Wednesday, 24 April 2019

Não, não foi um. Foram dezenas

São José Vaz, apóstolo do Sri Lanka
Mais uma vez, o Domingo de Páscoa tornou-se uma sangrenta Sexta-feira Santa para muitos cristãos. Desta vez foi no Sri Lanka, nos últimos anos tem sido noutros lugares, incluindo o Paquistão, o Egipto e a Nigéria. Já se percebeu que isto não vai acabar tão cedo. Para o ano será noutro lugar qualquer.

Admito que me irrita um bocado quando os cristãos começam a lamentar-se de que a imprensa não liga nada a estas tragédias. Irrita-me sobretudo quando se entra no jogo de comparar a atenção dada à perseguição aos cristãos e a que se dá a perseguições a muçulmanos, como aconteceu recentemente em Christchurch. Isto não é um concurso e não é verdade que a imprensa não liga à perseguição aos cristãos. Pode acontecer que as pessoas não estejam é atentas aos canais, rádios ou jornais certos. Mas isso é outra conversa.

Nesta tragédia do Sri Lanka, como é aliás normal, as atenções da imprensa portuguesa concentraram-se muito no português que morreu num dos hotéis atacados. A história do Rui Lucas é terrivelmente triste. Morto em lua-de-mel num atentado terrorista num destino paradisíaco. Nenhuma mulher merece voltar viúva da lua-de-mel.

Não tenho uma crítica a fazer ao facto de a imprensa ter focado o casal Lucas. Mas a verdade é que o Rui não foi o único português a morrer naqueles atentados. Atrevo-me a dizer que, a seguir a cingaleses, a maioria dos mortos eram portugueses.

Se houvesse – se há não encontrei – uma lista completa com o nome de todas as vítimas deste atentado, estou certo que encontraríamos dezenas, se não centenas de apelidos portugueses.

É que muitos, se não mesmo a maioria, dos católicos naquele país são descendentes de portugueses e, tal como a maioria dos luso-descendentes cristãos no sudeste asiático, orgulham-se dessa sua identidade. Mesmo que não se orgulhassem, mesmo que não ligassem nada, nós não podemos ignorar esse facto.

Só se cairmos no erro de pensar que só é português quem tem cartão de cidadão da República Portuguesa – que ideia tão pobre! – é que podemos descartar a nossa ligação a esta gente. Agora, na sua hora de perseguição e tragédia, tínhamos a obrigação de a recordar e de fazer mais por eles nos diferentes planos em que agimos, seja através da caridade, seja da oração, seja na diplomacia internacional.

Que São José Vaz, o apóstolo do Sri Lanka, guarde estes nossos irmãos na fé e na portugalidade.

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