Wednesday, 31 October 2012

Anjos: Mensageiros das orações

Joel J. Miller
A palavra anjo vem do grego para “mensageiro” e segundo as Escrituras e muitos dos primeiros autores cristãos, essa será mesmo uma das suas principais funções, serem correios das nossas orações.

Tanto os arcanjos Rafael como Gabriel identificam-se como anjos que permanecem na presença do Senhor. Rafael explica o sentido deste posto no 12º capítulo do livro de Tobit, dizendo que “apresentam as orações dos justos” e explicando a Tobit e a Tobias que “apresentava as vossas orações diante da glória do Senhor”.

O Papel de Gabriel é idêntico, daí que o vejamos no livro de Daniel a levar mensagens para aqui e para acolá. Ao pesquisar para um livro que escrevi sobre como os primeiros cristãos compreendiam os anjos, encontrei os textos de Afraat o Persa, que se refere frequentemente a Gabriel como “o anjo que apresenta as nossas orações”.

Esse livro, “Lifted by Angels”, conta-nos mais histórias sobre Rafael e Gabriel relacionadas com anjos. Todos os anjos – incluindo os nossos anjos da guarda – comunicam a Deus as nossas orações e dificuldades.

Jesus faz uma afirmação marcante a este respeito em Mateus 18. Colocando uma criança no meio dos discípulos, avisa: “Livrai-vos de desprezar um só destes pequeninos, pois digo-vos que os seus anjos, no Céu, vêem constantemente a face de meu Pai.”

Por outras palavras, não pensem que conseguem molestar os indefesos sem consequência. Os seus anjos da guarda farão com que Deus tome conhecimento. E se o exemplo parece ser negativo, pensem só no consolo que representa para a criança.

O Apocalipse de São João dá-nos outra bela imagem deste serviço angélico: “Veio, então, outro anjo com um turíbulo de ouro e deteve-se junto do altar. Deram-lhe muitos perfumes para oferecer com as orações de todos os santos, sobre o altar de ouro que está diante do trono. E, da mão do anjo, o fumo dos perfumes subiu diante de Deus, juntamente com as orações dos santos.”

Notem que a passagem não fala só de um anjo a apresentar as nossas orações, fala também de como ele as enriquece, engrandecendo-as e amplificando as nossas súplicas. O anjo do capítulo 8 do Apocalipse junta incenso aos nossos pedidos, melhorando as nossas orações e juntando as suas.

Manuscrito etíope com representação de anjos
Mas há mais. Para além de engrandecer e enriquecer as nossas orações, os anjos tornam suas as nossas preocupações – tal como faz o anjo das crianças, pelas palavras de Jesus. Recordem-se que Rafael “recorda” Deus das orações das pessoas. Ele quer ter a certeza de que Deus está bem ciente das suas necessidades e assume a responsabilidade de cuidar das pessoas a quem é atribuído. Os anjos estão ao nosso lado nisto tudo.

Orígenes, outro antigo autor cristão, fala disto num curto texto sobre a oração. Diz ele que o nosso anjo “reza connosco e age connosco, tanto quanto possível, no que diz respeito aos assuntos sobre os quais rezamos”.

De vez em quando a nossa situação pode merecer reforços, e Deus providencia, explica Orígenes: “Por vezes a presença dos anjos junta-se por alguém que está a rezar, para que possam associar-se e dar voz ao pedido que está a fazer”.

Mas os anjos nem sempre estão disponíveis para levar as nossas orações. Às vezes rejeitam-nas, como se tivessem defeitos. Afraat diz que quando estamos zangados ou de má vontade para com o nosso próximo, as nossas orações são como uma oferenda impura: “Gabriel não a quer levar da Terra porque, sob inspecção, encontrou nela alguma mancha”.

Antes de colocar a nossa oração no turíbulo diante do trono de Deus, Gabriel insiste que façamos as pazes com o nosso próximo, fazendo eco das palavras de Jesus sobre este mesmo assunto em Mateus 5.

Há quem não goste da ideia de rezarmos através de intermediários. Penso que a preocupação é desnecessária. Dizer que os anjos oferecem as nossas orações não significa que Deus não nos ouça directamente.

O bispo, e monge, do sétimo século, Isaac o Sírio, diz que a vontade eterna de Deus “antecipa as orações”. As nossas esperanças e petições estão na mente de Deus antes sequer de nós as concebermos, tal como Jesus diz em Mateus 6. Ele não está a espera que surja o mensageiro.

Independentemente disso, Deus escolheu recorrer a meios adicionais e deu aos anjos um papel intermediário e intercessoro nas nossas vidas. Não é por isso que está menos envolvido. Os anjos são simplesmente uma parte graciosa e providencial que Deus encontrou para marcar presença nas nossas vidas.


Joel J. Miller é um novo colunista para The Catholic Thing e autor de Lifted By Angels: The Presence and Power of Our Heavenly Guides and Guardians, que explora as histórias dos anjos nas escrituras e nos primeiros textos cristãos. Podem visitar o seu site em joeljmiller.com

(Publicado pela primeira vez em www.thecatholicthing.com no Domingo, 28 de Outubro de 2012)

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