Friday, 30 September 2016

Ossétia, Abkhazia e Karabakh

Nem todos estão abertos á mensagem do Papa
O Papa Francisco chegou esta sexta-feira à Geórgia para a sua segunda visita ao Cáucaso no espaço de poucos meses. À chegada encontrou-se com o Presidente e deixou algumas indirectas à Rússia, por causa da Ossétia do Sul e da Abkhazia.

Depois, Francisco encontrou-se com o Patriarca Illia II, a quem fez um discurso muito emotivo e simpático, sublinhando como o amor pode ser o caminho para superar as divisões. O Patriarca encontra-se muito frágil e faz lembrar João Paulo II no final do pontificado…

A visita continua amanhã e no domingo Francisco visita o Azerbaijão. Um dos temas que será abordado sem dúvida no Azerbaijão é do conflito em Nagorno Karabakh. Agora lembram-se de eu ter dito que estive de viagem em Setembro? Foi precisamente para ir a Karabakh, o território em disputa. Aqui podem ver o resultado da viagem e aprenderem sobre as origens do conflito e oque move as partes.

Aproveitei também para entrevistar o especialista Felipe Pathé Duarte sobre a importância geoestratégica e política de Karabakh para o mundo.

Thursday, 29 September 2016

Papa em Fátima e Fátima em São Paulo

O Papa deu mais uma indicação de que vem a Fátima em Maio, mas apenas a Fátima. Foi em conversa com D. Nuno Brás, bispo auxiliar de Lisboa.

Francisco não se tem cansado de erguer a voz pela paz na Síria, agora sobretudo numa altura em que os confrontos assumem proporções terríveis em Alepo.

Está a decorrer em São Paulo, no Brasil, a Feira Internacional de Turismo. Fátima é um dos temas que está a ser abordado.

Os bispos lusófonos estão preocupados com a instabilidade social e política nos países de língua portuguesa.

Frequentemente fala-se das questões da Igreja e da contracepção como se Roma apenas se tivesse pronunciado sobre o assunto nos anos 60. Mas não. Neste artigo do The Catholic Thing, Randall Smith explica que a posição da Igreja radica no início do Cristianismo, quando um dos métodos contraceptivos usados era ainda pó de bosta de crocodilo.

Termino com mais um desafio. Vai decorrer em Outubro, nos dias 14-16, um retiro vocacionado para casais que sofrem de infertilidade ou que passaram pelo drama de um aborto espontâneo. Todas as informações estão na imagem.

Quão Antigo é o Ensinamento da Igreja sobre Contracepção?

Randall Smith
Muitos dos leitores já saberão que um grupo de 141 académicos católicos, na maior parte da Europa e dos Estados Unidos, assinou algo que se chama a Declaração de Wijngaards, que deriva o seu nome do Instituto Wijngaards de Investigação Católica (“Promovendo a Igualdade de Género e a Partilha de Responsabilidades na Igreja” desde 1983). Esta declaração foi posteriormente apresentada nas Nações Unidas para – o quê precisamente? Aprovação? Diversão? Leitura de tempos livres? Parece que os signatários consideram que a Igreja deve mudar o seu ensinamento sobre contracepção. Ui, que modernos que eles são!

Felizmente, outro grupo de académicos católicos redigiu um documento de resposta: “A afirmação do Ensinamento da Igreja Católica sobre o Dom da Sexualidade”. Este segundo documento, talvez goste de saber, conta actualmente com mais de 500 assinaturas de académicos com doutoramentos ou o equivalente nos ramos de Medicina, Direito, Filosofia e Teologia.

Muitos católicos pensam que a discussão sobre contracepção remonta à encíclica Humanae Vitae de Paulo VI, de 1968. Mas isso não é bem verdade, uma vez que as raízes desse ensinamento vêm bastante detrás. Em larga medida, Paulo VI estava meramente a reiterar, nas suas palavras, um ensinamento anterior. Alguns católicos poderão recordar-se (ou ter aprendido sobre) a encíclica Casti Connubii de Pio XI de 1930. Também esta é importante, mas não é a fonte original.

Então exactamente quão antiga é a oposição da Igreja à contracepção? 1920? 1900? 1880? Afinal de contas, a contracepção é um fenómeno relativmente recente, certo?

Acontece que não. Quem se der ao trabalho de dar uma vista de olhos nos detalhes, por vezes grotescos, do livro “Contraception: AHistory of its Treatment by the Catholic Theologians and Canonists”, escrito por John T. Noonan – algo que, a propósito, e por várias razões, não recomendo – verá que as pessoas andam a enfiar substâncias terríveis pelas mulheres a dentro para tentar evitar que tenham filhos há muito tempo. Há quanto, precisamente? De acordo com Noonan, “cinco papiros diferentes, todos de entre os anos 1900 e 1100 A.C. (Sim, antes de Cristo), incluem receitas para preparações contraceptivas a serem usadas…” – bem, digamos que, de formas que eu preferia não ter de descrever.

Tendo em conta os ingredientes – bosta pulverizada de crocodilo em mucilagem fermentada? Mel com carbonato de sódio? Estas mistelas dificilmente poderiam fazer bem às mulheres que eram obrigadas a tomá-las. Digo “obrigadas”, porque estamos a falar da época antes de os homens terem conseguido convencer as mulheres que a contracepção é uma expressão potente da sua autonomia e não o resultado evidente dos desejos sexuais vorazes daqueles.

Pode-nos parecer que estas misturas eram nojentas, mas seriam assim tão diferentes da prática moderna de encher a mulher de hormonas para convencer o seu corpo de que está gravida? E o estrogéneo todo que usam, de onde acham que vem? Se for ver à internet que é sintetizado, terá de perguntar, sintentizado a partir de quê? Como? Com que químicos? Como é que é “cultivado”? De que animais é extraído? Quando se começa a ver a questão com mais atenção, percebemos que a ideia de bosta pulverizada de crocodilo em mucilagem fermentada afinal não é uma coisa assim tão estranha. Mas fosse qual fosse o ingrediente, muitas civilizações antigas tinham métodos ou mezinhas que acreditavam poder prevenir uma mulher de engravidar depois de ter relações sexuais. Nós, claro, temos os nossos.  

E como é que a Igreja primitiva via tudo isto? Enfrentada por uma cultura romana que na maior parte não tinha qualquer problema com contracepção e aborto, tanto quanto conseguimos perceber os cristãos primitivos opunham-se a ela. No importante texto do primeiro século, o “Didaqué”, ou “O ensinamento dos Doze Apóstolos”, o autor, cujo nome desconhecemos, distingue a Via da Vida da Via da Morte.

A Via da Morte, como podemos supor, estava recheada de pecados, um dos quais incluía fazer uso de pharmakeia que são “assassinos de crianças, corruptores da imagem de Deus”. Parece ser uma referência a drogas abortivas ou contraceptivas. O mesmo ensinamento surge na Epístola de Barnabé, do século primeiro. Encontramos ainda na Paedagogus, de Clemente de Alexandria, a admoestação moral: “Por causa da sua instituição divina para a propagação do homem, a semente não deve ser ejaculada em vão, nem deve ser danificada, nem deve ser desperdiçada”.

Para além destas condenações expressas, o que é mais revelador é a insistência repetida, entre todos os padres da Igreja, da inseperabilidade do acto sexual e do propósito procriativo. Trata-se de uma preocupação constante e de um tema repetido nas pregações e no ensinamento. “Nós cristãos”, escreveu o apologista Justino Mártir, “ou casamos para poder produzir filhos ou, se nos recusamos a casar, somos absolutamente continentes”. De igual forma, o bispo Atenágoras, do século II, afirmou numa carta escrita ao imperador no ano 177 que os cristãos não praticam o coito para satisfazer os desejos. Antes, “a procriação de filhos é a medida do desejo dos nossas apetites.”

Naturalmente, o que temos aqui é um mero resumo simplificado destes textos. Cada um deve ser lido no seu contexto original. Nem cheguei ao desenvolvimento mais sério destes ensinamentos noutros padres como Agostinnho, Aquino e muitos outros, ao longo dos séculos. Acredito que é seguro dizer-se que o ensinamento que vemos reflectido no Humanae Vitae e nos desenvolvimentos posteriores levados a cabo por João Paulo II – de que não se deve separar as dimensões procriativa e unitiva do acto conjugal – remonta ao início da Igreja e que tem sido constantemente reafirmada desde então.  

Mas sabem como é… Agostinho, Aquino, os primeiros padres da Igreja e 2000 anos de pensamento moral sobre esta questão de um lado e 141 “académicos”, na maior parte da Europa, onde a Igreja está morta (uma das signatárias é uma baronesa de verdade) a apresentar um documento numa reunião da ONU do outro lado,

Ena, é difícil saber que posição, a favor ou contra, devemos tomar sobre esta questão. Talvez o melhor seja atirar uma moeda ao ar. 


Randall Smith é professor de teologia na Universidade de St. Thomas, Houston.

(Publicado pela primeira vez na segunda-feira, 26 de Setembro de 2016 em The Catholic Thing)

© 2016 The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de reprodução contacte: info@frinstitute.org 

The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.

Tuesday, 27 September 2016

Trump quer católicos e papa condena "estrábicos"

Esta segunda-feira ficou marcada pelo histórico acordo de paz entre o Governo da Colômbia e as FARC. O secretário de Estado do Vaticano, que dentro de alguns dias estará em Portugal, esteve presente no momento da assinatura.

Dentro de menos de uma hora começa o debate entre Hillary Clinton e Donald Trump. Os dois estão empatados nas sondagens, mas Trump quer mais votos católicos e contratou dezenas de católicos conservadores, incluindo alguns que assinaram uma carta aberta contra ele em Março, para o aconselhar.

Durante o fim-de-semana o Papa recordou a morte de dois padres mexicanos, raptados e assassinados, e encorajou a Igreja daquele país que está a travar um braço-de-ferro com o Governo sobre o casamento homossexual.


Na véspera, Francisco esteve com familiares de vítimas do atentado de Nice e disse que a única forma de combater o ódio demoníaco é através do amor e do perdão.

Se é daquelas pessoas que pensa que os jornalistas são todos contra a Igreja, então saiba que o porta-voz da Conferência Episcopal de Espanha não concorda consigo…

A semana passada publiquei um artigo brilhante de Anthony Esolen no The Catholic Thing em Português. O autor lamenta o triunfo da ideologia sobre a busca da verdade e termina parafraseando São Paulo. Vale mesmo a pena ler.

E termino com um desafio para todos os educadores de infância. Vai haver uma peregrinação a Fátima, dirigido a todos os que trabalham com crianças até aos 6 anos. A data limite de inscrição é 30 de Setembro, portanto apressem-se! Todas as informações nas imagens por baixo.



Wednesday, 21 September 2016

Ideologia: O Coração da Matéria

Anthony Esolen
Tenho estado a pensar ultimamente que se a Democracia é a melhor forma de Governo alguma vez inventado, então porque é que na sua forma actual consegue fazer sobressair o pior que há em nós? Em teoria não devia ser assim. Teoricamente, nesta época eleitoral, devíamos estar envolvidos num debate nacional sobre as dificuldades que enfrentamos. O casamento está em crise e cada vez mais crianças crescem sem uma figura paternal. Que fizemos nós, não obstante as melhores intenções, para infligir sobre os mais vulneráveis tamanho sofrimento?

Como podemos arrepiar caminho? Os salários dos homens da classe operária mantêm-se estagnados há quarenta anos. O que fizemos nós, não obstante as melhores intenções, para os colocar sob tanta pressão? Porque seria errado encolher os ombros e dizer que a sua forma de vida é uma coisa do passado?

Porque é que formamos todos os anos milhões de miúdos no ensino secundário que não sabem nada sobre a herança literária, filosófica e religiosa e artística do ocidente? Como é que acabamos com a nossa dependência de petróleo estrangeiro, mantendo o nosso compromisso de limpar a água e o ar?

Um profissional da Irlanda, casado, pode esperar dez anos por autorização para imigrar para os Estados Unidos, até desistir – como aconteceu com o irmão do meu consultor financeiro. Mas milhões de pessoas estão cá ilegalmente. O que podemos fazer nestes casos que seja de acordo com a lei, com a equidade e a prudência mas também a misericórdia?

O Médio Oriente está a fritar no seu próprio petróleo e na sua encruzilhada de alianças, traições e ódios, enquanto o ressentimento islâmico para com os bem-sucedidos israelitas e o domínio cultural do Ocidente infecta os corações de jovens sedentos de guerra. O que é que devemos, ou podemos, fazer?

Recusamo-nos a ter estas discussões. A televisão tem alguma culpa, mas não é a única. Creio que o vazio que se encontra no local onde devia estar o coração do assunto tem um nome: ideologia.

A ideologia é um sucedâneo da religião. Quando deixamos de estar abertos ao divino é ela que corre a preencher o vazio. Um dos mitos do Iluminismo é de que a “religião” é tão violenta que deve ser mantida bem longe da política. Esse mito penetrou o cérebro de americanos inteligentes, como se constituísse prova contra uma das coisas mais evidentes da história, que nos mostra que, com a excepção notável do Islão, quase todas as guerras que os homens travaram não tiveram nada a ver com religião: Os homens lutam por terra, por glória, riqueza, medo, ambição, vingança, aventura e sede de sangue.

O perigo actual não é de que a religião informe a nossa política – é precisamente isso que a religião devia fazer, porque as nossas intuições sobre o divino devem dirigir o nosso tratamento do humano. Estou a falar aqui em traços gerais. O perigo agora é de que a religião seja obrigada a procurar refúgio nas catacumbas, enquanto a política, com os seus credos ideológicos, assume as prerrogativas da religião. É isso, e não a religião, que tem tornado os últimos dois séculos tão sangrentos.

"Mártir nas catacumbas"
A doença é fácil de diagnosticar e, salvo algum milagre, poderá ser impossível de tratar. Os sinais são estes: Os critérios de evidência são esquecidos – o ideólogo “sabe” aquilo que é impossível saber, como o estado da mente do Presidente Bush quando concluiu que o Iraque possuía armas perigosas ou os elementos necessários para as fazer. O ideólogo atribui aos actos dos seus opositores as piores motivações possíveis, dizendo por exemplo que o Presidente Obama propôs o seu sistema de saúde sabendo perfeitamente que ia falhar.

O ideólogo diz que os acidentes são na verdade devidos a astúcia maquiavélica e que os erros de juízo se devem à estupidez completa, sem perceber que os dois atributos se anulam mutuamente. O ideólogo não é aquele que acredita que tem razão, é sim o homem que já não consegue imaginar que as outras pessoas podem não pensar como ele sem estarem embrenhados em maldade. Não pára para pensar que ele próprio já pensou como eles.

O ideólogo é o preconceituoso perfeito, que não consegue compreender, imaginar ou apreciar o universo moral do seu opositor, mas cujo próprio universo é unidimensional, como uma caricatura.

O ideólogo está isento de pecado. Na medida em que possui as opiniões “certas”, tem rédea livre para fazer as coisas mais vergonhosas aos outros. É um difamador, um cobarde, um bully. Sente-se justo enquanto faz tudo para que o seu opositor seja despedido. Não perdoa, porque não sente que precisa de ser perdoado. Para ele, o cumprimento de todos os ditames ideológicos corresponde à graça salvífica de Deus.

Até aqui tenho-me estado a referir-me ao ideólogo como masculino, mas o feminismo também tornou as mulheres particularmente vulneráveis a um mal que historicamente afligia muito mais os homens. Por mais difícil que seja para um homem conversar com outro homem com o qual está em desacordo, como uma mulher é impossível porque o feminismo embrenha-se de tal forma no seu sentido de auto-estima, que em todo o caso nunca é muito elevado para quem não coloca Deus e família no centro da sua existência, por mais que se apresente altivamente ao mundo.

A grande maioria dos esforços de limitar a liberdade de expressão e de associação nas nossas universidades vem de ideólogas femininas, que de tão sôfregas não param para pensar que aquilo que estão a demonstrar verdadeiramente é que não deviam estar nas universidades.

A ideologia é impaciente, maldosa, invejosa, vaidosa; arrogante, egoísta, irascível; acredita no pior, regozija na iniquidade; espuma contra a verdade, não tolera nada; impaciente, não tem fé nem esperança verdadeira em Deus.

Quando o ideólogo era criança, acolhia o mundo com o deslumbramento de uma criança. Mas agora que envelheceu na ideologia, pôs de lado as coisas de criança. Então via a verdade de forma obscura, como que através de um vidro, mas agora vive na luz ofuscante e crua da ideologia, e nessa luz cada face, seja humana seja divina, é obliterada. Por isso para o ideólogo restam apenas estas três coisas: esperança no futuro, ambição desmedida e ódio. E a mais característica destas é o ódio.


Anthony Esolen é tradutor, autor e professor no Providence College. 

(Publicado pela primeira vez na Terça-feira, 17 de Setembro de 2016 em The Catholic Thing)

© 2016 The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de reprodução contacte: info@frinstitute.org

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O Papa em Assis
Decorreu esta terça-feira a jornada de oração pela Paz em Assis, com a presença do Papa Francisco. O Papa almoçou com vítimas de guerra e lembrou os que sofrem “o silêncio ensurdecedor da indiferença”. O ponto alto foi o discurso diante dos restantes líderes religiosos, em que Francisco condenou o “paganismo da indiferença”.

Neste encontro marcaram presença muitos líderes, mas curiosamente, numa altura em que se diz que as relações entre a China e o Vaticano estão a melhorar, o Dalai Lama não esteve em Assis. Coincidências.

Também esta terça o Patriarca de Lisboa deu uma conferência de imprensa em que foram anunciadas várias actividades para celebrar os 300 anos de elevação de Lisboa a Patriarcado, curiosamente por um Papa chamado… Clemente. Mas D. Manuel Clemente falou ainda do encontro de Assis e, claro, da eventual visita de Francisco a Fátima. Basicamente o Patriarca admite que os bispos nada sabem de concreto e deposita esperanças na visita, em Outubro, do secretário de Estado do Vaticano.

Depois de ter ganho um prémio no valor de 50 mil euros, a Irmandade da Torre dos Clérigos decidiu doar o dinheiro todo a uma instituição de caridade.

E de muito longe, no Guam, chega a notícia de que o enviado do Papa já disse publicamente que pediu à Santa Sé que remova o arcebispo local, que é acusado de ter abusado de quatro rapazes nos anos 70. Anthony Apuron pode ser o primeiro bispo condenado por abusos.

Monday, 19 September 2016

Actualidade Religiosa: Terrorismo, e como o combater

Foi detido esta segunda-feira o suspeito de ter colocado várias bombas em Nova Iorque. Trata-se de um cidadão americano, nascido no Afeganistão.

O Papa Francisco recebe amanhã em Assis líderes de diversas religiões para assinalar os 30 anos do encontro da Paz.

Ontem, o Papa criticou ainda o trabalho escravo como forma de gestão e, na véspera, alertou para a necessidade de praticar a hospitalidade, como verdadeira receita para o fim do terrorismo. Já o presidente turco, Erdogan, acredita que a melhor forma de combater o terrorismo é expurgar 38 mil professores do sistema de ensino.

Esta segunda-feira os núncios apostólicos denunciaram a perseguição religiosa em várias partes do mundo.

Termino com um convite. Amanhã a minha colega Aura Miguel vai ao clube Darca falar sobre as jornadas da juventude, em Cracóvia. O dados estão na imagem.

Friday, 16 September 2016

Papa visita neonatologia e vai receber familiares das vítimas de Nice

Papa no hospital em Roma
O Papa Francisco visitou esta tarde os cuidados intensivos da ala de neonatologia de um hospital de Roma e um lar de doentes terminais, para grande surpresa dos familiares e dos restantes presentes. A acção está inserida no âmbito do jubileu da misericórdia.

Também hoje o Vaticano anunciou que o Papa se vai encontrar com familiares das vítimas do atentado de Nice, em França. Será no sábado dia 24.

Por falar em terrorismo, mais um atentado, desta vez no Paquistão, fez pelo menos 25 mortos esta sexta-feira.

Tristes notícias do Sudão do Sul, um país de maioria cristã que nasceu da cisão com o Sudão muçulmano, mas que não conseguiu evitar cair novamente em guerra civil. Hoje foi anunciado que se juntou ao restrito clube dos países com um milhão de refugiados

Ontem foi divulgado um pergaminho judaico, um rolo da Torá, que terá cerca de 400 anos e foi encontrado numa casa devoluta, na Covilhã!

Não deixem de ler o artigo desta semana do The Catholic Thing, sobre como Pio XII lidou com Hitler.

Thursday, 15 September 2016

Igreja que se molha e que se suja mas onde não se diz mal de Hillary

Donald Trump foi interrompido pela pastora da igreja onde estava a discursar, ontem, quando começou a atacar Hillary Clinton. O candidato não se incomodou com o reparo da pastora Faith.

Terminou esta quinta-feira o encontro da Pastoral Social. Ontem ouviu-se falar da “Igreja que se molha, que se suja e que se envolve” e hoje D. Jorge Ortiga disse que a Igreja tem mesmo de ser incómoda nas suas posições.

O capelão do maior hospital do país diz que o que cura e salva verdadeiramente é a relação.

Wednesday, 14 September 2016

Beato Jacques Hamel e Hitler vs. Pio XII

Beato Jacques Hamel
O Papa disse esta quarta-feira que o padre francês que foi degolado em Julho enquanto celebrava missa é mártir e que, por isso, é automaticamente beato.

Decorre por estes dias o encontro da pastoral social, em Fátima. Ontem para além de Marcelo Rebelo de Sousa (por vídeo), os ouvintes puderam ouvir o ambientalista Francisco Ferreira, que disse que as alterações climáticas não são uma brincadeira de crianças.

Hoje é quarta-feira, portanto temos um novo artigo do The Catholic Thing. Neste artigo Brad Miner analisa o programa do National Geographic TV que aborda a relação entre Pio XII e Hitler. O autor termina com um apelo a Francisco para abrir os arquivos do Vaticano relativos a este período.

“O Papa vs. Hitler”: Uma Recensão e um Pedido

Brad Miner
O que é que Pio XII sabia sobre o regime nazi na Alemanha, e será que fez o suficiente para o combater? Terá feito o suficiente para salvar os judeus de serem massacrados pelos nazis, tanto em Roma e no resto da Europa? Estas e outras questões continuam em aberto, mas podem ser esclarecidas se o Papa Francisco quiser.

O Canal National Geographic (NatGeoTV, para os amigos) está a transmitir um novo “ecodrama” chamado “O Papa vs. Hitler”, sobre o braço de ferro entre Pio XII e Adolfo Hitler. O filme recorre a uma dúzia de bons historiadores, o principal dos quais é Mark Riebling, autor de “Church of Spies”. Outros peritos consultados incluem o padre George W. Rutler, Eric Metaxas e Nigel Jones. Poderia nomeá-los a todos, mas mais vale avançar com a recensão.

Respondendo à primeira questão apresentada em cima: O Papa sabia muito. “O Papa vs. Hitler” demonstra que Pio XII se esforçou por boicotar o regime nazi logo desde o início. E mesmo antes disso, uma vez que, enquanto Secretário de Estado do Vaticano, foi ele o principal autor de “Mit brennender Sorge” (Com Ardente Preocupação 1937), a única das encíclicas de Pio XI que não foi originalmente publicada em Latim. Trata-se de uma forte condenação dos ataques dos nazis à Igreja e aos judeus alemães convertidos ao Catolicismo. Mas não diz nada sobre a desapropriação, deportação e detenção de judeus por parte do regime. (O primeiro dos campos de morte começou a operar em 1939).

Houve uma primeira tentativa de assassinato de Hitler, levada a cabo por membros da Abwehr, a divisão de informação do exército alemão. O Papa Pio XII deu-lhe o seu apoio. Mas o plano acabou por não ser bem-sucedido e depois disso as acções do Papa a este respeito tornaram-se mais circunspectas. Na verdade, todas as nobres conspirações contra Hitler falharam.

Nas palavras de Nigel Jones: “É quase como se o Diabo estivesse do seu lado”.

Pois… Sim.

Antes, durante e depois da guerra, o Papa Pacelli foi avisado de que quaisquer intervenções mais fortes da sua parte levariam a um aumento das já pesadas restrições contra a Igreja e os católicos nos países ocupados pelos alemães.

Este estilo de programa, claro, mistura imagens de arquivo, especialistas e encenações de eventos históricos. E nesse sentido é um exemplo bem conseguido. A meu ver, é também uma avaliação globalmente positiva de Pio XII. Mas não totalmente. O rabino Shmuley Boteach diz que entre os historiadores existe um “consenso” de que a Shoah (o holocausto) “não poderia ter tido a magnitude” que teve se o Papa tivesse condenado mais firmemente a solução final nazi. O historiador britânico Geoffrey Robertson concorda: “A condenação do Papa teria tido repercussões em todo o mundo”.

Não duvido que isso seja verdade, mas uma visita ao Museu Americano do Holocausto em Washington D.C., mostra que os relatos sobre os crimes dos nazis eram frequentemente ignorados ou desvalorizados, tanto pelo New York Times como pela Administração Roosevelt. 

Uma boa parte de “O Papa vs. Hitler” lida com as conspirações falhadas contra o Führer, o que é interessante do ponto de vista histórico, embora bastante conhecido, sobretudo no que diz respeito à tentativa mais famosa, com nome de código Valquíria, levada a cabo pelo coronel Claus von Stauffenberg no dia 20 de Julho de 1944. Quase que foi bem-sucedida. Stauffenberg devia ser um católico devoto (os historiadores divergem neste ponto), mas neste caso não recebeu qualquer apoio ou encorajamento do Vaticano. Então porque é que aparece no filme?

Talvez porque na véspera de colocar a mala-bomba perto de Hitler, Stauffenberg foi-se confessar e, segundo Riebling, pediu e recebeu a “Absolvição de São Leão”. É a primeira vez que ouço falar de tal coisa: perdão dos pecados antes de uma batalha, dada por vezes a soldados.

Resumindo, parece claro que Pio XII não era “o Papa de Hitler”, como tem sido apelidado por alguns.

Mas isso leva-nos à segunda questão: Será que o Papa fez o suficiente para livrar os judeus do genocídio? O rabino Boteach reconhece que o Papa escondeu judeus sempre que possível – em mosteiros e em catacumbas – mas quando centenas de judeus de Roma foram detidos e colocados em comboios para seguir para os campos de morte (de entre os quais apenas uma mão cheia sobreviveu), o Papa não reagiu. Se o Papa tivesse ido à estação e dito aos soldados alemães – entre os quais certamente havia alguns católicos – que estavam a colaborar com um pecado mortal, quais teriam sido as consequências?

Bom, esse é o problema, não é? Na história as coisas ou se fizeram ou não se fizeram e apenas podemos julgar o que aconteceu, não o que poderá ter acontecido.

E isso leva-me ao pedido: Papa Francisco, revele por favor o material de arquivo do pontificado do seu venerável antecessor Eugenio Pacelli relativo aos anos da guerra.

Passei vários anos a fazer investigação para um livro (sobre o qual escreverei mais tarde) nos arquivos da Diocese de Nova Iorque e compreendo porque é que o material de arquivo deve ser selado durante um certo período. O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, não concorda, porque tem uma visão absolutista de que a verdade nunca deve ser escondida. Isso é um disparate, e não apenas no que diz respeito a dados secretos.

Tanto eu como o meu co-autor (o Sr. Marlin) não pudemos ver vários ficheiros sobre o Cardeal John O’Connor, que morreu no ano 2000. Isso pode dever-se ao facto de haver, nesses documentos, afirmações sobre pessoas que ainda estão vivas e que são difamatórias, ou que não são verdade, ou ambos. A regra é esperar 25 anos. Tanto quanto sei, o Vaticano espera 75.

Isso implica reter os arquivos de Pio XII, que morreu em 1958, até 2033. Mas porque não libertar alguns documentos agora? Pelo menos até 1940, com os restantes anos da guerra a serem tornados públicos até 2020? Ajudaria certamente a responder a várias questões e isso é algo que a Igreja deveria querer fazer o mais rapidamente possível.


(Publicado pela primeira vez na sexta-feira, 9 de Setembro de 2016 em The Catholic Thing)

Brad Miner é editor chefe de The Catholic Thing, investigador sénior da Faith & Reason Institute e faz parte da administração da Ajuda à Igreja que Sofre, nos Estados Unidos. É autor de seis livros e antigo editor literário do National Review.

© 2016 The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de reprodução contacte:info@frinstitute.org

The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.

Tuesday, 13 September 2016

RIP Arquimínio e clérigos premiados

D. Arquimínio
Ontem, minutos depois de ter publicado o post, soube da morte de D. Arquimínio, o último bispo português de Macau, sobre o qual podem aprender mais, aqui.

Hoje Marcelo Rebelo de Sousa era previsto ir inaugurar o encontro da Pastoral Social. Não foi, mas mandou um vídeo em que falou da importância da Igreja e
m tempos de crise.

Os bispos portugueses estiveram reunidos em Fátima e falaram de vários assuntos, incluindo os contratos de associação e a questão da isenção do IMI.

O Papa Francisco vai celebrar missa amanhã com um grupo de peregrinos, incluindo o bispo, da diocese onde era sacerdote o padre Jacques Hamel, assassinado por terroristas em Julho.


Hoje recuperamos outros dois artigos do The Catholic Thing que foram publicados durante as férias. Temos o artigo sobre Maria, a destruidora de heresias, do Pe. Paul Scalia e ainda o artigo do Pe. Gerald Murray, no qual explica porque razão, na sua paróquia, os padres celebram agora voltados para oriente.

Monday, 12 September 2016

Cessar fogo frágil e dia de oração por vítimas de abusos

Santa Madre Teresa de Calcutá
Estou de regresso, depois de umas férias excelentes e ainda uma viagem fascinante, da qual ouvirão falar mais para o final do mês.

Muito se passou ao longo deste mês e meio, mas não irei recapitular as notícias, passando já para a actualidade.

Sendo assim, a notícia de hoje é a entrada em vigor do cessar-fogo na Síria. Rezemos para que se aguente pelo menos a semana que está prevista, e que sirva de base para um acordo de paz mais durador. Mas será complicado, muito complicado.

A comissão criada pelo Papa para pensar em formas de combater os abusos sexuais na Igreja vai apresentar uma série de sugestões a Francisco, incluindo a de que cada conferência episcopal crie um dia de oração pelas vítimas deste flagelo.

Os Leigos Para o Desenvolvimento continuam a enviar pessoas para vários países, para ajudar quem mais precisa. Já são 30 anos e a Renascença foi falar com a directora executiva Carmo Fernandes para saber mais sobre estes projectos.


Na semana passada tivemos o interessante artigo do padre Mark Pilon que diz que a crise que a Igreja enfrenta não é de culto, isto é, não se resolve com mudanças litúrgicas, mas sim de fé. Não podia estar mais de acordo.

Deixo-vos ainda com a informação sobre o próximo retiro “Vinha de Raquel” que é destinado a pessoas que tenham sido pessoalmente afectadas pelo aborto, seja porque abortaram, seja porque alguém próximo abortou, etc., O próximo é já nos dias 23 – 25 de Setembro e podem encontrar mais informações aqui

Wednesday, 7 September 2016

No Encalço de Santos: Madre Teresa e João Paulo II

Ines A. Murzaku
Santa Teresa de Calcutá e São João Paulo II tinham uma relação especial, uma amizade que foi confirmada para a eternidade pela canonização desta no passado dia 4 de Setembro. Lembram-se da imagem de São João Paulo II a beijar a cabeça daquela pequena mulher enquanto ela segurava na mão dele? Para o Papa polaco, nas palavras de George Weigel, a Madre Teresa era uma “pessoa-mensagem” para o Século XX.

Madre Teresa e São João Paulo II, o homem e a mulher do Século, juntos fizeram e mudaram a história. Eram peregrinos da paz, indivíduos profundamente apaixonados por Deus e pelo próximo, defensores dos pobres e dos marginalizados, promotores da liberdade e da dignidade humanas. Para além disso, o que São João Paulo II testemunhou na Madre Teresa foi aquilo a que chamou o mistério da mulher e as grandes obras de Deus em, e através de, a mulher.

A Madre Teresa e São João Paulo II acreditavam nos mesmos princípios de apostolado:
Abriram os braços da Igreja às pessoas e trouxeram para a fé um sentido de família e de pertença. A sua amizade era tão profunda e gentil que monsenhor Francesco Follo, Observador Permanente da Santa Sé na UNESCO, que trabalhou de perto com as Missionárias da Caridade em Itália e em França, escreveu no seu livro sobre João Paulo II que madre Teresa representava “a dimensão feminina de João Paulo II”.

Madre Teresa e Karol Wojtyla, então Cardeal Arcebispo de Cracóvia, conheceram-se pela primeira vez em Fevereiro de 1973, no 40º Congresso Eucarístico Mundial, em Melbourne, cujo tema era o mandamento novo de Jesus: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. Foi a primeira vez que Wojtyla esteve exposto ao Novo Mundo.

No seu diário pessoal, o futuro Papa mencionou ter conhecido Madre Teresa. Ela, na verdade, sentia-se em casa em Melbourne, as Missionárias da Caridade tinham inaugurado a sua primeira casa na Austrália em 1970, lidando com outras formas de pobreza, diferentes das que encontravam na Índia, incluindo alcoolismo, toxicodependência e as necessidades espirituais dos idosos. Ela acreditava que os homens e as mulheres alcoólicos da Austrália deviam ter mais do que abrigo e comida, que precisavam de ser amados e reabilitados para se poderem reintegrar na sociedade.

Em 1976 os dois encontraram-se novamente em Filadélfia, noutro Congresso Eucarístico, desta vez subordinado ao tema Jesus, o Pão da Vida. Por estranho que nos possa parecer, nem um nem outro era ainda muito conhecido no mundo católico. Mas os seus discursos tiveram muito impacto. Madre Teresa falou da fome física e do amor pelas coisas pequenas e o Cardeal, que conhecia em primeira mão os regimes totalitários, fez um apelo em nome daqueles a quem era negada a liberdade e que sofriam por detrás da Cortina de Ferro. Fome de pão e fome de liberdade – bem como a luta contra o sofrimento humano – estavam a contribuir para consolidar uma amizade duradoura e uma causa comum.

Os encontros em Melbourne e em Filadélfia com Madre Teresa e com o seu trabalho missionário devem ter tido um impacto profundo no Papa. Em 1986, durante uma visita de dez dias à Índia, ele rezou em Nirmal Hriday – Casa dos Puros de Coração, gerido pelas Irmãs da Caridade em Calcutá. Nessa casa, fundada em 1950 por Madre Teresa, dava-se assistência e tratava-se o sofrimento dos doentes, pobres e moribundos. O Papa, liderado por Madre Teresa, parou junto a cada um dos 86 doentes, alimentando à colher os doentes e moribundos. No fim da visita disse que “Nirmal Hriday é um local de esperança, uma casa assente na coragem e na fé, onde reina o amor”.

Ironicamente, foi numa casa localizada nos terrenos de um antigo templo hindu dedicado à deusa Kali que o Papa encontrou o mistério do sofrimento e do amor humano. Na verdade, o sofrimento e o amor humano são universais, transcendem nações, religiões, afectam ricos e pobres. A visita histórica de São João Paulo II à Índia e o seu encontro com Madre Teresa estão imortalizados em duas estátuas de tamanho real do Papa e da missionária no Santuário Nacional de São Tomé, Apóstolo da Índia.

O Papa ficou de tal forma emocionado pela pobreza e pelo sofrimento humanos que testemunhou na Índia que em 1988, durante o Ano Mariano, foi inaugurada a casa Dom de Maria, próxima da imponente colunata da Basílica de São Pedro. Madre Teresa deu-lhe esse nome na esperança de que “seja sempre possível experimentar, aqui, o amor da Virgem Santa”. A casa distribui comida e roupa a centenas de pobres em Roma e fornece abrigo e assistência médica a mulheres em situações de perigo.

São João Paulo II visitou a Albânia em 1993. Era a primeira vez que um Papa estava no país. No seu discurso aos albaneses, uma nação maioritariamente muçulmana e que tinha vivido debaixo do comunismo, o Papa falou sobre a liberdade, conquistada recentemente depois de décadas de perseguição severa e de martírio. Entre os albaneses que estavam lá para receber o Papa estava a Madre Teresa.

Ela tinha visitado a Albânia em 1989, quando ainda estava sob jugo comunista, por motivos “privados” – para rezar nas campas da sua mãe Drane e da sua irmã Age Bojaxhiu, que estavam sepultadas em Tirana, a capital da Albânia. Apesar dos esforços diplomáticos de mais alto nível, o Governo comunista negou a entrada à Madre Teresa durante quase vinte anos. Se a sua visita de 1989 foi um indicador dos primeiros sinais de abertura e da queda do último bastião do Comunismo na Europa de Leste, a visita de São João Paulo II em 1993 foi uma celebração da liberdade naquele que tinha sido o primeiro “estado ateu” do mundo.

No seu discurso ao povo albanês o Papa expressou gratidão à Madre Teresa e à sua missão universal para alimentar os famintos do mundo: “Mesmo nos tempos do isolamento total da Albânia, foi esta humilde religiosa, esta humilde servidora dos mais pobres dos pobres, que levou pelo mundo o nome do vosso país. Na Madre Teresa a Albânia foi sempre estimada… Hoje, agradeço-vos em nome da Igreja Universal, agradeço-vos, queridos albaneses, por esta filha da vossa terra e do vosso povo”.

A Madre Teresa, canonizada no domingo passado, e São João Paulo II, eram figuras universais a servir a Igreja universal com uma missão universal. O que os unia e consolidava a sua amizade eram a compaixão pelo sofrimento do mundo e um profundo respeito pela dignidade e liberdade humanas, alimentado de forma particular pelo Catolicismo. Como todos os santos, eles recordam-nos da profunda ligação entre o amor de Deus e o amor pelo homem.


Ines A. Murzaku é uma nova colaboradora do The Catholic Thing. É professora de Religião na Universidade de Seton Hall. Tem artigos publicados em vários artigos e livros. O mais recente é Monasticism in Eastern Europe and the Former Soviet Republics. Colaborou com vários órgãos de informação, incluindo a Radio Tirana (Albânia) durante a Guerra Fria; a Rádio Vaticano e a EWTN em Roma durante as revoltas na Europa de Leste dos anos 90, a Voice of America e a Relevant Radio, nos EUA.

(Publicado pela primeira vez no Sábado, 3 de Setembro de 2016 em The Catholic Thing)

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Thursday, 1 September 2016

A Crise Não é de Culto, mas de Fé


Pe. Mark A. Pilon
As seguintes estatísticas são - ou deviam ser - preocupantes para a a Igreja toda, uma vez que não são exlusivas à diocese de Pittsburgh:


O número de católicos activos na diocese de Pittsburgh diminuiu rapidamente nas últimas décadas, de 914.000 em 1980 para 632.000 em 2015, segundo dados da própria diocese.


Desde 2000, a frequência da missa dominical diminuiu 40%, havendo agora menos cerca de 100.000 praticantes regulares. A matriculação em escolas católicas caiu 50% e o número de sacerdotes no activo passou de 338 para 225. A manter-se este ritmo, a diocese calcula que haverá apenas 112 padres em actividade em 2025.


Qualquer análise honesta nos diz que estes números representam problemas graves e o bispo de Pittsburgh expressou a sua grande preocupação numa entrevista a um jornal secular daquela cidade. Toda a conferência episcopal americana deveria estar gravemente preocupada, porque este tipo de estatística é comum à maioria das dioceses e arquidioceses do país, salvo raras excepções.


Mas as propostas apresentadas pelo senhor bispo para tentar inverter este declínio não são particularmente encorajadoras e fazem lembrar os fúteis planos quinquenais da União Soviética, que acabavam por repetir sempre as mesmas soluções falhadas. “A principal prioridade tem de ser tornar o nosso culto melhor”, afirma o bispo David Zubik ao Tribune-Review. “Em segundo lugar, temos de fazer o melhor possível para conseguir mais líderes ordenados, mas não só, temos também de abrir muitas posições de liderança na Igreja para leigos.”


Segundo se lê na entrevista, “melhor culto” significa “homilias e música melhores” e ainda “tornar as igrejas mais acolhedoras para quem vem de fora”. O bispo apresenta ainda outras soluções possíveis, como “mais leigos em posições de liderança e melhor formação para diáconos; estilos de ministério mais apelativos para os jovens e, em simultâneo, fortalecer o cuidado pastoral dos idosos”.


Não ouvimos tudo isto antes? Mais leigos em posições de liderança, diáconos permanentes com melhor formação, melhores programas para os jovens, melhores cuidados pastorais para os idosos?


É habitual dizerem-nos que as razões pelas quais há cada vez menos católicos praticantes nas nossas paróquias são sobretudo programáticas e estruturais. Melhores programas pastorais, melhor culto e melhor acolhimento são tudo o que precisamos para inverter a devastação que ninguém poderia ter previsto depois do Concílio Vaticano II. Talvez seja tempo de considerar outras opções.


A verdadeira razão de fundo é simples: Trata-se de uma enorme perda de fé. Há muitas explicações para essa perda de fé, mas os católicos estão a desaparecer aos molhos porque perderam a fé na Igreja e na verdadeira natureza dos seus sacramentos, ou porque na verdade nunca a tiveram. Não é por haver homilias fracas, antigamente também as havia e as igrejas estavam cheias. Não tem a ver com a qualidade da música, nos anos 40 e 50 não tínhamos música, salvo em missas solenes de Domingo e nos dias santos. Mas as igrejas estavam cheias. O problema é simplesmente uma enorme perda de fé.


Há uns 30 anos uma sondagem credível revelava que apenas cerca de 30% dos católicos continuava a acreditar na presença real de Cristo na Eucaristia. Porque é que os bispos não convocaram uma reunião de emergência para lidar com esse problema de falta de fé, como fizeram em 2002 para lidar com a crise dos abusos sexuais? Se as pessoas não acreditam na presença real de Cristo na Eucaristia ou na Eucaristia como verdadeiro sacrifício oferecido a Deus para benefício dos pecadores, então não será uma melhoria da música a convencê-los a ir para a Igreja aos domingos de manhã.


Esta perda de fé reflecte ainda uma perda do sentido de pecado e da sua gravidade e por sua vez ambos estão associados a uma rejeição dos ensinamentos morais da Igreja, pois todos os aspectos da fé estão interligados. A obrigação da missa domincal não tem qualquer sentido e não levará as pessoas a participar se estas não crêem na gravidade de faltar à missa ao domingo. Na verdade, mesmo que exista tal coisa como um pecado grave, como é que se pode entender que isso se aplica a faltar à missa quando se acredita que a missa não é mais do que música, leituras e uma encenação memorial em vez de uma coisa real, um verdadeiro sacrifício, a verdadeira presença de Cristo.


Mesmo os adeptos da Forma Extraordinária [conhecida vulgarmente como rito tridentino], que tendem a pensar que restaurando a liturgia restaurar-se-á a fé, devem compreender que não é assim tão simples. Muitas coisas contribuíram para esta crise e devem ser analisadas: má catequese, maus exemplos, escândalos e, também, sem dúvida, má liturgia. Mas também a falta de proclamação do Evangelho na praça pública. Se a Igreja for apenas mais uma “denominação” na praça pública, e o Evangelho não for proclamado abertamente como a solução para os problemas da sociedade, então estamos verdadeiramente a caminho de um longo inverno eclesial.


Na verdade o bispo Zubik referiu-se ao problema da fé quando disse que “ao mesmo tempo compreendi que eles [os paroquianos] estavam entusiasmados sobre a razão principal pela qual estamos a fazer tudo isto: para reavivar a fé das pessoas.”


Senhor bispo, a verdade é que para se reavivar a fé de alguém, é preciso que essa fé já exista. A principal prioridade, então, deve ser esta questão básica: A que é que se deve esta monumental perda de fé, e como é que a podemos ressuscitar?

O padre Mark A. Pilon, sacerdote da Diocese de Arlington, Virginia, é doutorado em Teologia Sagrada pela Universidade de Santa Croce, em Roma. Foi professor de Teologia Sistemática no Seminário de Mount St. Mary e colaborou com a revista Triumph. É ainda professor aposentado e convidado no Notre Dame Graduate School of Christendom College. Escreve regularmente em littlemoretracts.wordpress.com
(Publicado pela primeira vez na quarta-feira, 24 de Agosto de 2016 em The Catholic Thing)
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