Tuesday, 3 December 2013

A Alegria do Evangelho - Dignidade humana

Na secção sobre a Evangelização já escrevi sobre a importância do conceito cristão de um Deus pessoal, de um Deus de relação. Isto tem uma consequência lógica que revolucionou o mundo. Não é exagero. Revolucionou mesmo. Nunca mais nada foi igual.

Se Deus nos ama a cada um, individualmente, é porque cada um é “amável” por Deus. Não há maior dignidade. Todos somos infinitamente dignos pelo mero facto de sermos. Não é pelo que fazemos, pelo que conquistamos ou pelo que iremos ser. É por sermos.

Ninguém nos pode tirar a dignidade que este amor infinito e inabalável nos confere. (#3)
Ninguém significa mesmo ninguém. Nem nós mesmos. Isto é muito importante.

A crise financeira que atravessamos faz-nos esquecer que, na sua origem, há uma crise antropológica profunda: a negação da primazia do ser humano. (#55)

A Igreja deverá iniciar os seus membros – sacerdotes, religiosos e leigos – nesta «arte do acompanhamento», para que todos aprendam a descalçar sempre as sandálias diante da terra sagrada do outro (#169)
Esta é uma passagem lindíssima. A “terra sagrada” do outro. Pensamos nisto quando estamos no metro? No autocarro? O outro não é opositor e concorrente. É terra sagrada, diante da qual nos devíamos descalçar...

Confessar que o Filho de Deus assumiu a nossa carne humana significa que cada pessoa humana foi elevada até ao próprio coração de Deus. Confessar que Jesus deu o seu sangue por nós impede-nos de ter qualquer dúvida acerca do amor sem limites que enobrece todo o ser humano. (#178)

Sempre me angustiou a situação das pessoas que são objecto das diferentes formas de tráfico. Quem dera que se ouvisse o grito de Deus, perguntando a todos nós: «Onde está o teu irmão?» (Gn 4, 9). Onde está o teu irmão escravo? Onde está o irmão que estás matando cada dia na pequena fábrica clandestina, na rede da prostituição, nas crianças usadas para a mendicidade, naquele que tem de trabalhar às escondidas porque não foi regularizado? Não nos façamos de distraídos! (#211)

Entre estes seres frágeis, de que a Igreja quer cuidar com predilecção, estão também os nascituros, os mais inermes e inocentes de todos, a quem hoje se quer negar a dignidade humana para poder fazer deles o que apetece, tirando-lhes a vida e promovendo legislações para que ninguém o possa impedir (...) esta defesa da vida nascente está intimamente ligada à defesa de qualquer direito humano. Supõe a convicção de que um ser humano é sempre sagrado e inviolável, em qualquer situação e em cada etapa do seu desenvolvimento. É fim em si mesmo, e nunca um meio para resolver outras dificuldades. Se cai esta convicção, não restam fundamentos sólidos e permanentes para a defesa dos direitos humanos, que ficariam sempre sujeitos às conveniências contingentes dos poderosos de turno. Por si só a razão é suficiente para se reconhecer o valor inviolável de qualquer vida humana, mas, se a olhamos também a partir da fé, «toda a violação da dignidade pessoal do ser humano clama por vingança junto de Deus e torna-se ofensa ao Criador do homem». (#213)
Falo desta passagem mais à frente. Aqui não me preocupa tanto o facto de se falar do aborto ou não, mas sim a justificação. O aborto não é mau porque o nascituro é um coitadinho inocente. A inocência agrava, mas não é o dado fulcral. Mais que inocente, o nascituro é dotado de uma dignidade que não temos o direito de violar. E as consequências do atropelamento disto são terríveis e de longo alcance. “Se cai esta convicção, não restam fundamentos sólidos e permanentes para a defesa dos direitos humanos, que ficariam sempre sujeitos às conveniências contingentes dos poderosos de turno” Bingo.

Independentemente da aparência, cada um é imensamente sagrado e merece o nosso afecto e a nossa dedicação. Por isso, se consigo ajudar uma só pessoa a viver melhor, isso já justifica o dom da minha vida. É maravilhoso ser povo fiel de Deus. (#274)

Vale a pena dar a vida, esta minha vida que é o resultado de tanto esforço, de tantos sacrifícios, de tanta gente, por apenas uma outra pessoa. Porque ela é, e mais uma vez a belíssima linguagem, “imensamente sagrada”. Imensamente.

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