Monday, 31 March 2014

Roma prepara-se invasão, Quénia para a poligamia

Hmmm...
Roma prepara-se para a grande invasão! Não, não é o Putin preocupado com os russos italianos, são os milhões esperados para as canonizações de João Paulo II e João XXIII, daqui a menos de um mês.

Mudando de Papa, este fim-de-semana Francisco falou a milhares de surdos e de cegos, no Sábado, e no domingo perguntou se os fiéis têm um coração aberto ou fechado.

Hoje Francisco recebeu em audiência o dono de uma cadeia de lojas que tem resistido ao decreto do ObamaCare que visa obrigar as empresas a fornecer, nos seguros de saúde dos seus funcionários, cobertura de serviços contraceptivos e abortivos.

O Patriarca D. Manuel Clemente inaugurou a nova Igreja do Parque das Nações. É uma Igreja do Século XXI, segundo o pároco, um lugar onde se pode respirar, segundo o Patriarca. A estética e a arquitectura da Igreja têm gerado muito debate, mas a verdade é que se trata de uma comunidade viva e jovem. No Facebook pode deixar a sua opinião.

Morreu o cónego Miguel Ponces de Carvalho, de Lisboa, que foi pároco da Lapa e por isso responsável pela Basílica da Estrela, durante vários anos.

Os cristãos no Quénia estão unidos contra a poligamia, que está prestes a ser legalizada no país.

Por fim, estreou na passada quinta-feira o filme “O Filho de Deus”. Conversei com a crítica de cinema Margarida Ataíde que deixa aqui a sua opinião sobre a obra.

“‘O Filho de Deus’ é um desafio assumido mas mal sucedido”

Transcrição completa da entrevista a Margarida Ataíde, crítica de cinema para a Ecclesia e colaboradora do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.

O que achou do filme “O Filho de Deus”?
Sempre que escrevo um artigo de cinema há duas circunstâncias que se verificam sempre. Não costumo ler muito sobre o filme antes de o ler, escolho pela programação ou por referências que tenha, mas tento não ir condicionada.

No caso de “O Filho de Deus” sei porque foi lançado há não muito tempo o DVD com a mini-série feita para televisão e que está na base deste produto, uma mesma obra do mesmo realizador, Christopher Spencer, e sabia que era um filme que ia ser lançado com um formato original feito para televisão, e que iria ser levado ao grande ecrã, o que representa já por si um grande desafio uma vez que no grande ecrã tudo é dimensionado a uma escala bastante maior, o que significa que tanto os efeitos do filme são apresentados ao espectador de uma forma mais grandiosa, de forma a envolvê-lo mais, e se há alguns aspectos de menor qualidade também são mais evidentes. São estes os desafios que o realizador tinha.

Neste caso isso correu-lhe bem, ou nem por isso?
Penso que foi um desafio assumido mas não bem sucedido. O filme contava com um orçamento muito baixo e portanto teve de se socorrer de uma equipa técnica e artística não de grande qualidade. Temos uma coisa que nos toca particularmente, porque temos o actor português Diogo Morgado a encarnar o papel de Jesus. Seria aquele a quem é feito o desafio para encarnar o verbo e penso que fica muito aquém da dimensão da personagem. Por outro lado o realizador tem como única solução para tentar dirimir essa evidência de menor qualidade que é recorrer a sequências muito fugazes, isso não ajuda à impressão e transmissão da mensagem e do texto ao longo do filme.

Na altura da mini-série houve muitas críticas, algumas boas e outras más. Pode-se dizer que estamos perante uma ideia que funciona bem em DVD mas não no grande ecrã?
Poderia ser isso. Qualquer realizador interessa-se pela figura de Jesus e pela proposta da própria Bíblia e pode, eventualmente, olhar Jesus e tentar interpretá-lo à sua forma, ou recontar a sua experiência de relação com aquela figura, não o pode fazer de forma abusiva. Não pode perverter o que está no fundamento daquela pessoa, Deus tornado homem.

O que acontece neste filme é que, sendo Jesus aquele que se fez próximo de nós, que estabelece uma relação próxima de nós, de tal forma que vem a nós também como homem, todo o filme, ao assentar na ideia que Jesus traz o poder, e são permanentes as referências, isto são perversões do próprio texto bíblico, daquilo que é a narrativa bíblica e portanto ultrapassam o facto de ser um formato grande ou pequeno ou de ter menos ou mais qualidade. É uma interpretação abusiva.

Temos assistido a vários filmes nos últimos anos que recuperam temas bíblicos. Tem havido uma maior atenção a temas especificamente religiosos do que era normal há uns anos?
Temos de fazer uma distinção entre a produção cinematográfica e o cinema que circula e que é representado em sala. Para além de um investimento, de uma produtora, de um produto que procura fazer o circuito comercial, que tem de ter rentabilidade, daquele que é feito por realizadores e criadores independentes, por sua iniciativa, que perscruta um pouco alguns temas que são de carácter religioso ou de matéria de fé, ou que questionam o sentido da vida e isso também perpassa por este Deus como o conhecemos... talvez a nível comercial sim, talvez.
 
Não diria que existe um maior interesse, talvez haja uma abordagem diferente e nesse sentido talvez ultimamente, nestes anos, e agora com este caso de “O Filho de Deus” e o que me parece que acontece um pouco com “Noé”, é que são narrativas que se aproximam mais do estilo narrativo utilizado nos grandes obras bíblicas dos anos 40 e 50, mais do que obras em que um criador de cinema interpela uma questão de fé mais como um diálogo individual, aqui tem esse carácter mais público e comercial.

Mas a nível de temas religiosos no substrato de filmes que não são explicitamente religiosos, isso tem sido mais uma constante?
Sim, no circuito comercial penso que sim.

A nível de filmes recentes que talvez tenham escapado ao circuito comercial, ou mesmo estando no circuito comercial tenham essa linguagem mais escondida, o que é que a marcou mais nos últimos anos?
Um dos filmes que me marco mais, por várias razões, foi um filme de uma jovem realizadora italiana chamado “Corpo Celeste”, que tive oportunidade de levar ao sétimo simpósio do clero, em Fátima, exactamente por ser um filme feito por uma realizadora não católica, que terá passado pela catequese e que conta a história de uma menina chamada Marta que vem com a sua mãe e com a sua irmã da Suíça e retorna a uma cidade suburbana, periférica, da região sul de Itália.

Esta menina inicia o seu percurso de crisma na catequese da Igreja. É uma criança que está em transformação, na adolescência, e procura um encontro com Cristo que não consegue fazer através da catequese. Aqui o interesse da realizadora é ela própria questionar um caminho possível de fé, é um olhar de fora da Igreja para dentro, sério e tocante, em que se acompanha o percurso da menina, que convive com um grupo em que não se sente integrada, porque tudo o que a catequista lhe transmite, com a sua melhor intenção e bondade, não é suficiente para tocar o seu coração e para ela perceber o mistério de Deus em si.

Ela faz o percurso do Crisma e não faz esse encontro, e acaba por conseguir fazê-lo de uma outra forma que não é totalmente à margem da Igreja, mas que não é com aquele tipo de resposta que lhe foi dada. Foi dos filmes mais sérios que vi. Passou um pouco despercebido... Também por ter sido distribuído por uma pequeníssima distribuidora portuguesa, resultado do investimento de um jovem, também realizador e também não-católico, mas que teve este interesse e é aí que digo exactamente que há muitas pessoas que passam despercebidas nesse interesse e nessa curiosidade que suscita temas que podem ser de fé, ou religiosos.

Do cinema português, esse interesse também se tem manifestado?
A distinção entre os temas religiosos e do sentido da vida é realmente importante. Existem alguns filmes que revelam um interesse pela procura de algo transcendente, algo que é muito próximo da designação e nomeação de Deus como nós o entendemos, algo que desperta no íntimo de um realizador e que o leva a procurar qualquer coisa mais adiante, distingo da questão religiosa porque não é revestido da formalidade e de preceitos religiosos, mais públicos e mais formais.

Encontramos, sim. Os prémios Árvore da Vida que têm sido distribuídos no IndieLisboa, por exemplo, são prova disso. Há muitos filmes que se aproximam de Deus mesmo sem O nomear, que se aproximam muito dessa busca e que revelam esse interesse.

O Cinema é um meio privilegiado para tocar as pessoas neste campo?
Se sair daqui e descer ao Cais do Sodré e contemplar o rio pela frente, na sua imensidão e beleza, fica tocado não só pelo olhar que transmite, mas sobretudo pelo que o rio e a beleza dizem no mais íntimo de si. O cinema tem exactamente essa capacidade de exprimir essa beleza de uma forma até grandiosa, ao mesmo tempo tocando no mais íntimo de nós. Penso que é nestas duas dimensões que o cinema, como cinema, se cumpre.

“Moral relativism of Hollywood showed me there must be Truth”

Full transcript of my interview with Fr. Denis Heames, pastor at St. Mary’s, in Mount Pleasant, Michigan. During my visit to Central Michigan University in September 2013, I attended a conference on gay marriage and religious liberty, and in the context spoke to Fr. Heames about these issues. News story here.

Transcrição completa, no ingles original, da entrevista ao Pe. Denis Heames, pároco de St. Mary’s, em Mount Pleasant, Michigan. A entrevista foi feita no context da conferência sobre casamento homossexual e liberdade religiosa a que assisti durante a minha estadia na Central Michigan University em Setembro de 2013. Areportagem está aqui.


The approval of gay marriage seems unstoppable; it seems that this is really going to be approved, state by state. Do you foresee a time when Catholics will have to afraid of making their voice heard on this issue in the public square?
Wow. I do, now that I hear you say it that bluntly. I think it will reach a point in the public square where we will lose the freedom to be against this. I think that is coming. I don’t even think this is even a debate anymore.

Because of the Supreme Court ruling on DOMA*, basically eviscerating the heart of DOMA, in terms of the definition of what marriage is, as recognizable by the federal government; and how the justices wrote their opinion with so much of a favourable slant towards those 11 states** which have enacted same-sex marriage legislation, I think with the two together, we’re going to see an avalanche of overturns.

The implication is that if this is a federally acknowledged, not just benefits, because the language is not just about giving people access to benefits, it is an innovative restructuring of the very concept of marriage, I think we are going to be completely limited in our ability to disagree in the public square.

How about internally? There seems to be a divide among the Catholics in the pews. Is there a risk that Catholics will accept this?
Probably, but I think if we take a step backwards when we see through history there are always shake-ups and things take a while to work out within the body of the church. So part of me takes a long range vision of that, in terms of the internal corpus and how we think.

You’ve got Catholics working in jobs where their co-workers could now be married gay men raising three kids, and so you are constantly engaging society and that is a challenge to your faith. How do I hold on to this teaching, which I believe to be true, but in this public way. That could be part of the rift we are going to see.

There have also been some calls for the Church to just get over this debate. Could that happen? Might the bishops say forget it, let’s get on to something else?
They could. I don’t want to think for the bishops on that level. They are at their bi-annual meeting right now, and I’m not sure how the bishops are going to respond as a unified voice on this, but in terms of the Church we will always maintain this vision of marriage between one man and one woman, and the sacramental dimension of what that love is capable of.

It may be that we will reach this point where our silence to this means we’ve lost the fight. I could foresee that, I don’t know if it will happen. I do think we’ll see a surge against it though, especially as the states experience these fights. I think we’ll have to at least try to maintain something. If we don’t that will be even graver for us. We have to try.

There is a generational gap, with under 30’s being hugely in favour of the idea of Gay Marriage. Do you notice that? And those who are faithful, are they suffering?
Yes, yes, and yes, if I can be so silly.

There is the Catholic who says he was raised Catholic and left the church. And often the issues that gave them the impetus to leave have to do with sexuality. Gay Marriage will always be the first one up there, pre-marital sex will be a close second, after that you realise there is really not much faith in the discussion… they don’t really care.

Then there are the occasional church-goers. They come, they are struggling with some of these issues. They are active in some areas, social justice and things, but they have these divisions and some of them are working on that.

In the larger university body I think it depends on the school. Here in Central Michigan University I think that there is a small minority which is vocally in favour, but I think there is a silent majority which doesn’t quite go along with it, but the problem is, it’s silent, and I think that the academic institution has a very clear bias.

For example childhood education, people who are studying teaching and development, and things like that, when they get into issues of diversity, or literature, those are very clearly angled towards this agenda. I do see students who are Catholic going into these areas struggling with these issues. “How will my faith be able to be lived in this work environment when there is such a heavy pressure, ideologically?” Books on the shelves in your elementary school classes like “The Two Princes”, and so on.

I do see that students who come here, and get involved, who take their faith seriously, who start to learn about the teachings and the “why?” of the Catholic Church experience a revolution. A load is lifted, their eyes are opened, they see why this is. It’s not because some guy in white decided to say that this is wrong, but it is buried in the heart of what it is to be human, its buried in the heart of what it is to believe in God, its buried in the heart of basic good human philosophy and truth. That is where I see a real revolution happening.

You had a bit of a Hollywood career…
I did! I graduated high-school in 1990 and literally three days later moved to Hollywood in a VW Bug. It was great, kind of adventurous. I started studying and a month later was auditioning for films and stuff and I landed some small parts, decent parts in some TV movies, and stuff. It was a modicum of success, without any real training, without any real knowledge of how the system worked.

Then it was as if the carpet was just pulled up from underneath me and I was left with this empty vacuum, lonely, struggling to know what I thought was right. I remember realising, seeing the whole Hollywood scene around me and wondering: “is it really that whatever you want to do is OK? That whatever floats your boat, you can do it?” There were some crazy things people were doing.

It was the moral relativism of Hollywood that forced me to say there must be truth. Seeing guys walking in opposite sides of the street, and just hooking up. I was just like, can this really be right? If it’s right then I had nothing to say, they can do whatever they want. But I just couldn’t.

There had to be truth, and it couldn’t just be true for me and not for you, It had to be true because we’re all human. So that is where my faith journey started. Hollywood was part of the conversion.


*Defense of Marriage Act. Uma norma que obrigava o Governo Federal a considerar que o casamento é apenas entre um homem e uma mulher. O Supremo Tribunal decidiu que se tratava de uma lei que revelava “animosidade” para com homossexuais e declarou-a inconstitucional, abrindo as portas para processos ao nível estadual para abolir todas as leis que limitem o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

** À data da entrevista, em Setembro de 2013 / At the time of the interview, in September 2013.

Religious discrimination due to same sex marriage in the US

Fotógrafa multada em 7000 dólares por
recusar colaborar com "casamento" gay
In September of 2013 I attended a conference on threats to religious liberty in the US, due to legislation on Same Sex Marriage. This is a full transcript of the interview with the speaker, who asked not to be named. The news story, with video, is here.

Em Setembro de 2013 estive numa conferência sobre as ameaças à liberdade religiosa nos Estados Unidos, devido à legislação sobre casamento entre pessoas do mesmo sexo. Esta é uma transcrição completa da entrevista à oradora, que pediu para não ser identificada. A reportagem pode ser lida/vista aqui.

You are here to speak about gay marriage and the possible effects on religious liberty of the approval of gay marriage. You have asked me not to identify you and not to film you. Why is this?
There is a concern about losing my job. I work for a corporation. And although I am not aware of anything in particular in my company, I have seen cases of individuals who have lost their jobs in private companies simply for stating things as innocuous as “I support traditional marriage”, not even anything that is disrespectful to anybody suffering from same-sex attraction.

Have there been other cases of persecution because of their beliefs? Because their line of work has clashed with same-sex marriage or homosexuality?
Some of the more recent ones are in the area of marriage services. A couple who owns a bakery would not provide a wedding cake for a same-sex couple. They were fined, sued and ultimately she closed her bakery. We have a more recent case in New Mexico with the photographer who refused to provide photography services at a same sex ceremony. So those are more in the business sector, related to providing services. Those are some of the more prominent and recent ones. Then there are cases of people losing their jobs from saying things outside of work.

How about the school system? Should people be concerned with the education of their children if they don’t agree with this?
They have started teaching it. Massachusetts is the first state in the USA that approved the redefinition of marriage. In that state they are teaching that the homosexual life-style and gay marriage is natural and good, and that is being taught in the schools. Parents have not been able to object to that or even be notified. There is a concern that that kind of teaching and restriction on parents will also go into other states that approve same-sex marriage.

How far do you see this going? Could there be a backlash, or do you think that society is coming round to this idea?
Right now in the states, especially because of the youth, it looks like the wave will be that most states will ultimately accept same-sex marriage. But I think that if we get on top of that and educate people about what marriage really is, we might stem that.
California is a great example, it is one of the most liberal states, and for California to pass a constitutional amendment that defines marriage between one man and one woman, is I think is only by intervention of God.  The unfortunate part is that the court disagreed with the people of California, but the fact that there could be any kind of a public campaign and education on what marriage is, to bring California public opinion around to that, I would be optimistic we could do that elsewhere.

In California there was an enormous backlash against the Mormon Church, for having backed Proposition 8. Obviously the Catholic Church will always be against the concept of Gay Marriage, can we foresee a time when the church will be pushed out of the public square because of what it defends?
I think we are seeing more of that, and we are expecting to see more. And I think it is unfortunate that we are having commentators coming out and indicating that the Church should get out of this debate, because they are concerned about the backlash to the church. I hope the hierarchy doesn’t listen to that, I think we have to take this head on. Because of the religious liberty issue it is really critical to us.

Thursday, 27 March 2014

Barack e Francisco em Roma


Obama afirma que ficou muito comovido pela compaixão do Papa, convidou-o a ir à Casa Branca ver o jardim e comprometeram-se os dois a lutar pela erradicação do tráfico humano. Obama também elogiou o Papa por nos lembrar que o fosso entre ricos e pobres não é uma coisa normal.

Antes do encontro escrevi que estes seriam os principais tópicos a discutir. Não se sabe ao certo do que é que falaram, para além do consensual que foi divulgado publicamente, mas convém não esquecer que depois do Papa, Obama foi recebido pelo Secretário de Estado Parolin, e pode ter sido lá que os temas mais duros foram abordados.

Entretanto, nos Estados Unidos, teme-se perder o emprego por ser contra o casamento homossexual. Chocante, mas pouco surpreendente, tendo em conta a tendência que já tinha divulgado aqui.

Noutro tema, foi hoje divulgado o programa, muito preenchido, para a histórica visita do Papa à Terra Santa, em Maio.

Por fim, alerto a todos que no sábado às 18h vou falar ao Clube 7+ sobre o primeiro aniversário do Papa Francisco. Estão todos convidados a aparecer, aqui encontram indicações para lá chegar.

(Clicar para aumentar)

Wednesday, 26 March 2014

Bispos e Belles

O Papa aceitou esta quarta-feira a resignação do bispo despesista (e clone de Herr Flick, ver foto), que gastou 31 milhões de euros a renovar a sua residência episcopal.

No mesmo dia o Papa disse que quer bispos que rezem e que se confessem


Esperava-se que começasse hoje o julgamento da paquistanesa Asia Bibi, condenada à morte por blasfémia e na prisão há quatro anos. Segundo o seu advogado, ela “reza e espera”, mas está bem de saúde.

Atenção a todos que amanhã Obama visita o Papa. Terão certamente muito que conversar, mesmo que a maior parte nunca se torne público. Estejam atentos que a Renascença tem reportagens preparadas para o assunto.

Recentemente rebentou uma polémica nos EUA com uma jovem universitária a confessar que faz filmes pornográficos para pagar as propinas. “Belle Knox” é o tema do artigo desta semana do The Catholic Thing, a não perder.

Adenda do dia seguinte
Depois de publicar este post recebi dois comentários (que podem ler abaixo), a lamentar o facto de eu estar a comparar o bispo Franz-Peter Tebartz-Van Elst ao Herr Flick... escusado será dizer que não estou a insinuar qualquer semelhança moral entre um bispo e a Gestapo. É mesmo só a parecença física... digam lá que não é igual?!

Quanto ao Bispo, o post não era de análise, mas já agora aproveito para dizer que acredito na redenção de qualquer homem. Penso que ele errou, e muito (não é só a questão dos gastos, há mais detalhes, incluindo perjúrio no tribunal e desvio de dinheiro de um fundo de assistência a famílias numerosas para a tal residência episcopal), acredito que se foi enfiando num buraco do qual dificilmente conseguiu sair até que o escândalo público o acordou para a realidade.

Mas acredito, sobretudo, que é perfeitamente capaz de se arrepender, virar uma nova página e levar o resto da sua vida como um bom pastor e um bom cristão e é isso que espero que aconteça.

Agora, a fotografia? Por amor de Deus, é só uma brincadeira.

A Bela e o Monstro

Pe. Dwight Longenecker
A Bela e o Monstro conta a história de uma donzela bonita que encanta um tipo terrível mas transforma-o no nobre príncipe que estava destinado a ser desde sempre. A beleza conquista a besta. A Bela vence o Monstro.

Tudo isto levou uma volta quando, há semanas, uma caloira de Duke University chamada Miriam Weeks revelou ser “Belle Knox”, uma estrela da indústria pornográfica. Esta versão do conto de fadas acaba de maneira diferente. A bela universitária torna-se a besta. Não deixa de ser bonita, claro, mas admitiu que estava a produzir filmes pornográficos para pagar as propinas.

O mais peculiar desta história não é o facto de se estar a prostituir, como mulheres desesperadas ou sem escrúpulos têm feito desde tempos imemoriais, razão pela qual nos referimos à prática como o trabalho mais antigo do mundo. O peculiar não é a sua profissão, mas a confissão.

Belle Knox apareceu no programa de Piers Morgan para se defender. A aluna de Estudos Femininos sublinhou que ela é que tinha escolhido ser actriz pornográfica. Negou que estava a ser explorada. Toda a gente que tinha conhecido na indústria, garante, é simpática, amigável e profissional. Mais, no futuro espera vir a começar uma organização para ajudar trabalhadoras do sexo abusadas.

A sua confissão revelou a moralidade não só de Belle Knox mas da maior parte do país. A maioria dos americanos não pode, na verdade, argumentar contra a terrível escolha da Belle.

Já acreditam que o sexo é para a recreação e não para a procriação. Aceitam que é perfeitamente natural uma mulher jovem e saudável dormir com tantos homens quantos queira, e que a universidade é a altura certa para engates descomprometidos. Quem se recusar a aceitar a promiscuidade é considerado antiquado.

A assunção comum é de que toda a gente pode ter relações sexuais com quem quiser, desde que seja consensual. O sexo é como o ténis, é divertido se for com um bom parceiro.

Seguindo essa lógica, se a Belle decidir ser paga pelo seu hobby, qual é o problema? Para o americano típico, porque é que a sua decisão de receber dinheiro difere da escolha de um jogador de basquete universitário de enveredar pelo profissionalismo?

Alguns dir-se-ão “ofendidos”, mas estão mesmo? Não. É só o factor nojo. É uma questão de snobismo e não de moral. Pensam que os actores pornográficos são gente rasca do lado errado de Los Angeles. Quando uma rapariga bonita, de classe média, se volta para a pornografia ficam chocados, não por causa da moral, mas porque consideram ser de mau gosto. Por outras palavras, não faz mal ela dormir com quem lhe apetecer, mas é feio fazê-lo com a câmara ligada e com o agente a contar os lucros.

A verdade inconveniente é que a esmagadora maioria dos americanos não tem qualquer razão inteligente e inteligível para não apoiar o “vale tudo” sexual. Pior, a maioria dos cristãos não tem qualquer razão válida para encorajar a castidade.

Durante gerações a única arma que os cristãos tinham contra a imoralidade sexual eram proibições baseadas na Bíblia e no medo. O sermão era algo como: “A Bíblia diz que não devias fornicar! Se o fizeres a rapariga vai-se meter em sarilhos. As boas meninas não fazem isso. Podes engravidar! Vais apanhar uma doença terrível e enlouquecer. Não faças isso.”

Miriam Weeks - "Belle Knox"
Com a melhoria dos cuidados de saúde e a invenção e aceitação de contracepção artificial os jovens passaram a ter respostas.

“Vais engravidar…”

“Ela toma a pílula”.

“Vais apanhar uma doença!”

“Penicilina.”

“A Bíblia diz que não se deve fornicar!”

“Isso era antes. Isto é agora”.

Os cristãos não podem fazer nada se não queixar-se e lamentar-se. Ninguém acredita neles. A Caixa de Pandora foi aberta e os males que saíram são demasiado apetitosos para serem presos de novo.

Os únicos cristãos que sugerem uma resposta coerente e consistente são os católicos, e o nosso argumento é simples e profundo.

A razão pela qual a Belle não se pode comportar como um monstro é porque ela não é um monstro. É filha de Deus. O seu sistema reprodutivo é desenhado para dar a vida, e não apenas prazer. A sua escolha de viver só para o prazer e não para a vida significa uma negação da vida, e quando se nega a vida, escolhe-se o seu contrário.

A teologia do corpo de João Paulo II ensina que cada alma humana está ligada a um corpo físico e que os nossos corpos são o meio através do qual experimentamos o eterno. O metafísico vive no físico e através do físico. Os nossos corpos são transceptores do transcendental.

Dito de forma simples, uma vez que os nossos corpos e as nossas almas estão interligados, o que fazemos com o nosso corpo afecta o estado da nossa alma. Só uma religião baseada nos sacramentos pode transmitir esta verdade. O protestantismo não serve.

Por isso é preciso fazer escolhas. O nosso destino como seres humanos é participar na beleza eterna. Cada escolha física pelo verdadeiramente belo conduz à Beleza final. Segue que, se escolhermos portar-nos como bestas com os nossos corpos, poderemos encontrar-nos, algum dia, no festim da Besta.


O livro mais recente do padre Dwight Longenecker’s é The Romance of Religion – Fighting for Goodness, Truth and Beauty. Visitem o seu blogue, folheiem os seus livros e contactem-no em dwightlongenecker.com

(Publicado pela primeira vez na Quinta-feira, 20 de Março de 2014 em The Catholic Thing)

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The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.

Tuesday, 25 March 2014

Bispo anti-máfia e mais 600 islamitas julgados

Não, são mesmo 600...
Hoje grande parte do mundo cristão assinala o dia da Anunciação. O dia indicado, por isso, para o Supremo Tribunal começar a ouvir argumentos num caso sobre contracepção e liberdade religiosa… algo a acompanhar. Entretanto, na sua missa de hoje o Papa recordou que a salvação não pode ser comprada.

Depois dos 529 condenados à morte de ontem, hoje o Egipto começa a julgar mais de 600 membros da Irmandade Muçulmana, incluindo o seu líder. Diz-se que a irmandade tem mais de um milhão de seguidores. A este ritmo…

O Papa Francisco nomeou um bispo conhecido pelas suas posições anti-máfia para escrever as suas meditações para a Via Sacra de Sexta-feira Santa.

Monday, 24 March 2014

Desastres naturais são castigo de Deus?

Houve um desenvolvimento importante este fim-de-semana com a nomeação de uma comissão do Vaticano para combater os abusos sexuais de menores. Metade dos membros da comissão são mulheres, uma das quais uma vítima de abusos.


Os desastres naturais são castigos de Deus? Até alguns bispos pensam que sim, às vezes. Foi o caso de um bispo filipino da diocese mais atingida pela tufão Haiyan. Mas depois concluiu que não, pelo contrário… vale a pena ler.

Foram hoje condenados à morte 529 membros da Irmandade Muçulmana, no Egipto. Um recorde. Pode haver recurso e apenas 123 estão actualmente detidos.

Nesta altura já não é novidade para ninguém que morreu Fernando Castro, fundador da Associação Portuguesa das Famílias Numerosas, mas em todo o caso gostava de partilhar convosco o texto que tive o privilégio de escrever sobre ele na quinta-feira passada.

Friday, 21 March 2014

Zakka no Céu, mafiosos no inferno

Memória eterna...

Morreu mais um patriarca. Inácio Zakka I Iwas, Patriarca de Antioquia e de Todo o Oriente, líder da Igreja Ortodoxa Siríaca tinha 81 anos.

A esta hora já andam por Lisboa os peregrinos da “Noite XL”, uma peregrinação especial, promovida pelos jesuítas.

Wednesday, 19 March 2014

Pais, filhos e multiculturalismo

Pai e filho
Hoje é dia do Pai. Parabéns a todos os pais! Meus e do meu amigo Papa Francisco.

Precisamente hoje, e porque para os católicos o Papa é também uma figura paternal, foi lançado um livro para crianças sobre Francisco que vale a pena conhecer.

E como não há pais sem filhos, a Renascença publicou uma série de reportagens sobre a natalidade. Temos então uma entrevista com Maria do Rosário Carneiro, cuja transcrição integral pode ser lida aqui, e que nos dá um sentido da urgência da questão.

Temos também uma entrevista com o colunista João Miguel Tavares, pai de quatro filhos e autor de um livro recente sobre o tema.

Saibam, por fim, o que é que os partidos prometeram sobre este assunto (e não cumpriram) e o que diferentes figuras políticas, sociais e eclesiásticas disseram sobre este assunto da natalidade.

Hoje é dia de artigo do The Catholic Thing. O padre James V. Schall pergunta se é possível haver multiculturalismo sem uma noção comum de verdade. É um tema muito importante e bem analisado aqui por Schall.

“Temos de nos sentir em segurança para nos reproduzirmos”

Ouve-se dizer que Portugal vive uma crise de natalidade. É verdade, ou exagero?
Suponho que não será exagero. Este ano nasceram 82 mil crianças, mais umas dezenas, num país onde tradicionalmente nasciam regularmente acima de 100 mil crianças. Portugal nunca foi um país de explosão demográfica, contrariamente ao que muitas vezes se ouve dizer. Sempre foi um país que tirando alguns momentos na sua história, em que teve explosão demográfica, mas são momentos muito circunscritos do ponto de vista histórico, regularmente no resto dos tempos teve um comportamento muito estável, de reprodução de gerações.

Actualmente verificamos que não há esta substituição, de uma forma muito preocupante porque estão a nascer cada vez menos crianças, o que significa um envelhecimento acelerado do país, combinado com o aumento da esperança média de vida, por isso temos aqui um problema que combinado torna-se bastante preocupante.

Os sucessivos governos prometem medidas de incentivo à natalidade, porque é que não parecem ter resultados?
Por várias razões. Porque é muito fácil falar.se de família e questões de natalidade e outras conexas, só de um ponto de vista proclamatório, isto é, indiciar, referir e com isso as pessoas ficam de alguma forma confortadas, porque uma parte fundamental da sua vida, que é a sua situação familiar está citada no discurso politico, por isso é qualquer coisa que é fácil acenar. Mas depois o que se verifica na prática é que não há uma real vontade política de intervir nesta matéria e não há vontade política por razões ideológicas, naturalmente, mas também por uma manifesta falta de visão estratégica do desenvolvimento de um país.

Outros países que olharam com atenção para as suas tendências demográficas, iniciaram, atempadamente, políticas que conduziram a uma recuperação lenta do crescimento demográfico. Estas recuperações levam sempre várias décadas. Citando o caso francês, foi mais que uma década, foi praticamente um século, as políticas que de um ponto de vista integrado procuraram promover o bem-estar e a segurança dos cidadãos no sentido de criar condições que levassem a ter uma predisposição a terem filhos levou um século a ter efeito.

Nos países nórdicos as políticas combinadas de várias áreas, levaram 15 a 20 anos a surtir efeitos. Significa que há uma visão estratégica do desenvolvimento de um país, porque olha não só para a quebra da natalidade, como uma tendência, mas também para outra tendência que é o aumento da esperança média de vida, de uma população que começa a modificar-se nas suas características e relativamente ao qual é necessário pensar-se com tempo, porque a predisposição para ter filhos não resulta de alterações conjunturais, radica no mais profundo da consciência humana e por isso tem a ver com uma sedimentação longa, maturada dessa mesma predisposição.

 Falou da necessidade de planear a longo prazo, há outras formas de socialmente tentar mudar a mentalidade dos casais e levá-los a querer ter mais filhos do que apenas os um ou dois que planeiam habitualmente?
Não acredito que seja possível... não se trata só de uma mentalidade, trata-se de uma convicção. E a convicção e as predisposições profundas das pessoas como é esta de se ter um filho, tem a ver com uma combinação complexa de factores, entre as quais, para além da conhecida matriz antropológica, de nos reproduzirmos porque se não nos reproduzirmos desaparecemos, mas para que isto aconteça tem de haver condições securitárias, para que aconteça. As espécies que se sentem ameaçadas não se reproduzem, isto é uma aprendizagem que se faz da natureza. Somos uma espécie que pertence a este espaço extraordinário que é o planeta e como espécie animal que somos temos essas mesmas características. Temos de nos sentir em segurança para nos reproduzirmos. É por isso que eu falava há pouco nesta visão estratégica, são medidas combinadas que contribuem para favorecer um ambiente em que as pessoas se sentem seguras para tomar as suas decisões. Neste caso concreto que estamos aqui a analisar, uma decisão tão profunda e complexa como é ter um filho.

Uma das vozes que se ouve muito nesta discussão é da Igreja. A Igreja Católica pede generosidade na abertura à vida. Existe na prática alguma diferença entre os católicos praticantes e outras secções da sociedade nesta questão?
Não sei. Teria de fazer uma análise aprofundada da informação estatística. Se não estou a fazer uma observação superficial, porque todos conhecemos alguns casais que são católicos e têm bastantes filhos, mas também conheço outros casais que não são católicos e também têm mais de dois filhos. Portanto não estou em condições, não tenho informação suficiente para lhe responder rapidamente a esta questão.

Não são só condições materiais que levam as pessoas a ter filhos, há outras condições, toda uma formação, um trabalho educativo do ponto de vista da relação. Há cerca de um mês, se não me engano, foram publicados os resultados de um estudo sobre correlações entre a literacia dos portugueses e a sua predisposição para preocupações de natureza social, para envolvimento em militâncias activas, na defesa da justiça e outras questões fundamentais. Curiosamente este estudo revelava que à medida que aumenta a literacia, reduz-se esta predisposição, o que naturalmente nos faz pensar como é necessário reflectir sobre o modelo educativo, ou o modelo de desenvolvimento humano das pessoas, porque leva-nos a pensar que esta dimensão social, de participação, não está suficientemente trabalhada e constituir família é uma dimensão de relação, em que a pessoa tem de ter uma capacidade de se relacionar dando e novo exercendo essa generosidade que referi há pouco.

Portanto temos aqui vários fenómenos combinados que têm de ser intervencionados se quisermos ver uma modificação deste comportamento para a natalidade. Naturalmente, e como colocava, quando falamos de católicos falamos de pessoas que têm um conjunto de valores informadores das suas opções individuais. Mas as pessoas vivem em contextos concretos, e portanto os princípios informadores, no exercício do que referiu, da paternidade e maternidade responsável, e daquilo que concorre e contribui para o que se pensa ser a maternidade e paternidade responsável, encontra fortes condicionantes depois nas envolventes da comunidade onde as pessoas se encontram.

Fala de uma estratégia a longo prazo, mas claro que isto começa com medidas imediatas, quanto mais cedo melhor. Se lhe perguntassem a si, quais as medidas que deviam ser tomadas pelo Governo no imediato?
Tem toda a razão no que diz, não se pode esperar nem mais um dia para se começar a tomar medidas concretas nesta área. Tendo-se claro a consciência que os seus efeitos vão ser a prazo. Diria que há vários blocos. Aquele que me vem logo à cabeça é a área fiscal. Diria que é a área em que as famílias são mais fortemente penalizadas. Há alguns dias ouvi um debate na rádio sobre esta questão e um senhor ligou para participar e disse que tinha cinco ou seis filhos e teve de trabalhar mais para dar uma vida com qualidade aos filhos. Como trabalhou mais ganhou mais, como ganhou mais, subiu de escalão no IRS. Eu diria que isto significa uma penalização das famílias.

As famílias, numa perspectiva de formulação de política, não têm de ser premiadas pelas opções que tomam na sua vida privada, isto é do número de filhos que querem ter, mas não podem ser penalizadas e o que acontece agora em Portugal é uma forte penalização do ponto de vista fiscal das famílias.

Falando desta questão, que é financeira, há todo um conjunto de questões que estão correlacionadas, que têm a ver com as deduções, mas têm também a ver com custos objectivos, porque há uma aplicação um pouco estranha, que nunca consegui compreender... É que se entendem as famílias numa lógica de economia de escala. Curiosamente as pessoas por viverem em contexto familiar valem substancialmente menos do que se fossem indivíduos singulares. De facto sabemos que duas pessoas custam menos, gastam menos vivendo juntas do que sozinhas, mas isso não nos permite fazer uma dedução abusiva de uma dita economia de escala ao grupo familiar, supondo que uma criança pode chegar a valer 0,5% de um adulto. Isto é completamente inaceitável. Estou a dar um exemplo extremo, porque não é situação sistemática, mas o custo de uma criança é um custo individual, intrínseco. Duas crianças custam duas crianças, não custam um bocadinho, uma não custa um bocadinho da outra porque cada uma tem as suas necessidades individuais.

Cito aqui coisas que são muito referenciadas, como a taxa da água, os custos de educação, etc. porque não é aqui aplicado um conceito de capitação, portanto da mesma forma que há penalização do ponto de vista fiscal, por causa dos salários, o rendimento mensal fica mais alto porque as famílias trabalham mais para ter maior capacidade para fazer face às suas necessidades, também gastam mais e este seu maior consumo é de novo penalizado como se tratasse de um uso exagerado de meios, quando se trata de um uso somado de muitas pessoas que coabitam.

Diria também que na área do trabalho, apesar de termos feito grandes avanços, na área das licenças parentais e de outro tipo de licenças, penso que se tem de pensar mais ainda sobre a questão da flexibilização do trabalho, de formas alternativas, de licenças combinadas, não penalizadoras de percursos profissionais. Em Portugal tivemos, e seria errado não o dizer, progressos significativos nesta matéria. Tem a ver com um enorme avanço que se processou na área da igualdade entre mulheres e homens, com um impacto significativo em toda a organização do trabalho, nomeadamente no que tem a ver com questões de conciliação da vida profissional e familiar.

Mas estamos ainda muito longe de ter as condições necessárias para, em liberdade e segurança, sem terem medo de perder o trabalho, ou sem terem medo de perder possibilidade de progressão na carreira, que as pessoas tenham de fazer as suas opções, em períodos determinados trabalharem menos horas, porque têm crianças mais pequenas, e uma multiplicidade muito grande de alternativas.

Também posso referir a área da habitação, que é uma área fatal do ponto de vista da organização familiar. É uma das grandes condicionantes. A habitação em Portugal é caríssima. O acesso à habitação é muito difícil. Não estou a falar agora na situação de crise em que nos encontramos, porque é tradicionalmente uma das maiores penalizações, ou um dos maiores obstáculos que as famílias em constituição encontram, o acesso à habitação. É muito caro, custa muito dinheiro, e quando as pessoas constituem família são muito novas e portanto os seus salários são mais baixos e por isso a habitação a que conseguem aceder é uma habitação mais pequena, onde caberá um filho.

Todo o conjunto de obstáculos que são colocados à mudança de habitação, quer em termos de alugar, quer em adquirir uma nova habitação, são de tal forma difíceis e constrangedores, que muitas das vezes as famílias que gostariam, como em grande parte dos inquéritos que vemos sobre este assunto as pessoas gostariam de ter mais filhos, perante o conjunto de dificuldades que encontram, desistem.

Diria também que há uma outra questão, a perspectiva universal, isto é, as políticas que têm a ver com a promoção de condições para as famílias, e aqui insiro este objectivo actual que é a criação de condições que promovam a natalidade, tem de ser de carácter universal, para todas as famílias.

As políticas que promovem condições favoráveis para que as famílias se organizem, se organizem em liberdade, em estabilidade, segurança e que tenham a dimensão que entendem que devam ter, são para todas as famílias, não são políticas de compensação de rendimentos, não são políticas assistencialistas, esse é um outro pacote de políticas. É completamente errado pensar-se que, quando olhamos para esta área de intervenção, olharmos unicamente para o grupo dos que menos têm.

O apelo que se faz é a toda uma comunidade. Naturalmente as políticas devem ser diferenciadas em relação aos rendimentos e às necessidades, mas nenhuma pode ser excluída porque nenhuma é dispensável nesta construção colectiva da comunidade.

Multiculturalismo

James V. Schall
A noção moderna de que todas as culturas e nações podem, e devem, viver juntas em harmonia requer uma destas duas proposições:
a) uma visão comum sobre as bases da virtude e da verdade ou,
b) a eliminação de qualquer diferença entre bem e mal, verdade e falsidade.

O “multiculturalismo”, em si uma construção mental, é o que acontece quando a alternativa b é aceite, não como “verdadeira”, mas como “prática”, com a qual se pode “trabalhar”.

As culturas, porém, não são filosófica e moralmente neutras. Dentro de cada uma podem-se encontrar certas configurações de hábitos, leis e costumes bons ou maus. Em épocas anteriores, apesar de ter havido migrações massivas, era difícil passar de um país para outro. Cada cultura determinava as normas segundo as quais tencionava viver.

Quando grandes números de pessoas podem emigrar, legal ou ilegalmente, para outros países, trazem consigo práticas culturais. As pessoas emigram para alcançar os seus “direitos”, aquilo que lhes é “devido”. Ao ir para outra cultura, uma vez que todas são iguais, ninguém pode ser obrigado a mudar os seus hábitos, língua, religião ou costumes. Toda a gente tem o “direito” a estabelecer no seu novo ambiente, o sistema que abandonou.

A visão contrária, assimilacionista, contudo, defende que quando alguém parte para outro país, deve tornar-se membro da nova sociedade, aprender a língua, as maneiras e os costumes. A razão pela qual o emigrante escolheu este novo país ou cultura é porque pensa que ela é melhor que a que abandonou. Esta visão parte do princípio que alguns regimes são melhores que outros. O propósito dos estados e das nações é de providenciar um lugar onde cada um pode viver a sua “verdade”, independentemente de como outros possam viver. Esta visão implica o poder de proteger a sua própria política.

Há quem defenda que todos os problemas do mundo são problemas locais. Se há um problema de tirania e de pobreza num país, ou numa área, então isso é da responsabilidade de todos. Todos os problemas são, desse ponto de vista, internacionais. Esta posição implica que de facto apenas existe um Estado mundial no qual todos os cidadãos têm “direitos” idênticos. Impostos, exércitos, polícias, leis e costumes devem adequar-se a uma ideia comum de cultura. Os verdadeiros inimigos são aqueles que defendem que a verdade, seja pela razão ou pela revelação, é possível. A paz apenas chegará ao mundo quando estas ideias forem eliminadas, a “verdade” oficial é que de que não existe verdade.

Daí que tanto os governos nacionais e mundiais devem garantir esses “direitos” estabelecidos. Basicamente, temos de nos livrar de todas as instituições e ideias que defendem que existe uma verdade transcendente. Temos de eliminar, sistematicamente, da ordem pública, e em nome dos “direitos”, todas as afirmações que radicam na ideia de uma “natureza” humana universal. Ideias como de que a família é uma instituição “natural”, composta por um homem, uma mulher e crianças; de que a distinção dos sexos significa algo, que o aborto está errado, e que não devemos reconfigurar o homem à nossa vontade devem ser declaradas “anti-humanas” e proscritas.
 
"Que é a verdade?"
 “O homem contemporâneo não pode ser definido pela ausência de referências morais”, escreve Chantal Delsol em “Icarus Fallen”:

“Mas pela rejeição do Mal e uma apologética do Bem que são consideradas evidentes e desligadas de qualquer ideia de uma verdade objectiva que as legitime. Não seria correcto, porém, ver nesta atitude uma incapacidade da mente descobrir as suas fundações. Pelo contrário, esta atitude significa uma recusa a procurar sequer estas fundações, por medo de as descobrir. O homem contemporâneo postula não um vazio de verdade, mas o perigo da verdade.”

E qual é o “perigo” da verdade? É de que a verdade existe e serve de medida para as nossas acções e pensamentos.

Neste sentido, todo o projecto multicultural de permitir tudo, com o Estado a servir de garante deste “direito” a tudo, atinge a incoerência. O único tipo de multiculturalismo que é possível é aquele que reconhece a ordem transcendente. Um multiculturalismo que a nega acaba por estabelecer e aplicar uma ordem mundial em que apenas aquilo que é objectivamente verdade é proibido. O “medo” é precisamente de que a verdade existe. A recusa em procurar esta verdade recorda-nos a cena em Górgias, de Platão, em que o político se recusa a ouvir um argumento, para não ser obrigado a admitir a sua lógica.

O “mal” que o multiculturalismo recusa é o “mal” que afirma a existência da verdade. A verdade não é “vazia”, a sua abundância é rejeitada. Existem maneiras de viver correctas, que se aplicam a todas as culturas. Esta afirmação não implica a existência de um só estado ou de uma só língua, pelo contrário. Mas implica, isso sim, uma distinção objectiva entre o bem e o mal, a verdade e a falsidade, em todas as culturas. Esta é a verdade que está na raiz do espírito transcendente que se encontrava inicialmente na filosofia grega, no direito romano e na revelação cristã.


James V. Schall, S.J., é professor na Universidade de Georgetown e um dos autores católicos mais prolíficos da América. O seu mais recente livro chama-se The Mind That Is Catholic.

(Publicado pela primeira vez na Terça-feira, 18 de Março de 2014 em The Catholic Thing)

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The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.

Tuesday, 18 March 2014

Thursday, 13 March 2014

D. José Policarpo RIP

A notícia do dia é, obviamente, a morte de D. José Policarpo.

Há demasiadas notícias para linkar, claro, mas está tudo disponível em www.rr.pt.

Aproveito apenas para alertar para duas reportagens da minha autoria que mostram uma faceta que a maioria de nós não conhecia. O último padre ordenado por D. José recorda um homem “sensível à arte e à beleza”.

Temos também Teresa Novo, membro da Equipa de Nossa Senhora que D. José acompanhou durante 46 anos e para quem o cardeal era um amigo próximo e descontraído.


A morte de D. José relegou para segundo plano, em Portugal, o aniversário do pontificado de Francisco, mas também temos reportagens sobre isso. Três especialistas de comunicação falam do sucesso mediático do Papa e Pedro Mexia avisa que quem espera mudanças de doutrina vai ficar desiludido.


Noutras notícias, depois de há três meses termos dito que o arcebispo Nienstedt, nos EUA se ter suspenso a si mesmo de funções após uma acusação de abusos sexuais, ficámos a saber agora que o processo foi arquivado por falta de provas.


Amanhã não haverá mail, mas saibam que podem acompanhar tudo sobre o funeral do Patriarca Emérito no site e na antena da Renascença

Wednesday, 12 March 2014

Punks casados e com filhos e judeus zangados com a tropa

A alegre fúria dos ultra-ortodoxos
Ontem estive de serviço a cobrir a conferência com que a Renascença, Ecclesia e UCP assinalaram o aniversário da eleição do Papa Francisco.

Foram três painéis interessantíssimos, começando com uma intervenção de Adriano Moreira, que contextualizou a acção do Papa e identificou a sua “pesada herança de fazer prevalecer o poder da palavra contra a palavra dos poderes”.

Depois houve intervenções de Bruto da Costa, Margarida Neto e Manuel Fúria, que considerou que ser punk, hoje em dia, é casar e ter filhos. Vale a pena ler!

Por fim a análise de Aura Miguel, Octávio Carmo, Pedro Mexia e Henrique Monteiro sobre o fenómeno da popularidade de Francisco, muito interessante.

Fiquem atentos que amanhã haverá ainda muitos outros trabalhos a publicar na Renascença.

De hoje duas notícias: o facto de Israel ter abolido a isenção do serviço militar obrigatório para os ultra-ortodoxos e um alerta para a “Semana Inaciana” no Colégio das Caldinhas, em Santo Tirso.

Quarta-feira é dia de artigo do The Catholic Thing, hoje dedicado à pornografia, um dos flagelos dos nossos tempos.

Um Bispo Valente Denuncia a Pornografia

Austin Ruse
Não me recordo daquele momento eléctrico em que vi pornografia pela primeira vez, mas lembro-me como em miúdos, no início dos anos 60, éramos obcecados pelas imagens da Playboy.

Lembro-me como tudo isso parecia normal entre os adultos, embora não entre os meus pais. Uma vizinha perguntou uma vez se o meu pai queria trocar uns romances pelas Playboys do seu marido, que estava doente e não tinha nada para ler. O meu pai recusou, mas como é que eu sabia sequer disso? Eu escondo a própria existência desse tipo de coisa das minhas filhas.

Lembro-me que um dos meus amigos roubava Playboys ao seu pai e nós escondíamo-las no mato. Que rapaz de certa idade não se lembra de folhear revistas dessas, húmidas de terem estado escondidas debaixo de troncos e árvores? Lembro-me do cheiro.

Lembro-me de ter ficado de castigo quando a minha mãe descobriu um “Playboy: Entretenimento para Rapazes” mal desenhado, que eu tinha feito e agrafado para mostrar aos amigos. O castigo ficou a cargo do meu pai, mas não me lembro se levei com o cinto ou se apanhei o sermão do desapontamento.

Estes pensamentos, e outros, voltaram recentemente quando li o início da Carta Pastoral do bispo Paul Loverde, de Arlington, Virginia. Será publicada oficialmente na Festa de São José, o que é apropriado porque a carta enfatiza que o pai tem responsabilidade de proteger a sua família do flagelo da pornografia. Esta é a sua segunda carta pastoral sobre pornografia e, tanto quanto sei, apenas a terceira de qualquer bispo americano, sendo a outra da autoria do bispo Robert Finn, de Kansas City.

Num livro sobre este assunto Matt Fradd conta como, ao procurar numa arca de coisas antigas na garagem de um parente, encontrou “uma fotografia lustrosa de uma mulher completamente nua. Suspirei, parecia que o meu coração tinha parado – nunca tinha visto nada assim”. Diz que sentiu fascínio e depois remorso.

Não foi assim que tantos de nós entrámos em contacto com estas coisas?

Durante anos Fradd viu cada vez mais destas imagens. Escreve que “comecei a compreender que quando maridos e pais usam pornografia, não só se tornam escravos do pecado, mas ferem profundamente a sua habilidade de amar e proteger, da forma como a sua vocação exige”.

O final feliz de Fradd, depois de anos de luta, não é a norma hoje em dia, porque o mundo está imerso em pornografia. Aquelas primeiras imagens digitais atingem os jovens cérebros e continuam a escravizá-los, até depois do casamento e do começo da vida familiar. Os casamentos e as famílias são destruídas por elas.

O bispo Loverde é um verdadeiro pastor por publicar uma segunda edição de “Bought with a Price (edição Kindle)”:

“Nos meus quase cinquenta anos de padre vi o mal da pornografia a espalhar-se como uma praga através da nossa cultura. Aquilo que era o vício vergonhoso e ocasional de poucos tornou-se agora o entretenimento usual de muitos... A praga persegue a alma de homens, mulheres e crianças, dilacera os laços do casamento e vitimiza os mais inocentes de entre nós. Obscurece e destrói a habilidade das pessoas de se verem umas às outras como uma expressão bela e única da criação de Deus, em vez disso escurece a sua visão, levando-os a ver os outros como objectos a serem usados e manipulados.”

Bispo Paul Loverde
Elenca a ameaça, bem conhecida de todos os que já foram consumidores de pornografia ou que simplesmente estão a par do seu alcance e da sua profundidade. Mas acrescenta: “Talvez o pior, contudo, seja a forma como a pornografia danifica o modelo que o homem tem do sobrenatural. A nossa visão natural neste mundo é o modelo para a visão sobrenatural do próximo. Quando danificamos este modelo, como é que vamos compreender essa realidade?” A nossa visão sobrenatural é danificada pelo mau uso da nossa visão natural.

A carta é endereçada a todas as pessoas da sua diocese, mas esperamos que pelo menos os seus fiéis católicos leiam este documento tão importante: novos, solteiros, casados, padres e religiosos: “Ninguém que viva na nossa cultura se pode separar do flagelo da pornografia. Todos são afectados em maior ou menor grau, mesmo aqueles que não participam directamente no seu uso.”

Penso nas minhas filhas e pergunto-me quantas das amigas da sua escola católica vêm de uma família com um problema escondido de pornografia? Sinto que seria capaz de matar qualquer pessoa de qualquer idade que mostrasse às minhas filhas as imagens terríveis que estão ao alcance de alguns toques em qualquer iPhone hoje em dia.

O bispo Loverde analisa a fundo aquilo a que chama “Quatro Falsos Argumentos”; 1) Não há vítimas, 2) o uso moderado da pornografia pode ser terapêutico, 3) a pornografia é um auxílio na maturação, e 4) a oposição à pornografia tem por base o ódio ao corpo.

Entre as vítimas, aponta Loverde, está a dignidade dos “artistas” pornográficos que frequentemente são os “necessitados” e os “vulneráveis”, incluindo os “pobres, abusados e marginalizados, até crianças”, que são transformadas em meros objectos. O uso da pornografia desumaniza quem vê e corrói a família. Um pai é suposto proteger a família, mas através da pornografia permite a entrada daquilo a que Loverde chama “uma serpente” que rasteja por entre a sua mulher e filhos.

“Bought with a Price” é um documento de ensino formidável de um dos melhores bispos dos nossos tempos. Outros bispos tendem a estar mais no centro das atenções, enquanto Loverde faz os possíveis para manter a ortodoxia e a fé dos que lhe foram confiados.

O seu apelo eloquente merece ser lido e estudado por homens, sobretudo pelos seus filhos – os mesmos filhos que um dia virão bater-me à porta, à procura das minhas filhas.

São José, rogai por nós.


Austin Ruse é presidente do Catholic Family & Human Rights Institute (C-FAM), sedeado em Nova Iorque e em Washington D.C., uma instituição de pesquisa que se concentra unicamente nas políticas sociais internacionais. As opiniões aqui expressas são apenas as dele e não reflectem necessariamente as políticas ou as posições da C-FAM.

(Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing na Sexta-feira, 07 de Março de 2014)

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