Anjos: Mensageiros das orações

Joel J. Miller
A palavra anjo vem do grego para “mensageiro” e segundo as Escrituras e muitos dos primeiros autores cristãos, essa será mesmo uma das suas principais funções, serem correios das nossas orações.

Tanto os arcanjos Rafael como Gabriel identificam-se como anjos que permanecem na presença do Senhor. Rafael explica o sentido deste posto no 12º capítulo do livro de Tobit, dizendo que “apresentam as orações dos justos” e explicando a Tobit e a Tobias que “apresentava as vossas orações diante da glória do Senhor”.

O Papel de Gabriel é idêntico, daí que o vejamos no livro de Daniel a levar mensagens para aqui e para acolá. Ao pesquisar para um livro que escrevi sobre como os primeiros cristãos compreendiam os anjos, encontrei os textos de Afraat o Persa, que se refere frequentemente a Gabriel como “o anjo que apresenta as nossas orações”.

Esse livro, “Lifted by Angels”, conta-nos mais histórias sobre Rafael e Gabriel relacionadas com anjos. Todos os anjos – incluindo os nossos anjos da guarda – comunicam a Deus as nossas orações e dificuldades.

Jesus faz uma afirmação marcante a este respeito em Mateus 18. Colocando uma criança no meio dos discípulos, avisa: “Livrai-vos de desprezar um só destes pequeninos, pois digo-vos que os seus anjos, no Céu, vêem constantemente a face de meu Pai.”

Por outras palavras, não pensem que conseguem molestar os indefesos sem consequência. Os seus anjos da guarda farão com que Deus tome conhecimento. E se o exemplo parece ser negativo, pensem só no consolo que representa para a criança.

O Apocalipse de São João dá-nos outra bela imagem deste serviço angélico: “Veio, então, outro anjo com um turíbulo de ouro e deteve-se junto do altar. Deram-lhe muitos perfumes para oferecer com as orações de todos os santos, sobre o altar de ouro que está diante do trono. E, da mão do anjo, o fumo dos perfumes subiu diante de Deus, juntamente com as orações dos santos.”

Notem que a passagem não fala só de um anjo a apresentar as nossas orações, fala também de como ele as enriquece, engrandecendo-as e amplificando as nossas súplicas. O anjo do capítulo 8 do Apocalipse junta incenso aos nossos pedidos, melhorando as nossas orações e juntando as suas.

Manuscrito etíope com representação de anjos
Mas há mais. Para além de engrandecer e enriquecer as nossas orações, os anjos tornam suas as nossas preocupações – tal como faz o anjo das crianças, pelas palavras de Jesus. Recordem-se que Rafael “recorda” Deus das orações das pessoas. Ele quer ter a certeza de que Deus está bem ciente das suas necessidades e assume a responsabilidade de cuidar das pessoas a quem é atribuído. Os anjos estão ao nosso lado nisto tudo.

Orígenes, outro antigo autor cristão, fala disto num curto texto sobre a oração. Diz ele que o nosso anjo “reza connosco e age connosco, tanto quanto possível, no que diz respeito aos assuntos sobre os quais rezamos”.

De vez em quando a nossa situação pode merecer reforços, e Deus providencia, explica Orígenes: “Por vezes a presença dos anjos junta-se por alguém que está a rezar, para que possam associar-se e dar voz ao pedido que está a fazer”.

Mas os anjos nem sempre estão disponíveis para levar as nossas orações. Às vezes rejeitam-nas, como se tivessem defeitos. Afraat diz que quando estamos zangados ou de má vontade para com o nosso próximo, as nossas orações são como uma oferenda impura: “Gabriel não a quer levar da Terra porque, sob inspecção, encontrou nela alguma mancha”.

Antes de colocar a nossa oração no turíbulo diante do trono de Deus, Gabriel insiste que façamos as pazes com o nosso próximo, fazendo eco das palavras de Jesus sobre este mesmo assunto em Mateus 5.

Há quem não goste da ideia de rezarmos através de intermediários. Penso que a preocupação é desnecessária. Dizer que os anjos oferecem as nossas orações não significa que Deus não nos ouça directamente.

O bispo, e monge, do sétimo século, Isaac o Sírio, diz que a vontade eterna de Deus “antecipa as orações”. As nossas esperanças e petições estão na mente de Deus antes sequer de nós as concebermos, tal como Jesus diz em Mateus 6. Ele não está a espera que surja o mensageiro.

Independentemente disso, Deus escolheu recorrer a meios adicionais e deu aos anjos um papel intermediário e intercessoro nas nossas vidas. Não é por isso que está menos envolvido. Os anjos são simplesmente uma parte graciosa e providencial que Deus encontrou para marcar presença nas nossas vidas.


Joel J. Miller é um novo colunista para The Catholic Thing e autor de Lifted By Angels: The Presence and Power of Our Heavenly Guides and Guardians, que explora as histórias dos anjos nas escrituras e nos primeiros textos cristãos. Podem visitar o seu site em joeljmiller.com

(Publicado pela primeira vez em www.thecatholicthing.com no Domingo, 28 de Outubro de 2012)

© 2012 The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de reprodução contacte:info@frinstitute.org

The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.

Tuesday, 30 October 2012

Tantas mitras sem cabeça...

D. Fernando Luz Soares
Os anglicanos portugueses vão escolher um novo bispo. Após 31 anos à frente dos destinos da Igreja Lusitana, ramo da Comunhão Anglicana em Portugal, D. Fernando Luz Soares está de saída por limite de idade. Foram demasiados anos, considera, mas o balanço é positivo.

Uma notícia terrível chega-nos da Síria. Um padre ortodoxo raptado, torturado e assassinado. E a cada dia que passa a Síria mais parecida com o Iraque…

Por cá não há nada que se pareça, mas o Observatório das Armas da Conferência Episcopal está preocupada com o aumento de armas, legais e ilegais, em Portugal.

Amanhã faz 500 anos que se inaugurou o tecto da Capela Sistina. O Papa não vai deixar passar em claro a efeméride.

Termino com uma curiosidade. Com esta notícia da Igreja Lusitana são já vários as sedes episcopais a que estamos atentos. Para além de Lisboa, que nos próximos meses terá novo Patriarca, também o bispo das Forças Armadas está prestes a ser substituído.

A escolha de um novo Arcebispo de Cantuária está a revelar-se muito complicada e já está atrasada.

Melhor está a correr o processo de escolha do novo Papa da Igreja Copta, no Egipto. No Domingo uma criança escolherá um de três envelopes de cima do altar da catedral de São Marcos, sendo encontrado assim o sucessor a Shenouda III, que morreu há vários meses.

Por fim, também se procura um novo Patriarca da Igreja Ortodoxa da Etiópia, embora ainda não conseguido perceber qual o processo de escolha nem quais as datas previstas.

31 anos "é um tempo demasiado" diz D. Fernando Luz Soares


Transcrição integral da entrevista a D. Fernando Luz Soares, bispo da Igreja Lusitana, que pertence à comunhão anglicana. Ver notícia aqui.

Resigna por livre vontade, ou por razões estatutárias?
De acordo com os cânones da Igreja, o bispo diocesano deve resignar da sua jurisdição aos 65 anos. Entretanto se por ventura houver necessidade pode haver um acordo entre a Igreja e o bispo no sentido de manter a jurisdição até aos 70.

Eu faço para o ano 70 anos e portanto havia a necessidade de se eleger alguém que me possa suceder quando eu chegar aos 70 anos. Como o sínodo anterior aos meus 70 anos é agora, vamos eleger o novo bispo.

Com que frequência se realizam os sínodos?
Os sínodos realizam-se de dois em dois anos.

Como é que é o processo de selecção do seu sucessor?
Foram nomeadas duas comissões pela Comissão Permanente, o órgão que governa a Igreja entre sínodos, com o bispo, evidentemente. Uma das comissões foi para ver quem reunia condições para ser candidato e outra que tratou de aspectos de natureza financeira e outras, mais ligados ao próprio desenvolvimento do processo.

Durante dois anos a também tivemos uma preparação mais de natureza doutrinal e teológica acerca do que representa para a Igreja Lusitana o ministério episcopal. Para além da Igreja Católica Romana somos a única Igreja em Portugal que tem o ministério episcopal como parte essencial da sua estrutura [O Sr. D. Fernando não estará a incluir as Igrejas Ortodoxas nesta análise]. Foi preciso explicar isso às pessoas, porque entretanto a Igreja tem vindo a transformar-se, é composta por pessoas mais novas e é preciso explicar estas coisas.

Agora vai acontecer a eleição e a seguir a isso o que a Igreja faz é escrever ao Arcebispo de Cantuária, como nossa autoridade metropolitana, porque somos uma diocese extra-provincial, e para manter a nossa catolicidade temos de estar ligados a outras províncias, e isso é feito através do Arcebispo de Cantuária.

Se o Arcebispo de Cantuária estiver de acordo, como esperamos, esse candidato passa a ser bispo eleito e depois terá de ser feita a sagração. É preciso acertar uma data, onde o próprio Arcebispo de Cantuária, ou um seu representante, estará presente. Eu também estarei e alguém de uma igreja irmã, porque só podemos sagrar bispos com outros três bispos presentes.

No momento em que essa pessoa é sagrada assume a diocese e eu passarei a ser um bispo resignatário, como foi o meu antecessor quando eu assumi há 31 anos.

Que candidatos há?
A comissão apenas definiu, dos clérigos da Igreja, quem reúne as condições para poder ser candidato, tendo em conta a idade e outros factores. Temos quatro clérigos nessas condições. Não quer dizer que aceitem. Desses quatro poderá haver um ou outro que diga que não está interessado e os outros dizerem que estão disponíveis e então submetem-se à eleição.
Temos um presbítero angolano de nascença, o reverendo Barros Banza, temos um outro que é daqui do Norte, o reverendo Carlos Duarte; temos também o reverendo José Jorge Pina Cabral e temos outro de Vila Franca de Xira, o reverendo Fernando Santos.

A selecção será feita já durante o sínodo?
Sim. Na sexta-feira de manhã há um ponto da agenda que é a alocução do bispo e depois será a eleição do novo bispo.

Há também leigos a participar nessa eleição?
Sim. Participam todos os membros do sínodo. Eu, todos os clérigos que podem estar presentes, neste caso nove presbíteros e quatro diáconos, havendo dois ou três que estão doentes e já sabemos que não vão estar presentes, e também os outros participantes leigos. Ao todo são 40 pessoas no sínodo, incluindo 24 leigos, todos eles eleitos pelas respectivas paróquias para participar no sínodo e com direito a voto efectivo.

Estará ainda presente uma representante do Arcebispo de Cantuária, no caso uma cónega.

Que balanço faz destes 31 anos?
Para já posso dizer que é um tempo demasiado. Fui chamado muito cedo, porque eu sou bispo há 32 anos mas só há 31 assumi a diocese, porque durante um ano fui auxiliar de D. Luís Pereira, o meu antecessor.

Acho que o tempo da minha jurisdição foi excessivo, porque entretanto aconteceram muitas coisas na sociedade portuguesa, a nível político, social, cultural e também a nível religioso, que foram demasiadas para uma igreja pequena como a nossa, porque temos as nossas dificuldades exactamente pela nossa pequenez.

Durante este tempo houve momentos excelentes, da minha perspectiva. Eu consegui introduzir a ordenação das mulheres na Igreja Lusitana, consegui com alguma eficácia criar uma organização da própria Igreja, que não existia. Ela era constituída por paróquias, mas todas demasiado autónomas umas das outras. Criar um espírito de diocese não foi fácil, mas conseguiu-se.

Desenvolveu-se um determinado tipo de situações, na área da formação, não tanto quanto gostaria, aí está, é um aspecto que não foi conseguido como eu queria.

A Igreja cresceu por dentro, não em número de pessoas, mas cresceu por dentro. Ganhou consciência da sua condição de Igreja Anglicana, que não tinha, ganhou consciência da sua condição de Igreja episcopal, embora já tivesse tido dois bispos, mas a acção deles passou ao lado da grande maioria das pessoas da Igreja, o bispo passou a ser uma pessoa central e importante a nível da Igreja.

Houve outro facto importante, de a Igreja se ter afirmado no contexto da Comunhão Anglicana. Eu fui eleito em dois mandatos, entre 1993 e 1999 para a comissão permanente do Conselho Consultivo Anglicano. O Conselho Consultivo reúne anualmente e desenvolve um trabalho ao nível mundial para criar as condições de coordenação e contacto entre as diferentes províncias da Igreja Anglicana. A Igreja Lusitana foi chamada, embora sendo uma diocese extra-provincial não teria lugar, mas foi chamada a dedo.

Outro aspecto muito positivo que vejo do meu episcopado foi todo o relacionamento ecuménico que se realizou em Portugal com a Igreja Católica e com outras igrejas com as quais temos mantido uma relação fraterna.

Agora, houve também aspectos negativos, que derivam da nossa condição pecaminosa, no modo como funcionamos e tentamos assumir cada vez mais os nossos desejos e pontos de vista humanos, esquecendo que estamos ao serviço de Deus.

Thursday, 25 October 2012

SSPX perde um quarto dos seus bispos...

Clicar para aumentar
É já esta noite que Lisboa entra no Ano da Fé. Na missa que vai decorrer na Sé de Lisboa o Patriarca fará chegar aos fiéis a carta que escreveu a propósito desta iniciativa.

Ainda no âmbito do Ano da Fé, ao fim da tarde foi lançado o álbum Missa Brevis, de autoria de João Gil e vários outros músicos. Veja aqui a entrevista a João Gil.

Sábado chega ao fim o sínodo dos bispos para a Nova Evangelização, mas o documento final será divulgado amanhã.

Entretanto a Sociedade de São Pio X tem menos um bispos. O anti-semita Richard Williamson foi expulso. Mas as conversações com Roma parecem ter naufragado.


Amanhã não deve haver mail, pelo que vos desejo um bom fim-de-semana e até Segunda, se Deus quiser.

Wednesday, 24 October 2012

Cardeais, Concílio e Comunismo

Livro de Roberto de Mattei
apresentado hoje
O Papa surpreendeu hoje ao anunciar que vai nomear seis novos cardeais já em Novembro. São nomeações importantes, saiba aqui por quê.

Esta tarde é lançado nos Jerónimos o livro “O Concílio Vaticano II – uma história nunca escrita”. Entrevistei hoje o autor Roberto de Mattei que, entre outras coisas, diz que o grande mistério do Concílio é a falta de referências ao comunismo. Aqui podem ler a transcrição completa da entrevista, longa, mas muito interessante.


Outros actos eleitorais a que os católicos devem estar atentos

George J. Marlin
No dia das eleições, 6 de Novembro, há uma série de eleições locais e referendos estaduais a que os católicos devem estar atentos. Aqui farei um resumo dos principais:

Eleições para o Senado de Nova Iorque: Em 2011 o líder da maioria no Senado, o Republicano Dean Skelos, de Long Island, quebrou a sua promessa eleitoral e permitiu que se votasse uma medida para legalizar o casamento entre homossexuais.

Quatro republicanos, (três dos quais baptizados católicos), que tinham merecido o apoio do Partido Conservador de Nova Iorque nas últimas eleições, forneceram os votos necessários para que a legislação passasse.

Na altura Mike Long, o secretário-geral do Partido Conservador, avisou os senadores de que o conceito de casamento tradicional é um dos pontos fulcrais para se conseguir o apoio do seu partido: “Se disserem que não são a favor do casamento tradicional não recebem o apoio. É tão simples quanto isso”.

Fiel à sua palavra, Long garantiu que esses quatro senadores não contassem com a sua nomeação para as eleições deste ano.

O resultado é que o Senador Jim Alesi, de Rochester, percebendo que não conseguia ganhar sem o apoio dos conservadores, decidiu não se recandidatar.

O senador Roy McDonald, de Troy, perdeu nas primárias republicanas de Setembro contra um candidato que tinha o apoio dos conservadores.

O senador de Buffalo, Mark Grisanti, que foi eleito por uma margem de 519 votos em 2010 graças aos 4,368 votos que recebeu dos conservadores, está a lutar pela sua sobrevivência num círculo eleitoral que é 83% democrata.

Já o senador Stephen Saland, de Poughkeepsie, que está no senado há 32 anos, conseguiu a sua nomeação, mas apenas por uma margem de 107 votos num total de 10,469. O candidato que derrotou nas primárias republicanas está a concorrer pelo Partido Conservador e poderá conseguir apoio suficiente para garantir que Saland não é reeleito no dia 6.

Se os três senadores perderem os seus lugares por terem votado a favour do “casamento homossexual” os republicanos poderão perder a maioria e a Conferência do Senado do Partido Republicano poderá bem demitir Skelos da liderança.

Maryland: O Governador Martin O’Malley, baptizado católico, promulgou uma lei no dia 1 de Março de 2012 conhecido como a Lei de Protecção do Casamento Civil, que permitirá “casamentos” entre homossexuais a partir do dia 1 de Janeiro de 2013.

A legislação, a que o então Arcebispo de Baltimore, Edwin O’Brien, se opôs ferozmente, tem sido apoiada por um grupo de dissidentes que se apelidam de “Católicos pela Igualdade”. Este grupo desviado considera que a medida “melhora não só a vida dos casais lésbicos e gays e dos seus filhos, como as vidas de famílias católicas em todo o Estado.”

No dia 6 de Novembro os eleitores terão a possibilidade de decidir se a lei do casamento é para se manter. Um voto a favor da “Questão 6”, conhecida como o Referendo do Casamento Entre Pessoas do Mesmo Sexo, é um voto pela manutenção da lei, inalterada.
Bispos da Florida a favor das emendas 6 e 8 à constitição do Estado
Embora a lei proteja os clérigos de terem de presidir a qualquer cerimónia de casamento que viole as suas crenças religiosas e afirme que “cada confissão religiosa tem total controlo sobre a sua doutrina teológica em relação a quem se pode casar nessa confissão”, a conferência católica de Maryland está a pedir um voto no “Não”, avisando os eleitores de que “estamos enganados se pensamos que podemos redifinir o casamento e, ainda assim, proteger a liberdade religiosa”.

Embora também haja referendos sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo no Maine, Minnesota e Washington, os defensores deste conceito estão focados em Maryland, local da primeira diocese católica da América, que esperam vir a ser o primeiro Estado abaixo da Linha Mason-Dixon a aceitar o casamento homossexual nas urnas.

Várias celebridades têm descido sobre a cidade para defender a medida, incluindo o reverendo Al Sharpton.

O Presidente da Câmara de Nova Iorque, Michael Bloomberg, que fez donativos significativos para os republicanos que aprovaram a mesma lei no seu Estado, está agora a encher Maryland de dinheiro, tendo feito a maior contribuição individual, na ordem de $250,000, para uma Comissão de Acção Política a favor do “casamento” gay.

Massachussetts: A Questão 2, ou o “Referendo de Morte Digna”, aparecerá no boletim de voto nestas eleições. Se for aprovada permitirá a um doente, cujos médicos diagnosticaram menos de seis meses de vida, receber medicamentos letais.

O doente terá de ser considerado capaz de tomar a decisão e terá de “fazer o pedido duas vezes oralmente e por escrito na presença de testemunhas”. O pedido verbal inicial deve ter lugar 15 dias antes do pedido por escrito e do segundo pedido verbal.

A iniciativa permitirá também o envolvimento de parentes de sangue no processo de suicídio. Eles poderão ajudar a preparar as papeladas, “desde que uma das testemunhas do pedido não seja parente do doente nem por sangue, casamento ou adopção”.

A Conferência Católica de Massachussetts já condenou a medida, insistindo que ela serve apenas para estigmatizar “toda uma classe como não sendo dignos da protecção e cuidado do Estado nem dos seus familiares”.

O Cardeal Sean O’Malley, de Boston, disse que: “Quando envelhecemos ou ficamos doentes tendemos a desanimar. Devemos estar rodeados de pessoas que nos querem ajudar. Merecemos poder envelhecer numa sociedade que vê os nossos cuidados e as nossas necessidades com uma compaixão enraizada no respeito, oferecendo-nos um verdadeiro apoio para os nossos últimos dias”.

Florida: Duas das 11 propostas de emendas à constituição estadual que aparecerão no boletim de voto na Florida são de interesse para os católicos.

A emenda 6 proíbe o uso de fundos públicos para o aborto “excepto nos casos em que a lei federal a isso obriga ou para salvar a vida da mãe”.

Afirma ainda que a Constituição da Florida “não pode ser interpretada de forma a incluir um direito ao aborto mais alargado do que aquele que está contido na Constituição dos Estados Unidos”.

A ser aprovada, a Emenda 8, revogaria a “Emenda Blaine”, que proibe quaisquer fundos estaduais de serem usados directa ou indirectamente para auxiliar qualquer Igreja ou instituição religiosa.

O novo texto da lei seria: “Nenhum indivíduo ou entidade deve sofrer discriminação ou ser impedido de receber fundos com base na sua identidade ou crenças religiosas.”

A Conferência Católica da Florida apoia a passagem de ambas estas emendas.

As corridas eleitorais e os referendos que acabei de descrever merecem a atenção de todo e qualquer católico que viva naqueles Estados. Cada voto poderá ser decisivo para ajudar a moldar a paisagem moral da América.


George J. Marlin é editor de “The Quotable Fulton Sheen” e autor de “The American Catholic Voter”. O seu mais recente livro chama-se “Narcissist Nation: Reflections of a Blue-State Conservative”.

(Publicado pela primeira vez em www.thecatholicthing.com na Quarta-feira, 17 de Outubro de 2012)

© 2012 The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de reprodução contacte:info@frinstitute.org

The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.

Concílio é uma ruptura histórica, não necessariamente doutrinal, com o passado

Edição de Caminhos Romanos
Transcrição integral da entrevista a Roberto de Mattei acerca do seu livro “O Concílio Vaticano II – Uma história nunca escrita”. O livro é lançado esta quarta-feira às 18h30 nos Jerónimos. Veja aqui a notícia.

Em que sentido é que o seu livro é uma “história nunca escrita do Concílio”?
Nesta obra pretendi reconstituir o que se passou em Roma durante os três anos do Concílio, durante os quais 2500 padres conciliares se reuniram sob a orientação de João XXIII e Paulo VI, no 21º Concílio da história da Igreja. Nunca até hoje foi escrita uma história compreensiva sobre este período. A única que está escrita, por Giussepe Alberigo, em cinco volumes, na verdade é uma colecção de textos, mas não é uma história sintética.

Falta-lhe o aspecto de interpretação dos factos?
Exactamente, a ideia é também uma nova interpretação dos factos. Tem um nível de análise a respeito da história que tem como critério da verdade a verificação e apreciação dos factos. Depois há um segundo nível, que compete ao teólogo, ao pastor, mas trata-se de dois planos distintos, mas dependentes. Só depois da reconstrução histórica dos factos é que os pastores, os teólogos, podem intervir para formular os seus juízos teológicos e morais. Os dois níveis, o histórico e o hermenêutico, não podem ser confundidos, a não ser que consideremos que a história se confunde com uma interpretação da história. Mas o meu nível é o histórico.

Passaram 50 anos sobre o início do Concílio. Será cedo para fazer já um balanço do seu efeito na Igreja?
Acho que é o momento de se fazer este balanço. Sublinho que se tratou do 21º concílio. O Concílio Vaticano II não foi o primeiro nem o último concílio, foi um ponto, um momento da longa história da Igreja. Ao longo da história houve 21 concílios. Alguns deles, Niceia, Trento, Vaticano I, são inesquecíveis, por causa do alcance teológico dos documentos que deles emanaram. Outros foram esquecidos. Um concílio entra na história pela qualidade dos documentos que produziu.

Por exemplo no século XVI houve dois concílios, o de Latrão V e o de Trento. Toda a gente se recorda do Concílio de Trento, mas ninguém se recorda do Concílio de Latrão V. Nesse sentido acho que temos uma grande liberdade crítica para analisar e fazer um balanço do Concílio Vaticano II.

Na sua opinião daqui a 400 anos as pessoas vão-se lembrar do Concílio Vaticano II?
Não posso dizer isso, mas o que posso dizer é que o Concílio Vaticano II foi um concílio diferente de todos os que o precederam, neste a característica mais importante foi a pastoral. Claro que nem o Concílio de Trento nem o Vaticano I tinham sido privados do elemento pastoral, mas no Vaticano II o lado pastoral não foi apenas um facto, a natural explicação do conteúdo dogmático do concílio de uma forma adaptada aos tempos, como sempre foi feito. Este elemento pastoral foi elevado a princípio alternativo ao elemento dogmático, subentendendo-se a prioridade do primeiro relativamente ao segundo. A dimensão pastoral acabou por se tornar prioritária, introduzindo uma revolução na linguagem e na mentalidade. A Igreja despojou-se das suas vestes dogmáticas e revestiu-se de um novo fato pastoral e exortativo que deixou de ser obrigatório e definitivo. Mas usar termos diferentes do passado significa levar a cabo uma transformação mais profunda do que se possa pensar. Essa seria a característica principal, essa revolução. Não no conteúdo, não dogmática, mas uma revolução na linguagem, na mentalidade, na maneira de apresentar a doutrina da Igreja.

A grande discussão sobre o Concílio é à volta da questão de ter representado uma ruptura ou não. Qual é a sua opinião?
O Papa Bento XVI declarou que existe uma hermenêutica da reforma cuja verdadeira natureza consiste numa conjugação de continuidade e descontinuidade a níveis diferentes. Parece-me que é justamente da constatação da existência de níveis diferentes de continuidade e descontinuidade que devemos partir, a continuidade e descontinuidade do Vaticano II nos confrontos com a Igreja anterior, que pode ser considerada sobre dois aspectos, a dimensão histórica-humana da Igreja e a dimensão ontológica. Acho que houve continuação na dimensão ontológica que corresponde à dimensão divina da Igreja, porém houve descontinuidade na dimensão humana que corresponde à natureza humana da Igreja.

Roberto de Mattei
Os ultratradicionalistas, como por exemplo a Sociedade de São Pio X, apontam para a hipótese de ruptura, mas essa ideia também é comum na ala liberal da Igreja, ou não?
Talvez seja assim, mas eu acho que o erro é concentrar a atenção sobre o aspecto dos documentos do Concílio, ou seja do conteúdo dogmático. O Concílio, antes de ser uma série de documentos, foi um evento histórico. Esse é que é o problema central, os juízos sobre a natureza do Vaticano II ao nível histórico. Nesse sentido podemos dizer, acho, que houve uma ruptura, mas uma ruptura histórica não é necessariamente uma ruptura doutrinal e dogmática.

Há a ideia de que a Igreja mudou muito depois do Concílio, mas folheando o seu livro percebe-se que muitas das ideias que saíram já existiam fortemente implantadas na Igreja pré-conciliar, talvez até mais extremas… Qual era o clima na Igreja antes do Concílio?
Houve uma crise na Igreja antes do Concílio Vaticano II, mas certamente o clima do Concílio favoreceu a explosão dessa crise. Algumas expressões dessa crise apareceram depois do Concílio, por exemplo basta pensar na Humanae Vitae, a encíclica que reafirmou, em 1968, a doutrina católica em matéria de moral conjugal. A Humanae Vitae foi contestada por um grupo de bispos da Europa Central, entre os quais o Cardeal Suenens. Mas o Cardeal Suenens era um padre conciliar que no Concílio tinha estabelecido um pacto de ferro com Monsenhor Hélder Câmara, do Brasil, e foi escolhido pelo Papa Paulo VI para orientar o Concílio. O mesmo Suenens já tinha colocado no Concílio o problema do controlo de natalidade, proferindo na Basílica de São Pedro as palavras “não repitamos o processo de Galileu”.

Hoje temos de perguntar se a voz profética que se fez ouvir na aula conciliar foi essa do Cardeal Suenens, que contestou publicamente o Papa Paulo VI, ou a voz dos padres conservadores que no Concílio combateram o cardeal Suenens e anteciparam o Humanae Vitae. O problema é que a minoria conservadora do Concílio é hoje apresentada como a parte derrotada e o Cardeal Suenens e outros são apresentados como profetas, como vencedores. O que faço no meu livro é ser a voz dos vencidos do Concílio, que é a voz da tradição.

Acredita que essa voz poderá ser reabilitada e tornar-se a vencedora a longo prazo?
Acho que sim, porque hoje temos necessidade da tradição, porque a tradição não é o passado, esse acabou, não pode voltar. A tradição são os elementos do passado que vivem no presente e que têm de viver para que o nosso presente tenha futuro. Pessoalmente acredito que no nosso futuro está escrito, graças à intervenção de Deus, o retorno da tradição, a restauração da Igreja e da Civilização Cristã.

Cardinal Suenens, uma das
vozes liberais do Concílio
Mas se essas vozes forem reabilitadas, há incompatibilidade entre elas e os textos propriamente ditos do Concílio? Ou seja, há alguma coisa nos documentos que seja incompatível com a tradição?
Eu acho que o juízo último sobre os documentos do Concílio compete aos pastores e em última análise ao supremo pastor que é o Papa. Há alguns documentos que colocam problemas, por exemplo a declaração Dignitatis Humanae, que não é infalível nem tem valor obrigatório. Muito recentemente o Cardeal Walter Brandmüller [presidente emérito da Pontifícia Comissão das Ciências Históricas] o disse. Essa declaração tem passagens equívocas, que têm de ser clarificadas.

É o caso da liberdade religiosa, não no sentido do acto interior de fé, que sempre foi defendida pela Igreja, mas o direito não só de expressar mas de praticar a fé religiosa, seja qual for. A Igreja sempre condenou essa liberdade religiosa que leva ao indiferentismo. Nesse sentido acho que é preciso uma palavra definitiva da Igreja sobre esse ponto. É só um exemplo.

À medida que investigou o Concílio, o que é que o surpreendeu mais?
Talvez o silêncio do Concílio sobre o comunismo. Porque quando o Concílio se reúne, o Muro de Berlim acabara de desferir uma profunda ferida na Europa. O Comunismo estendia a sua sombra ameaçadora sobre todos os continentes. Porque foi que a solene assembleia dos padres conciliares, reunidos em Roma para tratar das relações entre a Igreja e o mundo moderno, ignorou o fenómeno mais macroscópico da sua era, que era o imperialismo comunista? Esse é talvez o mistério mais profundo do Concílio Vaticano II.

Bento XVI referiu-se recentemente à existência de “luzes e sombras” no legado do Concílio. Na sua opinião quais as maiores luzes e quais as sombras?
Não sei a que o Papa se refere, mas recentemente, no dia da recordação do Concílio, a 11 de Outubro, num discurso que Bento XVI fez, ele falou de como esteve, enquanto jovem teólogo, na Praça de São Pedro quando João XXIII abriu o Concílio e em todo o mundo havia um clima de entusiasmo, parecia haver um clima de aurora, de Pentecostes para toda a Igreja.

Mas, diz o Papa, o que depois aconteceu foi muito diferente porque houve problemas, erros, maus homens na Igreja. O Papa descreve uma situação de crise na Igreja depois do Concílio, que não corresponde às expectativas do Papa João XXIII e dos pastores.

Veja-se esse contraste entre o clima entusiástico, talvez optimista e um pouco utópico na abertura do Concílio e a situação da Igreja que se apresenta nos discursos dos padres sinodais, reunidos em Roma para o sínodo da Nova Evangelização. A voz dos padres sinodais é uma voz dolente, pessimista, descrevem nas próprias dioceses uma situação de profundo sofrimento da Igreja, uma igreja que é perseguida em todos os continentes, incluindo na Europa, pelo laicismo e o secularismo, mas que ainda por cima conhece uma divisão interna profunda. Essa é a situação actual.

Uma das questões que mais afectou os fiéis foi a reforma da liturgia. Acha que a nova missa corresponde ao que os padres conciliares tinham em mente?
A nova missa de Paulo VI foi promulgada no ano 1969, quatro anos depois do fim do Concílio. No documento Sacrosanctum Concilium, que trata a liturgia, não se fala de uma nova missa. Só está presente a possibilidade, dada às Conferências Episcopais, de se introduzir o vernáculo na liturgia da Igreja. A mesma constituição recomenda fortemente a utilização da língua latina na liturgia.

Nesse sentido, o que aconteceu depois não corresponde às indicações do Concílio, mas também existe uma certa continuidade. O problema é o papel desenvolvido pelas conferências episcopais, esse é um problema muito sério, porque a aplicação das decisões do Concílio foi feita em grande medida pelas conferências episcopais.

Há quem diga que o Papa pense, a médio prazo, fazer uma reforma da reforma, criar por assim dizer uma síntese entre a missa antiga e a missa nova… Concorda? E que poderíamos esperar de tal síntese?
Não acho que ele entenda fazer uma síntese das duas liturgias. O que entendo é que em 2007, com o motu proprio Summorum Pontificum, Bento XVI restituiu plena liberdade para a missa tradicional, impropriamente chamada Missa Tridentina, mas a ideia do Santo Padre é que a missa tradicional, o Vetus Ordo, deva manter a sua identidade, sem confusões com o novo rito. O Papa certamente deseja uma ressacralização da nova missa, por isso ele recomenda uma reorientação dos altares, o fim da comunhão nas mãos e outras coisas, mas ele pensa que o Vetus Ordo vai exercer uma pressão indirecta sobre a nova missa, sem a necessidade de fazer uma terceira missa que misture os dois ritos. O Papa fala de uma reforma da reforma, mas acho que é uma reforma do novo rito, o Vetus Ordo vai manter a sua identidade, sem combinar…

Mas essa reforma do novo rito poderia ser uma aproximação do antigo?
Nesse sentido sim.

Como é que o seu livro tem sido recebido?
Já foi traduzido na Alemanha, também vai sair em França, na Polónia e nos Estados Unidos.

Em Itália foi bem recebido, recebi muitas cartas de bispos e cardeais porque eles compreendem que o meu nível é o nível histórico e que compete ao teólogo, em última instância ao Papa, que é o guardião supremo da fé e da moral, resolver os problemas teológicos. Esses problemas existem. Eu, como baptizado, como historiador e leigo tenho a liberdade de realçar os problemas, mas só os pastores é que podem intervir no sentido de definir, porque que não tenho essa autoridade.

Mas o meu contributo é talvez oferecer uma descrição nova do Concílio, porque hoje em dia toda a gente se apercebe do alcance revolucionário do Maio de 68, uma revolução cultural mais profunda e incisiva que uma revolução política. Contudo, antes de 68 houve o triénio 1962-1965, os anos durante os quais teve lugar o Concílio Vaticano II, e eu acho que essa foi uma revolução que modificou profundamente a história dos anos seguintes, a história contemporânea, a começar pelo próprio Maio de 68 que foi influenciado pelo Vaticano II. Há uma componente católica na revolução de 68 e devemos reconhecer isso para melhor resolver os problemas contemporâneos.

É claramente crítico do concílio e próximo da tradição, o que o separa daqueles como a Fraternidade São Pio X (seguidores de Marcel Lefebvre) que recusam o concílio e estão fora de comunhão com o Papa?
A principal distinção é a distinção canónica, no sentido de que a Fraternidade São Pio X encontra-se numa situação irregular, mas não acho que do ponto de vista doutrinal tenham erros, o que é irregular é a situação canónica. Eu sou leigo, estou dentro da Igreja Canónica e tenho uma situação canónica perfeitamente regular.

Mas acontece o contrário, há na Igreja correntes progressistas que têm uma posição canónica regular, por exemplo o padre Hans Küng não é excomungado e celebra missa regularmente, mas ele é notoriamente um herético, mas um herético com uma posição canónica regular. Tem outros que são ortodoxos mas têm uma posição irregular. Eu penso que sou ortodoxo com uma posição canónica regular.

Filipe d'Avillez

Tuesday, 23 October 2012

Dois anos de selecção, apartheid no Médio Oriente

The boys in yellow
É já hoje o lançamento do livro “Auto de Fé – A Igreja na Inquisição da Opinião Pública”, de Zita Seabra e o padre Gonçalo Portocarrero. Aura Miguel conversou com os dois para esta reportagem.


O Vaticano vai continuar a investigar a fuga de documentos secretos. Hoje foi publicada a sentença do ex-mordomo Paolo Gabrielle.

Ainda em Roma faz hoje dois anos que se formou a selecção de futebol do Vaticano. O saldo não é mau, quatro jogos, duas vitórias e duas derrotas.

Pelo Médio Oriente motivos de preocupação. Em Israel uma maioria de judeus parece convencida de que o Estado pratica apartheid, mas pior que isso, muitos pensam que é pouco.

No Irão são os Bahá’i que mais sofrem, mas a perseguição toca a todas as minorias religiosas, segundo as Nações Unidas.

Por fim um convite da Renascença para todos os interessados. É lançado na quinta-feira o CD “Missa Brevis” de autoria de João Gil. Aqui podem ouvir um excerto da música que vos deixará certamente com vontade ir à Igreja de São Roque no dia 25, às 18h30. Apareçam.

Monday, 22 October 2012

Friday, 19 October 2012

Mais 20 dias pela vida, perigo no Médio Oriente

Conferência amanhã. Clicar para aumentar
Estamos precisamente a meio dos 40 Dias Pela Vida. Conversei com uma das organizadoras que explicou qual o objectivo desta iniciativa que decorre diante da maior clínica de aborto em Lisboa. Aqui podem ler a entrevista na íntegra.

Notícias preocupantes do Médio Oriente. Uma catedral católica na cidade Síria de Homs foi totalmente destruída e no Líbano um atentado num bairro cristão matou o líder dos serviços secretos. Já há manifestações e o caldo pode muito bem entornar…


Decorre amanhã, no Colégio São Tomás, uma conferência de Mariella Carlotti sobre “O Trabalho e o Ideal”. Ver imagem.

Mesmo que nenhuma mulher desista de abortar, a oração é um fim em si mesmo

Iniciativa nasceu nos EUA, em 2004
Transcrição integral da entrevista a Paula Pimentel, organizadora da iniciativa 40 Dias Pela Vida. Notícia aqui.

Em que consiste a iniciativa?
Os 40 dias pela vida são 40 dias em que pessoas de várias religiões, que tenham como objectivo único defender a vida e defender as mulheres que sofrem com esta situação, se juntam para rezar num lugar simbólico, a porta da clínica dos Arcos, a maior clinica abortista de Lisboa, para se juntarem ao sofrimento destas mães e tornarem-se mais próximas das pessoas.

A oração faz duas coisas, por um lado torna melhores as pessoas que rezam e por outro que consigamos aproximar-nos mais do sofrimento das pessoas e não as julgar nem criticar. Se não tivermos este processo podemos cair na tentação de julgar as pessoas e não é isso que queremos, queremos apoiá-las e estarmos próximos delas.

Os 40 dias vêm das histórias bíblicas de pessoas que rezaram ao longo de quarenta dias.
Temos um evangélico a rezar connosco, uma muçulmana, católicos dos mais diversos caminhos e carismas, todos aqui juntos para tentar que estas mães não caiam neste sofrimento profundo que é saber que marcaram a hora da morte de um filho.

Rezam dentro ou fora da casa?
É um evento visível. Deixamos tudo muito à liberdade das pessoas. Já passaram aqui centenas de pessoas e todas têm estilos diferentes. Há pessoas que nos disseram logo que não querem rezar na rua. A casa foi-nos cedida pelas Mãos Erguidas e fica mesmo em frente à clínica. Está sempre de porta aberta e vê-se lá para dentro. Mas há quem não goste de rezar nas escadas cá fora, porque a sua sensibilidade não o permite, outros gostam de rezar cá fora, mais perto possível da clínica. Deixamos ao critério de cada um.

A oração que se reza mais é o terço, até se reza o Terço de Raquel, mais própria para os recém-nascidos. Mas este rapaz evangélico, por exemplo, junta-se a nós e reza outras coisas.

Ao longo de 40 dias temos cá pessoas das 08h às 22h. Gostávamos que fossem 24h mas já foi complicado o suficiente garantir estas 16h. Cada pessoa fica responsável por um turno de duas horas, não quer dizer que tenha de ficar cá as duas horas mas tem de se responsabilizar por ter cá pessoas durante essas duas horas.

Hoje estamos no dia 18 de 40, para o resto dos 22 dias, que houvesse uma família responsável por cada um desses dias e arranjasse quem esteja cá essas 16 horas, a organização ficava mais tranquila e podia-se chegar a mais gente. Há muito mais gente do que pensamos que gosta de rezar e pessoas que gostariam de rezar e já pensaram em sair de si mesmos para rezar por alguém e não sabem como, aqui há espaço para todos e podem vir ter connosco. Se se quiserem inscrever pela internet podem, se quiserem só aparecer também podem.

Que reacções têm?
Eu não estou cá o tempo todo, mas há pessoas que ficam incomodadas. Pessoas que vão à clínica e vêem isto provavelmente ficam incomodadas, outras ficam tocadas. Há de tudo. O que sei é que a oração é um fim em si mesmo. Mesmo que nenhuma mulher desistisse de abortar, nem nenhum profissional desistisse do seu trabalho, já teria valido a pena porque a oração é um fim em si mesmo, não precisamos que tenha nenhum efeito visível. Mas a verdade é que Nosso Senhor tem sido muito sensível e estamos muito agradecidos por isso e têm acontecido coisas muito boas.

Abby Johnson atribui a sua
conversão aos 40 dias pela vida.
Alguma história que possa partilhar?
Por respeito à privacidade das pessoas com quem lidamos, não vou contar nenhuma história das passadas aqui, mas há uma história de Abby Johnson, uma ex-directora de clínica de abortos da Planned Parenthood nos Estados Unidos. Ela foi durante nove anos directora da clínica e agora é das maiores activistas pró-vida que existem. Ela atribui isto às campanhas dos 40 dias que se organizaram durante anos à porta da clínica dela. As pessoas rezavam todos os dias por ela, estavam ali em turnos. Ela só dirigia a clínica, era psicóloga e não fazia abortos. Uma vez pediram para ela conduzir uma ecografia, porque estavam com falta de pessoal, e ela viu pela primeira vez como era um aborto, através da ecografia, e com tanta oração que tinha havido por ela, e todos os contactos que tinham tido com ela, deu a volta completamente.

Aprendi muito com esta história e temos todos que aprender com este aspecto, porque ela diz que isto não é tudo branco e preto. Não há por um lado os pró-escolha e do outro os pró-vida. Há pessoas boas, eu acredito que há mesmo pessoas boas na clínica, que estão convencidas que estão a ajudar as mulheres. Ela estava convencida que estava a ajudar as mulheres em dificuldades e percebeu que nem toda a gente que está do outro lado são más pessoas, provavelmente não estão esclarecidas, e esta oração que fazemos é também por estas pessoas, rezamos pelos profissionais que trabalham nas clínicas, para ver se se dão conta da realidade.

A pressão para abortar, com a crise, deve ser ainda maior. Tem algum recado para essas pessoas?
Acho que um bebé não vai aumentar a crise. Estamos na crise independentemente do bebé vir ou não. Os grandes homens e as grandes mulheres na história vêem-se nos momentos difíceis. A pior crise que pode haver, mais do que a cirse de não haver dinheiro ou emprego, é a crise em que as mulheres sãem numa angústia e numa tristeza profundas depois de passarem por uma situação destas. Isso é que é muito mais difícil de ultrapassar. Também tem cura, mas é mais difícil de ultrapassar. Dizemos sempre às mulheres, no aborto há um morto e um ferido. Há um bebé que não nasce mas há uma mãe que fica ferida para sempre. Mais cedo ou mais tarde essa mulher vai ter esse sofrimento. Isso é que é uma grande crise. De resto o bebé até pode complicar as coisas, mas não é isso que vai colocar os pais numa situação ainda pior.

Há aqui pessoas que oferecem ajuda às mulheres que vão à clinica…
Isso não tem nada a ver com a iniciativa dos 40 dias. O trabalho que se faz aqui, a associação Mãos Erguidas é feita com voluntários, quantos mais houver, melhor, o que fazem é oferecer às mulheres ajuda. A verdade é que nenhuma mulher quer abortar, nem nenhuma mulher que sai daqui a dizer que já passou por isto várias vezes e que é indiferente… não é indiferente. O erro muito comum é que as pessoas pensam que vêm aqui e depois de abortarem voltam a ser quem eram antes, porque já resolveram o problema, tiraram aquilo que as incomodava. Uma mulher, depois de engravidarem nunca mais volta a ser a mesma, quer tenha um bebé, porque nos tornamos mães de um filho, quer não deixemos a criança nascer, embora venha aqui e aparentemente possa sair com alívio, a angústia vai depois ser muito maior. Pode não ser logo, mas eventualmente nota-se.

O que se tenta fazer aqui é, sempre com o suporte da oração, porque sabemos que é Deus quem move o coração das pessoas, é tentar oferecer às pessoas alternativas e para isso as Mãos Erguidas colaboram com uma série de instituições de apoio à grávida, porque não é só estar aqui a dizer Às grávidas para não abortarem, temos de nos preocupar com os problemas delas e dar apoio. Vão a um médico nosso amigo que as vê a preço zero do princípio ao fim da gravidez, ajuda-se com enxovais, fraldas, legalização. Toda essa ajuda é dada, embora já fosse muito só dizer a uma mulher para ficar com o seu filho, não pode ser só assim, porque há pessoas que vêm aqui em situações muito complicadas.

Thursday, 18 October 2012

Nomeações, empossamentos eventos






Dois eventos nos próximos dias. Amanhã o bispo John Barwa, que entrevistei ontem, vai falar à paróquia de São Tomás de Aquino sobre a perseguição dos cristãos. Segue-se uma vigília de oração.

Sábado realiza-se uma conferência do teólogo José María Castillo, no Convento dos Dominicanos, organizado pelo núcleo português do movimento Nós Somos Igreja.

Wednesday, 17 October 2012

Memórias de perseguição na Índia e solidariedade com a Síria

Cristã vítima de violência em Orissa, Índia, em 1998
Para começar temos uma reportagem com o arcebispo de uma diocese em Orissa, na Índia, onde decorreram algumas das piores perseguições anticristãs da última década.

Vale a pena ler a reportagem e ver o vídeo (se não estiver disponível já, estará em breve). Se quiserem, contudo, ler a entrevista completa, que tem muita informação que não coube na reportagem, podem fazê-lo aqui, no inglês original.

A perseguição aos cristãos é um dos assuntos em discussão no debate de religião na Renascença, esta noite por volta das 23h30.

Bento XVI já se mostrou várias vezes solidário com os sírios, mas enviou agora uma delegação ao país para averiguar o que lá se passa.


E hoje temos novo artigo de The Catholic Thing no blogue. Randall Smith revisita o assunto das presidenciais, dando sequência ao artigo que já tinha escrito o mês passado e no qual avalia se um católico pode, ou não, votar num candidato pró-aborto.

"You killed our people but you could not damage our relationship with Jesus"

Arcebispo John Barwa
Full transcript of the interview with Archbishop John Barwa of Cuttack-Bhubaneswar, in Orissa. News report can be found here.

Transcrição completa da entrevista feita ao arcebispo John Barwa, de Cuttack-Bhubaneswar, em Orissa. A reportagem está aqui.

Orissa was the site of serious persecution of Christians a few years ago, what happened exactly?
These were serious cases of persecutions, especially against Christians, both Catholic and of other denominations. This is mainly because the Christians in Orissa belong to the lowest groups of the society: Tribals and Dalits, who are known as untouchables.

These are the people who normally serve all others, but when missionaries came and started their work they realised that these were the people who needed them most. So they helped them with education, health care, developmental activities, and they started coming up and giving up their traditional work. And this is the main thing, because the Christians accept all as equal, as children of God, which for others is a difficult thing.
Also, India, in our language, Hindi, is called Hindustan, which means land of the Hindus. And so people from other religions and other groups are always seen as foreigners. Having missionaries make them Christians and elevating their situation is a fearful thing for the high caste people because they realise that if these lowest people start coming up in life and start getting good jobs, good houses, good money, what will happen to them and their future generations?

So they say to us, stop working for these people and we will have no problem. But our answer is, can we stop working for these people? Our vocation as Christians and followers of Christ is to work for these people, lost, least and last of the society.

The actual persecution began with the death of a prominent Hindu leader…
It started earlier, on Christmas day 2007, not with his death. He was attacked, not killed, on Christmas day he came on purpose to see the nativity scenes and decorations made by the young people, and there was a little tussle because he made some very arrogant statements against Christians. It was all planned, and the first thing they attacked was the Christian’s shops, because until then they had had the monopoly of the business. But because of their education Christians also started shops and businesses, and this made them angry.

Then the next stage and highest action of persecution was on August 23rd 2008 when the Swami was shot. His death was claimed clearly by the Maoists but they blamed it on us, because this was all prefabricated in every way and it was even published in the local language media.

That was when the worst attacks began, and they were massive. Almost 60 thousand people had to run away, because we didn’t want to react, and more than 6 thousand houses were destroyed. More than 350 convents and churches were destroyed and burned, hundreds of people were killed.

You were in Orissa at the time of the persecutions, did you experience it first hand?
Though I was not in that particular place directly, I was then coadjutor bishop of Rourkela. But there was a case of a religious sister who was gang-raped, and she was my niece. So naturally, belonging to the family, we all suffered the persecution directly.

Since then how have things been? Has there been justice? Have the Christians been allowed back to their villages?
The situation now seems peaceful. Almost all the people, accept those who wanted to leave, have returned. But when we talk about justice, it has not been done, our people have not received total justice and we have filed a case in the Supreme Court for proper compensation to be paid, because most of the houses have been rebuilt with our funds, churches have helped, and governments, just a little. So in that way justice has not been done, we are still waiting, but the atmosphere seems to be peaceful.

Have there been convictions?
Yes, but many of the local leaders who instigated the violence are said to be mysteriously dying. Which is still unclear, but there were many who were arrested, but since people were frightened of giving proper witness, they were acquitted. Even the rape case, the main culprits are in jail, but the case is on-going. But most of those responsible have gone free, because of lack of witnesses and lack of will power to catch the real terrorists and hold them responsible for this.

Namrata, queimada nas purgas em 2008
 Were there ever any reprisal attacks on the part of the Christians?
We have never heard a story of Christians reacting and attacking them. Instead, most of the people who were taking part in the persecution came and asked for Forgiveness. They say they did not know what they were doing, that they were given drinks and drugs and didn’t know what they were doing, and they apologised. And with no hesitation we say we are people of forgiveness. We have forgiven all that you did and let us build up a beautiful, peaceful land, where we can all live. This is what was surprising for them. All of us, even if we cannot forget the horrible things that happened, we forgive.

The case of your niece, she forgave when she was still in hospital. What does this make non-Christians think?
There is a sympathetic reaction. Because in India 80.3% of the population is Hindu, and they are wonderful people. And they support us. Only a tiny minority of fanatics and extremists whose language is killing and violence. The other people though, do not want to get involved, that is why these things happen. Otherwise they are wonderful people and they are ready to support us. They protected my niece, hid her, but she was discovered by the extremists.

You mentioned the lowest castes, and as far as I know you yourself are tribal. What is the story of your family?
My grand-father was the first to convert. He was a very convinced and dedicated Catholic, because he worked with the missionaries, and that is why my family is a very religious family, and I thank God for that. I grew up in a Catholic missionary situation and I am proud of it.

Did many Christians abandon their faith because of the persecution?
During the time of persecution people were afraid, because they were forced, either to convert or they might be killed. In that context, very few accepted in public, but in reality nobody accepted and all have returned to the faith.

Now the voice is that “you tried to separate us from Jesus. You killed our people, destroyed our property, damaged everything, but you could not damage our relationship with Jesus. This is the strongest voice, it is becoming louder and clearer, and this means that we are growing in Faith, and when I visit my archdiocese I see bigger numbers of people crowding for any religious celebrations, wanting to show we are not frightened. God is with us and God loves us.

Anti-conversion laws?
The anti-conversion bill has been passed in my state and it prohibits fraudulent conversions, people being offered material rewards for their conversions. But my question is, why only Christianity? Why can people not go to Christianity, but Christians and other religions can convert easily. It should be the same for all. There are hundreds who want to accept Jesus now, but because of this law we cannot baptise them openly.

Another difficulty is that the law says that there should be a first-class magistrate to confirm the willingness of the people. But when people go to the Government officials to say they are willing, everybody says they are not the first class officer. Nobody admits to being a first class officer because they don’t want to own up. Where do we go? These are the problems, and if it were not for this there would be many more conversions, because Christianity is the only religion which gives dignity to everyone, as Human Beings and as children of God, especially to the lost, least and last of society.

Officially the government has done much to overcome the caste system. Is it still a big problem for the country and for your region in particular?
The caste system is as old as humanity in India. I don’t think it will ever disappear. It will remain because high caste people, especially the Brahmins and the Kshatriyas, they do not want other groups, like the untouchables, to become equal, it will never happen. They will see to it that it is preserved, because they are the people who are in the administration, and in high ranking positions, and the Government and other agencies. So it will not happen, it will remain, though many good-hearted people are trying to abolish it.

Does it affect the Christians also? Is there discrimination amongst them based on caste?
I hear that in some states this is a problem and we are trying to talk it out in our common forums. Since I have never experienced it personally, I am not able to say much about these things, but it does exist, and it is a pitiful situation, and we wish and pray and work for the it to end, at least in the Church circle, where everyone is a child of God, and it has to happen, if not today, one day.

Mulher cristã de Orissa à porta de uma casa destruída
What could an initiative like the Year of Faith mean in a situation such as yours?
Before I left for Portugal I had a meeting with all my priests and I told them that in our arch-diocese we will begin the year of faith on the 14th, Sunday. All the prayers are already translated into our local language, and the main thrust is to let us grow in faith through prayers and good works and better understanding of each other. So teams have been set up in each parish, composed of priests, religious and laity, to propose programmes that will bind together. My hope is that there will be no more difference and that we can work together to make up a beautiful community for faith. In that we are more and more stressing the small Christian community, which everybody belongs to, be they rich or poor, thin or fat, but they belong to that Community which has faith in Jesus and that should unite us more and more.

What can those of us who are far away do to help your community?
First of all, on behalf of my people, especially those who struggle and suffer, I am here to thank each one of you, my dear friends. Because of your prayers and your generosity we have built up much of it. Lots of destroyed houses, churches and institutions have been rebuilt, and a lot of strength and courage is given because of your prayers and solidarity. I wish that you would continue praying for us.

Also, as a Christian community which has not suffered this kind of persecution, recognize that there are situations of this kind, and there are also injustices, separations and divisions.

Also, the European Union could also have a louder and clearer voice against this kind of injustice and persecution, not only in Orissa but anywhere they happen. That would be a great support and assistance.

You mentioned hundreds of people killed during the persecutions. Has there been any attempt to start a beatification process for them?
Many are saying so, that these stories should be told to the people around the world. When I became the archbishop I started a think-tank which will be monitoring a kind of research study of those who were martyred or killed. My wish is that they will one day be declared officially martyrs of the church. I have taken this to the Catholic Bishops Conference. They said present us with documents. No we are trying to document the real situations, because there are still people alive who can give us the concrete facts. I am very grateful also to the Aid to the Church in Need, who are helping us in this process of rediscovering the truth and telling the truth to the world, and also promoting the cause of these martyrs.

O arcebispo esteve em Portugal a convite da fundação Ajuda à Igreja que Sofre.