Wednesday, 30 March 2016

Fúria, Misericórdia e Diálogo Inter-religioso

Manuel Fúria: Cantor e aprendiz de misericórdia
Acredita que Fúria e Misericórdia sejam compatíveis? Então leia este artigo em que se fala também de Leonard Cohen, do Rei David e de um sem-abrigo indiano…

Portugal tem muito por onde melhorar nas infra-estruturas para acolher peregrinos, e isso é algo que pode até beneficiar algumas terras.

O Papa Francisco fez um donativo pessoal aos cristãos no Iraque, que será entregue pela Ajuda à Igreja que Sofre.


No artigo desta semana do The Catholic Thing lemos sobre alguns erros infelizmente comuns no diálogo inter-religioso, nomeadamente entre católicos e muçulmanos. Uma leitura importante sobretudo para quem, como eu, acredita nesse diálogo, mas acha que tem de ser feito com verdade e não com relativismo.

Diálogo Confuso com os Muçulmanos

Robert Reilly
Em 2013 a Faith and Reason Institute (que detém o The Catholic Thing) publicou, juntamente com a Westminster Institute uma monografia que eu escrevi sobre as Perspectivas e Perigos do Diálogo Católico-Muçulmano. Neste texto examinei uma década e meia de esforços por parte das três conferências episcopais regionais de desenvolver este diálogo. Os resultados não eram encorajadores.

Quem não se mostrou minimamente preocupada foi a Conferência Episcopal dos EUA, que aumentou a parada e criou uma comissão de diálogo nacional. O que podemos esperar desta iniciativa? Mais confusão, temo dizer.

Há vários problemas. Tal como a maioria dos Americanos, os bispos sabem pouco ou nada sobre o Islão. Logo, não compreendem o contexto em que falam os seus interlocutores. O resultado é que partem do princípio que os seus parceiros de diálogo são apenas uma imagem espelhada deles mesmos. É um grande erro.

Um exemplo foi dado recentemente pelo bispo de San Diego, Robert W. McElroy, no Instituto de Justiça e Paz da Universidade Joan B. Kroc, em San Diego. O Catholic News Service fez manchete com “Bispo desafia católicos a combater ‘maré feia de preconceito anti-islâmico’”. O bispo considera que os católicos devem erguer a voz contra as “distorções de ensinamentos e teologia muçulmana sobre a sociedade e o Estado”.

Que distorções são essas? Aparentemente devemos ver com revolta as “repetidas falsidades” de que o Islão é inerentemente violento, que os muçulmanos procuram impor a Sharia no lugar da Constituição americana e de que a imigração muçulmana ameaça a “identidade cultural do povo americano”.

O parceiro de diálogo do bispo McElroy nessa noite era Sayyid Syeed, líder da Sociedade Islâmica da América do Norte (ISNA), cujo nome já me era conhecido por ser uma presença regular no diálogo católico-muçulmano da minha região. Talvez o bispo não conhecesse a história do ISNA, que surgiu da Irmandade Muçulmana, a primeira organização no mundo a trabalhar pelo restabelecimento do califado e que se dedica à implementação da Sharia.

Mas não se fiem apenas em mim.

O Dr. Muzammil Siddiqi, ex-presidente do ISNA e participante frequente nas sessões de diálogo, disse o seguinte ao jornal “Pakistan Link”: “Não nos devemos esquecer que as leis de Allah devem ser estabelecidas em todas as terras, e que todos os nossos esforços devem conduzir-nos nessa direcção”. Em 2001 escreveu “à medida que mais pessoas aceitam o Islão, insha’allah, isso levará à implementação da Sharia em todas as regiões”.

Zuhdi Jasser, fundador do Forum Islâmico Americano para a Democracia adverte que, na convenção anual do ISNA em 1995, o orador principal, Imam Siraj Wahhaj, pediu a substituição da Constituição pelo Alcorão. Não admira que Jasser lamenta aquilo a que chama uma “relação infeliz entre a hierarquia católica e o ISNA”. (Jasser, ao que parece, não seria um bom parceiro para este tipo de diálogo).

Embora reconheça a situação terrível que os cristãos enfrentam no Médio Oriente, o bispo McElroy louvou o respeito do Islão pelo que chama “os povos do Livro”. Foi logo ecoado por Syeed que disse, de acordo com a CNS, que o primeiro milénio foi marcado por boas relações entre o Cristianismo e o Islão, mas que tudo isso mudou no milénio seguinte, que incluiu as cruzadas.

É uma perspectiva interessante da história.

Sayyid Syeed
No ano 650 os muçulmanos já dominavam o Iraque, a Síria, Líbano, Palestina e Egipto, tudo países cristãos até então, cujos habitantes passaram a ter o estatuto secundário de dhimmis. Passado menos de um século o Islão tinha-se espalhado para o Norte de África e Espanha – tudo isto no primeiro milénio das “relações positivas”. Em nenhum destes casos a ocupação foi pacífica.

Sugiro aos bispos que coloquem nas suas listas de leitura o livro de Bat Ye’Or “O Declínio do Cristianismo Oriental sob o Islão: Da Jihad aos Dhimmis”, para que possam falar com rigor sobre o respeito que o Islão revelava pelos “povos do livro” durante o primeiro milénio e posteriormente. Com base neste passado, será tão inadequado dizer que há algo “inerentemente violento” no Islão?

Syeed concluiu, dizendo que no segundo milénio “as duas fés dividiram o mundo em ‘a casa do Islão’ e ‘a casa do Cristianismo’”. Na verdade essa divisão foi feita muito antes e pelo Islão, que criou a distinção entre dar al-islam e dar al-harb, com o mundo cristão a ser descrito como a “casa da Guerra”.

Mas será esta distinção seja antiquada? Por volta da mesma altura em que o bispo McElroy falava, num sermão de sexta-feira em Edmonton, Alberta, o imã Shaban Sherif Mady declarava: "Anseiam por isto, porque o profeta Maomé disse que Roma iria ser conquistada! E será conquistada. Constantinopla foi conquistada. Roma é o Vaticano, é o coração do Estado cristão".

Pergunto, então, quem é que está a entender mal o Islão, o Imã Siraj Wahhaj ou o bispo? (Nem falo em Syeed, porque ele saberia certamente que Maomé disse isto).

Por outras palavras o evento do Instituto de Paz de San Diego proporciona um microcosmos para tudo o que costuma correr mal com o diálogo católico-muçulmano quando este é conduzido pelas conferências episcopais. Nenhum dos muitos reformadores muçulmanos intelectuais com quem trabalhei ao longo dos anos foi alguma vez convidado para um encontro destes. Na maior parte, apenas as organizações muçulmanas se devem dar ao trabalho de se candidatar.

Isto ajuda a legitimar os clones da Irmandade Muçulmana e aliena as verdadeiras vozes de reforma muçulmana. Por outro lado, uma vez que acabam frequentemente por representar mal a substância, os diálogos acabam por espalhar equívocos sobre o Islão em vez de os ultrapassar.

Uma vez que os muçulmanos se estão nas tintas sobre o que os católicos dizem sobre o Islão, os únicos a quem este tipo de diálogo confunde são os próprios católicos. Sugiro, como lema para esta nova iniciativa de diálogo da USCCB, o dito de Bento XVI de que “a verdade torna possível o consenso” e, por consequência, a insensatez torna-a impossível.

De acordo com a reportagem da CNS da semana passada, o bispo McElroy disse que a revolta que domina o actual clima político é um sinal de alienação popular por as pessoas não sentirem que estão a ser ouvidas pelas elites. O bispo McElroy é uma das elites. Estará a ouvir?


Robert Reilly é director do Westminster Institute e ex-director da Voice of America. Leccionou na National Defense University e serviu na Casa Branca e no Gabinete do Secretário da Defesa. É autor de The Closing of the Muslim Mind: How Intellectual Suicide Created the ModernIslamist e o seu mais recente livro é Making Gay Okay: How Rationalizing Homosexual Behavior is Changing Everything.

(Publicado pela primeira vez na Segunda-feira, 21 de Março de 2016 em The Catholic Thing)

© 2016 The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de reprodução contacte: info@frinstitute.org

The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing

Monday, 28 March 2016

Páscoas que são sextas-feiras santas no Paquistão

Páscoa na primeira pessoa
Terminei o último mail com votos de Santa Páscoa, mas para muitos cristãos no Paquistão o dia mais importante do seu ano litúrgico transformou-se numa longa Sexta-feira Santa. O Papa já condenou os atentados que causaram dezenas de mortos, o Governo português também.

Por trágica coincidência, dois dias antes tinha sido publicada a minha entrevista com um cristão paquistanês que se encontra a viver em Lisboa e que conta porque é que teve de fugir e o que sofrem os seus correligionários que continuam por lá.

Entretanto, hoje surgiu outra notícia trágica, a dizer que o padre indiano raptado no Iémen há algumas semanas tinha sido crucificado na Sexta-feira Santa. Rapidamente a notícia se espalhou nas redes sociais e alguns órgãos de comunicação social também a divulgaram. Mas graças a Deus, e ao que parece, é falsa. Rezem à mesma pelo Pe. Tom, mas tudo indica que ele continua vivo.

Um rápido apanhado de outras notícias pascais: O Papa condenou os “fundamentalismos que profanam o nome de Deus” e deu sacos-cama aos sem-abrigo de Roma; o Patriarca de Lisboa quer que os católicos se dêem aos mais desprotegidos e reforça que o ressuscitado é “fonte de esperança” e D. Jorge Ortiga pediu orações pela humanidade.

Wednesday, 23 March 2016

Mais Bruxelas e menos refugiados na Polónia

Como já era expectável, o Papa Francisco referiu-se esta quarta-feira aos atentados de Bruxelas, lamentando e criticando o terrorismo.

De todo o mundo e de vários quadrantes chegam também as manifestações de repúdio e de tristeza. A comunidade islâmica de Lisboa não é excepção e já se mostrou solidária com as vítimas do atentado.

O último balanço aponta para uma vintena de portugueses feridos nestes ataques e, infelizmente, já se começaram a sentir os efeitos mais negativos, com a Polónia, por exemplo, a fechar as fronteiras aos refugiados.

Nem de propósito, a irmã Irene Guia, que conhece melhor que ninguém esta questão dos refugiados, foi a entrevistada de ontem à noite no programa da Renascença Terça à Noite e explica que os refugiados, na esmagadora maioria dos casos, são aqueles que simplesmente já não aguentam mais.

A minha posição sobre a questão dos refugiados e das fronteiras abertas ou fechadas já a divulguei, mas volto a partilhar os links para o caso de alguém estar interessado.

Porque hoje é quarta-feira, deixo-vos o link para o artigo desta semana do The Catholic Thing em português. É sempre bom poder apresentar uma perspectiva feminina neste espaço, hoje Mary Poplin escreve sobre aquela grande mulher que foi Madre Teresa de Calcutá e, mais especificamente, sobre a sua "noite escura da alma". Não deixem de ler!

Tenho Sede – O Poder das Noites Escuras de Madre Teresa

Mary Poplin
E a Luz brilha na escuridão, mas a escuridão não a compreende.

Três anos depois da minha conversão radical de humanista secular pós-moderna a crente incipiente, fui para Calcutá durante dois meses como voluntária no lar de crianças de Madre Teresa (Shishu Bavan). Queria compreender o que ela queria dizer quando afirmava que o trabalho que lá faziam não era social mas sim religioso. Abraham Heschel disse certa vez que os verdadeiros profetas de Deus “estilhaçam incessantemente a indiferença”. Eles são os “mensageiros relutantes” que permitem que Deus nos fale através deles, implorando-nos que regressemos a Ele num “mundo que mais do que não ter sentido é incapaz de o escutar”. A Madre Teresa era uma destas profetas. E apesar de termos sabido esta semana que ela vai ser formalmente canonizada no dia 4 de Setembro, tal como todos os profetas, a Madre Teresa sofreu.

Durante esses dois meses, em 1996, eu costumava chegar cedo para a missa e as orações das 5h30; queria ficar perto da Madre. Estudei-a a partir da minha própria fome espiritual, admiração e curiosidade. A primeira questão que me surgiu quando me sentei no chão da capela foi da razão de ser de ela ter escolhido duas das últimas palavras de Jesus para colocar por cima dos crucifixos de todas as capelas da ordem: “Tenho sede”. Ela dizia que era porque Jesus estava sedento de almas, mas pela sua expressão todas as manhãs parecia que ela é que estava sedenta. Como o primeiro livro que eu tinha lido depois da minha conversão, para além da Bíblia, tinha sido de São João da Cruz, consegui de alguma maneira fazer as pazes com isso.

João da Cruz ensinava que depois da noite escura da alma, os mais fiéis acabariam por entrar numa noite escura do espírito, em que as experiências místicas terminariam e sentiriam a ausência de Deus. Então Ele não habitaria fora, mas dentro das suas almas: “Albergam no seio da secura e do vazio das suas faculdades, um cuidado habitual e uma solidão por Deus que se faz acompanhar de aflição e temor de não o servir. É um sacrifício que agrada muito a Deus – o de um espírito em aflição e solicitude pelo seu amor… Começa a despertar no espírito o amor divino.” Em conformidade com este discernimento, as experiências místicas que marcaram o início do percurso da Madre Teresa acabaram por desaparecer e ela sofreu por pensar que de alguma forma tinha desagradado a Deus.

Durante a sua vida a Madre rezou por três coisas: Partilhar da Paixão de Cristo, ser santa (humilde e mansa), e não recusar nada a Deus. O Senhor concedeu-lhes todas estas coisas.

Quando era mais nova tinha rezado ardentemente para “beber UNICAMENTE do seu cálice de dor”. Graças a Deus ela contou com alguns confessores que compreenderam que durante as suas noites escuras ela estava de facto a partilhar da Paixão de Cristo e do sofrimento dos pobres.

Este sofrimento já tinha sido descrito por São Paulo: “Agora regozijo no meio dos meus sofrimentos por vós, e cumpro na minha carne o que resta das aflições de Cristo, por amor do seu corpo, que é a Igreja”. Eventualmente a Madre escreveu a um dos seus confessores: “Pela primeira vez nestes 11 anos comecei a amar a escuridão, pois acredito agora que ela é uma pequena, pequeníssima parte da escuridão e da dor de Jesus na terra. Ensinaste-me a aceitá-la como uma ‘face espiritual do meu trabalho’”.

Felizmente para ela esses confessores compreenderam que a sua condição era espiritual e não psicológica. Se a sua noite escura tivesse sido uma depressão psicológica, como alguns têm sugerido, ela ter-se-ia revelado apática, negativa, ressentida, sem esperança, ansiosa e sem energia nem capacidade de concentração. Mas como referiu o postulador da sua causa de canonização, o padre Brian Kolodiejchuk, “Em vez de diminuir, a escuridão parece ter revigorado o seu impulso missionário”. A maioria das pessoas que, como eu, trabalharam de perto com as missionárias, mesmo durante curtos períodos de tempo, sabem no seu coração que não teriam conseguido aguentar. O amor e a energia delas era fruto de uma rendição a Deus, esvaziamento e Graça. Como disse a própria Madre Teresa, certa vez, “quanto menos temos, mais damos. Parece um absurdo, mas é a lógica do amor”.  

Só há um teste ao verdadeiro discipulado – a sua vida trouxe glória e honra a Jesus? A sua escuridão produziu luz? Na verdade, a presença de Cristo nela era por vezes tangível. Havia manhãs em que, sem pensar nisso, nos juntávamos à sua frente depois da missa e baixávamos as cabeças, na esperança de que ela nos tocasse. Vinham pessoas de todo o mundo e de todas as classes sociais só para que ela tocasse nos seus bebés, nascidos ou não nascidos. Cada grama de Jesus que havia nela, a Madre oferecia àqueles de entre nós que se tinham apresentado sem outra coisa que não a nossa pobreza.


Mary Poplin é uma nova contribuidora para o The Catholic Thing. É professora na Claremont Graduate University e autor de Finding Calcutta: What Mother Teresa Taught Me e Is Reality Secular?

(Publicado pela primeira vez na Quinta-feira, 17 de Março de 2016 em The Catholic Thing)

© 2016 The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de reprodução contacte: info@frinstitute.org

The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing

Tuesday, 22 March 2016

A corgem de Bruxelas

Mais um atentado no coração da Europa. Desta vez foi Bruxelas a sentir a fúria dos jihadistas do Estado Islâmico, que reivindicou o ataque.

As reacções não se fizeram esperar. O Papa, os bispos belgas e os responsáveis pelos organismos episcopais europeus expressaram a sua solidariedade com a Bélgica.

O Patriarca de Lisboa também gravou uma mensagem especial por esta ocasião.

A Renascença falou também com uma freira que serve a comunidade portuguesa em Bruxelas que fez questão de sublinhar a coragem dos cidadãos de Bruxelas e o facto de a comunidade muçulmana, nestes casos, ser duplamente atingida.

E outro acto de terror, mas bem mais longe de nós… Um homem convertido ao Cristianismo foi assassinado no Bangladesh, aparentemente também por extremistas islâmicos.

Monday, 21 March 2016

@Franciscus e Passo-a-Rezar nas periferias

Padre Nuno Gonçalves, próximo reitor da
Universidade Pontifícia Gregoriana
O Papa Francisco comparou ontem o sofrimento dos refugiados com a paixão de Jesus. Palavras muito fortes para uma Europa que, em grande medida, continua a virar as costas ao problema.

Hoje a Renascença disponibiliza uma entrevista a Catarina Bettencourt, que dirige a delegação portuguesa da fundação Ajuda à Igreja que Sofre e que vai “onde outros não querem ir”. Na sua opinião, a Europa “perdeu a noção da realidade”.

Francisco decidiu aderir ao Instagram. Em poucas horas já estava com centenas de milhares de seguidores. No mesmo dia Francisco ordenou dois novos bispos a quem recomendou que sejam próximos dos seus fiéis e dos seus sacerdotes e diáconos.

Um português vai dirigir a mais importante universidade pontifícia, a Gregoriana, em Roma. É uma enorme responsabilidade e uma grande honra para Portugal.

Depois de vários anos a convidar personalidades para ler os textos e as meditações do Tríduo Pascal, o Passo-a-Rezar decidiu, este ano, ir às periferias, pelo que os protagonistas vão ser um imigrante e uma doente oncológica.

Não deixem de ler o artigo do The Catholic Thing da semana passada, onde Randall Smith fala sobre o sacramento da confissão.

Wednesday, 16 March 2016

O Patriarca, o Presidente e o Papa

Marcelo Rebelo de Sousa visita amanhã o Papa Francisco, na Santa Sé. A vaticanista Aura Miguel estará no local, pelo que podem saber de tudo na Renascença. Entretanto o Patriarca quer que o novo Presidente traga de Roma novidades sobre a visita do Papa a Portugal, em 2017.

Hoje, entretanto, o Papa Francisco ergueu a voz novamente sobre a situação dos refugiados.

Começa amanhã um curso de Marketing, comunicação e pastoral para organizações religiosas, organizado pelo Patriarcado. Saiba mais aqui.

A operação anti-terrorista na Bélgica terminou com um jihadista morto, dois detidos e outros em fuga e ainda hoje em França foram detidos quatro fundamentalistas que estariam a preparar um “ataque iminente” no centro de Paris. Enquanto isto, o congresso americano definiu a perseguição do Estado Islâmico aos cristãos como genocídio, o que coloca Obama sob pressão, saiba porquê.

Hoje temos um novo artigo do The Catholic Thing. Randall Smith fala, brilhantemente como sempre, da confissão, que descreve como “ser beijado por Deus”. Vale mesmo a pena ler e partilhar.

Penitência, Absolvição e o Perdão dos Pecados

Randall Smith
Estamos na Quaresma. É uma boa altura para nos confessarmos, embora as filas também sejam maiores. Lembro-me de me encontrar no final de uma dessas filas, à espera para me confessar, quando tive um pensamento terrível: E se eu passasse à frente de toda a gente na fila, me ajoelhasse diante do padre e dissesse: “Perdoa-me, padre, porque pequei. Acabei de passar à frente de uma data de pesso
as na fila”.

Será que ele me negaria a absolvição? Provavelmente não. Mas não tenho grandes dúvidas que a minha penitência seria voltar para o fim da fila e rezar Avé Marias até toda a gente acabar de se confessar.

A confissão é uma coisa bizarra. Não só entramos numa pequena divisão onde dizemos, em voz alta, todos os nossos pecados mais sórdidos e secretos, mas ouvimos uma pequena voz que nos diz as palavras do perdão, ainda antes de termos cumprido a penitência. Não devia ser ao contrário? Primeiro a penitência e depois a absolvição?

Claro que não. A penitência não é uma forma de ganhar o perdão de Deus. Aliás, ir-se confessar também não é. Cristo já nos conquistou esse perdão, através do seu sacrifício na Cruz. E esse perdão torna-se presente para nós através do seu Espírito Santo.

Mas se Deus já nos perdoou, e se a confissão torna esse perdão presente para nós de uma forma concreta, visível e audível, então para que serve a penitência?

Mesmo que alguém nos perdoe, isso não quer dizer que nós mudámos de alguma maneira. “Perdoar” é algo que a outra pessoa faz. E eu, que faço? Será que interiorizámos esse perdão? Mudou-nos? Dissemos verdadeiramente que “sim” ao amor transformador de Deus?

Digamos que eu roubo alguma coisa a alguém. Ao roubar, transformei-me num ladrão. Agora, digamos que essa pessoa, porque me ama, e porque não quer mais do que reconciliar-se comigo e fazer de mim seu amigo, ver-me andar para a frente e florescer, perdoa-me. A questão agora é: Será que vou continuar a ser ladrão?

O perdão abre a porta para uma relação modificada e uma vida nova. Mas seria um erro pensar que o perdão é o fim de um processo, quando na verdade é apenas o primeiro passo. O próximo passo é deixar que esse amor mude o meu coração e me coloque num novo rumo para a minha vida. Ninguém que nos ama verdadeiramente e nos perdoa quer que permaneçamos no nosso pecado, da mesma maneira que quem ama e perdoa a um alcoólico não o quer continuar a ver escravo do vinho.

A penitência depois da confissão é precisamente o primeiro desses passos numa nova direcção. Trata-se de compreender que o perdão de Cristo não é apenas algo que existe por aí, num vazio incorpóreo – uma nota de crédito que posso apresentar algum dia quando estiver a enfrentar o Céu ou o Inferno. O amor transformador de Deus não me deixa no meu pecado; o seu objectivo é transformar-me imediatamente. A graça do sacramento funciona mudando o meu coração. E se o meu coração for verdadeiramente mudado, então preciso de começar a viver de forma diferente.

Por isso, depois da confissão, tomo esses pequenos passos num novo rumo, cumprindo por inteiro, e fielmente, a minha penitência. Não porque imagino que ao fazer estas coisas estou a fazer por merecer o perdão e o amor de Deus. Não, nós amamos “porque Deus nos amou primeiro” (1 Jo, 4). Só se eu aceitar o amor e o perdão de Deus é que posso mudar. Basta-me olhar para o crucifixo antes de entrar no confessionário para compreender que Ele me ama e que já me perdoou. Vou-me confessar, não para mudar Deus, mas para deixar que Deus me mude.

É normal que essa mudança não aconteça instantaneamente, nem de forma simples. A graça de Deus trabalha ao longo do tempo, e Deus tem o seu próprio ritmo. Deus não exige que nos tornemos perfeitos num instante. O que Deus pede, e o que o padre nos diz em seu nome, é: “Dá uns pequenos passos. Depois tem fé que eu estarei activo na tua vida, frequentemente de formas que não serás capaz de ver”.

Pode ser difícil confessar-se. Por vezes parece uma espécie de morte. E até é, pois morremos para nós mesmos. Mas esse “morrer para nós mesmos” é necessário se quisermos “viver em Cristo”.

As pessoas estão sempre a perguntar-me porque é que Deus precisa de um padre e da confissão para nos perdoar os pecados. Claro que Deus não precisa nem de uma coisa nem de outra, Ele já nos perdoou os pecados. Nós é que precisamos do padre e da confissão. Somos nós que precisamos de reflectir a fundo sobre as nossas vidas e ganharmos consciência das formas como nos afastámos de Deus. Somos nós que precisamos de coragem para pronunciar, em voz alta, por palavras e a uma pessoa de verdade, os nossos pecados, para que o som ressoe bem alto nos nossos ouvidos e nos nossos corações. E somos nós que precisamos de ouvir as palavras da absolvição, para que saibamos, naquele momento de vergonha e humildade, que Deus nos perdoa.

Os sacramentos tornam presente para nós o amor de Deus de uma forma física. Perguntar para que é que “precisamos” da presença física de um sacramento é como perguntar se na verdade “precisamos” de beijar a pessoa que amamos. Poderíamos amá-la à distância, de uma forma “espiritual”, mas assim a coisa tem muito menos piada. Enquanto seres humanos físicos, a maior parte das pessoas parece achar que a cena dos beijos até é uma coisa boa.

Antes de me converter ao Catolicismo, já adulto, achava que a confissão era uma das coisas mais absurdas que se podia fazer. Mas entretanto compreendi que o acto físico da confissão é um dos melhores aspectos do Catolicismo. É como ser beijado por Deus.


Randall Smith é professor de teologia na Universidade de St. Thomas, Houston.

(Publicado pela primeira vez na quinta-feira, 9 de Março de 2016 em The Catholic Thing)

© 2016 The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de reprodução contacte: info@frinstitute.org

The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.

Tuesday, 15 March 2016

Refugiados de pés lavados e Bruxelas em alerta

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O Papa vai lavar os pés de 12 refugiados na próxima Quinta-feira Santa, dando seguimento ao seu hábito de ir às periferias nestas ocasiões.

Tem sido uma semana em cheio no que diz respeito a terrorismo islâmico. Decorre neste momento uma operação anti-terrorista em Bruxelas, com polícias feridos e pelo menos um suspeito “neutralizado”; houve um atentado terrível na Costa do Marfim e na Síria cumprem-se hoje cinco anos desde o início da revolução. A irmã Annie Demerjien explica como é a vida em Aleppo neste triste aniversário.

Madre Teresa de Calcutá vai ser canonizada no dia 4 de Setembro, quase 19 anos depois de ter morrido.

Em Roma prossegue o julgamento Vatileaks II, com o padre arguido a admitir que cedeu documentos secretos a jornalistas, mas que a culpa foi da outra arguida.

Os bispos portugueses emitiram dois textos sobre a eutanásia, uma nota pastoral e um guião com perguntas e respostas.

A Aura Miguel fez uma série de entrevistas de fundo a propósito da Quaresma. Pode ouvir aqui Viriato Soromenho Marques, aqui o padre Vasco Pinto Magalhães e ainda César das Neves.

No blogue coloquei recentemente a transcrição completa de uma entrevista que fiz ao dominicano canadiano Pe. Darren Dias, de origem goesa. Ele é especialista em diálogo inter-religioso e ecuménico e aborda vários assuntos importantes que vale a pena ler.

Por fim, deixo-vos com um convite para uma evocação de D. Maria I, que se realiza no Grémio Literário, no Chiado, no dia 21 de Março e que promete ser muito interessante, como podem ver pelo programa, em anexo.

Thursday, 10 March 2016

Marcelo II e bispos corajosos em Luanda

Marcelo II coroado de flores
O Papa quer tornar os processos de canonização mais transparentes, incluindo do ponto de vista financeiro.

O dia de ontem foi dominado pelas notícias da inauguração da presidência de Marcelo Rebelo de Sousa, de onde destaco dois momentos importantes do ponto de vista religioso. Em primeiro lugar, a notícia de que Marcelo vai visitar o Vaticano já para a semana, na sua primeira viagem oficial.

A meio da tarde o novo presidente visitou a mesquita de Lisboa para um encontro com representantes das diversas religiões em Portugal. O Presidente disse que quer ser um garante da liberdade religiosa e D. Manuel Clemente, que também marcou presença, disse que o gesto é um bom sinal para o mandato de Marcelo.

No meio das festas da coroação, aliás, inauguração de Marcelo, poderá ter passado despercebida a nota pastoral dos bispos angolanos que faz críticas arrasadoras ao governo de Luanda. Para o especialista António Pacheco este pode ser uma porta aberta para uma “reflexão profunda sobre o regime”. Veremos.

Também ontem publiquei um novo artigo do The Catholic Thing. David Warren pergunta se os cristãos do Ocidente não se estão a transformar em yezidis… Vale a pena ler (e ler até ao fim) para perceber onde ele quer chegar.

“Dialogue is at the heart of the Christian mystery”

Full transcript of my interview with Fr. Darren Dias, a Canadian Dominican priest and expert in inter-religious dialogue.

What exactly is your involvement in inter-religious and ecumenical dialogue?
I am primarily involved in inter-religious dialogue. I am on the Hindu-Roman Catholic Dialogue of Canada, it's the first type of dialogue the Canadian Bishops have sponsored outside of the monotheistic faiths. There was already dialogue with Jews, a very old dialogue of the Church, and Muslims, and now Hindus.

I also teach at the University of St. Michaels College, in the faculty of Theology, where my area of interest and research is religious pluralism, that is, what is the significance of the simultaneous presence of multiple religious traditions in the World.

Does your Indian background have anything to do with being on that commission?
It may do. I am not a specialist in Hinduism, there are those on the dialogue who are more so, but certainly culturally, because my grand-parents are from Goa, I can relate to Hindus that would come from India also. So that may be one of the reasons. The other reason also is my area of interest.

Because of course that would be very specific and very different from dialogue with Muslims and Jews...
That's right. The first, Ecumenical, would be dialogue with just Christians, and there we have a common faith in the One Lord Jesus Christ, so there is a basis already for Dialogue. With Jews, of course, because Christianity grew out of Judaism, we have a common Scripture, what we call the Old Testament, common notions around God and the divine. We also have a basis for dialogue which is Theological.

Likewise with Muslims we share faith in the One God, we are monotheists, so we have at least that type of basis. What does monotheism call us to live ethically, morally, so there is a basis there.

When you move outside of Christianity and the monotheistic religions, into dialogues with Hindus and Buddhists, its different, because we have less in common theologically, we have less of a shared European and Middle Eastern tradition. So that makes the dialogue a different kind of dialogue. It may start on Human questions, anthropological questions, social challenges. So I think it's true that the non-Christian and non-monotheistic dialogues present a new way of dialogue with the Church.

In terms of the Canadian society, are relations between Hindu and Christian communities generally peaceful and fruitful?
Yes. Canada is a fairly multicultural and multi-religious society, it is predominantly still Christian, at least nominally, and people practice their faith without any sort of problem. It’s a peaceful coexistence.

Religious dialogue with Hindus is very new. We have often gotten together, people of different faiths, on social or political issues, but the religious factor wasn't really entering into the discussion, so it is a new thing. Having said that, there are always, and this is unfortunate and its a problem around the world, incidents of intolerance. We have certainly had an increase of intolerance towards Muslims in the past months, we have had anti-Semitic actions in the country, now they are rare, but still significant. So it still shows that we have a lot of work to do, and that although some might say that tolerance is the lowest common denominator, we still have work to do in the area of tolerance, even a country as open and tolerant and diverse as Canada.

I've heard that it’s not clear cut that Hinduism is a polytheistic faith, that it might not be as simple as that. How would you describe it?
I think that one thing that Christians and certainly Roman Catholics have an advantage with is that when we enter into dialogue we are appointed by the bishops and we can say that we speak from a certain position and we have a shared understanding on these things. To say the same about other religions like Hinduism, and it is the same for Judaism or Islam, there is no central authority, there is no central body to say this is what we believe and this is how we understand ourselves. So our dialogue with Hindus is different because we dialogue with different expressions of Hinduism, and within Hinduism there is such a great diversity of belief, there is such great diversity in the way Hindus would articulate their beliefs, that it would be hard to answer your question, certainly as a Christian, but also within the Hindu tradition there would be many ways of expressing it. Some might say that in fact there is one source of being, and therefore they are not actually polytheists. Even the categories of polytheism and monotheism might be Western, Judeo-Christian categories that Hinduism does not fit into. That is part of the work of dialogue, to reach across those boundaries that make categories difficult to discuss.

No salvation outside the Church? What does this mean exactly?
No Salvation outside the Church is a common adage. It was certainly in the literature of the Roman Catholic Church before the Second Vatican Council, but it hadn't been used, even in the 19th Century, very often. We know that in around 1949 there was a famous case with a Boston priest named father Leonard Feeney who interpreted that quite literally. And both the bishop of Boston and also, eventually, the Holy See. The CDF and the Pope were involved with this discussion, which is to say that even in 1949 we did not take this literally.

So after the Second Vatican Council that phrase "Outside the Church, no Salvation", has disappeared from all official literature because, in fact, the Church teaches that there is goodness and truth outside of Christianity, there are seeds of the Word, there is the Divine presence in other religions, so there is indeed salvation outside of the Church.

There are still those in the Church who would say that inter-religious or ecumenical dialogue should essentially be about trying to convert non-Christians and bring the separated Christians back to Rome…
But then it would cease to be dialogue, it would become evangelization, it would become mission, and they are strains in Christianity, which is an evangelizing religion, but even in that evangelizing mission, John Paul II wrote that dialogue is a part of the evangelizing mission of the Church, so that as much as we are called to evangelize, in the sense of explicitly making others Christian, we are also called to dialogue, that is to learn not only about people of other religions, but in our dialogue we learn about God and about who we are.

With all the emphasis on dialogue, however, is there not a crisis in the Church view of evangelization? Certainly some in the Protestant world decry the fact that the Catholic Church seems to have given up on active missions to evangelize non-Christians.
That might be a misperception. Certainly the Church has gone through various phases of its evangelizing mission, the first generation, that is, the Jewish Church that evangelized the gentile world, is different than it was in medieval time when the Church sought to Evangelize Europe, and it is different with the sixteenth Century, with the so-called discoveries, when missionaries would evangelize, along with the colonization, so you have a mission which is linked to colonisation, and that lasted right up until the 18 hundreds and early 19 hundreds. So every era there are exigencies which make Missionary activity different. Today the situation is such that we would not evangelize in the same way that we did in a previous generation, that would be suicide for the Church. However, it doesn't mean that the Church ignores its evangelizing mission, but it probably does it and understands it in different ways.

There is no such thing as a forced conversion these days, but there was in the past.

So I think that our Evangelical brothers and sisters would remind us that we still are constituted by a Mission, the reason that there is a church is for the mission. The Gospel mission. There is no doubt. How we witness to the Gospel is different in every era, and I think part of our witnessing today is to enter into dialogue with those who are different from us, and I think that is actually at the heart of what the Gospel is about. So that in the incarnation of Jesus Christ there is a divine and human dialogue, the Word becomes flesh, so that at the very heart of the Christian mystery there is dialogue and for us to be performative of dialogue really behoves us, then. Dialogue helps us to discover the fundamental attributes of what it means to witness to the Gospel.

Again, this might be a misperception, but the idea we have over here is that Canada is an extremely liberal country. In that issues like abortion, gay marriage, etc., which are contentious in the USA, seem to be settled in Canada. Is Canada mission territory?
Well, everyone is in need of mission, in a different way. Everyone is in need of witness to the Gospel.

While the United States professes a separation of Church and State, I think they're religion and State are still fairly linked. Canada does have a pretty healthy separation of Church and State, and there is a real separation.

I think Canada is socially conscious on many issues. So, whether it is socialized medicine, or education which is a public system of post-secondary education, or even refugees, immigration laws, compared to the US, where they have a private medical system and very expensive post-secondary education, so in that sense it is a very socially conscious and collective country, compared to a more individualist consumerist society, in the US. But certainly there is always work to be done in every society.

I think Canada might be a little bit different, because how the Church, or religious groups, would seek to influence public policy, would be through society and the promotion of values, and in the promotion of human or Christian values, people can buy into them even if they are not, lets say, Christian. I think in the USA it is often about influencing law-makers. Its really about the state and how the State controls things. The distinction I am making then is how to evangelize a society through society itself, through culture, or how you might evangelize society through the mechanisms of a state, and I think those are two very different approaches.

Recently the Vatican commission for religious dialogue with the Jews published a document giving weight to the idea that there is no need to evangelize the Jews because they already live in a salvific covenant with God. This is in no way a consolidated idea within the Church, what is your take on this?
That document which came out in December 2015 is an important document. It is a reflection on the past 50 years of relationships with the Jews and in some ways it enumerates the great strides that have been made. It addresses some of the areas which are of ongoing concern and one of the things that it did address is that it said quite explicitly that the Roman Catholic Church no longer has any institutional mission to converting the Jews, and that is based on a scriptural, Pauline notion that God does not take away his promises, and so the promise that he made to the Jewish people remains.

The New Covenant, as we Christians call it, with Jesus Christ, does not abrogate the old covenant with the Jews. So I think that it affirms what is a common theological principle, or idea, that these two covenants are related and intertwined, but that the Jews, because they have an ongoing relationship with God, would not need missionary activity, they would not need to become Christians, so the Church does not have a missionary outreach to the Jews in the way that it had had in the past. For example, there were some religious communities which were founded exclusively for the conversion of Jews.

I actually think that what is very significant in the publication of that document is that a group of Orthodox rabbis also published a document around the same time, I think it came out a few days before, and this was a first in modern history, for the Orthodox Rabbis to really respond to the invitation of the Roman Catholic Church to dialogue, and I think that is really an important step. That our dialogue is a real dialogue, it is not just the Church producing documents, but we see an effect in other religions, which respond to the invitation to enter into some kind of deeper relationship with us.

So in that document, which was a very fine document issued by the dicastery on religious relations with the Jews, I think the more significant thing is that Orthodox rabbis, for the first time, have responded.

Concerning the polemic at Wheaton College about whether Muslims and Christians worship the same God, how do you see this issue?
I am less familiar with the details of the Wheaton situation, though I know about it. So I will answer in two ways.

What I think is very troubling about the Wheaton situation is what is the role of academic freedom? How do theologians have freedom to make statements and to explore research without being disciplined? So one thing is a collegial concern for academic freedom.

I think that Pope John Paul II, in Algeria, when he was on a visit, was quite clear to say to the Muslim Youth that we worship the same God, and we both, all religions, not just Muslims, but all religions, have a temptation to make God in their own image. And one of the things that dialogue does is remind us that we have to avoid the temptation to make out of God something that we want. We see this with extremists, with so-called Muslims, some would say they are not even Muslims, the ISIS people, creating God in their own image. And this leads to intollerance and violence. The alternative to dialogue is violence. So like when children don't have words to express themselves, they express themselves physically, violently, and this is what could happen when we make God into our own image, into something that will further our own agendas, then there is no more room for dialogue and violence ensues.

As a Dominican you are heir to a long tradition of dialogue…
That's right. The order was founded by St. Dominic in the early 13th Century, and Dominic, at the time, faced the great Albigensian heresy in Spain and France, and he observed the way the Cistercians had been trying to evangelize, to bring back these heretics. Now the heresy was a problematic heresy because it denied the very goodness of Human creation and it denied the effect of the resurrection, that is what dualisms do, when they are too spiritually or non-materially oriented, they negate and they denigrate creation, so it was a very problematic heresy.

The Cistercians went out to convert the heretics, to bring them back to the Church, but they were not successful. And one of the things Dominic realised was that some of the criticisms of the heretics, that the Church had become too worldly and they were too involved in power and they were too wealthy and they weren't following the Evangelical precepts, he realized in his dialogue with them that some of the criticisms were true, so he adopted a very simple, austere and poor lifestyle, and then began to enter into conversations with them about theology.

His method was to speak to people, so he spoke sometimes throughout the night to heretics to try and bring them back. So his approach was quite dialogical, we would say today, and it was never heavy handed, and never forced.

An example of how dialogue can also be mission...
That's right.

How well do you know your Goan heritage?
My father was born in Goa, as were my grand-parents, and they moved to Toronto, so I knew my grand-parents, and obviously I knew my father. So I would have heard many stories, and certainly culturally we observed many things, religiously, food, certain customs. But I don't speak the language, which is Concani, because Salazar did not permit the use of the local language. So we lost a lot because of the Portuguese colonization, we lost a lot of the culture, and it was a 450 year colonization. So we have our own Goan culture, but we also have influences of the Portuguese, but beginning in the 40s many people began to leave Goa, so we are a diaspora people, like the Jewish people. There were not a lot of opportunities in Goa in the 40s and 50s and so people began leaving, so there is a culture of the migrant people which is different from the Goa of today, because with the liberation in 1960, and the return to India, the culture changed again.

I have only been there once, and it would have been very different than my parents or my grand-parents' generation, and yet that is a Goa that I don't actually know, because it doesn't actually exist anymore.

But was there a big diaspora in Canada?
There is, yes, in Toronto. There is also a diaspora in London and here in Portugal, of course. I suspect that the Goan population is larger outside of Goa than in Goa.

So there was a community aspect to your experience in Canada?
Yes, there was. There were a few clubs and associations, and there still are. So that is how things are transmitted in Toronto, Montreal and London.

Wednesday, 9 March 2016

Yezidis & Cristãos

David Warren
Não sou perito em relação aos yezidis de (ou anteriormente de) Mossul e arredores. Também não sou perito em cristãos assírios que lá vivem; nem, verdade seja dita, em cristãos de parte alguma. Os judeus também me ultrapassam, não obstante os meus esforços na cadeira de religiões comparadas. A minha incompreensão estende-se a outras religiões, nacionalidades e tribos. Todas são uma névoa para mim. E ainda há dias em que não me compreendo a mim mesmo.

Como por exemplo as minhas sinceras – pelo menos assim o espero – convicções cristãs. De uma perspectiva de custo benefício, não se saem nada bem. Do ponto de vista de um economista profissional, que parte do princípio que o ser humano apenas procura o seu interesse económico, tornar-me católico foi a coisa mais parva que alguma vez fiz.

Mas olhando para o Iraque, parece-me que os yezidis poderão ser mais parvos ainda. Ou os cristãos assírios, já agora. Toda a gente os quer matar. Porque não alinham com quem os persegue?

Falo neles porque eles são, para nós, “estranhos”. Quando viajei pelo Iraque, há não muito tempo, depois do golpe de Estado do partido Ba’ath, mas antes de Saddam Hussein, fiquei fascinado com eles. Saddam ofereceu-lhes um certo grau de protecção, mas apenas porque tinha outras pessoas que queria massacrar e no que diz respeito aos massacres gostava de ter o monopólio.

Os yezidis viviam no cume dos montes, nas rochas secas que se elevam sobre as planícies da Mesopotâmia. Entravam na cidade para comprar e vender, e geralmente eram tolerados. Isto apesar de todas as outras seitas no Iraque se referirem a eles como “adoradores do diabo”, como faziam há séculos.

De resto, eram bastante reservados. Os seus santuários, tanto quanto conseguia perceber, eram poucochinho do ponto de vista arqutectónico, embora eu apenas tenha visto fotografias, tiradas às escondidas.

Tal como outros monoteístas, acreditam em algo a que chamam “Deus”, mas depois a coisa torna-se interessante, bem como confusa, uma vez que estas pessoas eram analfabetas há gerações e as suas revelações tinham sido transmitidas oralmente desde… ninguém sabe quando.

Tanto quanto consigo perceber, havia sete anjos sagrados. Melek Taus, o Anjo Pavão, foi designado por Deus desde o início para supervisionar a sua Criação. Mas ele não é de confiança, embora a comparação com Satanás talvez seja exagerada. A ideia de prestar culto a um agente cósmico conhecido por ser corrupto e imprevisível parece-me bizarra. Às vezes o Anjo Pavão é verdadeiramente mau, outras vezes, porém, chora e pede perdão a Deus. Seja como for, detém um assinalável poder no mundo.

Parece-me (e recordo que não sou perito) que a atitude dos yezidis para com os seres espirituais é “a arte do negócio”. Talvez esta visão seja partilhada pela maioria das religiões pagãs: “Não tomemos lados entre o bem e o mal, pode vir a custar-nos”. Em vez disso, deve-se negociar com quem se chegar à frente.

Os que encontrei (em Mosul) pareceram-me simpáticos e reservados, bastante atraentes com as suas túnicas brancas. “Vive e deixa viver” parecia estar a correr bem para eles na altura. Dizia-me que reagiam bem aos insultos, o que na visão mais agressiva do Islão sunita os tornava pouco merecedores de serem insultados. (Também os assírios estão habituados a ignorar os insultos).

Aquilo que mais me intrigava era a possibilidade de esta atitude dever-se menos às circunstâncias do que às suas crenças religiosas. A ideia de que o mundo está cheio de demónios e que aquilo que Deus espera é que se chegue a acordo com eles. Ser neutro. Não se comprometer. Isto, por sua vez, obriga a uma rigorosa “endogamia” para poder sobreviver – não só casar, mas viver, exclusivamente, dentro da tribo. Evita-se qualquer mistura desnecessária.

Fatalmente, para eles, apareceu o Estado Islâmico. Centenas de milhares foram massacrados ou exilados. Pelos vistos só se pode chegar a acordos com demónios “moderados”. O verdadeiro, demónio em corpo de homem, fanático e poderoso, não é daqueles que negoceia.

Melek Taus
Não sei se mencionei que não sou especialista, mas os yezidis são para mim tão misteriosos como a maioria dos protestantes e católicos de classe média e alta, bem como outros que vivem na sociedade da nossa América do Norte pós-moderna.

Não é que eles não “acreditem” na presença do mal neste mundo; ou que – cruzes credo – não acreditem em Deus. Muitos vão à igreja, como a Melania Trump afirma fazer com o seu marido: ao que tudo indica, uma simpática igreja presbiteriana na qual, como na maioria das igrejas, incluindo as católicas, os fiéis aprendem a sentir-se bem consigo mesmos. (É o que me chega através dos boatos.)

Na verdade, disse-me o Charles Murray e outros, na América é mais fácil ver os ricos do que os pobres, ou membros de outras “classes inferiores” nas igrejas. São sítios simpáticos e burgueses onde nos é dado poder socializar com outros membros da nossa tribo.

Não é só para ricos, claro. Há igrejas para brancos, igrejas para pretos e para todos os tons de castanho. Igrejas para ricos, pobres e todas as divisões demográficas que se possa imaginar. Depois do “serviço” serve-se café nos convívios, onde todos são bem-vindos. É tudo muito lindo.

Tenho tentado compreender as estatísticas – nomeadamente as sondagens, em particular as sondagens feitas à boca das urnas, segundo métodos científicos – que analisam os votos das pessoas de acordo com a idade, “género”, rendimento, “educação”, filiação religiosa, etc. Os políticos “carismáticos” – penso no Obama e no Trump – atravessam todas estas classes.

Fascina-me de modo particular que esta última classe, a categoria da “religião”, tenha deixado de ser um indicador útil para o sentido de voto. Enquanto cristão, mais precisamente um zeloso católico convertido, acho difícil imaginar como até um “moderado” poderia votar em alguém que seria anatemizado vinte vezes seguidas se fosse aplicado um critério minimamente catequético.  

Não é que o Cristianismo em si esteja a morrer. Pode haver uns milhões a menos a frequentar as igrejas aos domingos do que antes, mas continua a haver milhões. Porque é que é tão difícil, se não impossível, agrupá-los por tendência de voto nas sondagens?

A minha teoria é de que as suas posições estão a “evoluir”, tal como a sua estrutura de crenças, no sentido de algo mais em linha com a teologia dos yezidis. Talvez pensem que se chegarem a um acordo com o demónio, ele, na sua benevolência, os deixe em paz. 


David Warren é o ex-director da revista Idler e é cronista no Ottowa Citizen. Tem uma larga experiência no próximo e extreme oriente. O seu blog pessoal chama-se Essays in Idelness.

(Publicado pela primeira vez na Sexta-feira, 4 de Março de 2016 em The Catholic Thing)

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