Tuesday, 10 December 2013

A Alegria do Evangelho - O Perdão

Para quantos estão feridos por antigas divisões, resulta difícil aceitar que os exortemos ao perdão e à reconciliação, porque pensam que ignoramos a sua dor ou pretendemos fazer-lhes perder a memória e os ideais. Mas, se virem o testemunho de comunidades autenticamente fraternas e reconciliadas, isso é sempre uma luz que atrai. Por isso me dói muito comprovar como nalgumas comunidades cristãs, e mesmo entre pessoas consagradas, se dá espaço a várias formas de ódio, divisão, calúnia, difamação, vingança, ciúme, a desejos de impor as próprias ideias a todo o custo, e até perseguições que parecem uma implacável caça às bruxas. Quem queremos evangelizar com estes comportamentos? (#100)
Este é um tema que me é particularmente caro e à volta do qual elaborei a minha tese de mestrado, por isso interessa-me particularmente. Quanto mais experiência tenho, mais acredito que o conceito cristão de perdão (que é diferente do judaico e do muçulmano), é uma das coisas mais “revolucionárias” que Cristo trouxe ao mundo. Hoje em dia partimos do princípio que devemos perdoar, mesmo que não o façamos, mas isso nem sempre foi assim e não é assim noutras culturas.

O Papa faz bem em ir directamente à ferida. Falar de perdão é fácil e bonito, mas custa quando somos a parte ofendida e todos esperam de nós essa atitude, quando nós nos sentimos merecedores de uma boa dose de vingança, ou pelo menos ressentimento.

O que Francisco nos está a dizer é que esse ressentimento não só nos mata por dentro, como é antievangélico. Uma comunidade de pessoas que se perdoam uns aos outros é muito mais “sedutora” que uma comunidade em que todos guardam ódiozinhos de estimação uns pelos outros.

A receita, diz o Papa, está em ser humilde até nas nossas orações. Não esperemos logo um coração capaz de amar como Cristo amou... sejamos mais modestos, basta rezar assim:

Pelo menos digamos ao Senhor: «Senhor, estou chateado com este, com aquela. Peço-Vos por ele e por ela». Rezar pela pessoa com quem estamos irritados é um belo passo rumo ao amor, e é um acto de evangelização. Façamo-lo hoje mesmo. (#101)


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