Tuesday, 31 May 2016

Ecumenismo, "Lisbon Style"

Amanhã é Dia Internacional da Criança. Aproveite o dia, brinque com os seus filhos, mime-os, mas pare, nem que seja por uns instantes, para rezar por todas aquelas que não têm possibilidade de ser criança. Em particular, rezemos pelas crianças da Síria, juntamente com a Ajuda à Igreja que Sofre.

Começou esta terça-feira em Lisboa um encontro ecuménico que se realiza pela primeira vez em Portugal. Trata-se da reunião dos Conselhos Nacionais das Igrejas da Europa. Falei com D. José Jorge de Pina Cabral, bispo da Igreja Lusitana, sobre este encontro em que D. Manuel Clemente participará como conferencista.

Estamos em pleno debate sobre as 35 horas. O que é que isto tem a ver com a religião? Bom, tudo o que mexe com a vida familiar interessa á Igreja, como explica Pedro Vaz Patto, que considera que mais importante que 35 horas ou 40 é dar-se prioridade à família.

Volto a chamar a vossa atenção para o meu artigo sobre a polémica das escolas e dos contratos de associação, que publiquei ontem no blog e que está a gerar grande discussão, muito interessante e informativa, aliás, no Facebook. Aproveito também para partilhar este artigo do meu amigo José Maria Seabra Duque, bastante em linha com o meu, mas mais bem sistematizado e que vale a pena ler.

Monday, 30 May 2016

Contratos de Associação e outras guerras

Bob Dylan: Não é um padre da Igreja, mas quase...
Este fim-de-semana decorreu a grande manifestação dos defensores dos colégios afectados pelos cortes nos contratos de associação. A Conferência Episcopal deu o seu apoio à manifestação, embora, que eu saiba, nenhum bispo tenha marcado presença.

Há semanas que ando a evitar entrar nesta guerra, mas hoje acabei mesmo por escrever um texto de opinião. Julgo, sem me querer armar em especialista, que esta será a batalha errada e no meu texto defendo uma alternativa, que é o cheque ensino, e que me parece mais justa.

No sábado foi publicado mais um artigo da série que tenho feito sobre o jubileu da Misericórdia. Desta vez, com a ajuda do especialista padre Isidro Lamelas, olhamos para a misericórdia segundo os padres da Igreja. Uma conversa fascinante, com visões surpreendentes, onde até cabe o Bob Dylan e cinema italiano! Não deixem de ler, que vale a pena.

O Papa Francisco pede que haja mais disponibilidade nas paróquias e diz que até lhe apetece chorar quando vê os horários das paróquias.

Contratos de Associação – A batalha errada?

Yellow? Is it me you're looking for?
Dois pontos prévios… 1) Toda a vida andei em colégios particulares, nenhum dos quais com contrato de associação, mas tirei o curso numa universidade pública. Não é que isso seja particularmente importante, mas é para não me virem acusar de nada.
2) Os meus filhos andam num colégio privado, sem contrato de associação, pela simples razão de que a minha mulher trabalha na instituição e por isso é-nos simultaneamente mais prático e ao mesmo tempo economicamente viável por causa do desconto de que beneficiamos.

Dito isto, quero deixar claro que sou simultaneamente um ignorante em matéria de política educativa e também o maior especialista do país em política educativa. Não percebo nada da legislação nem dos programas escolares, ignoro as guerras dos professores e da Fenprof bem como o que se passa no Ministério. Mas enquanto pai de quatro alunos, com um quinto a caminho, sou o maior especialista que existe sobre aquilo que quero da sua educação e aquilo que espero para eles na escola.

Com estes preliminares esclarecidos, vamos á questão do momento… Os contratos de associação.

Pelas redes sociais e também pelas caixas de comentários das notícias da Renascença, que por vezes preciso de moderar, vejo que reina uma ideia muito simplista sobre esta disputa.

A ideia que se espalhou é que o Governo anda a sugar o tutano das escolas públicas para ajudar os donos dos privados a construir piscinas olímpicas para meninos ricos. Mas não… Na verdade o que está em causa, tanto quanto consigo perceber, é o entendimento que privados e Ministério fazem de um contrato assinado há um ano sobre o financiamento de turmas. É uma disputa jurídica e que provavelmente será decidida em tribunal.

Pelo meio há várias coisas que me parecem evidentes:
1)      Que os mais directamente afectados pelo corte do financiamento nos colégios serão os alunos com menos recursos.
2)      Que provavelmente existem mesmo casos de abusos, tendo sido assinados contratos de associação com colégios que não deveriam ter direito a isso.
3)      Que isto não pode ser uma simples guerra esquerda-direita, porque se fosse os autarcas do PS não estariam do lado dos colégios dos seus concelhos.
4)      Que em muitos casos os colégios que estão a ser ameaçados, longe de serem ninhos para as classes privilegiadas são espaços onde se aceitam os alunos mais difíceis, ou com necessidades especiais, e com jovens de todos os extractos sociais, onde o ensino é excelente.
5)      Que me cheira muito a esturro o facto de o Governo (os sucessivos governos) se recusarem a dizer exactamente quanto dinheiro custa ao Estado um aluno no público, já que sabemos já quanto custa nos colégios privados.

Mas claro que esta questão jurídica dos contratos de associação entronca numa disputa muito maior e é essa que me parece grave. Que visão é que temos do ensino em Portugal?

Nem isto...
A extrema-direita e a esquerda mais radical (que tem vários ganchos no PS) encara a educação como um instrumento para promover a igualdade. Para eles haveria apenas um programa, um sistema escolar, um pensamento. E o responsável por tudo isto deve ser, claro está, o Estado, todo-poderoso e omnisciente. Espanta-me como as mesmas pessoas que se queixam do Estado por tudo e por nada aceitam sem pestanejar que os burocratas que pelos vistos não pensam em mais nada se não roubá-los diariamente são os que se encontram mais bem colocados para educar os seus filhos.

Quer isto dizer que sou contra o ensino público? Claro que não! O ensino público e tendencialmente gratuito tem sido uma enorme benesse social. O que contesto é a monopolização do ensino por parte do Estado e a ideia de que devemos confiar cegamente não só neste Governo mas em todos os Governos, para toda a eternidade, como se fosse impossível voltar a ver um Estado totalitário e mau, no sentido mais puro da palavra.

Contra esta posição está a minha (que não me parece especialmente de esquerda ou de direita) que considera que o primeiro e último responsável pela educação dos meus filhos sou eu e a minha mulher. E que o Estado faz muito bem em querer educar as crianças do país, mas deve fazê-lo sempre em conjunto com os pais, e nunca contra eles.

É por isso que a Igreja, para espanto de muitos, está nesta luta. Porque esta é a visão da doutrina social da Igreja sobre a educação, como o Papa deixou muito claro na sua última exortação apostólica. Não se trata apenas de defender privilégios (até porque a maioria das escolas com contrato de associação não são católicas e a maioria das escolas católicas não tem contrato de associação), trata-se de combater aquilo que na sua perspectiva – e na minha – está na verdade por detrás desta tomada de posição do Governo, um ataque à subsidiariedade na educação.

Dito isto, o que acho em particular desta batalha dos contratos de associação? Acho, acima de tudo, que esta é a batalha errada…

Compreendo a luta dos colégios, estão em muitos casos a lutar pela sua sobrevivência, mas para mim isto resolvia-se de forma mais justa com a implementação simples do cheque escolar.

...nem aquilo.
Para quem não sabe, já vários países usam este método e este, sim, dá verdadeira liberdade de escolha às famílias, e não apenas às que vivem perto de uma escola com contrato de associação.

A ideia é simples. Eu pago (números inventados, obviamente) 400 euros por ano de impostos para a educação. Cada aluno custa ao Estado, no ensino público, 300 euros por ano. O Estado dá a cada família um cheque ensino por filho, no valor de 200 euros por ano. Se eu quiser inscrever os meus filhos num colégio, o cheque ensino serve para abater no custo das propinas. Se quiser mantê-los no ensino público, o cheque fica na gaveta, uma vez que unicamente pode ser usado para ensino. Mesmo que use o cheque, continuo a contribuir para o sistema público, e bem.

Se eu quiser colocar os meus filhos num colégio católico, posso. Se os quiser mandar para o colégio islâmico de Palmela, posso. Se os quiser meter na Escola Karl Marx Lenin, força! Desde que aprendam um conjunto de matéria básica essencial e moralmente neutra, o resto é comigo e com os pais de cada criança.

Não me parece complicado… Estarei enganado? Aceito de bom grado sugestões e correcções.

Wednesday, 25 May 2016

Homens sem fé são perigosos

Al-Tayeb, imã de Al-Azhar
O imã do Al-Azhar, que esteve na segunda-feira com Francisco, teceu grandes elogios ao Papa e diz que os homens sem religião são uma ameaça para os seus próximos.

Francisco está preocupado com a tragédia das crianças desaparecidas.


Mais um caso de polícia envolvendo a Igreja, um padre de Paredes está acusado de maltratar idosos ao seu cuidado, a Obra da Rua, a que pertence, diz que o sacerdote está a ser vítima de uma campanha de achincalhamento.

Já em Roma não mete polícia (o que já não é nada mau) mas registam-se duas demissões de peso no Banco do Vaticano.

Hoje é dia de Catholic Thing. No artigo desta semana o jesuíta James V. Schall revisita Jacques Maritain, que disse que o homem está sujeito a uma “grande sede” que passa a vida a tentar saciar

A Grande Sede

James V. Schall S.J.
Na colecção de ensaios “Raison et raisons”, Jacques Maritain escreve: “O mundo está sujeito a uma grande sede, um grande anseio místico que não se conhece sequer a si mesmo e que, uma vez que permanece sem objecto, se transforma em desespero ou neurose”. A maioria das pessoas compreende facilmente a noção de uma grande “sede”. A sede chama a nossa atenção. Se a sede é grande, não perguntamos: “O que é que nos sacia a sede?” Já sabemos. O “objecto” da nossa necessidade física é água.

Outras bebidas, como a limonada, também podem apascentar as nossas gargantas ressequidas. Chesterton dizia que depois de uma longa caminhada, numa estrada poeirenta e ao calor, as pessoas não bebem cerveja por causa do álcool. A cerveja é uma bebida. Estamos com sede. Para uma sede normal aquilo que desejamos é simplesmente água. É precisamente porque a cerveja é na maior parte constituída por água que também cumpre esse propósito. Nas mesmas circunstâncias, um Martini ou uma aguardente não resultam. Aliás, provavelmente deixam-nos com ainda mais sede de água. Podemos mesmo pensar: “Porque é que existe água e também sede no universo”?

O interessante nas afirmações de Maritain é a analogia com outro tipo de “sede”, uma sede de algo para além de água. Não é um argumento de desejo para existência, mas de existência para desejo. Este “anseio místico” não se conhece a si mesmo. Ao contrário da sede normal, esta sede mais profunda não conhece imediatamente o seu objecto. O que é que nos pode saciar?

Se estiver a morrer de sede, ninguém tem dúvidas sobre o que quero e do que necessito. O Evangelho diz que seremos julgados por ter dado, ou não, um copo de água a alguém que precisa. Mas a necessidade e aquilo que a satisfaz são tão evidentes que dispensam mais explicações. Se alguém está verdadeiramente com sede, não lhe perguntamos porque é que continua a falar de água. Sabemos do que precisa. Mesmo que optemos por não lho dar, o problema não está em não saber do que precisa.

Há dois pontos no comentário de Maritain: 1) ansiamos por algo que não conseguimos ainda identificar inteiramente, e 2) este “objecto” que buscamos está para nós como a água está para a sede. Ou seja, é algo bem real, algo que responde à “sede” que as nossas almas experimentam. São reflexões muito agostinianas.

Mas reparem como Maritain utiliza o termo “sujeito a”. Uma vez que não conhecemos o objecto exacto da nossa busca “face a face”, por assim dizer, partimos nas mais estranhas direcções em busca dos locais onde possa ser encontrado. Agostinho já tinha dito que tendemos a confundir as coisas bonitas com a própria beleza.

Jacques Maritain
Mas quando não encontramos aquilo pelo qual estamos sedentos, o resultado pode ser “desespero e neurose”. Muitos pensadores suspeitam que as almas desordenadas que vemos à nossa volta resultam de não saber – ou não querer saber – o objecto que verdadeiramente pode transformar a nossa busca, da mesma maneira que a água transforma um homem cheio de sede. Será que não temos, então, qualquer luz, qualquer conhecimento do objecto desta nossa sede que todos sentimos dentro de nós, quer queiramos admitir, quer não?

A raiz do problema é, julgo, aquilo para o qual somos criados. Somos criados unicamente com o propósito de viver, sim, para sempre, em comunhão com o Deus trino. Não há ninguém que tenha sido criado com outro objectivo. Tudo o que encontramos durante a nossa existência, incluindo nós próprios, tem como propósito imediato ser aquilo que é. E nós somos pessoas, e não tartarugas. A montanha é uma montanha, e não uma árvore, mesmo que as árvores cresçam na montanha.

A “sede” que todos carregamos no nosso ser não nos deixa em paz. Investigaremos, testaremos e provaremos tudo o que encontrarmos pelo caminho. Descobrimos que as coisas finitas são boas, cada uma à sua maneira. Mas não nos apaziguarão. “Porquê?”. Se somos criados para encontrar aquele “objecto” que nos satisfaz, porque não somos informados com mais detalhe sobre ele?

Mas a verdade é que fomos e somos, e o detalhe não falta. O drama do nosso “desespero e neurose” não é que somos negligenciados pela fonte do nosso ser. Não somos. O problema é que temos de alcançar o “objecto” que nos sacia pelas formas que nos chegaram. Inventamos alternativas, na maior parte projecções bizarras da nossa mente, mas por alguma razão estas não funcionam.

Sem a “sede” não poderíamos ser aquilo que somos. Com ela, apenas podemos ficar satisfeitos com a vida divina segundo o modo como nos foi dado a receber.


James V. Schall, S.J., foi professor na Universidade de Georgetown durante mais de 35 anos e é um dos autores católicos mais prolíficos da América. O seus mais recentes livros são The Mind That Is CatholicThe Modern AgePolitical Philosophy and Revelation: A Catholic Reading, e Reasonable Pleasures

(Publicado pela primeira vez na Terça-feira, 24 de Maio de 2016 em The Catholic Thing)

© 2016 The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de reprodução contacte: info@frinstitute.org

The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.

Monday, 23 May 2016

Bispo disposto a morrer por condenados à morte

Bispo Ramón Arguelle
O Papa Francisco recebeu esta segunda-feira em audiência o imã da Universidade de Al-Azhar. Não é apenas um encontro de cerimónia, trata-se do restabelecimento de relações que estavam cortadas desde 2011.

Entretanto Francisco enviou uma mensagem aos católicos na China, a tempo do dia de Nossa Senhora Auxiliadora, que se assinala amanhã.

Está a decorrer a cimeira humanitária de Istanbul. A Igreja está representada pelo seu secretário de Estado, monsenhor Parolin e o Papa insiste que Roma está atenta a este assunto.

Antevê-se uma relação difícil entre o Presidente das Filipinas e os bispos. O Presidente eleito – que ainda não tomou posse – diz que quer implementar de novo a pena de morte e pelo menos um bispo afirma que está disposto a morrer no lugar dos presos que sejam condenados à forca.

O vencedor do prémio Árvore da Vida, Walter Osswald, deu uma entrevista à Renascença e critica a lei das barrigas de aluguer, que considera mal escrita e pouco exequível. Entretanto já existe um abaixo-assinado para obrigar a um novo debate sobre o assunto.

O artigo da semana passada do The Catholic Thing teve muito mais adesão do que até eu esperava. Se ainda não leram, façam-no, para compreender a posição difícil em que se encontram alguns conservadores americanos, que sempre se opuseram a Trump mas estão bem conscientes das repercussões a médio e longo prazo para os Estados Unidos, sobretudo a nível de questões fracturantes, se ganhar a Hillary Clinton.

Wednesday, 18 May 2016

Inferno em Sirte, Árvore da Vida em Portugal, Trump nos EUA

Hillary ou Trump? Há uma terceira opção...
Já todos ouvimos falar de Raqqa, a capital do Estado Islâmico. Pois agora temos uma “Nova Raqqa”. Trata-se de Sirte, na Líbia, um novo inferno na terra.

Foi encontrada esta quarta-feira uma das raparigas que foi raptada pelo Boko Haram juntamente com mais 200, em Chibok, na Nigéria. É um sinal de esperança de que as restantes também possam vir a ser devolvidas à família.

Foi anunciado hoje que o Prémio Árvore da Vida será entregue ao professor Walter Osswald, especialista em Bioética.

As escolas privadas, entre as quais muitas confessionais, continuam o seu braço de ferro com o Governo e agora depositam as suas esperanças em Marcelo Rebelo de Sousa.

Hoje temos novo artigo do The Catholic Thing. No fundo é um apelo ao voto em Donald Trump. Não, não perdi a cabeça… Leiam que vão entender a situação difícil em que se encontram os conservadores americanos.

Chegou a Hora de Agir

Hadley Arkes
Na Era de Obama aquilo que em tempos era inimaginável na nossa política e no direito tem-se tornado gradualmente “normal”, de tal forma integrado nas nossas vidas que mal se dá por ele. Em Setembro, como já fiz questão de dizer, 177 democratas no Congresso votaram contra uma lei que puniria “cirurgiões” que matam bebés que sobrevivem ao aborto. Até católicos notáveis na imprensa não acham que o assunto seja suficientemente importante para referir quando entrevistam Hillary Clinton, Donald Trump ou outros candidatos.

E caso não tenham estado a prestar atenção às notícias das últimas semanas, houve outra questão recente que tornou o bizarro não só plausível mas mesmo obrigatório nas nossas leis. Um tribunal anulou a decisão da Comissão de Educação do Estado da Virgínia, que obrigava as crianças a usar as casas de banho nas suas escolas de acordo com o seu sexo biológico.

O juiz Henry Floyd, nomeado por Obama, decidiu a dar crédito à ideia de que a Lei dos Direitos Civis [Civil Rights Act], que proíbe a discriminação sexual, pode agora ser lida de forma a abranger a discriminação de “género”. Ou seja, que a lei pode ser usada para obrigar a respeitar a visão que um jovem tem da sua própria “identidade” sexual, independentemente da sua anatomia.

O artigo IX das Emendas da Educação de 1972 torna claro que ao proibir a discriminação sexual a lei não puniria as instituições de ensino por manterem “residências separadas, com base no sexo”. O sentido de sexo, aqui, era claramente de “homens e mulheres”, rapazes e raparigas, e seria muito pouco plausível por parte da administração promulgar uma lei tão claramente distante dos estatutos e do senso comum.

O juiz Floyd decidiu impor essa leitura da lei com base apenas num parecer escrito pela Divisão dos Direitos Civis do Departamento de Educação. Na mesma altura, a Procuradora-geral dos Estados Unidos, Loretta Lynch, acusou o congresso estadual da Carolina do Norte de violar a Lei dos Direitos Civis, fazendo uma leitura idêntica do estatuto.

O congresso estadual tinha anulado a política adoptada em Charlotte, consagrando o direito de pessoas “transgénero” a usar a casa de banho que quiserem, independentemente dos sentimentos de terceiros. A procuradora-geral fez acompanhar a sua decisão de uma ameaça de cortar os fundos federais que o sistema educativo da Carolina do Norte recebe, em todos os níveis de ensino.

Vou deixar de lado, por hoje, a questão da implausibilidade da fantasia do “transgénero”. O Dr. Paul McHugh, da Escola de Medicina da John Hopkins, deixou de fazer operações de mudança de órgãos sexuais. Segundo ele, os estudos revelam um triste encadeamento de depressão, bem como um desejo de “voltar atrás” quando se torna claro que a operação não consegue alterar os factos profundos da natureza sobre aquilo que nos constitui. Estes jovens confusos precisam de aconselhamento sério e não de cirurgia.

Neste momento o meu enfoque é outro. Aquilo a que estamos a assistir é, em primeiro lugar, a esquerda libertada de qualquer respeito pelo lugar da “natureza” e das restrições morais em matéria de sexualidade.

Estamos ainda a assistir a uma vontade por parte da esquerda de utilizar os poderes do Estado administrativo, separados de qualquer ligação plausível aos estatutos que, por si só, constituem as bases de autoridade das ordens administrativas.

E vemos ainda a disposição de alargar os poderes do governo federal de tal forma que tornam nulas as barreiras e as restrições do federalismo.

Entre 2001 e 2011, o financiamento federal das escolas na Carolina do Norte aumentaram em cerca de 400 milhões de dólares. Quando eu era mais novo, nos dias de Eisenhower, o financiamento federal da educação era uma questão séria. À medida que esses subsídios foram sendo alargados, tanto aqui como noutras áreas, temos visto crescer o poder do governo federal para manipular os Estados, chegando ao ponto de impor uma política perversa.

Já escrevi antes neste espaço, registando o meu desconforto, partilhado por muitos, sobre o facto de ter de escolher entre Clinton e Trump e, por enquanto, decidi-me pelo “joker” em vez da “Coisa Certa e Brutal”. Tenho amigos, porém, que dizem que mais vale esperar quatro anos, deixar a Hillary nomear o sucessor de Scalia [juiz do Supremo Tribunal que morreu este ano] e absorver o mal que for feito, em vez de arriscar ver o Trump transformar o partido conservador.

Mas temo que os meus amigos sejam demasiado optimistas. Subestimem seriamente a profundidade dos danos que podem ser infligidos se uma administração de esquerda encher os tribunais federais menores de juízes como Floyd. Esses juízes estarão mais que dispostos a defender as teorias dos intelectuais de esquerda sobre sexualidade e a extensão dos poderes executivos bem para lá dos limites da Constituição.

Estamos a subestimar seriamente o facto de que se estas novidades e corrupções continuarem durante mais quatro ou oito anos, poderão tornar-se de tal forma entranhados que serão impossíveis de desenraizar. Chegou a hora de homens e mulheres prudentes morderem o lábio e fazerem o que é preciso fazer.


Hadley Arkes é Professor de Jurisprudência em Amherst College e director do Claremont Center for the Jurisprudence of Natural Law, em Washington D.C. O seu mais recente livro é Constitutional Illusions & Anchoring Truths: The Touchstone of the Natural Law.

(Publicado pela primeira vez na Terça-feira, 17 de Maio de 2016 em The Catholic Thing)

© 2016 The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de reprodução contacte: info@frinstitute.org

The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.

Tuesday, 17 May 2016

Tiara papal feita por freiras ortodoxas? Sim, aconteceu

O fundador da Comunidade Santo Egídio está em Portugal para se encontrar com Marcelo Rebelo de Sousa. Na agenda está a crise moçambicana, assunto abordado também nesta entrevista exclusiva com a Renascença.

O Papa Francisco deu ontem uma entrevista ao La Croix em que falou de vários assuntos, voltando a criticar o mercado “inteiramente” livre, mas sublinhando também a importância da liberdade de consciência e a forma como a Europa tem acolhido os refugiados.

Francisco, que entretanto recebeu um presente que tem tudo a ver com a instituição do Papa mas muito pouco a ver com ele, também lamentou o actual estado de “analfabetismo espiritual” na sociedade.

Friday, 13 May 2016

Papa na inauguração das novas instalações da Renascença

Acabaram de ser oficialmente inauguradas as novas instalações da Renascença, aqui na Quinta do Bom Pastor. Estiveram cá quase todos os bispos, o Primeiro-ministro e o Presidente da República e nem o Papa quis faltar à inauguração, mandando uma bênção e uma mensagem.

Amanhã realiza-se a Caminhada pela Vida. Que ninguém falte! Vai ser lançada uma petição a pedir à Assembleia da República que não aprove a Eutanásia e que aposte nos cuidados paliativos.

O Patriarca, antes de vir à Renascença, esteve em Fátima onde presidiu às cerimónias do 13de Maio e disse que só por distracção ou preconceito é que não se reconhece a importância da Cova da Iria para Portugal.

Também hoje, por ser 13 de Maio, recuperamos a ligação de João Paulo II a Fátima, pela voz do seu então secretário-pessoal, hoje Cardeal de Cracóvia.

Foram aprovadas as leis da procriação medicamente assistida e das “barrigas de aluguer”. Passos Coelho e mais 23 deputados do PSD votaram a favor das “barrigas”, compensando assim os 15 votos contra do PCP. Sim, leram bem.

Thursday, 12 May 2016

Eutanásia? É isto. Tudo à Caminhada pela Vida!

O Papa Francisco anunciou esta quinta-feira que vai criar uma comissão para estudar a questão das diaconisas na Igreja primitiva. Caso se conclua que as que existiram eram ordenadas, tal como os diáconos, poderão abrir-se as portas a esta realidade na Igreja Católica. Mas não é claro que assim seja…

Os defensores da Eutanásia gostam muito de dizer que a legalização será só para casos limite. Na Holanda também começaram com essa conversa. Mas a realidade é outra. Hoje soube-se do caso de uma mulher de 20 anos que sofria de stresse pós traumático e outros problemas psiquiátricos e cujo pedido para morrer foi aceite pelos médicos.

Já que estamos a falar de causas fracturantes, amanhã vão a votação não só as alterações à procriação medicamente assistida, mas também as “barrigas de aluguer”. O PMA passa certamente, mas o PCP vai votar contra as barrigas de aluguer. Felizmente para os progressistas de todo o mundo, há sempre o PSD que já disse que dá liberdade de voto aos seus deputados pelo que alguns irão certamente votar a favor. Pedro Passos Coelho já deu o exemplo e disse que vota sim.

Pelo lado mais positivo… D. Manuel Clemente apelou publicamente à participação na Caminhada pela Vida, no próximo sábado, em Lisboa. É às 15h e parte do Largo Camões. Eu vou lá estar com a família.


Hoje as atenções dos católicos centram-se em Fátima, para onde se espera ainda uma visita do Papa Francisco em 2017.

Na semana em que assinalamos ainda a ascensão de Jesus aos céus e preparamo-nos para o Pentecostes, um artigo que vem mesmo a calhar, de autoria do padre Paul Scalia, é a nossa escolha do Catholic Thing em português. Não percam e descubram como é que o wrestling angélico pode ajudar a vossa vida espiritual.

Wednesday, 11 May 2016

Presentes de Despedida

Pe. Paul Scalia
“Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro, e deu dons aos homens.”

Hoje acompanhamos Nosso Senhor até ao monte para a sua Ascensão. Talvez não saibamos o que dizer. Ele tentou preparar-nos para este momento. Disse-nos que devemos ficar felizes por Ele, porque regressa para o Pai (Jo. 14,28). E na verdade esta festa é caracterizada pela alegria simples do regresso do Filho para junto do Pai. Mais uma vez Ele nos instrui que regozijemos porque, ao regressar para o Pai, enviará sobre nós o Espírito Santo. Se Ele não for, o Espírito não virá. Por isso é melhor para nós que Ele vá. (Jo. 16,7)

Todavia, tal como os discípulos, não conseguimos compreender tudo o que Ele nos diz. Mateus diz-nos que os discípulos foram com ele até ao monte da Ascensão: “Quando o viram adoraram, mas alguns duvidaram” (Mt. 28,17). Lucas diz-nos que as suas mentes continuavam centradas em coisas terrenas, preocupados com a restauração do reino de Israel. (Actos 1,6)

Então como é que abordamos este mistério? Qual deve ser a nossa disposição e quais as nossas palavras? Há duas histórias do Antigo Testamento que podem ilustrar e guiar-nos neste mistério da Ascensão.
 
Em primeiro lugar temos o episódio de Jacob e do anjo (Gen, 32, 25-32). O livro do Genesis diz simplesmente que, nesse evento, “e lutou com ele um homem, até que a alva subiu”. Quem, ou o que, é que tenha sido essa figura, Jacob compreendia que vinha do Céu e que lhe podia dar uma bênção. Por isso não o largou e exigiu: “Não te deixarei ir, se não me abençoares”. Dessa forma Jacob recebeu uma bênção divina e tornou-se Israel, o Patriarca de uma nova nação.

Tal como Jacob depois desse encontro, qualquer analogia é coxa. Não nos podemos agarrar a Nosso Senhor como Jacob agarrou o anjo. Jesus não criticou Maria Madalena precisamente por isso? (Jo. 20,17). Mas se não nos podemos agarrar literalmente ao Senhor para o deter, não devemos deixar de imitar a insistência de Jacob. Ele tinha uma tenacidade e uma confiança que se adequam bem à festa da Ascensão. Revela a confiança de que aquele que vai para o Céu pode dar dons aos que estão cá em baixo. “Subindo ao alto… Deus dons aos homens” (Ef. 4,8)

Jacob luta com o anjo
Devido à sua insistência, Jacob recebeu um novo nome, uma nova vida e um novo propósito. De igual modo, as nossas últimas palavras para Jesus não deviam ser perguntas sobre um qualquer reino terreno nem nada que seja deste mundo. Antes, devemos pedir-lhe uma bênção – que aquele que Ascende nos dê uma nova vida e propósito através do dom do Espírito Santo.

Numa segunda história do Antigo Testamento temos os profetas Elias e Eliseu (2 Reis 2: 1-14). Quando o seu mentor e mestre é elevado ao Céu, Eliseu segue Elias desde Betel ao Jordão, em Jericó. Ambos parecem saber que Elias está prestes a partir. A multidão pergunta a Eliseu: “Sabes que o Senhor hoje tomará o teu senhor por sobre a tua cabeça?”. Ele responde, de forma abrupta, “Também eu bem o sei. Calai-vos”. Depois, quando chega a hora de Elias ser arrebatado aos Céus, Eliseu suplica: “Peço-te que haja porção dobrada de teu espírito sobre mim”.

Porquê uma porção dobrada? Uma porção não seria mais que suficiente? É um pedido curioso e muito se tem escrito sobre ele. Mas para o que hoje nos interessa bastará focarmo-nos no atrevimento do pedido. Eliseu não se limita a pedir, não pede sequer o mesmo, não pede apenas um pouco! Ele pede uma porção dobrada daquele mesmo Espírito que fez de Elias tão grande testemunha da aliança.

Este atrevimento deve ser também o nosso quando acompanhamos o Senhor até à sua Ascensão: Dai-me uma porção dobrada do vosso espírito. Para quê fazer cerimónia a pedir aquilo que Ele já deseja oferecer – e oferecer em abundância – e que ascende precisamente para poder conceder? Este é o atrevimento que devia caracterizar os próximos nove dias, enquanto rezamos pelo dom do Espírito prometido. Esse atrevimento alarga o nosso coração para receber aquilo que Ele já tenciona conceder.

Agora ele ascendeu para poder dar-nos dons. Ordenou que esperemos pelo poder que vem do Céu. Agora, enquanto nos preparamos para o Pentecostes e para receber o dom do Espírito Santo, rezemos com a insistência de Jacob e com o atrevimento de Elias. Vinde, Espírito Santo.


O Pe. Paul Scalia (filho do falecido juiz Antonin Scalia, do Supremo Tribunal americano) é sacerdote na diocese de Arlington e é o delegado do bispo para o clero.

(Publicado pela primeira vez na terça-feira, 5 de Maio de 2016 em The Catholic Thing)

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Tuesday, 10 May 2016

D. Manuel o defensor e D. Manuel o raptor de cadáveres...

Tem estado em discussão nos últimos dias a questão dos contratos de associação com escolas particulares. O Patriarca não passou ao lado da polémica e deixou um recado claro ao Governo no passado domingo, durante a Festa da Família. Hoje foi a vez da Conferência Episcopal juntar a sua voz.

Obras em Fátima… Um novo altar no “altar do mundo”.

Sabia que D. Manuel (o Rei e não o Patriarca) tinha um plano para “raptar” o corpo de Maomé e trocá-lo por Jerusalém? Isto e muito mais na minha conversa com Roger Crowley, historiador inglês fascinado com os descobrimentos portugueses.


Publiquei hoje a transcrição completa da minha conversa com o padre Brian, postulador da causa de canonização de Madre Teresa de Calcutá. É uma excelente oportunidade para conhecer melhor a santa que é, de certa forma, a imagem da Igreja com que o Papa Francisco sonha.

"Mother Teresa had a very good sense of humor!"

O padre Brian Kolodiejchuk com a
Madre Teresa e o Papa João Paulo II
This is a full transcript of my interview with Fr. Brian Kolodiejchuk, postulator of mother Teresa's cause of canonization. The news feature, in Portuguese, can be found here.

Transcrição integral, no inglês original, da minha entrevista ao padre Brian Kolodiejchuk, postulador da Causa de Canonização de Madre Teresa de Calcutá. A reportagem pode ser lida aqui

Mother Teresa will be canonized on September 4th, in Rome. Why not in Calcutta? Would it not have made more sense?
I understand why the bishops asked, and wanted, to have it in India, it would have been a big event for India, a shot in the arm, so to say, but I think the Holy Father chose Rome because now they went back to the older system where the beatification is in the local place and the canonization is in Rome, because canonization is presenting the person, in this case Mother Teresa, to the whole church.

So in that sense it is more appropriate to have it in Rome.

Did the current Indian government, which is Hindu nationalist, have anything to do with it?
I don't think so. I saw the other day that there was a delegation of the bishops asking Prime-minister Modi to come and lead it, but I don't know if that will happen.

There might have been practical difficulties of where to put such a big crowd, and security would have been a challenge.

As it is, I think the Holy Father and Archbishop Fisichella of the New Evangelization, wanted to have it in the Jubilee Year and as one of the major events of the Jubilee Year. Because thinking about her possible canonization, they put the Jubilee of the volunteers and workers of Mercy on that weekend because of Mother's feast-day the next day. It wasn't the other way around, they were assuming and hoping there would be the canonization and they made the jubilee of the workers and volunteers. So I think part of the event is that Mother will be, in a sense, the saint of the Jubilee and as the actual apostolate of the Missionaries of Charity are the works of mercy...

How close were you to mother Teresa?
I first met her in 1977 when I was a very young fellow and from there, at her invitation, I joined that first group of the Contemplative brothers and in 1983 I was at the beginning of what is now the Missionary of Charity Fathers. So during those 20 years I happened to be either in Rome or New York and then later in Tijuana, Mexico, so I would see her often. And having been one of the first I would be able to have a chance to see her, and talk to her.

Who asked you to become the postulator?
The postulator is named by the Missionaries of Charity, because he is the actor, the one who is presenting the person and so it was kind of a joint venture of the four branches. The active sisters, the active brothers, the contemplative brothers and the fathers...

Would it not have made more sense to have somebody who was perhaps not so close to her personally? Or was that something which made your work easier?
Actually, at the beginning, when I was doing the course... Because every year the congregation of saints offers a course, and at the beginning one of the sisters and I went and asked who could take on the cause, because I was young and inexperienced, then we went to the Jesuits, to father Molinari and father Gumpel, who are the main men in Rome for this, and they said that it should be one our own, because we were presenting somebody who lived a particular charism, so they said it should be somebody who shares in it, so they really understand.

My obligation was to present as best I can, as objectively as I can, but the actual process was not conducted by me. The diocesan inquiry in Calcutta was done by another episcopal delegate, notary and promoter of justice, and then in the Congregation itself I couldn't even be in when the witnesses were speaking, because if I was sitting there they might think that since I was going to hear... So it was just the person and the tribunal so they would have maximum freedom to speak.

Mother Teresa had her critics. But it seems that these were mostly in the West. Did you ever see the poor she served criticize her or the work the Missionaries did?
Not among the poor, no. Most of the critics were famously Christopher Hitchens and some others. As we were preparing the official material to be presented, on the basis of which the judgement would be made, we watched the film Hitchens had made, “Hell's Angel”, because I wanted to see what the criticism was. And we said there was really nothing there, as long as you know the facts.

So for example he shows Mother Teresa in Tirana, Albania, at Enver Hoxha's tomb, and says she was honouring him. The fact is that she asked to go to the burial place of her mother and her sister. So that is where she thought she was going, but they took her there first. Then they wanted her to put a flower on his tomb, but she said no, so she stood there and after, when she met his wife, she said she had prayed for her husband. Then she realized what the situation was and asked if she could please go to her mother's tomb.

A person from Albania, who was also involved in relating this story, said that everybody in Albania knew that was the protocol. So either the facts were twisted around, like that one, or his opinions came from a different perspective. Hitchens says he went to India and Mother was showing him around and he said that he really felt positively about the work until she took him to the children's home and said that they fought abortion through adoption. So you might not agree, but then it is a matter of opinion.

There was some criticism of the fact that she received money from people who were perhaps not very recommendable. What do you make of that?
When she would know who the person was, then she would refuse. There were cases where she refused... One I think was from a discotheque or something... When she had a sense that it wasn't well gained money she had the courage to refuse, even if it was a large amount.

One of the criticisms was that she had received money from Duvallier in Haiti, but she didn't receive any money from Duvallier, the only thing that was given was one one cheque for 1000 dollars from Mrs. Duvallier, the wife. So that is another one which is said, and it's not even true.

You mention that a dying man once said that all his life he had lived in the street like an animal, yet thanks to her he was dying like an angel… Does this story sum up her mission?
That is another one of the criticisms... Why don't you have a big clinic? But her purpose was that these people were really the dying in the street and the aim of the sisters is immediate and effective help. Exceptions are for things like leprosy, they have leprosy colony and the people live there, work there... The Saris are made by the lepers near Calcutta, so her aim is what we can give today.

She knew very well that you need to change the structures and work for more social justice, and those things, but her vocation, or the Missionaries of Charity vocation is the needs of today, the person who needs to eat, or who needs shelter, in the present moment.

But this idea of giving dignity to those who were marginalized... Does that sum up her mission?
I don't know if I'd say it sums it up completely, but that is certainly a very important part of it, human dignity. She would say my brother and my sister, and no matter what religion, no religion, colour... In this sense we are all children of God.

In Portugal we are currently in the middle of a debate about euthanasia, with proponents arguing that this is a necessary measure for people to be able to die with dignity. Few people are as close to misery, suffering and dying as the Missionaries of Charity, with that in mind, how do you respond?
I think Mother would say, as we say, from natural birth to natural death. And there is a way of dying with dignity which is not the easy solution, which would be to “pull the plug”, but it also involves the value of suffering and the Christian meaning of suffering, because that is another criticism that is made, as if she glorified suffering... Not at all! The whole work is to relieve suffering in whatever way, but at the same time I think she had that supernatural sense that if we give meaning to that suffering, then it has value. It doesn't have value in itself, but from a Christian perspective, especially, it does have value and meaning if it is lived and offered with love.

This idea of giving a meaning to suffering is a language that we are used to as Christians, but she was not working in a Christian atmosphere... Most of the people she served were Hindus, probably some Muslims... Did they manage to relate and understand this aspect?
The work in the home for the dying is to relieve that suffering, and now things are better in Calcutta, so more than half of those who come into the home for the dying don't die. And there are doctors that come so that immediate, basic, medical care is given. And if they get better then they move to another house the sisters have in Calcutta, or whatever they need to do. So the home for the dying still has the purpose of immediate help for somebody who really is dying or, more and more, the chance to get better.

But is this concept of giving meaning to suffering something they can understand?
I don't think the sisters go around saying to all the patients to offer up their suffering. No, it's the relief and helping them to die with dignity and at peace, so for example in New York, when they began work with the AIDS patients, at the beginning there was no hope of living too long... Now it's different. But one of the important things they did was lots of reconciliation with families. One of the men, he wasn't dying, he wasn't dying, until his father came and they had reconciliation and then he was free, so to say, to die. So that is one of the things they do, to die peacefully and with dignity.

Mother Teresa worked in a heavily Hindu society, with a large Muslim minority and only a very small Christian minority. Also, she was an ethnic Albanian, a country which is majority Muslim. What was her stance on inter-religious dialogue?
Mother Teresa had a very great respect for other religions. There was no explicit aim to convert anyone and most of the co-workers, the helpers, in India, or certainly in Calcutta, were Hindus. There was one woman I know who used to go every morning to Kalighat, the home for the dying, for over 25 years. And she was, and is, Hindu. Mother Teresa would say: “It is not for me to convert”, so that her first reaction would be to say to those who were involved, “I hope you become a better Hindu, a better Muslim, a better Christian”. Some of her doctors were Hindus and she would never invite them to convert, it had to be something which came from the people. She'd say she couldn't, God had to do that work in them.

Pope Francis has criticized aggressive proselitism. Could you say that she was a good example of what the Pope recommends nowadays?
Yes. That is what Pope Francis says now, but it was also what the Church was saying then. Service was given without any consideration of background, faith... It was my brother and my sister. From our perspective, we see Jesus in each person, but there was never a distinction made between those who were of one religion or another.

You have said that there was a special relationship between Mother Teresa and Fátima… Could you explain?
When she was a Loretto sister, in India, then especially in the 40s, there was a special emphasis in the church in general, among the Jesuits in Calcutta who were doing a lot of promotion. At the very beginning, as they began their work, they set up a little shrine to Our Lady of Fatima, and they would go on processions.

Our patroness is the Immaculate Heart of Mary. The daily rosary. In the visions Mother Teresa had (interiorly, in the imagination), Our Lady says “pray the rosary and all will be well”. So there is the rosary, also the sense of living and accepting sacrifices that come with our daily life. So there are many elements which are the same.

In 1947, when she was waiting for archbishop Perrier of Calcutta to give his OK for her to begin her work in Calcutta, in one of the letters she spoke of Our Lady of Fatima and said “we will do Her work in the slums”.

So it was very explicit that they would take the message of Our Lady of Fatima, at least amongst the Catholics in Calcutta, to promote that message.

You told a story about how she once placed an image of Our Lady facing the window on a train trip through Russia, saying that she needed to see outsider, since she hadn’t been there for a while… We associate many things to Mother Teresa, but a good sense of humour is not something that springs to mind…
Oh very much so! She had a very good sense of humour! She wasn't a great joke teller, but she was able to tell funny stories and if you were in the mother house and there were 300 sisters – and they had recreation together from 8h30 to 9h00 – and so if you happened to be there you would hear all this laughing and giggling and it was really very joyful. Sometimes she would bend over in laughter, so maybe publicly she didn't give that sense, but when you were one on one, or in a little group, she was very free and they used to enjoy these funny stories.

Mother Teresa’s “dark night of the soul” is something that many people have a difficult time relating to. In fact I remember that when the news broke, some media claimed she had been an atheist… How do you explain this phenomenon she suffered?
I think it was paradoxically experiencing her union with Jesus by not experiencing it. Or maybe better, living her union with Jesus without experiencing the consolation of that union.

She is a woman who is passionately in love with Jesus, for her Jesus is her spouse. Very explicitly, she said, she wants to love him as he has never been loved before. And then – probably women will understand this better than us men – but then to be passionately in love and then is seems that she is rejected, that Jesus is not loving her. It seems that she could not love as she would like to love, and so that is kind of the trial, and there is this aspect of being so united to Jesus that he can share with her his deepest suffering in the Garden of Olives and on the Cross, and his sense of abandonment – we are talking more at the feeling level, because at the same time she would say that she knew that she was united heart and mind – but even if you know it and believe it, that doesn't make the experience any easier.

And then what is unique more to her is that, when she went out into the West of India, she discovered that the greater poverty is this poverty of being unloved, unwanted, and uncared for, which could be rich people, any class of people can suffer this. And she was living that same sense of being unloved, unwanted... So we live poorly and simply so as to be identified with the materially poor, and now we discover that she was living that spiritual poverty, again, identified with all those who didn't....

Especially in the last years, whenever she would travel, even in Calcutta, people would be coming every day and in the mother house there is a chapel and a balcony which goes into the offices, that is where she would meet people, one of our priests called it the balcony apostolate.

People would come from wherever they were, from India, or outside, and tell her their stories... There must have been some horror stories... And so she would have been able to relate to those difficulties, because she wasn't up in the mystical clouds, experiencing this great consolation, on the contrary, so she had that real sense of being identified with those who were suffering spiritually as well.

You quote mother Teresa as saying that she wanted to love Jesus like he had never been loved before. Considering Jesus is first loved by God, as part of a Trinity of love, one could almost say this was blasphemous…
Well, it was something she had heard from Saint Therese, who had the same desire, but it was a way of saying that she really wanted to love Jesus that much, more than Saint Francis of Assisi, John of the Cross, the big saints... To take that really seriously was quite daring. But humanly speaking, she had a strong character... One of the priests I know, who was a psychologist as well, said that the purification, especially before she experienced the union, was so difficult because there was a lot to purify, because she had a strong character.

Would you like to see her become Patron Saint of something? Any idea?
Oh, that's a good question!

One of the things she was known for, even in life, was for those couples who had difficulty conceiving. So even while she was alive people would come and ask her to pray because they were having difficulty having a child, and she would take a miraculous medal – she liked giving miraculous medals to everyone – she would kiss it and say simply, here is the prayer “Mary mother of Jesus, give us a child”. And sometimes she would even say “You will have a child”. And then, almost always, one year later, people would come back and show her the children.

Maybe another one would be travellers, maybe with John Paul II too, they were both big travellers, but she put on many miles every year. So there are those two at least.

Both of those are examples I associate very much to John Paul II as well. There was a very close bond between them, wasn't there?
You can see in some of the pictures when she went to visit John Paul II, and they are very human, very tender. He was taller and she was quite short, so he might be kissing her forehead, and she had her hands clasped, because in her own culture, in India, men and women don't touch in public. So normally, at the very end, she might let us men give her a little embrace, but otherwise if people tried, naturally for another culture, she would back away and give the Indian greeting, “Namaste”, with her hands clasped.

This because she was so well integrated into the Indian culture, or was it part of her Albanian culture as well?
It was amazing how well she understood the Indian culture. One of our priests, who was actually from Canada, he was the superior of our house in Calcutta in those last years, and that was something he explained, that she had a real grasp of the culture.

We are currently in the year of Mercy, of which confession is a central aspect. How important was confession to Mother Teresa?
Very much so! She and we, and the sisters also, have the practice of going once a week. So in the first years she had more of a spiritual director, whom she saw regularly, usually the confessor of the Mother House. But when she travelled she would just go to the regular... They used to have Thursday as their day in, as they'd call it, and so the priest would come at Holy Hour and hear confessions, and she would just take her turn.

She liked to say that we go into the confessional sinners with sin, and we come out sinners without sin.

It was very important to her, and that was one of the reasons she wanted the fathers to begin, because she wanted that priestly aspect which the sisters and brothers couldn't give them. One is the mass, the other is confession.

This vision Pope Francis has for the Church as a field hospital seems to be so much in line with Mother Teresa's mission...
Oh yes! Very much so.

What do you think she would have made of his papacy?
Oh I think she would have loved to see this emphasis on the poor, on the peripheries, because in a sense that is where the Missionaries of Charity already are, with the poorest of the poor, and that is one of the effects of the work, even in India – and the World, she would also say – but also in India, is a greater sense of the poor, and she would accept awards only in the name of the poor. She would go and have a chance to speak because this was a way of drawing attention to the poor. So I think she would be very much in line with, and very pleased with, this emphasis on being attentive to and going out towards the poor.

Of all the things you experienced with mother Teresa, some surely are very personal, but of those you can share, which one struck you most?
There are a couple maybe... My sister is a Missionary of Charity sister and after her final vows she was sent to Poland to be the novice mistress and just a few years later they found melanoma cancer on her skin, in a few places.

Her superior brought her to Rome, where they examined her, and mother was there as well. And at that time I was in with the fathers in New York, and she knew my parents, and there were only the two of us siblings, so she knew she had both of their children, and I think out of consideration for my parents, especially, that she decided that she would take my sister from Rome, change her whole schedule, because going to New York was not part of the plan, and so she changed and came from Rome to New York. Typical of her, if it could be done now it will be done now.

So we picked her up at the airport and went straight to the doctor and one of our postulants who used to work at the hospital there, at one of the major hospitals in New York, and so we arrived and mother met this doctor and said to him: “I have a gift for you. That you make my sister alright”.

So she turned it around, that her gift was that he had a chance to do some good work and please make her sister alright.

Another story is a time we were in San Diego and mother had to go to a clinic and she saw one of the doctors there. And she visited the doctor, who asked her to go and see some of her patients. And she needed to eat, because of the medication she was taking. But the sisters knew that if they told her that she had to stop and eat she wouldn't have done it. But our superior was also on medication so the sisters said that Father Joseph needs to eat.

So we stopped at a Carls Junior, which is like a McDonalds or Burger King type of thing. I was the driver and mother was in the front seat. I and another lay woman went into the store to make the order. I was wearing my clerical collar, and many people in San Diego are Mexican or Mexican American in San Diego, you can live in San Diego and not even speak any English if you wanted too.

So he asked where we were coming from, and we said Tijuana and that I was a priest in Mother Teresa's order, and he said “Oh, Mother Teresa!”, and I was just thinking, if we had just told him, “By the way, this order is for Mother Teresa, who happens to be in the car over there...”

So we got the food and brought it back and distributed it. And Mother was eating her hamburger and French fries and I guess it was too much, so she asked if anybody wanted more French fries... It was just completely normal... And I was thinking how many people would love to have a chance just to see Mother Teresa and here we are having a hamburger and French fries!

And did your sister get well?
Yes she did. She is cancer free.

It can't have been easy for your parents...
No. Mother used to say sometimes that we, the children, make our parents make the sacrifice. It's our call, we respond, but no, it's not easy, especially in this case, because there are no other children, so there are no grand-children.

No resentment?
No! Thankfully they were very happy. They always told us to do what we wanted to do, and even though it did involve sacrifice for them, they were very happy. Until they couldn't anymore they would visit us once a year. We couldn't go home very often, but they came.