Num
artigo
do ano passado falei de “apóstatas” do Islão como Nonie Darwish, que
afirmavam que a democracia, no sentido ocidental do termo, é uma
impossibilidade em países de maioria islâmica, porque as leis da “sharia” devem
sempre ter precedência sobre as outras. Os golpes de Estado e as ditaduras
podem trazer períodos mais calmos, como aconteceu sobretudo na Turquia, mas há
sempre uma corrente forte de insatisfação entre muçulmanos observantes para com
estadistas relativamente “seculares” como Kemal Ataturk, Hosni Mubarak no
Egipto, Zine el Abidine Ben Ali da Tunisia e Moammar Gaddafi na Líbia.
Existe
uma analogia no Cristianismo para esta “primazia da Sharia” islâmica, que tem
as suas raízes na resposta que Pedro dá às autoridades que lhe ordenaram a
deixar de pregar Cristo: “Importa mais obedecer a Deus do que aos homens”
(Actos 5, 29). Este padrão é recorrente ao longo da história do Cristianismo –
cristãos que se recusam a adorar deuses pagãos; cristãos executados por se
recusar a dizer “Não há outro Deus que não Alá e Maomé é o seu profeta”;
pacifistas cristãos a recusarem-se a ir para a guerra e, actualmente, várias
entidades cristãs a resistir ao mandato da administração Obama que os visa
obrigar a fornecer seguros de saúde aos seus funcionários que cubram
contraceptivos, esterilizações e serviços abortivos.
De
forma semelhante, “seguir a sharia”, para muçulmanos observantes, diz respeito
a “obedecer a Deus mais do que aos homens”. Mas o significado é muito
diferente. Ignora as normas que se têm desenvolvido na civilização cristã sobre
escravatura, direitos de mulheres e de crianças e a liberdade religiosa. Quando
os muçulmanos estão no poder, sharia implica a subordinação de judeus e cristãos
e outros infiéis; o direito à escravatura sexual e a crianças-noiva; estatuto
legal mínimo para infiéis e para mulheres (incluindo mulheres muçulmanas); a
proibição de igrejas cristãs e até de símbolos cristãos como crucifixos; e a
proibição, incluindo pena de morte, para a apostasia do Islão ou até para
críticas ao Islão e a Maomé.
As
leis da Sharia até encorajam aquilo que Jesus profetizou: “Sereis expulsos das
sinagogas; há-de chegar mesmo a hora em que quem vos matar julgará que presta
um serviço a Deus!” (Jo. 16,2). Cristãos que recusam converter-se são mortos em
nome de Alá, frequentemente ao som de “Allahu Akbar”. O Sheikh Abu Ishaq
al-Huwaini, um pregador salafista no Egipto, não tem qualquer pejo em afirmar:
“Se alguém impedir o nosso dawa [convite à conversão] ou se colocar no nosso
caminho, então devemos matá-los, ou levá-los reféns e confiscar os seus bens,
mulheres e crianças.”
Em
“Crucified
Again: Exposing Islam’s New War on Christians”, Raymond Ibrahim documenta a
perseguição massiva de Cristãos, agora exacerbada devido à “Primavera Árabe”,
que os media têm transmitido, de forma ingénua, como um arauto do advento
iminente da democracia no Médio Oriente.
Há
anos que Ibrahim se dedica a traduzir informação recolhida de fontes de língua
árabe, transmitindo-os aos media americanos e de outros locais. As suas
reportagens frequentemente não entram nos principais órgãos de informação nos
Estados Unidos, a não ser que sejam demasiado espectaculares para ignorar, como
o massacre de Outubro de 2010 numa Igreja de Bagdade em que morreram uns 58
cristãos. Contudo, em 2012, ele conseguiu, com base em relatos árabes, expor o
facto de que Islamistas ligados à al-Qaeda estavam a ameaçar atacar embaixadas
americanas a não ser que a América libertasse o “sheikh cego” e vários outros
presos, três dias antes dos ataques à embaixada americana em Benghazi.
Cristãos de luto por vítimas de massacre no Iraque |
Em todo o lado e
sempre que os Muçulmanos estão no poder, ou conquistam mais poder, as Igrejas
são proíbidas, queimadas, bombardeadas, enquanto Bíblias e crucifixos são
confiscados e destruídos. A liberdade de expressão – falar de forma favorável
sobre o Cristianismo ou de forma crítica em relação ao Islão – é negada,
frequentemente sob pena de morte.
De
acordo com Ibrahim, a situação no Egipto tem-se tornado particularmente severa.
Durante as eleições presidenciais, Mohammed Morsi deu uma ideia clara da sua
agenda enquanto Presidente: “O Alcorão é a nossa constituição, o Profeta é o
nosso líder, a jihad é o nosso caminho e a morte em nome de Alá é o nosso
objectivo”. Raptos e massacres de cristãos em Maspero, Luxor e outros lados,
nalguns casos filmados e transmitidos no YouTube, foram seguidos, nas últimas
semanas, pela queima de pelo menos 44 igrejas e a pilhagem de vinte
instituições cristãs no Egipto.
A
revolta síria não tem sido muito melhor. Na cidade de Homs, que anteriormente
tinha uma população de 80 mil, o último cristão foi morto em 2012. Ibrahim cita
uma entrevista a rebeldes muçulmanos, de Dezembro de 2012, que deixou chocado o
entrevistador Tim Marshall:
Marshall
perguntou aos quatro jihadistas sobre o future das minorias cristãs na Síria e
Ahmed, Basah e Hamid Hassan concordaram todos – os Cristãos apenas poderiam
viver lá se se convertessem ou pagassem a “Jizyah” – um imposto especial
cobrado a não muçulmanos nos tempos passados no Médio Oriente. Caso contrário,
disse Bahar, podiam ser mortos. Quando ele lhes perguntou porquê a resposta foi
simples: porque o Profeta Maomé assim ordenara. Depois convidaram-me a aderir
ao Islão.
Episódios
destes são frequentemente ignoradaos no Ocidente. Quando a mais alta autoridade
religiosa na Arábia Saudita, Abdulaziz ibn Abdullah Al al-Sheikh, o grão mufti
do Reino da Arábia Saudita, declarou que “é necessário destruir todas as
Igrejas na Península Arábica”, os media ocidentais não acharam que isso merecesse
ser relatado. Já a resposta da Casa Branca ao massacre de Maspero foi pedir
“calma a todas as partes”.
A
Comissão dos Estados Unidos para a Liberdade Religiosa Internacional recomendou
a Hillary Cllinton que o Departamento de Estado colocasse o Egipto na lista de
“países de preocupação particular” por causa do assassinato de cristãos e a
conversão forçada de jovens cristãs raptadas, mas ela recusou. Entretanto a
mais recente escolha para o Conselho dos Direitos Humanos da ONU é o Presidente
Omar al-Bashir, famoso por matar milhões durante os seus esforços para impor a
Sharia no Sudão.
O
Ocidente pode não querer ver, mas esta história continua e está longe do fim.
Howard
Kainz é professor emérito de Filosofia na Universidade de Marquette University.
Os seus livros mais recentes incluem Natural Law: an Introduction and
Reexamination(2004), The Philosophy of Human Nature (2008), e The
Existence of God and the Faith-Instinct (2010)
(Publicado
pela primeira vez em The
Catholic Thing na Quinta-feira, 22 de Agosto de 2013)
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