Wednesday, 29 March 2017

A Importância da Educação Católica

Randall Smith
“Toma, pois, cuidado contigo! Guarda-te bem de esquecer os factos que os teus olhos viram; que eles nunca se afastem do teu coração em todos os dias da tua vida. Ensina-os aos teus filhos e aos filhos dos teus filhos.” (Deuteronómio 5,9)

Há dois erros contrários, mas de igual gravidade, que são cometidos em relação à educação secundária católica. Ambos são bem-intencionados, mas são fatais para o futuro da Igreja.

O primeiro erro é tratar o colégio católico como se fosse uma escola pública mas com missa e depois começara a pensar nela como a maior parte das pessoas pensam sobre as escolas secundárias, como um meio para entrar numa “boa universidade”. Importa manter as notas altas, mas frequentemente essas notas estão dissociadas de qualquer capacidade real de fazer coisas como ler livros complexos, escrever prosa literária ou conseguir edificar um argumento consistente. “Manter as notas altas”, para quem pensa assim, tem mais a ver com pais e directores a dar na cabeça dos professores para aumentarem as notas e baixarem as expectativas do que com a aprendizagem real de matéria por parte dos alunos.

Algumas pessoas parecem acreditar que na universidade se dá uma espécie de transformação mágica. Que alunos aborrecidos por anos de educação de segunda categoria vão desabrochar miraculosamente no espaço de quatro anos. Eu sou professor universitário… Não vou dizer que isso nunca acontece, mas é um pouco como enviar o seu filho para a universidade na esperança de que aprenda a ser um jogador profissional de basquete. A maior parte dos jogadores, mesmo os que são mesmo muito bons, nunca passam das camadas universitárias e se não são verdadeiramente bons quando entram, é pouco provável que consigam melhorar num ambiente de mata ou morre. Os alunos que conseguem 12 no liceu raramente conseguem 20 na universidade.

Embora os defensores deste ponto de vista tendam a pensar que é bom os alunos irem à missa e confessar-se, raramente acreditam que as cadeiras de estudos religiosos valham muito tempo ou esforço. A substância da teologia, séculos de esforço intelectual de alto nível e profunda reflexão, conta para pouco, ao que parece. O que é mesmo importante é que o professor dessas matérias vá aos jogos e aos teatros, que apoie e que mostre que a teologia (Deus, a Igreja) se interessam.

Mas Deus livre esse mesmo professor de dar uma nota baixa que ameace as perspectivas de um filho ou de uma filha entrar numa “universidade de topo”. Não há fúria como a de um progenitor cujas esperanças de uma bolsa são prejudicadas por uma nota baixa em… teologia. É como não entrar em Harvard por causa de uma nota baixa em tricot. A indignidade! O absurdo!

Um erro menos comum (e contrário ao primeiro, mas de uma forma que o reforça) é cometido pelas pessoas que não querem saber da formação intelectual dos alunos, desde que a escola os “conduza ao Céu”. Desde que haja missa e confissões e o padre lhes pareça ortodoxo, tudo está bem. Raramente perguntam se os alunos estão de facto a aprender alguma coisa, se alguém está a conseguir ultrapassar as barreiras de cinismo adolescente e o barulho ensurdecedor da cultura, se estão a aprender a viver como cristãos católicos por desejo e desígnio, e não apenas por defeito. Se a escola se anuncia como “ortodoxa”, então está tudo bem.

Nem uns nem outros parecem interessar-se particularmente por uma educação distintivamente católica: a busca sistemática e profunda por uma compreensão da fé que inspirou séculos de grandes mentes, desde Justino Mártir a Agostinho, João Crisóstomo, Tomás de Aquino, Boaventura, Dante, Teresa de Ávila, Newman, Pieper, Chesterton e o Papa São João Paulo Magno. Foi a fé na unidade última da verdade que levou à criação, na Idade Média, dessa venerável instituição, a universidade. Séculos das mais profundas reflexões sobre a condição humana, na maior parte relegadas a prateleiras empoeiradas em troca de abraços, equipas desportivas, ciência, tecnologia, engenharia e matemática e mais uma assembleia sobre a ética sexual.

Claro que nenhuma destas coisas tem mal em si, mas quando levamos com miúdos na universidade que lêem e escrevem ao nível de miúdos do sexto ou do sétimo ano (não mais do que cinco páginas de leitura para trabalhos de casa e não mais do que duas ou três frases interligadas numa redacção); que sabem pouco mais sobre a sua religião do que o facto de que a Igreja Católica é contra o aborto e o sexo antes do casamento; que não sabem o que é o Pentecostes ou quem foram Abraão, Isaac e Jacob (isto é frequente); e que não só nunca leram Dante, Chesterton ou Newman como não fazem a menor ideia quem eles são, então desconfiamos que talvez alguém tenha as prioridades erradas.

O arcebispo Fulton Sheen foi uma das grandes luzes da última geração. Ele tentou partilhar com os leigos fiéis a riqueza da tradição intelectual católica, com discussões frequentes sobre Descartes, Pascal, Agostinho, Tomás de Aquino e muitos outros, para poder instruir os simples operários católicos e donas de casa que viam o seu programa de televisão. Acreditava claramente que esta era a melhor forma de ajudar os católicos a tornar a sua fé uma realidade viva por entre as complexidades do mundo moderno.

As pessoas que beneficiam de altos níveis de educação secular e enfrentam os desafios de uma cultura social e política complexa precisam de ter uma boa compreensão da sua fé. Caso contrário essa fé vai parecer-lhes infantil e tornar-se letra morta, uma casca vazia. Catolicismo sem convicção.

Quando é que as escolas católicas voltam a confiar, como o arcebispo Fulton Sheen, na inteligência dos fiéis leigos, ao ponto de poder deitar fora o lixo aborrecedor que actualmente traficam e dar aos jovens uma formação a sério? Nem cem páginas de um manual de teologia moderno valerão alguma vez uma única página das “Confissões” de Agostinho, da “Noite Escura da Alma” de São João da Cruz ou do Evangelho de João.

Esta educação é a herança dos nossos filhos. Só um tolo a trocaria por um prato de lentilhas.


Randall Smith é professor de teologia na Universidade de St. Thomas, Houston.

(Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing na quarta-feira, 29 de Março de 2017)

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