Thursday, 7 July 2022

Hospital de Campanha - Episódio 8: A Crise na Saúde

Foi preciso esperar nove episódios, mas no Hospital de Campanha desta semana temos finalmente um médico a sério em estúdio. 

O José Diogo Ferreira Martins é um crente no SNS, mas isso não o impede de fazer um diagnóstico pessimista ao SNS. O também presidente da Associação de Médicos Católicos fala também das ameaças à objecção de consciência, dos desafios de se viver no mundo da medicina com fé e da forma como a pandemia afectou os cuidados espirituais nos hospitais. 

Foi uma excelente conversa, vale bem a pena ouvir!


1 comment:

  1. Mais uma vez ouvi o vosso podcast e gostei muito.
    Não concordo com todas as opiniões do colega, mas admiro a fantástica capacidade de manter a humanidade e continuar a acreditar na verdadeira essência do que é ser médico!

    Mas gostava que parassem de dizer que a crise do SNS vem da fuga dos médicos para o privado! Não é verdade!!!!
    A crise do SNS vem do subfinanciamento brutal e da total centralização de rodas as decisões!
    Nós até não nos importavamos (como até agora) de trabalhar a receber pouco se pudéssemos trabalhar com qualidade, desenvolver projetos que fizessem a diferença para o doente....

    A maioria de nós continua a acreditar na beleza e utilidade do sistema público....
    Mas é muito difícil trabalhar com a equipa
    que é volátil pois depende de um concurso central. Mas pior ainda ter doentes graves meses à espera de um exame porqie o aparelho está avariado e o concurso para a sua manutenção caducou.... doentes com cirurgias adiadas sucessivamente por falta de material,... pedir por favor (como se fosse para a nossa mãe) ao colega que veja em extra um doente urgente e grave...Sim, porque as cunhas não tiram o lugar a outro, pelo menos na minha consulta, acrescentam um doente extra à lista, e tiram-me a hora de ir buscar os meninos à escola!
    Cansa trabalhar em gabinetes sem mínimas condições, ter de levar de casa luvas e máscaras (como aconteceu!) ou andar a abanar os tinteiros da impressora para poder imprimir uma receita ou os milhares de burocracias a que nos obrigam....

    Esta narrativa da fuga para o privado tem algo de demagogia. Por exemplo: acabaram a especialidade de ginecologia obstetrícia este ano cerca de 20 médicos. O estado abriu um concurso com ~ 40 vagas. Como é evidente, apenas metade foi preenchida (pois só existiam no país cerca de 20 médicos em condições de concorrer!)!
    Notícias dos jornais: apenas metade das vagas para GO no SNS forma ocupadas. Médicos fogem do SNS....🤦‍♀️

    Nota sobre o covid.... foi extremamente doloroso trabalhar durante estes dois anos, em especial na área em que trabalho (oncologia e paliativos).... fizemos tudo o possível para combater a solidão e o isolamento... mas deu vontade de chorar todos os dias!!!! Terríveis as enfermarias de "covid paliativos" onde estavam doentes covid que toda a gente sabia que iam morrer ...mas onde não se podia ceder um milímetro nos procedimentos e EPIs.... 😭...Ainda agora mantemos regras estúpidas.... Mas na realidade recuamos 20 anos em termos de humanização hospitalar... e vamos demorar a recuperar...

    Uma nota quanto à assistência espiritual: de louvar o trabalho de alguns capelães fantásticos que tudo fizeram para se fazer presentes apesar das limitações....muitas vezes a ter de desafiar as autoridades. Mas o atendimento das necessidades espirituais dos doentes (crentes ou não crentes) é essencial e é das áreas mais negligenciadas! Não é da responsabilidade apenas dos capelães ou famílias mas dos profissionais, numa perspectiva de ir ao encontro daquilo que dá sentido à vida e é a espiritualidade particular de cada doente.... Esta lacuna é uma das maiores causas de sofrimento no final de vida....
    Como diz Cassel: "os corpos doem, as pessoas sofrem"... e nós medicamos a dor e abandonamos o doente ao seu sofrimento....
    Dava para mais uma longa conversa....


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