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    2. "Este afastamento não é uma sentença, é uma medida temporária."- engana-se redondamente este afastamento de certa forma é uma sentença para sempre, mesmo que provado como calunia amanhã, não deixará uma SIC qualquer daqui a 30 anos ao referir-se a esta vitima como "o tal que em 2023 foi afastado...."

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  11. Muitos parabéns pela análise tão lúcida. São tempos difíceis para a Igreja, mas este é o preço de uma reacção tardia com forte risco de muitas injustiças para muita gente. Francisco de Mendia

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  12. Parabéns Filipe. P e B

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  13. Paulo Victória24 March 2023 at 22:51

    Surpreendente!... Filipe, surpreendeu-me positivamente.
    De facto, podemos apresentar muitos defeitos a esta Comissão Independente. Por exemplo, gostaria de pensar que ela tem acesso, ou sabe identificar cada denúncia anónima (pelos menos deveria, caso contrário, LIXO) e caso caminhe para tribunal, seja mantida esse anonimato do público em geral (mas nunca de quem se acusa! NUNCA! Nem que seja preciso ajuda de psicólogos, psiquiatras ou outros que mais...)
    No entanto, penso que a CI fez o que lhe foi pedido.
    Honras sejam feitas à Igreja Portuguesa: Cremos em Jesus Cristo? Cremos na Justiça e no amor até ao fim!
    Infelizmente, haverá sempre vítimas. Somos humanos.
    Felizmente, vendo que tanto cristão quer voltar ao passado (tradicionalismos e afins...), esta é a Igreja de Jesus Cristo: pela verdade, mesmo que se "morra" como na época pré-Constantino. Cansa-me aquele desejo de uma Igreja medieval ou Renascentista, como se Cristo usasse "manípulos" e afins...

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  14. Reflexão excelente e necessária. Muito obrigada, Ângela Barreto Xavier

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  15. Meu caro, grande texto, gostei muito! No entanto, tenho aqui algumas dúvidas sobre o que dizes em relação ao comunicado do sacerdote. Num momento em que tanto se fala sobre este relatório e sobre a reação das dioceses, qualquer sacerdote que seja afastado dos seus cargos vai ter as suspeitas em cima dele. Se ficar calado, mais ainda... Compreendo que aguentar humilhações por amor do Evangelho seja uma virtude, mas esta humilhação em particular, de se sentir difamado por uma ação tão grave, não se suporta por amor do Evangelho. O que acontece é que a malta fala e diz coisas como: "o Pe. X foi afastado nesta altura, é porque esteve envolvido em alguma coisa. E parecia tão bom homem... Não se pode confiar nos padres!" Quando o caso for encerrado e o sacerdote em questão reabilitado, já houve não sei quantas pessoas que se afastaram da Igreja porque os padres "são uma cambada de pedófilos ". Ao emitir o comunicado, o Pe. Mário Rui vem fazer as pessoas ver que talvez o relatório tenha falhas (abundantes) e que não se deve perder a confiança nos sacerdotes (na Igreja) por causa dele.

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  16. "Se eu sei que os meus vizinhos do lado traficam heroína e têm armas automáticas em casa se calhar prefiro fazer uma denúncia anónima do que dar a cara e arriscar a vida."
    Pois prefiro, mas a PJ não "suspende" os ditos presumíveis traficantes, enquanto faz a investigação ...

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    1. Claro que sim. Chama-se prisão preventiva

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  17. Filipe obrigada pelo seu artigo
    Concordo em absoluto com a sua análise
    Rezo para que se prove a inocencia de todos os padres Mario Rui e para que a igreja seja verdadriramente um porto de abrigo para os mais vulneráveis
    Carmo seabra

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  18. Parece-me que, num artigo em geral ponderado e que articula muita coisa de forma serena e completa, existem, no entanto, quatro vícios:
    1. O anonimato da denúncia não deve provir do próprio denunciante, que devia identificar-se, mas deve ser garantido severamente por quem recebe a vítima e a sua denúncia, neste caso a dita comissão. Se o anonimato está na origem, não sabendo sequer a comissão quem é o denunciante, então o lugar da denúncia é, de facto e como diz Filipe d’Avillez, o caixote do lixo.
    2. Não concordo que o Pe. Mário Rui não devesse escrever o comunicado como e quando o escreveu. Primeiro, no que toca o tom, é mais que compreensível a indignação do acusado. Se o tom foi um pouco além do que devia (coisa que, pessoalmente, não acho), podemos bem fechar os olhos a isso, é secundário e irrelevante para a substância do caso. Já quanto à oportunidade do comunicado, pensemos em todos os outros momentos em que o podia ter feito (antes disto ou depois daquilo) e rapidamente se conclui que dificilmente o poderia ter feito noutro momento. Era preciso serenar os fiéis e marcar uma posição e era preciso fazê-lo de imediato, antes que o caso assumisse qualquer outro contorno, mais ainda se dado por mãos indesejáveis.
    3. Os “inimigos exteriores” não acordaram para estes casos já só quando o caldo estava entornado na praça pública. Não são só abutres que, depois de investigados, publicados e mal geridos os casos, então se vieram deliciar com o espectáculo. Se também não estão na origem, porque casos de abusos houve e não poucos, e é óbvio que devem ser punidos e que se deve fazer tudo por evitar futuros, os ditos inimigos exteriores entraram muito cedo na história, no seio das acções, bem ou mal feitas, da Igreja, na manipulação das diligências e dos casos, para produzir resultados e chafúrdia como os que se vêm agora; e tudo isto certamente com a conivência, quando não colaboração, de quem “de dentro”, provavelmente até a altos níveis. Lamento, mas não podemos ser ingénuos em relação a isto.
    4. Por fim, certamente é necessária uma purificação. Eu preciso dela constantemente, levamos a vida toda a persegui-la. E certamente que há momentos e circunstâncias que exigem uma purificação de modo mais gritante e urgente. Mas faz parte dessa purificação saber estacar o passo ao demónio, saber vestir as armas para defender a catedral de ser profanada. Nós não nos defendemos por soberba ou por não querermos ser dóceis na obediência e na penitência. Cristo entregou-se à Cruz, mas nunca deixou de ser claro - “(…) por isso o pecado deles é maior” (Jo. 19,11). Nós defendemo-nos porque há uma honra, que não é nossa, que veneramos e amamos, honra essa que decorre da glória, e o que andamos aqui a fazer é a procurar avidamente, e a defender corajosamente, essa glória.

    Reitero: revejo-me em muito do que Filipe d’Avillez diz, aprecio bastante, por exemplo, o seu parágrafo de conclusão, mas não posso concordar com todo o pendor de atitude que defende, especialmente onde o efeito deste é uma certa passividade nossa, leigos que assistimos a isto tudo.

    Tiago Maymone

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    1. Olá Tiago, obrigado pelo comentário.
      Não concordo com os últimos três pontos, mas a vida é mesmo assim.
      Quanto ao primeiro ponto, gostava de sublinhar que nós de facto não sabemos se a denúncia chegou anónima à comissão, e é muito natural que não tenha chegado. O que é certo, e sempre se soube, é que a denúncia sairia da comissão para a comissão diocesana, e para o visado, de forma anónima. Nesse sentido, o caso do Pe. Mário Rio não é diferente do de qualquer outro padre visado.
      Filipe

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    2. Se a denúncia não chegou anónima à comissão, então a figura do caso muda substancialmente e teríamos que estar a comentar de modo muito diferente (se é que estaria a comentar, pelo menos eu). Será esse o caso?

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  19. Esta tentativa de branqueamento do trabalho da Comissão que cometeu erros inadmissíveis, é inteligente mas é inconsequente .
    A Comissão, dadas as óbvias fragilidades do seu trabalho e das conclusões muito preliminares a que chegou , devia ter entregue toda a documentação à Comissão Episcopal e por-se à disposição desta para todos os esclarecimentos complementares para que os senhores bispos pudessem tomar decisões minimamente fundamentadas.
    Nunca podia ter feito uma Conferência de Imprensa como fez, em direto para toda a opinião pública como se tivesse de posse da verdade absoluta !!!
    De que não estava então, nem sequer ainda está agora na esmagadora maioria dos casos !!!...
    Ao fazê-lo, como o fez deliberadamente, criou uma pressão mediática insustentável que tornou todo o processo complementar completamente tóxico !
    Como agora se está a ver de forma extremamente dolorosa .
    Para cúmulo, um dos membros mais mediáticos da Comissão pôs-se a dar entrevistas " catedráticas " por vários órgãos de informação, incluindo uma ao Expresso com honras de primeira página, recheada de conselhos sobre como a Igreja deve ser governada !
    E isto por parte dum senhor que, tanto quanto sei, não é membro da Igreja Católica, nem sequer julgo que é crente.
    Por isso, e ao contrário do Filipe Avillez que fez um esforço intelectual notável para tentar branquear a lamentável situação criada por um processo que desgraçadamente foi pessimamente conduzido, eu limito-me a rezar pela Igreja Católica e também por Portugal .
    Invocando o Espírito para que ilumine a sua Igreja .

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  20. Penso que os padres só são afastados temporariamente quando há testemunhos validados pela comissão independente e quando os arquivos do Patriarcado atestam que as acusações podem ter ocorrido nesse tempo e nesse lugar. Acredito piamente na inocência do Pe Mário Rui mas quem o tramou foram os padres pedofilos, a Igreja que encobriu os seus factos hediondos no passado e ele proprio ao publicar aquela carta aos paroquianos.
    Quem inflamou a opinião pública foi o próprio Pe Mário Rui. Foi ele que informou o mundo de que era acusado.
    Quem são os outros padres afastados temporariamente? Ninguém sabe nem precisamos de saber.
    A Igreja nesta difícil fase da sua história precisa de recato e de DESCRIÇÃO .

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  21. Filipe, obrigado pelo seu texto e pelo trabalho que tem feito em defesa da Igreja e da verdade. Alguns comentários.

    Não há qualquer “conflito de direitos” neste caso. Para que houvesse, teria de haver certeza - ou pelo menos uma probabilidade elevada - de ambos os direitos realmente existirem. Ora, de um lado temos a honra de um padre, do outro temos uma denúncia anónima e sem fundamentação mínima. É o mesmo que dizer que de um lado temos um direito e do outro nevoeiro. E, em nome do nevoeiro, esmagou-se o direito.

    As coisas acertadas que escreveu - que as denúncias anónimas por vezes se justificam, que os Bispos quiseram com tudo isto um bem incontestável, purificar a igreja e defender as vítimas - são, infelizmente, “tiros ao lado” quanto ao que se fez ao Padre Mário Rui.

    É claro que há situações em que as denúncias anónimas se justificam, mas essa possibilidade implica obviamente maior fundamentação, sob pena de se escancarar as portas à calúnia. O denunciador não pode dizer quem é ou quem sofreu? Pois bem: compensa em rigor na descrição dos factos e em informações circunstanciais que ajudem a concretizar a acusação. Para qualquer procedimento razoável, uma denúncia anónima e infundada é exatamente a mesma coisa que uma calúnia.

    É igualmente claro que os Bispos quiseram com isto defender bens importantes. O que se discute aqui é a bondade do procedimento escolhido, que, no afã de calar a turba, sacrifica a honra dos padres no altar da comunicação.

    Deus os perdoe.

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  22. André Lourenço

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  23. “(…)convém recordar que quem decidiu que seria este o modus operandi não foi a Comissão (…) foi a Igreja. (…) E se a Igreja o fez, é porque considera que a segurança dos fiéis, especialmente os mais vulneráveis, tem primazia sobre o direito ao bom nome dos seus sacerdotes que, enquanto imagem de Cristo, devem estar disponíveis para sofrer e dar a vida pelas suas ovelhas.”

    Eu não consigo discordar de absolutamente nada neste texto, com exceção do que diz sobre a defesa do acusado.
    Apenas sugiro a seguinte reflexão: na defesa que o Pe. Mário Rui fez nas redes, em que afirma que a denúncia é anónima e que se desconhece acusador e o nome da pessoa que alegadamente sofreu o abuso, deixando a denúncia ainda mais parca, parece-me óbvio concluir que o o acusado não faria tais afirmações, com tanta segurança, se as mesmas pudessem muito bem ser desmentidas a qualquer momento em público.

    Resta-me agradecer o excerto que cito aqui acima, pois fez-me ver coisas duma outra perspectiva que, para já, (certas reflexões levam o seu tempo) parece-me justa e sensata.

    Mas acontece que nem todos somos padres e nem todos estamos dispostos nem temos a obrigação de ceryos sacrifícios… e isto já escapou aos limites da Igreja. Aliás, nunca foi restrito às igrejas questões como esta (não falo só da pedofilia, falo de denunciar alguém anonimamente e/ou, mesmo não anonimamemte, sem provas sólidas, apenas para “fazer barulho” e queimar o visado)

    A questão aqui, e que venho frisando na interlocução com amigos, é que nos tempos atuais, em que destruir alguém nunca foi tão fácil através do poder das redes, casos como este possam posssm abrir precedentes e refletir-se, cada vez mais, ganhar ainda mais força em casos que estão fora do âmbito da igreja. O caso do Pe. Mário Rui deve levar todos nós a um debate e a uma profunda reflexão sobre a arbitrariedade popular que se está a instalar no sistema.

    De resto, visto o recente cortejo em apoio ao Padre Mário Rui, já começo a me perguntar (prever a massa é fácil quando se conhece o rebanho) se a denúncia não foi aceite justamente com o intuito de criar o que se criou e descredibilizar ainda mais a comissão que, convenhamos, poderia ter feito muito mais, melhor e com mais seriedade o seu trabalho.

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  24. Em jeito de complemento ao meu comentário anterior: também não discordo que há casos em que o anonimato seja justificável e necessário (o caso que cita aqui, por ex.) Mas este caso específico, o do Pe. Mário Rui, definitivamente, não é um deles. Até mesmo para que se chegue ao Ministério Público, o anonimato não se justifica. No nosso sistema judiciário, uma pessoa tem de dar a cara. Mas o cerne da questão para mim, o que de mais preocupante este caso traz, é ver como uma expressiva parte da sociedade está a reagir. Parecem saídos dum túnel do tempo que nos liga diretamente a um século sombrio qualquer com pessoas a ser queimadas e torturadas em praça pública em meio a gritos de “mais! Mais!” por parte do povo.

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  25. 😳... Sr. Filipe D`Avillez tem filhos? Se sim, gostaria de receber uma acusação anónima e infundada e que lhe tirassem os seus filhos até que a sua inocência fosse provada? Como profissional gostaria de ser afastado da sua função devido a uma acusação infundada? Pelo parco conhecimento que tenho na área legislativa sei que existem artigos no código Civil que tutelam o direito à personalidade. Através da situaçao do Pe. Mário Rui pergunto se os órgãos que exercem a justiça garantem a todos os cidadãos (incluindo este sacerdote!), caso se venham a deparar com acusações infundadas, o direito à proteção da sua personalidade? Garantem que encarregados de educação possam exercer os seus direitos? Estou a lembrar-me da disciplina de cidadania que atualmente está a ser lecionadas em várias escolas públicas e que já causou várias mossas nas famílias. A mim preocupa-me bastante e responsabiliza-me muito saber que um dia assisti a esta chacota e, tendo o discernimento de perceber que um dos diretos básicos e fundamentais da estrutura de uma sociedade justa onde a minha família vive e as famílias futuras irão viver, está a ser abanado e para além de nada fazer, ainda consenti que a semente da perda deste direito de valor incalculável fosse semeada. Pergunto: está a igreja, o estado e o cidadão a salvaguardá-lo deveras ou a deixar -se cair num terreno pantanoso e armadilhado? Temos em mãos um assunto muito delicado e sério, há que refletir e atuar...
    A minha pergunta final é: o que andamos e o que vamos todos fazer?
    P.S. - Sr. Filipe D`Avillez não gosto deste artigo que escreveu!

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  26. Acho que nunca tinha lido um texto tão grande com tão pouco conteúdo.
    Qual o objectivo do artigo? Levantar dúvidas sobre o Padre Mário Rui?
    Defender os bispos, que estão cada um por si e se contradizem uns aos outros e a comissão “independente” diariamente?
    Credibilizar uma comissão, que já se percebeu que nada tem de independente e é totalmente movida por motivações ideológicas, políticas e de auto-promoção?
    Acho que quando se tem tão pouca informação como o Filipe mostra ter neste artigo não se emite opinião.
    O Padre Mário Rui sabe que não fez nada e por isso escreveu o comunicado para defender a sua honra e de outros padres que como ele foram injustamente acusados e afastados.

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  27. Não só gostei do artigo como achei esclarecedor , ajudando a situar todas as partes . A Igreja tem que ser um farol de caminho para a Santidade sempre !

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  28. Os meus parabéns por este artigo, uma ótima reflexão que sintetiza bem e oferece sentido a estes tempos tão duros. Rodrigo Lourenço

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  29. “Em última análise, a fé é um ato de vontade, inspirado pelo amor. O nosso amor pode enfraquecer, e nossa vontade ser corroída pelo espetáculo dos defeitos, loucura e até pecados da Igreja e seus ministros, mas não creio que alguém que uma vez teve fé volte atrás por essas razões (pelo menos, qualquer pessoa com algum conhecimento histórico). O ‘escândalo’ é, no máximo, uma ocasião de tentação – como a indecência é da luxúria, que ela não faz, mas desperta. É conveniente porque tende a desviar os olhos de nós mesmos e das nossas próprias falhas para encontrar um bode expiatório. Mas o ato de vontade de fé não é um momento único, de decisão final: é um ato permanente e indefinidamente repetido, um estado que deve continuar – por isso oramos por “perseverança final”. A tentação da “incredulidade” (que realmente significa rejeição de Nosso Senhor e Seus ensinamentos) está sempre presente dentro de nós. Parte de nós anseia por encontrar uma desculpa para isso fora de nós. Quanto mais forte a tentação interna, mais prontamente e severamente seremos “escandalizados” pelos outros. Acho que sou tão sensível como qualquer outro cristão aos escândalos, tanto do clero quanto dos leigos. Sofri terrivelmente em minha vida com padres estúpidos, cansados, embotados e até maus; mas agora sei o suficiente sobre mim mesmo para estar ciente de que não devo deixar a igreja (o que para mim significaria deixar a fidelidade de Nosso Senhor) por nenhuma dessas razões: devo sair apenas se não acreditar, mesmo que eu nunca tivesse encontrado ninguém nas ordens que não fosse sábio e santo. Eu deveria então negar o Santíssimo Sacramento, isto é: chamar nosso Senhor de fraude na Sua face.”

    _Tolkien_

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  30. Muitos obrigado por este texto Filipe.
    Concordo inteiramente!

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  31. Se eu vir a comissão independente fazer um comunicado em direto no horário do telejornal da noite a assumir que afinal não existem mais de 100 abusadores ativos, mas apenas 14 são realmente ativos, se os vir pedir desculpas por terem induzidos em erro a população portuguesa, se os vir assumir que de todo este processo resultaram provas suficientes para uma investigação pelo ministério público para apenas seis casos, então ficarei convencido que a comissão independente além de independente é isenta. Como não os vejo fazer isso, como sei as ligações políticas que alguns deles têm, como não me parece que sejam incompetentes, concluo que eles, pelo menos alguns deles, conseguiram atingir o seu objetivo principal, que não é acabar com os abusos sexuais na igreja católica, mas sim atacar a igreja católica.

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  32. Tudo que é anónimo só tem um sîtio próprio: o cachote de lixo.

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