Wednesday, 1 February 2023

Professores católicos: Missionários da Evangelização

Por cima da majestosa porta principal da Escola Santo Estêvão da Hungria, em Manhattan, estão gravadas na pedra as palavras Venite Adoremus Dominum – “Vinde, adoremos o Senhor”. À primeira vista, estas palavras podem parecer deslocadas. A escola não deve tratar de números e letras, rochas e mapas, pinturas e canções? Uma exortação desta natureza não devia estar por cima da porta de uma igreja, e não de uma escola?

Mas não, as palavras estão mesmo no local certo. De facto, elas devem estar por cima da entrada de uma escola católica, uma vez que todos os seus ensinamentos, todos os seus recursos e o seu pessoal existem por uma só razão: conduzir os alunos ao Céu, onde adorarão o Senhor para toda a eternidade.

Há quatro décadas que estou ligado às escolas católicas, desde o jardim de infância até ao secundário, na qualidade de aluno, professor e pai. Já visitei escolas católicas que são perfeitamente medianas, que estão a lutar pela sobrevivência ou que se deixam consumir pelo fogo da missão. Há muitos ingredientes que contribuem para tornar uma escola bem-sucedida, mas a minha experiência é de que há um factor que potencia uma escola que seja dinâmica, fiel e atractiva: um exército de professores dedicados ao ensino enquanto forma de conduzir os seus alunos a louvar o Senhor.

Durante esta Semana das Escolas Católicas deixo a sugestão de nos focarmos no papel que os professores desempenham para melhorar, ou estragar, a experiência das crianças nas escolas católicas. Claro que isto inclui a experiência religiosa das mesmas. A este respeito existe uma fórmula que todos conseguem compreender: se os professores não forem firmes na fé, de forma alguma conseguirão passá-la aos seus alunos.

Existe um fenómeno nas escolas diocesanas que me deixa sempre perplexo – era assim no meu tempo de estudante e é assim agora com os meus filhos: demasiadas são as escolas que contratam professores para ensinar e que depois lhes passam um livro de educação religiosa e acrescentam: “Também tem de dar aulas de religião. Não sabemos sequer se vai à missa, mas faz parte do seu trabalho. Leia o livro com a sua turma e correrá tudo bem”.

Isto nunca aconteceria no sentido contrário. Um director jamais contrataria alguém para ensinar religião, só para depois lhe informar que também tinha de leccionar a cadeira de geometria descritiva. Mas parece que a educação religiosa – que devia ser a joia da coroa do currículo das escolas católicas – é tratada por muitas escolas como um assunto secundário.

Claro que não é fácil encher as escolas católicas em todos os ciclos e para todas as cadeiras com professores que sejam simultaneamente bem qualificados academicamente e católicos devotos. Mas tudo muda quando a abordagem administrativa deixa de ser a de tapar buracos e passa a focar-se na missão. Uma missão entusiasmante atrai trabalhadores que estejam em sintonia. Uma vez que neste mundo pós-cristão em que vivemos aquilo de que precisamos para manter a fé viva são missionários de evangelização, as escolas devem procurar professores onde esses missionários se encontram: paróquias devotas, capelas de adoração perpétua, certos apostolados e institutos e universidades reconhecidas por viverem a fé de forma zelosa.

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Por outras palavras, às escolas católicas que vivam uma fé genuína em Cristo, aplica-se a frase: Constrói, que eles virão.

E um pouco por todo o lado essas escolas estão mesmo a ser construídas. Seja em modo de ensino doméstico, sejam escolas clássicas, escolas que oferecem programas integrados nas artes liberais tradicionais e nas virtudes. E os pais vêm mesmo, por vezes de muito longe, para proporcionarem aos seus filhos uma educação que coloca a fé bem no centro de cada dia, de cada cadeira e de cada actividade. Estas escolas não são especiais apenas por causa dos seus currículos – até o melhor currículo torna-se inerte nas mãos de professores sem fé. Antes, estas escolas florescem por causa dos professores fiéis que, de forma apaixonada, enchem de vida os currículos dos seus alunos.

Com uma vasta maioria da população não praticante e desinteressada pela fé, as escolas católicas são a melhor – e talvez a última – esperança para tornar realidade a nova evangelização proposta por São João Paulo II. Uma escola cheia de professores apaixonados pelo Senhor pode transformar uma vila ou até uma cidade. Pensem no fervor dos doze apóstolos, das primeiras companhias de franciscanos, dominicanos e jesuítas. Estes homens transformaram cidades sob a inspiração de líderes que os enviaram em missão. Os professores estão simplesmente à espera que esses líderes – directores, pastores e bispos – os congreguem, apresentem uma visão apelativa e os enviem para a colheita.

Gostaria, com isto, de emitir um apelo a todos os católicos devotos: aos alunos que estão prestes a terminar a faculdade, às mães que estão prestes a ficar com o ninho vazio, aos homens e mulheres de negócios que estão bem financeiramente e aos recém-reformados: porque não considerar, em oração, dedicar alguns anos a dar aulas numa escola católica? A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Talvez sejam vocês os trabalhadores por quem os fiéis rezam há tanto tempo.

Não é fácil dar aulas, e é ainda mais difícil depois de décadas a trabalhar noutros campos. O aviso do filósofo francês Étienne Gilson aplica-se perfeitamente à educação: “A piedade não substitui a técnica”. Os professores devem conhecer os seus alunos e devem encontrar formas eficientes de comunicar este conhecimento. Mas se o conseguirem fazer, e se forem verdadeiramente crentes, então podem ter um impacto sobre os mais novos capaz de mover montanhas.

Esta semana em que celebramos as escolas católicas, trabalhemos para aumentar o número de professores católicos, pois são eles os missionários que fazem com que valha a pena celebrar as escolas católicas. São eles os pastores que conduzem as nossas pequenas ovelhas a louvar o Senhor.


David G. Bonagura, Jr. leciona no Seminário de São José, em Nova Iorque. É autor de Steadfast in Faith: Catholicism and the Challenges of Secularism, que será lançado no próximo inverno pela Cluny Media.

(Publicado pela primeira vez na terça-feira, 31 de Janeiro de 2023 no The Catholic Thing)

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2 comments:

  1. As escolas católicas têm uma missão magnífica, sim. Sem qualquer dúvida. Também eu fiz muitos quilómetros e mudei de casa e terra para que os meus filhos pudessem frequentar uma, quando os mais velhos iniciavam a sua escolaridade. Depois, descobri que os professores das escolas católicas são tão (pouco) católicos como quaisquer outros. Tal como descreve o artigo. E nem vou dar exemplos de ensinamentos contrários à doutrina católica nas mais variadas disciplinas, incluindo Religião e Moral... Depois descobri que os meninos das escolas católicas são tão (pouco) católicos como quaisquer outros, e numa turma, talvez haja um que seja contra o aborto ou a eutanásia, já para não falar de pontos mais subjetivos... Depois, acabaram os contratos de associação e os meus filhos passaram para a escola pública. E, surpresa das surpresas, desde então tiveram (alguns) amigos e professores católicos!!! Os meus cinco filhos mais novos têm feito o percurso nas escolas públicas, muito felizes. Ouvem coisas contrárias à fé? Sim, como ouviam nas escolas católicas. Ficam confusos? Nem um bocadinho! Porque o último reduto da nova evangelização não é, como sugere o artigo, a escola católica, mas a família católica. Aqui em casa, rapidamente se desmontam ideias e explicam confusões, e dou graças a Deus pela exposição precoce que os meus filhos têm a tantas realidades diferentes! A sua fé enrijece-se e crescem robustos. E contagiam pela alegria os seus amigos descrentes. Há um ditado judeu que diz "o Judaísmo pode sobreviver sem sinagogas, mas não sem famílias." A Igreja Católica pode sobreviver sem escolas católicas, mas não sem famílias católicas.

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