Wednesday, 16 September 2015

Amai os Vossos Esposos

Randall Smith
Será que o mundo ainda não percebeu que a melhor coisa que um progenitor pode fazer pelo seu filho é amar o seu esposo, o pai ou a mãe dessa criança? Os estudos comprovam-no. Quantas vezes é que já ouviu um pai ou uma mãe a assegurar-lhe que ama muito os filhos e a dizer de seguida o quanto odeia o (habitualmente ex) esposo. Estes pais não pensam em como tais expressões de ódio afectam os seus filhos?

Se os estudos mostrassem que ler alto para os seus filhos todas as noites é extraordinariamente benéfico para o seu futuro sucesso e desenvolvimento (e mostram), não leria para os seus filhos? Ou se descobrisse que o seu filho era diabético, deixava-o comer montes de açúcar? Amar os seus filhos não tem a ver só com emoções fofinhas que sentimos quando olhamos para eles, é um compromisso que assumimos de fazer o que for preciso para o seu bem, mesmo quando é difícil.

Vejamos as coisas desta maneira: Se conhecesse uma mãe que insistisse que amava muito os seus filhos, mas que depois não tinha paciência para se levantar do sofá para lhes dar de comer, o que é que acharia? Até podia ser amor no sentido de emoções, mas não no sentido de compromisso.

As crianças precisam de mais do que apenas comida, água e roupa. Precisam tanto, se não mais, de cuidado e compromisso e um sentido de pertença. Se um progenitor não estiver disposto a pôr de lado as suas diferenças com o outro para dar estas coisas a um filho, o que devemos concluir?

Ninguém está a insinuar que esse tipo de reconciliação é fácil. Mas por outro lado também não é fácil aturar o chefe todos os dias, nem é fácil aturar o polícia que nos manda encostar por excesso de velocidade, mas aturamos.

Agora, aqui está um homem ou uma mulher ao lado de quem você se colocou, diante de toda a sua família e amigos, e jurou, diante de Deus, amar, honrar e proteger até ao fim da vida e não é capaz de dizer uma palavra simpática sobre ele ou ela, quando o que está em causa é o bem-estar dos seus filhos?

Conheço pessoas que insistem que seriam capazes de caminhar sobre brasas pelos seus filhos. Não sei como é que isso os poderia ajudar, mas imaginemos que ajudava. O que é que se passou de tão grave que não conseguem pôr o orgulho de lado para evitar infectar os seus filhos com ódio por um dos seus pais?

Não ignoro nem desprezo o facto de que “surgem problemas”. Os problemas surgem nos empregos. Surgem na escola. Surgem quando tentamos reparar a canalização ou mudar uma vela do carro. Digam uma actividade humana em que não surjam problemas? Os problemas surgem, é preciso lidar com eles. O que eu estou a sugerir é que esses problemas podem ser resolvidos (ou deveriam ser) se, como diz, ama verdadeiramente os seus filhos.

Há casos em que o pai ou a mãe dos seus filhos não é o seu esposo ou esposa. Estas situações prestam-se de forma particular a resultados trágicos. Já é difícil pôr de lado as diferenças e o orgulho quando estamos a lidar com uma pessoa que conhecemos, respeitamos e a quem nos comprometemos para a vida. Isso pode ser impossível quando se trata de alguém que mal conhecemos. Mas é por essa razão que a Igreja sugere que as pessoas não tenham relações sexuais com alguém a não ser que conheçam, respeitem e se tenham comprometido com ela para a vida. Este conceito será assim tão ridículo quanto a malta “fixe e sofisticada” faz crer?

Independentemente do que tais pessoas possam dizer, a realidade da reprodução humana implica que você será o pai biológico daquela criança para o resto da vida. Você e o seu parceiro criaram uma vida nova, algo inteiramente novo, sem precedentes e irrepetível no universo.

Criar uma vida nova é provavelmente a coisa mais fantástica que dois seres humanos podem fazer. Consegue pensar numa melhor? Uma grande tacada de golfe? Ganhar muito dinheiro a trabalhar para uma grande empresa? Marcar um grande golo? Nenhuma destas coisas é má, mas não se aproximam da criação de um novo ser humano.

O Dr. Frankenstein ficou famoso por dizer “Consegui! Arranjei um emprego bem pago na Google”? Ou “Afasta-te Igor, esta tacada vai espantar o mundo!”? Há sempre outro emprego melhor e uma tacada ainda mais incrível. Mas nunca, nunca haverá outra criança, com capacidades infinitas e que seja precisamente uma “imagem de Deus” como aquela que foi produzida por si e pelo seu esposo ou esposa.

Por isso não dê cabo de tudo, transformando o que devia ser o maior milagre que dois seres humanos podem alcançar juntos na pior tragédia da sua vida. Guarde as relações sexuais para alguém com quem se comprometeu a amar e servir para o resto da sua vida.

Se cometeu um erro e está a fazer o melhor que pode dessa situação, então que Deus o abençoe. Ele não o abandonará nem a si nem aos seus filhos. Não estou a escrever isto para condenar. Na minha experiência, estes pais seriam os primeiros a alertar outras pessoas para não cometerem os mesmos erros.

Para os restantes, por favor não se enganem a vós mesmos, pensando que podem amar os vossos filhos e dispor simplesmente do seu pai ou da sua mãe. As crianças não funcionam assim. Podemos desejar que sim, mas quantas vezes é que a realidade se conforma aos nossos desejos?

Precisamente. As crianças também não.


Randall Smith é professor de teologia na Universidade de St. Thomas, Houston.

(Publicado pela primeira vez na quarta-feira, 9 de Setembro de 2015 em The Catholic Thing)

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