Friday, 24 February 2017

Sinai(s) de perigo e os mercadores do Santuário

Ui... Em Fátima seria um festival!
Ontem o Papa Francisco criticou as pessoas que dizem que são católicas mas depois agem de forma desonesta no trabalho, ou metem o lucro acima da ética. Hoje soubemos que em Fátima alugam-se espaços para dormir em saco de cama por mil euros por noite. Dizias, Francisco?

O pastor adventista que ontem foi detido por abusos sexuais afinal foi destituído do seu cargo antes de terem começado a circular os boatos sobre esses mesmos abusos. Uma fonte próxima da igreja deu hoje mais alguns detalhes sobre esta triste história.

O Papa Francisco voltou hoje a falar sobre a questão do casamento e do divórcio, enfatizando que justiça e misericórdia são sinónimos aos olhos de Deus.

Do Egipto chega a notícia dramática de uma vaga de assassinatos de cristãos na difícil região do Sinai. Já morreram sete, a comunidade está a fugir.

Thursday, 23 February 2017

Abusos adventistas e futebol como imagem de vida

O Papa com o Submarino amarelo
Foi detido esta quinta-feira um pastor da Igreja Adventista do Sétimo Dia, por suspeita de abuso sexual de menor. Passou-se em Tomar e a Igreja não se mostra surpreendida…

O investigador Luís Salgado Matos escreveu um livro para os 300 anos do Patriarcado de Lisboa e considera que este é uma fonte de “honra para Portugal”.

O Papa recebeu hoje uma delegação de judeus que lhe ofereceu uma nova edição da Torá. Antes, Francisco tinha recebido a equipa e dirigentes do Villarreal, de Espanha, a quem disse que o futebol é a imagem da vida e da sociedade.

Um desafio para quem vive a norte, vai decorrer na Faculdade de Letras da Universidade do Porto um curso livre sobre “As Religiões na Cidade”. Deve ser do maior interesse. As inscrições estão abertas até 19 de Abril. Mais informação aqui.

Wednesday, 22 February 2017

Sudão do Sul e Solidariedade Suspeita

Ajuda? Desculpa, estamos a financiar abortos...
O Papa Francisco apelou esta quarta-feira à ajuda concreta ao Sudão do Sul, onde existe actualmente uma grande crise alimentar que agrava a já terrível situação de guerra civil.

Da próxima vez que tiver de esperar meses por uma consulta no Serviço Nacional de Saúde, não se preocupe! Reconforte-se sabendo que Portugal – sempre solidário – comprometeu-se a financiar organizações que promovem ou praticam o aborto em países em desenvolvimento.

No artigo do The Catholic Thing de hoje temos uma recensão ao filme “Inácio de Loyola”, que retrata a vida do fundador dos Jesuítas. Segundo me dizem, em breve o filme chegará a Portugal precisamente através desta ordem religiosa. Fiquem atentos.

Cavaleiro de Deus: Recensão de “Inácio de Loyola”

Brad Miner
Embora esta biografia cinematográfica do fundador dos jesuítas tenha estreado no Verão passado, só esta semana é que tive oportunidade de a ver. O filme do guionista-realizador Paulo Dy foi gravado – em inglês – entre Espanha e as Filipinas, sob os auspícios da Fundação de Comunicações Jesuítas das Filipinas (JesCom Films). É pouco provável que apareça no seu cinema local mas, como explicarei mais à frente, pode tomar a iniciativa de organizar um visionamento para um grupo ou uma organização católica.

E sugiro que o façam, porque este é um filme católico que está muito à frente de qualquer outro que tenho visto nos últimos anos. Consegue ser simultaneamente verdadeiramente católico e bom cinema.

O filme começa com fogo e água – um tema que se mantém ao longo da película. Entramos pelo fogo da conversão e emergimos através do baptismo da vida nova. Inácio Lopez de Loyola (desempenhado pelo actor Andreas Muñoz) desenvolve-se como uma flor a brotar de terra queimada – é um soldado forjado como uma espada nas chamas e depois submetido à água para testar a força. É mesmo assim que culmina a cena, e é muito forte.

A história de Loyola, um nobre espanhol quebrado pela guerra que acaba por fundar a Sociedade de Jesus, é como muitas verdadeiras histórias de conversão: De Agostinho a Merton, mas sobretudo São Francisco de Assis, antes dele e Charles de Foucauld, depois, que também eram soldados para quem os profundos ferimentos da guerra levaram a uma vontade mais profunda para servir Cristo. Tal como Agostinho, Loyola viveu uma vida bastante carnal até ser gravemente ferido na Batalha de Pamplona, em 1521.

O filme custou cerca de 1 milhão de dólares (trocos para Hollywood). Normalmente nos filmes de guerra de baixo custo as cenas de combate são pouco impressionantes, mas não é o caso aqui. Alguns dos efeitos especiais, sim, são limitados, mas não podemos esperar efeitos ao nível do “Reino dos Céus” de Ridley Scott, que teve um orçamento dez vezes superior. Mas no geral, as imagens de guerra são potentes – sobretudo as imagens das sequelas do combate, por exemplo a perna destroçada de Loyola, que o deixou coxo para o resto da vida, precisa de ser colocada no sítio, depois partida novamente e recolocada. Estas cenas devem muito à realização prudencial de Dy e à cinematografia de Lee Briones Meily.

Mas é a representação de Muñoz que verdadeiramente faz com que as cenas e, na verdade, todo o filme, funcionem tão bem. É ele quem dá unidade. É um papel pelo qual facilmente poderia ter sido nomeado para um Oscar, caso os membros da academia tivessem visto o filme. Há outros actores igualmente bons, o suficiente para terem sido nomeados para um prémio de elenco da Screen Actors Guild, se essa malta tivesse visto o filme.

Deve ser mais fácil representar a agonia do que o carinho e há uma cena no filme – na minha opinião a melhor – em que entra um Inácio desgastado pela guerra, e uma prostituta, Ana. O seu irmão e o seu primo levaram-no a um bordel, na esperança de o animar depois da guerra, sem saber que ele já ouviu o chamamento de Deus. Sentado na cama de Ana, recusa os seus avanços, querendo apenas conversar, algo que nenhum homem lhe tinha pedido.

Ana, desempenhada por Marta Codena, e Inácio falam sobre Jesus. Tal como faz com outras personagens durante o filme, ele pede-lhe que use a sua imaginação para ver Jesus sentado numa cadeira no seu quarto. A conversão dele está bem encaminhada, a dela está apenas a começar. A cara de Ana é transformada primeiro pelo medo, depois pela esperança, e a dele também. É um momento tão emocionalmente poderoso como qualquer outro que tenho visto nos ecrãs nos últimos anos; a subtileza estonteante atinge-nos como uma vaga.

Pouco depois Loyola parte para seguir as pegadas de São Francisco. Serve os doentes e os moribundos num hospital em Manresa, Espanha, e vive durante meses numa caverna – torturando-se e sendo tentado por um demónio (também representado por Muñoz). As cenas de autoflagelação remetem sempre para uma forma de loucura, mas o resultado da angústia de Inácio é uma quase total sanidade. O que o leva à presença da Inquisição.

Esta parte do filme é estranha, não porque não tenha acontecido (aconteceu), mas porque o inquisidor que o julga por pregar sem ter curso de teologia nem ser ordenado, é Alonso de Salazar Frias. Mas Frias – desempenhado por Gonzalo Trujillo – que era conhecido como o defensor das bruxas, só nasceu oito anos depois da morte de Loyola. Talvez tenha havido outro inquisidor chamado Frias, mas se sim, não encontrei qualquer referência. Mas adiante.

Há medida que a história se desenrola, vemos Loyola a escrever um diário da sua vida (que formaria a base da sua autobiografia) e os seus Exercícios Espirituais. A conversão pode ser descrita como morrer em, e por, Cristo e, em certo sentido, Loyola desenvolveu uma fórmula para fazer isso mesmo – um processo disciplinado através do qual tudo é visto através de Jesus Cristo e oferecido a Cristo.

O filme termina sem contar a história da fundação da Sociedade de Jesus e as décadas finais da vida de Loyola, por isso talvez possamos esperar uma sequela – eventualmente com um flashback para a sua viagem à Terra Santa. Acredito que isso acontecerá se houver gente suficiente a ver o filme. A Ignatius Press está a disponibilizar o filme para exibições cinematográficas patrocinadas por qualquer organização. Podem encontrar mais informação aqui. [Nota do Tradutor: O gabinete de comunicação dos jesuítas em Portugal diz-me que estão previstas sessões de visionamento do filme, mas ainda não há detalhes concretos].

O filme é para maiores de 13 [nos EUA], em grande parte por causa das cenas de flagelação. Entre o elenco contam-se ainda a belíssima Tacuara Casares, que representa a Princesa Casares e Javier Godino e Mario de la Rosa, que fazem de parentes de Loyola. A elegante Isabel Garcia Lorca representa uma das primeiras mecenas de Inácio e Julio Perillán aparece no papel do dominicano que defende Inácio diante da Inquisição. Pepe Ocio é um camarada em armas de Loyola, cuja morte assombra o futuro santo e o projecta em direcção a Deus.


(Publicado pela primeira vez na terça-feira, 21 de Fevereiro de 2017 em The Catholic Thing)

Brad Miner é editor chefe de The Catholic Thing, investigador sénior da Faith & Reason Institute e faz parte da administração da Ajuda à Igreja que Sofre, nos Estados Unidos. É autor de seis livros e antigo editor literário do National Review.

© 2017 The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de reprodução contacte:info@frinstitute.org

The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.

Tuesday, 21 February 2017

Trump critica anti-semitismo e Pastorinhos são heróis para crianças

Imagem de N.S.F. enviada para o Iraque
O Papa Francisco pede a abertura de canais humanitários para refugiados que fogem de zonas de guerra.


Para as crianças, os pastorinhos são verdadeiros heróis, considera a autora Thereza Ameal, numa altura em que o bispo de Fátima espera que a canonização dos pastorinhos avance durante o centenário das aparições.

Decorreu no fim-de-semana o Faith’s Night Out. Correu da melhor maneira, aqui pode ler um pouco sobre a experiência.

Recentemente entrevistei o arcebispo de Lahore, no Paquistão, um local onde as escolas e igrejas cristãs mais parecem prisões e onde a Páscoa se transforma, num abrir e fechar de olhos, em Sexta-feira Santa.

No domingo tive a sorte de poder estar presente, em família, na missa campal em Cascais em que foi benzida uma imagem de Nossa Senhora de Fátima que será agora enviada para o Iraque, juntamente com milhares de terços e dezenas feitos por crianças. O Presidente Marcelo também esteve presente e ficou tão impressionado como eu.

Friday, 17 February 2017

Agora ninguém tira o Papa do México

Rui Marques considera que é mais urgente que nunca uma visão cristã da realidade. É uma entrevista de antecipação do Faith’s Night Out (FNO), que se realiza amanhã em Lisboa. Ricardo Araújo Pereira, outro dos convidados, diz que apesar de ser ateu tem altas expectativas em relação aos crentes, que nunca foram defraudadas.

Faz exactamente um ano que o Papa Francisco este no México. Hoje foi inaugurada uma estátua dele na fronteira com os EUA.

Se vive para os lados de Évora não deixe de visitar uma exposição muito engraçada na igreja de São Vicente, chamada “Levei uma Tampa”.

Thursday, 16 February 2017

Tweets patriarcais e Nossa Senhora "On Tour"

Nossa Senhora de Fátima coroada em Westminster
Boas notícias para quem tem conta no Twitter! D. Manuel Clemente vai juntar-se a nós a partir de sábado. Será – tanto quanto consegui averiguar – o primeiro patriarca católico a usar esta rede social. (Já agora, se não me seguem ainda, de que é que estão à espera?)

Duas imagens de Nossa Senhora de Fátima estão a caminho de países muito diferentes. Uma será entronizada em Londres este fim-de-semana e outra vai para Erbil, no Curdistão iraquiano, depois de ser benzida numa missa em Cascais, este domingo.

Vão-se multiplicando assim as iniciativas por ocasião do centenário das aparições de Fátima, como por exemplo esta, curiosa, em Évora.

O Papa criticou ontem as iniciativas económicas ou industriais que desrespeitam os direitos indígenas sobre o território, o que tem sido visto como uma crítica à Administração americana por causa de uma disputa com uma tribo de índios.

Em 2012, em Roma, conheci pessoalmente o cardeal Burke, que ultimamente tem estado a ser referido em associação a várias polémicas. Ora uma coisa são as opiniões de Burke e a sua discordância em relação a aspectos do pontificado de Francisco… Outra é pôr em causa a sua boa-fé e tentar colá-lo a Trump, como tem acontecido ultimamente. É sobre esses processos de difamação que escreve Robert Royal esta semana naversão portuguesa do The Catholic Thing. Leiam.

Wednesday, 15 February 2017

A Difamação do Cardeal Burke

Uma das figuras mais exóticas da Marcha pela Vida este ano em Washington, era um excêntrico entusiasmado – provavelmente pentecostal ou fundamentalista – que carregava um grande cartaz anticatólico e gritava por um megafone. Só apanhei um bocado do que ele dizia, mas era o habitual sobre o facto de o Papa ser o anticristo e os católicos “adorarem Maria como uma deusa”. Coitado. Mas uma coisa ninguém lhe tira: Debaixo da loucura ele acredita sinceramente que as formas de liderança e o conteúdo da fé cristã são realmente importantes. Ouvi-o a dizer a outro participante da marcha que “isto são coisas sérias, meu!”

De facto.

Sexta-feira o “The Washington Post” brindou-nos com algo muito pouco sério. Uma difamação ridícula do Cardeal Raymond Burke, debaixo da manchete “Como o Papa Francisco pode Limpar a Podridão de Extrema-direita da Igreja Católica”. Assinada pela jornalista Emma-Kate Symons, a peça tinha tanta noção da realidade e do contexto da Igreja como o tipo do megafone. O texto arrancava assim: “O Papa Francisco precisa de tomar medidas mais duras contra o católico americano mais influente em Roma, o Cardeal Raymond ‘Breitbart’ Burke”.

É que a Breitbart entrevistou uma vez Burke – ainda por cima sobre o Islão – por isso agora, segundo o “Post”, Breitbart passou a ser o nome do meio, estão a ver?

Há pessoas que não gostam do Catolicismo ortodoxo, sempre houve e sempre haverá. Mas esta “jornalista” não estava a lamentar-se numa esquina ou num blogue de extrema-esquerda, mas nas páginas de um jornal que em tempos foi moderado mas que teve uma forte viragem à esquerda desde que foi adquirido por Jeff Bezos, da Amazon. Mas qualquer editor, seja qual for a sua orientação ideológica, deveria ter olhado de relance para este artigo de opinião e compreendido que não passava de uma parvoíce.

Mas o “Post” não está sozinho nesta coisa de deixar o profissionalismo pelo caminho por uma questão de paixão política. Ainda esta semana o “New York Times” publicou uma “notícia” de primeira página – mas que na verdade era um ataque pessoal mal investigado – assinado por Jason Horowitz, muito na mesma linha: “Steve Bannon Leva a sua Batalha para Outro Local Influente: O Vaticano”.

Toda a história assenta numa reunião que teve lugar em 2014 entre o Cardeal Burke e Steve Bannon, o arruaceiro da Casa Branca. Na sua histeria contra o Presidente Trump, os media adoram caracterizar Bannon como uma espécie de “storm trooper”. Não sou fã de Bannon ou da Breitbart, que ele geria. (Aliás, uma vez recusei um convite para aparecer na Rádio Breitbart para conversar com Bannon sobre católicos críticos de Trump porque sabia que ele me ia atacar. Prometeu que não o faria, mas depois fez exactamente isso à pessoa que compareceu, o Robert P. George.) Ainda assim, a verdade é a verdade. Do meu ponto de vista o modus operandi de Bannon é muitas vezes autodestrutivo, mas os media estão simplesmente a descredibilizar-se com esta caça às bruxas no gabinete de Trump.

Mas regressemos a Burke. A história do “Post” parte dessa reunião de 2014 e tece uma narrativa absolutamente delirante: Que Burke faz parte de um movimento global anti-islâmico, anti-mulher, nacionalista e pró-tudo-o-que-é-mau, que chegou ao poder com a vitória de Trump e que tem à cabeça Steve Bannon. Mas como o nosso amigo astuto Phil Lawler fez notar, essa reunião aconteceu em 2014, ou seja quase dois anos antes de Trump se candidatar sequer à Presidência e muito tempo antes de alguém imaginar sequer que Bannon viesse a trabalhar para ele. Então como é que essa reunião de há anos marca Burke de tal forma que obriga o Papa Francisco a “Limpar a Podridão de Extrema-direita da Igreja Católica”?

Bom, Bannon também falou numa conferência patrocinada pela Fundação Dignitatis Humanae, em Roma, em 2014. Burke faz parte da direcção da DH. Logo, o político três vezes divorciado e o defensor incansável da indissolubilidade matrimonial devem estar completamente alinhados, não?

E a nossa colunista intrépida ainda conseguiu descobrir que outro cardeal da direcção da DH também assinou a carta com as Dubia sobre o Amoris laetitia. Com isto está a insinuar, claro, que a oposição à comunhão para divorciados recasados faz parte do pacote de “podridão de extrema-direita”.

Tal como acontece com grande parte da imprensa, o que se está a fazer aqui é traçar uma linha imaginária entre as duas realidades que qualquer pessoa que saiba o mínimo sobre o assunto só pode descartar. O Bannon é, como já disse, um arruaceiro – às vezes o mundo precisa de certo tipo de arruaceiros. Burke, por outro lado, é um homem profundamente gentil – e o mundo também precisa destes. Quem não sabe isto não conhece o Burke. Bannon tem falado da ameaça do Islão e do Marxismo cultural para o Ocidente e da necessidade de os combater politicamente. Burke também – como muitos de nós – mas como devem imaginar fê-lo por razões bastante diferentes e, sobretudo, com uma entoação muito diferente.

Cardeal Raymond Burke
De forma geral Burke tem-se preocupado com assuntos doutrinais na Igreja e – não nos esqueçamos – foi prefeito do Supremo Tribunal da Signatura Apostólica. Estamos a falar de coisas técnicas e intelectuais e não de populismo nem de política partidária. De facto ele fala frequentemente – de uma forma que, quanto a mim, exprime a sua maior paixão – sobre como o falhanço da educação católica ao longo dos últimos 50 anos feriu a Igreja e obscureceu os ensinamentos que Jesus lhe confiou para nossa salvação. Tem dito francamente pouco que pudesse ser considerado político, no sentido normal da palavra.

Mas liga-se o Bannon ao Burke, sugerindo culpa por associação, e tem-se uma verdadeira festa para a esquerda. O Cardeal já estava nas más graças de Francisco por causa da situação da Ordem de Malta – outro assunto confuso. Mas ainda por cima o Papa acaba de nomear um delegado pessoal para a Ordem de Malta o que parece deixar o Cardeal Patrono sem portfolio. O artigo do “Post” não ajuda em nada.

E depois, claro, há a questão de Burke e outros três cardeais terem publicado as “dúbia” sobre o Amoris laetitia – perguntando não só se agora, contrariando a história católica, é permitido dar comunhão aos divorciados recasados, mas também se estamos perante mudanças no campo da teologia moral em relação à consciência, normas sem excepção, mal intrínseco e a própria teologia da Santa Eucaristia.

Até se pode acreditar que Burke e companhia erraram ao publicar as “dubia”, que anteriormente tinham sido apresentadas privadamente ao Papa. Ou então que Burke tem sido tratado injustamente, como tem acontecido a outros na Curia, ao ser demitido das suas funções sem explicação. Mas é preciso ser completamente louco para colocar no mesmo saco este cardeal de brandos costumes e tudo o que os media acham repugnante – ou pior – na nova Administração americana.

É mais um sinal da confusão que existe actualmente na Igreja e no mundo.

Uma das categorias morais que tem desaparecido, juntamente com muitas outras coisas da cultura ocidental, é a noção de difamação. É pior do que mentir. É mentir com a intenção de causar dano. Vejam no dicionário. E por favor, reconheçam-na quando a virem.


Robert Royal é editor de The Catholic Thing e presidente do Faith and Reason Institute em Washington D.C. O seu mais recente livro é A Deeper Vision: The Catholic Intellectual Tradition in the Twentieth Century, da Ignatius Press. The God That Did Not Fail: How Religion Built and Sustains the West está também disponível pela Encounter Books.

(Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing na Segunda-feira, 13 de Fevereiro de 2017)

© 2017 The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de reprodução contacte: info@frinstitute.org

The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.

Monday, 13 February 2017

Prefácios papais

O Papa Francisco com o autor do livro que agora prefaciou

Já há mais detalhes sobre a visita do Papa Francisco a Fátima, que podem conhecer aqui. A propósito dessa visita, o Santuário divulgou números. Só me 2016 foram mais de cinco milhões de pessoas que visitaram.

Na Renascença temos também uma entrevista ao bispo de Fátima que admite que era céptico em relação ao fenómeno das aparições, mas que se converteu desde que assumiu as suas funções.

A semana passada divulguei duas notícias sobre o padre Timothy Radcliffe. Hoje dou-vos a oportunidade de ler a transcrição integral dessa entrevista, no inglês original. Vale sempre a pena aprofundar.

Depois das novidades que surgiram recentemente sobre o processo de canonização dos pastorinhos, o reitor do santuário admitiu, na sexta-feira, que não espera mais novidades antes do final do ano. Já do processo da irmã Lúcia há boas-novas, terminou a fase diocesana, com o bispo a elogiar o rigor.

Do Paquistão temos notícias tristes de atentados e da Guarda a notícia peculiar de dois irmãos detidos na posse de armas e de um exemplar do Alcorão. Os luso-descendentes admitem terem-se convertido ao Islão, mas ao que parece não têm ligações a grupos extremistas.

Friday, 10 February 2017

“I am very orthodox. Orthodoxy is not against adventure”

This is a full transcript of my interview with Fr. Timothy Radcliffe, in which he talks about the importance of the body for Christians, his position on homosexuality and says that the Cardinals who have been critical of the Pope ought to be engaged with.

The Portuguese news stories can be found here and here, the piece for The Tablet can be read here (paywall).


You are here for two conferences. Let’s start with the one about the body…
Is our understanding of the body in crisis? And by us, I mean society in general, rather than Catholics.
I think in the Western World we have an ambiguous relationship with the body. On the one hand we try to be beautiful, so people are very conscious of their bodies. At the same time we are often dualistic, so we hear about how people think that they are really their minds. Since Descartes, there is a lot of dualism in our culture.

So, what I am trying to suggest is how we recover a sense of the unity of the Human person. That we really are body and soul.

Recently an article in First Things spoke of the West’s current relation with body as “Gnostic Liberalism”. Is this a good description?
It’s not a description I've heard. I think there is something in it.

I suppose what they mean is that the gnostics often had a very dualistic approach, so you did not identify with your body. St. Dominic founded the order to preach against the Cathars, who thought that the body was bad. Catharism was a late version, really, of gnosticism. So from the beginning, the mission of the order was to say that the body was good. And that we are, in a real sense, bodily people.

You say in your book that child abuse is a corruption of the sense of touch… In the wake of the scandal, is there a risk we might go too far? There is now in some quarters a fear of touching children at all, of being alone with children… Is that a risk for society as well?
I think on the one hand we cannot go too far to make sure that our children are safe.
On the other hand, it seems to me that to grow up as a happy child you need to be relaxed in the presence of grown up friends, the friends of your parents, and touch is a very human thing, for Thomas Aquinas it is the most human of the senses, and Jesus touched children, he touched the sick, he touched the ill. And so touch is a very important part of any good human relationship.

So we find ourselves in a genuine difficulty. We have to safeguard our children, absolutely. But on the other hand, to deprive them of affectionate relationships with adults would be very damaging for the children and for everybody.

So if we become so suspicious that no adult can be trusted, we will do damage to children in another way.

You have been accused of “pushing the boundaries of orthodoxy” with some of your positions on homosexuality for example. What is your position on homosexual relationships?
First of all, orthodoxy pushes us to the boundaries, always. Orthodoxy is not about tying up the faith in a few narrow little sentences. Orthodoxy is pushing you towards the mystery of God. So a really orthodox person – and I am very orthodox – is somebody who is always trying to understand a little bit more deeply what is the nature of God's love, and how we live it.

Orthodoxy is not against adventure. It pushes us towards the mystery.

On the question of homosexual relationships, I think the most important thing is to help people to love well. That means you have to be close to them, you have to listen to them, and you have to share with them the Gospel, so that we help gay people to love in a way that is more profound and more respectful of the other.

A lot of people in England now assume that respect for homosexual relationships means that you must approve of gay marriage. I have written two articles about this, and I think myself that it is a mistake. I don't think it is possible, actually, for two people of the same sex to be married to each other. But that is a long question, I would have to talk for half an hour to explain why.

But I think my views on homosexuality are perfectly normal, they are no distanced from Cardinal Hume, the Church in England or, indeed, Pope Francis. My first position is rather than come in with judgement, I feel we have to listen to gay people and accompany them as they seek to learn how to love well.

Is the concept of gay marriage a result not only of the normalisation in society of the idea of homosexuality, but also of a crisis in the concept of marriage?
I would say it reflects what we think about sexual difference.

I think sexual difference is a profound part, not only of human nature, but of all nature. The whole of evolution depends upon the functioning of sexual difference, beginning with the simplest animal. Sexual difference is a great motor of creativity in our world. And marriage is the consecration of something of profound significance, not just for human beings, but for all life.

Now, to imagine that we can simply forget this in a relationship and have a marriage of two people of the same sex is to ignore something fundamental about how life is, from its very beginnings.

All the sacraments take fundamental things about being alive: Eating, drinking and sexual difference. And they consecrate them in the name of the Lord of Life. So, much as I respect gay people, much as I hope that they can have relationships of love and commitment, I do not think it is possible for them to marry.

The Church has been a sometimes lonely voice in the current debate, underlining the sacredness and the personality of the body. You write movingly about using the body for prayer. Some cultures seem to do that more easily than others. What can we do to involve our body more in prayer and spiritual life?
That is a very deep question, and I don't really know the answer.

The first thing is to recognise that when we pray our bodily position is of great importance. In the Middle Ages, and going back to the Desert Fathers, they always understood that prayer involves how you sit, how you breathe, how you move. So, deep in the Western tradition is already recognition of the importance of the body in prayer. You find this in St. Dominic, in his “Nine Ways of Prayer”, they are all nine ways of physically, how you are in your body. In genuflection, in prostration, in elevating your hands, and in everything.

The second point, is that if you look at the Old Testament you see that dance is an important part of prayer. And you can see still in Africa that people dance during the liturgy.

Now, how could we recover that tradition? I am not sure, to be honest.

Most attempts at liturgical dance in the West have been a little bit ridiculous, usually executed by people who don't know how to dance. So, what I have seen has not been very encouraging.

But I think it’s a challenge we have to look at. One of my brothers, an English Dominican, has composed a dance of praise for God, a young friar, which has received enormous recognition in Britain. So we are at the beginning of trying to discover this.

King David dances before the Ark
Moving on to the other topic you are here to speak about: Conscience.
Austen Ivereigh recently wrote that the discussion about Amoris Laetitia is not about doctrine at all, but a continuation of the discussion on the primacy of conscience. Do you agree?
Absolutely, yes. And I think the primacy of conscience, the whole debate, goes back a lot further, it goes particularly back to the XIX Century, to Cardinal Newman, who Pope Benedict XVI called the Doctor Conscientiae, the Doctor of Conscience, the great teacher of conscience.

So beginning certainly in England, with Newman, you see the evolution of a much more profound understanding of conscience, and in many ways the Second Vatican Council has been called the Council of Newman. It was trying to catch up with a lot of his theology, the theologian who Pope Benedict called his own favourite theologian.

So there is no doctrinal change in AL?
No, I think the question is not to change doctrine. It is not to dispense people from doctrine, it is not really about doctrine at all. It is about trying to understand more deeply how people travel towards God. It is a very profound meditation on what it means to be a moral being. Ever since Thomas Aquinas we have seen how morality should not be seen primarily in terms of obedience to rules, but in growing in virtue. But this is a time in Western Society where we are recovering a lot of Aquinas' understanding of Virtue. Going back to Aristotle. Where you grow in maturity and you grow in freedom.

And I think that a lot of what Pope Francis is saying is not challenging the teaching of the Church. What it is, is trying to go to a lower level, to understand the moral life, as a growth in maturity, joy and freedom. 

I am 36 years old, and I don’t recall seeing such sharp divisions in the church between so-called progressives and so-called conservatives… Do you?
I think that in the 60s and 70s we saw very profound divisions, a collapse of communication. What is new today is that the divisions focus around the Pope himself. That is new. And the Pope now is seen to be a figure who is being opposed by many people who have senior positions in the Church. So the fact of division is not so much new, what is new is where the divisions are taking place.

In the now famous case of the Dubia, the Pope seems determined not to answer. Do you think he should?
I think that it would be good to engage more closely with the four cardinals. I think it is important to recognise that they speak honestly. I disagree with them, I agree with the Pope's position. But I think we have to understand that they are expressing genuine doubts, and they are doubts which are felt by many young people.

I myself think it is important to engage with them, if they wish to be engaged with.

Bishop Jean-Paul Vesco
Again, in your book you mention a time when you were going to speak in Dublin and were interrupted by traditionalists, reciting the rosary. You criticize both traditionalists and progressives for not being able to listen to each other… Does that mean you do not like being labelled as a progressive?
Exactly!

I would reject any such label, either as progressive or as conservative. The motto of the Dominican order is Veritas - Truth. And what I hope is that together we seek what is true.

And to seek what is true you have to listen to the Word of God, you have to listen to the magisterium, you have to listen to the Tradition, you have to listen to your conscience, and I think that to impose simplistic labels is to stop the conversation in which we can all take part.

I live in a community in Oxford, most of the friars are young. The average age of our community of about 24 friars would be about 35. And many people would say that I am one of the old fashioned liberals, and they are the modern conservatives... It’s not true! I can live with, talk with and discuss anything with my younger brethren. And for me that is a joy.

I hope that we help each other to discover what the truth is.

You mention this case in Dublin, where there was an attempt by a group of people to stop me talking. Afterwards some of them waited near the hotel and grabbed me. And we sat down and we were able to have a conversation. And when we talked, they found they had misunderstood what I had been saying. And they apologised.

I think that if you engage in a real conversation, you nearly always are able to overcome these misunderstandings. We are all seekers.

Specifically about the crux of the matter in AL, communion for divorced and remarried, the Maltese bishops recently published guidelines for these situations and they seem to conclude that there may be cases where people in those situations, through accompaniment, and so on, can come to the conclusion that they are at peace with God and that they can go to communion. In your opinion, are there cases in which people can be in a state of sin, but not objectively sinful, as it says in the text?
Yes, I think so. What I would say is that we are finding our way towards clarity, and it is difficult quite to understand at the moment.

There was a very good book written by a Dominican bishop in Algeria, Jean-Paul Vesco, where he argues in favour of the indissolubility of marriage, very clearly, he does not doubt the doctrine of the indissolubility of marriage. But he recognises that there are some times when, actually, a relationship has died.

If your husband or your wife physically dies, then the church recognises that you are free to marry again, and what the bishop seems to argue, if I have understood him, is that there can be cases where relationships die, effectively. And then, perhaps, it is time to move on. I think that this may be implicitly the case in AL, but I don't think it is explicitly the case.

You see, when you get new movements of the development of doctrine, you do pass through moments of unclarity. And those moments can be frightening, because you wonder what is going on, and that is why many people are afraid at the moment. Is the essence of our faith being challenged? There are moments where there are shifts of understanding – not of doctrine, but of understanding – where we pass through some clouds, some fog, in the search to understand. And that is where we are at the moment.

In a way, is this a repetition of the debates we had at the II Vatican Council about religious freedom, ecumenical and interreligious dialogue?
Exactly.

It is very interesting, if you go back to the XIX Century, you can see Pious IX affirming all sorts of things that were contradicted by the Second Vatican Council. Now some people would find that very alarming. But when you enter more deeply into the fundamental doctrines of the Church, they have not changed. It is rather a question that we have come to understand more deeply the implications of our doctrines.

This happened after the Second Vatican Council, and it is happening now.

Wednesday, 8 February 2017

Eutanásia direito fundamental? Lol


Notícias tristes da Síria – o que não é grande surpresa – com a Amnistia Internacional a denunciar enforcamentos em massa na prisão de Saydnaya. Falei com uma das autoras do estudo, que explica como se chegaram a essas conclusões. Aqui a transcrição integral.

No Afeganistão morreram seis funcionários da Cruz Vermelha às mãos do Estado Islâmico.

Temos assistido a muitas pessoas a descrever a eutanásia como um “direito fundamental”. Mas o que é que isso quer dizer? Se é um direito fundamental, porque é que é só para doentes? Procuro explicar neste texto que isso não faz qualquer sentido.

E hoje temos novo texto do The Catholic Thing, com Casey Chalk a tentar imaginar como é que Cristo seria tratado pela imprensa se ela existisse na altura como existe agora. Divertido, vale a pena ler.

Jesus Perdido na Imprensa

Casey Chalk
Vale a pena tentar imaginar como é que os media teriam feito a cobertura da vida de Jesus de Nazaré…

[Correio da Galileia, cf. Lucas 4, 21] Jesus ben José, natural da Nazaré, causou alguma comoção este sábado na sua sinagoga local quando, tendo acabado de ler do livro de Isaías, declarou: “Hoje se cumpriu a Escritura que vocês acabaram de ouvir”. Verdadeiramente, uma declaração destas tem mais lugar na imprensa sensacionalista do que nas páginas de um jornal sério. Vários analistas têm notado que tal afirmação – que equivale a reivindicar o título de messias – parece bastante prematura tendo em conta as origens humildes de Jesus, filho de um pobre carpinteiro, sobretudo tendo em conta as alegações de que o seu nascimento ocorreu em circunstâncias pouco recomendáveis. Podemos imaginar que o Messias escolheria um local provinciano como Nazaré para lançar a sua campanha?

[Arauto Herodiano, cf. Mateus 10, 1-4] No decorrer da tentativa surpreendente (e destinada ao fracasso) de reivindicar o título de messias, o filho de carpinteiro Jesus ben José terá escolhido um círculo restrito de seguidores, que passaram a dar pelo nome de Apóstolos. O que este “gabinete” tem de mais lamentável é a sua uniformidade, sendo composto inteiramente por jovens homens judeus. Mais, existe uma quantidade claramente desproporcional de pescadores entre eles, o que sugere que este movimento nascente será fortemente inclinado para favorecer a indústria pesqueira. Pelo menos metade podem ser descritos como um verdadeiro cesto de deploráveis. E o que é que o público pode dizer da sua escolha de porta-voz, um irascível pescador gabarolas chamado Simão, mais conhecido pelas suas pobres qualidades na faina do que como líder de um movimento populista? O facto de Simão ter adoptado o nome Pedro não engana ninguém.

[Diário da Judeia, cf. Lucas 14, 26] Jesus de Nazaré continua a surpreender com as suas declarações chocantemente binárias, incluindo a mais recente em que afirmou: “Se alguém vier a mim, e não odiar o seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a sua própria vida, não pode ser meu discípulo”. A direcção da nossa publicação não pode deixar de lamentar tais declarações que encorajam o ódio de forma tão leviana. Há quem tenha tentado defender os pronunciamentos do galileu dizendo que se trata de hipérbole ou metáfora. Mas isto não é aceitável. Uma figura pública como Jesus não se pode dar ao luxo de fazer comentários tão susceptíveis de serem mal interpretadas, como serão, certamente, sobretudo pelos seus seguidores mais radicais. 

[Rede de Notícias dos Fariseus, cf. Mateus 15, 21-28] Testemunhas nos distritos de Tiro e de Sidónia relatam uma conversa particularmente preocupante entre Jesus e uma cananeia que o procurou pedindo ajuda para a sua filha, possuída por um demónio. De acordo com várias pessoas que estiveram presentes, Jesus comparou a cananeia a um “cão” a quem não se deve dar a própria comida. Mais desconcertante ainda é o facto de Jesus ter congratulado a senhora depois de esta lhe ter suplicado dizendo que se fosse de facto uma cadela, mereceria pelo menos “as migalhas que caem da mesa do seu dono”. O uso deste tipo de linguagem misógina por parte de um candidato a messias não pode de maneira alguma ser tolerado. 

[Correio Saduceu, cf. Mateus 8, 5-13] Numa aparente tentativa de salvar a face, depois de recentes críticas aos seus comentários ofensivos para com uma pobre mulher cananeia, Jesus pareceu elogiar outro gentio, desta feita um centurião romano. Jesus terá alegadamente declarado: “Em verdade vos digo, nem em Israel vi tamanha fé”. É pena que numa tentativa de compensar as suas prévias declarações insensíveis, Jesus esteja agora a recorrer a elogios que apenas podem ser entendidos como profundamente paternalistas. No final de contas esta mais recente declaração parece-nos ser demasiado pouco, demasiado tarde.

[Sábado Diário] Continuam a surgir relatos sobre alegados milagres de Jesus, com testemunhas a sublinhar a sua capacidade de curar uma variedade de indivíduos tanto na Judeia como na província. Cegos, paralíticos, doentes, possessos e muitos outros que sofrem de toda a variedade de maleitas têm sido alegadamente curados às mãos deste vendedor da banha da cobra. A confiar nos relatos, os actos de Jesus são altamente ofensivos, pois implicam que há algo de errado com as pessoas com quem se cruza. Em vez de “curar” estes indivíduos, o suposto messias devia fazer por afirmá-los na sua identidade e deixar de tentar mudar aqueles que não precisam de ser mudados.

[Globo de Jerusalém] Os primeiros dias do malandro nazareno na capital têm sido simultaneamente chocante e desconcertante, com Jesus a declarar uma lista de “sete ais” dirigida aos principais escribas e fariseus da Judeia. Que um homem que aspira ao título de messias censure de forma tão brusca as elites culturais e intelectuais da nossa nação revela uma profunda ingenuidade, fazendo inimigos precisamente daqueles de quem mais precisa como aliados. Por sua vez, o número de circo que foi a expulsão dos cambistas do átrio do templo, revela o quão pouco Jesus percebe até dos princípios económicos mais básicos. Mais, a sua declaração absurda de que destruiria o templo e o reconstruia em três dias demonstra os níveis de irracionalidade e de absurdo a que a sua campanha se reduziu.

[Semanário do Sinédrio] O julgamento, condenação e execução do suposto profeta galileu Jesus de Nazaré são um fim digno, se infeliz, do “ministério” deste suposto messias. Tal conclusão será o resultado inevitável e necessário das palavras e acções de um homem cuja linguagem caustica e actos indecifráveis tantas vezes arreliaram as sensibilidades cada vez mais tolerantes da nossa nação. Apenas podemos esperar que os parolos rurais responsáveis pela ascensão e queda meteórica de Jesus reconheçam agora que o melhor que têm a fazer é deixar estas coisas para as elites do país, que se preocupam verdadeiramente com os interesses nacionais.

[Imprensa da Judeia] Um documento interno do Sinédrio a que a Imprensa da Judeia teve acesso revela que vários dos seguidores de Jesus afirmam que o suposto messias ressuscitou dos mortos. Segue-se um comentário de Saulo de Tarsus, que nos deixa cinco razões, encontradas na Torá, que mostram que não seria possível tal acontecer…


Casey Chalk é um autor que vive na Tailândia, onde edita um site ecuménico chamado Called to Communion. Estuda teologia em Christendom College, na Universidade de Notre Dame. Já escreveu sobre a comunidade de requerentes de asilo paquistaneses em Banguecoque para outras publicações, como a New Oxford Review e a Ethika Politika.

(Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing na quinta-feira, 2 de Fevereiro de 2017)

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The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.

Eutanásia, um “direito fundamental” muito esquisito

Nancy Verhelst recorreu aos seus
próprios "critérios de dignidade"
Recentemente, num post no Facebook, José Manuel Pureza falou do acesso à eutanásia como um “direito fundamental”. Também no manifesto em que se pede a legalização da eutanásia diz-se que a sua criminalização “fere os direitos fundamentais relativos às liberdades”.

Não parece haver dúvida, portanto, que os seus defensores consideram mesmo que a eutanásia é um direito fundamental.

Em Portugal os direitos fundamentais estão enumerados na Constituição. Naturalmente, o direito à eutanásia ou mesmo o direito a pôr fim à própria vida não constam. Ao nível do direito internacional o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem tem sido claro ao dizer que não existe qualquer direito à eutanásia nas convenções que regem estes assuntos.

Isto é só para clarificar. O que os subscritores deste manifesto querem certamente dizer é que querem que este direito seja reconhecido. Mas o termo não deixa de ser curioso. É que não pedem apenas o direito à eutanásia, falam mesmo de um direito fundamental. Não fica claro se pensam que deve existir um direito fundamental à eutanásia em si, ou se esta deve ser incluída de forma mais geral no direito fundamental à liberdade.

Mas o problema com esta argumentação é que os direitos fundamentais não são apenas para alguns. Não há direitos fundamentais para homens ricos que não se aplicam a pobres; não há direitos fundamentais para jogadores de futebol que não se aplicam a coleccionadores de selos; certamente não existem direitos fundamentais dos quais estão excluídos os doentes e de igual forma não pode haver direitos fundamentais que são só para doentes.

Mas essa é precisamente a proposta dos defensores da eutanásia. Legislar um “direito fundamental” que apenas se aplica aos doentes, uma vez que o manifesto é claro ao dizer que a eutanásia só se aplicaria a “doentes em grande sofrimento e sem esperança de cura”.

Sejamos claros, se existe um direito fundamental a pôr fim à própria vida, ou se a eutanásia deve estar incluída no mais geral direito à liberdade, então tem de ser para todos. Não faz sentido ser só para alguns.

À luz do manifesto, a questão torna-se ainda mais grave, pois fala do: “Direito a morrer em paz e de acordo com os critérios de dignidade que cada um construiu ao longo da sua vida”.

Se a bitola são os “critérios de dignidade que cada um construiu ao longo da sua vida”, então porque é que querem limitar a eutanásia aos moribundos em sofrimento? E se segundo o meu critério a minha dignidade está irremediavelmente posto em causa pelo facto de eu estar a ficar cego? E se eu tiver sido sujeito a uma operação que correu mal e que me deixou desfigurado, porque não hei-de poder pôr fim à minha vida? E se simplesmente estiver farto de estar vivo? Podem parecer casos parvos, e talvez fossem, não fosse o detalhe de serem reais.

Claro que os defensores da eutanásia não querem que nós pensemos que isto seja possível algum dia em Portugal. Mas se a eutanásia vier a ser aprovada então é precisamente isso que vai acontecer, porque é o único caminho que respeita a lógica da própria argumentação. É o problema de abrir a caixa de pandora de “direitos” que não têm qualquer base na realidade.

Tudo isto parece-me uma coisa bastante evidente, e eu não sou de Direito. Mas então porque é que os promotores deste manifesto, que são pessoas inteligentes, não o percebem? Imagino que seja uma questão de estratégia. Eles sabem que se definirem a eutanásia como aquilo que é, a morte de um ser humano provocada por outro ser humano, as pessoas perceberiam rapidamente precisamente aquilo de que estamos a falar: Homicídio.

Não, a eutanásia não é um direito fundamental, não é sequer um direito. Pelo contrário, é um crime intolerável que leva inevitavelmente a abusos e a situações vergonhosas, e que fere a dignidade não só do doente como de todos os que vivem nos países em que esta monstruosidade é tolerada.

Veja também

Tuesday, 7 February 2017

Saydnaya: "We have no reason to believe mass hangings have stopped"

Lynn Maalouf
Full transcript, in the original English, of my interview with Lynn Maalouf, from Amnesty International - Lebanon.

The news report, in Portuguese, can be found here. Amnesty's full report can be found here

Your report mentions that 13.000 people may have been executed. How did you calculate this number? Is there a margin of error, could the real number be even higher, or perhaps lower?
What we say is that the number could range between 5.000 up to 13.000, and this is based on an estimate, based on the information that we gathered during the course of the investigation.

Basically, what we did find out, from the interviews that we conducted, is a systematic process of extrajudicial killings that were happening once to twice every week. So we base our calculations on that information and on the information that every time there was a mass hanging it was for groups of between 20 and 60 people. That is how we reached this estimate of 5.000 up to 13.000 people who may have been killed.

We are calling for an independent investigation into these mass hangings to establish the facts.

How did you reach the people interviewed? Are they mostly people who fled Syria, or were the interviews conducted in Syria?
Amnesty International does not have access to Syria, we haven't been in there for quite a long time. So all of the interviews were conducted in Southern Turkey, mostly, and some in Europe and elsewhere.

So they are all based on interviews with people who fled Syria. All of them are either former detainees, there are also former judges, prison officials or prison guards who used to work at Saydnaya at the time that we recount the evidence, the findings that we have, as well as experts on detention and other organisations we collaborate with.

As far as you know, are these mass executions still going on?
We don't have any information about this. The information we have covers the period of 2011, going to 2015 and that is when some of the key witnesses giving us the information stopped working in Saydnaya prison stopped being there physically.

So we don't have any information that this is still going on, but what we do say is that we have no reason to believe that these hangings have stopped.

Living in Beirut, are you afraid of repercussions from the Syrian state or allies?
Amnesty International regional office started operating here this summer. We don't have any reason to... We haven't had any threats, so far, and there is no reason to stop the work that we are doing.

What we do is that we document these facts and then issue recommendations. Whether we issue it from Beirut or from London, it's the same. We do hope to engage with the relevant authorities to address the recommendations that we have in a meaningful way.

But other organisations before us have published reports that are more damning than this report and there have not been any security concerns that we are aware of.

As far as you know, is it only the Syrian Armed Forces that are involved, or is there also involvement of allied militias, as we know there are many fighting side by side with the army?
Now we are talking about violations that are taking place in Saydnaya, a Government controlled prison. We are saying that these systematic practices could not have happened without the knowledge of the highest levels of authority.

But as far as we know there aren't any militias operating in this prison, nor allies of the Syrian government operating there. But we are calling on the allies of the Syrian Government, namely Russia, Iran and now the United States, to exert any pressure they can on the Syrian government to allow independent monitors into the Syrian prisons.

Monday, 6 February 2017

Vergonha e humilhação na Austrália

(Clicar para aumentar)
Fim-de-semana em cheio no que diz respeito a notícias de religião…

No sábado foi a surpresa em Roma, com o aparecimento de cartazes críticos do Papa, acusando-o de falta de misericórdia na forma como lidou com várias situações internas da Igrejas.

Domingo começou a circular uma notícia dando como certa a canonização dos pastorinhos. Ao que parece não é assim tão certo, faltam ainda algumas etapas do processo, mas Francisco e Jacinta estão sem dúvida mais próximos dos altares.

Hoje, então, foi a revelação na Austrália de que há alegações de prática de abusos sexuais contra menores relativos a 7% do clero do país desde 1950. São notícias terríveis, vale a pena ler com cuidado e recordar esta entrevista que fiz em 2012, quando o inquérito começou a trabalhar este assunto.

Enquanto meio mundo se preocupa com Trump, poucos dão conta do que se passa nas Filipinas, onde o Presidente se orgulha de estar a massacrar pessoas ligadas ao tráfego de droga. Os bispos, Deus os guarde, não se calam, apesar dos perigos de contrariar Duterte.

Mas por falar em Trump, e embora não tenha nada de especificamente religioso, vejam a série de reportagens que fiz sobre as suas principais medidas desde que foi eleito e os obstáculos que terão de enfrentar.

O Papa Francisco, aparentemente imune aos tais cartazes, voltou a falar contra o aborto e a eutanásia e hoje mesmo o Vaticano reafirmou a sua oposição a tais práticas. A propósito, vêm aí mais 40 dias de oração pela vida. Vejam o cartaz.

Por fim, são já mais de 400 os judeus sefarditas que receberam nacionalidade portuguesa desde que a lei o permite. Veja na notícia de onde é que eles vêm.